domingo, 17 de dezembro de 2017

Guilherme de Pádua é pastor evangélico, prosseguir é preciso... é humano!



Guilherme de Pádua foi ordenado pastor evangélico em Belo Horizonte e esse fato revoltou muita gente. Geralmente, isso acontece quando algo inusitado golpeia os valores da moral social e Guilherme assim procedeu ao se envolver no assassinato de Daniella Perez, em 1992. Ele foi condenado por homicídio qualificado a cumprir uma pena de 19 anos e 06 meses de prisão.

Não é que o homicídio seja incomum em nossa sociedade; de onde ele vem, entretanto, o estrato social em que ele está ligado fere a expectativa ideológica de muitos, pois de determinado grupo de pessoas isso não é esperado, sendo algo inimaginável. De várias formas causa uma sensação de indignação profunda, um mal-estar insuperável, chocante!

Nesse momento, no Direito Penal, o papel idiossincrásico a esses sentimentos populares passa figurar contrário ao movimento de que é no outro, por haver escangalhado a ordem do bem, que a sede de sangue deva se concretizar. Há um limite contra a barbárie, afinal, caso não houvesse, os mesmos que se indignam seriam capazes de atos mais assombrosos e mesquinhos em nome da justiça. Franz Von Liszt[1] disse a célebre assertiva: “o Código Penal é a Carta Magna do delinquente”.  O espanto reside ao se deparar que o Direito Penal vem assegurar, àquele que se comportou contrário ao ordenamento jurídico, a sanção limitada pelas leis.

Assim, não é estranho que alguém tendo cumprido sua dívida com a sociedade venha prosseguir nela. Infelizmente, o ódio é eterno e aqueles que estiveram respondendo por condenações, no sistema prisional, carregam o estigma, a indiferença, a exclusão perene, desse sistema de valores de bem que advoga o poder de punir estatal como a máxima cega, preconceituosa e estúpida. Querem eles que esse poder punitivo venha ser um direito de punir sem justificativas, sem oposições, sem contraditório, para além do limite da pena.

Lamentavelmente, os exemplos que vêm da justiça federal de Curitiba e do Rio de Janeiro, com juízes midiáticos implorando por fotografias em tabloides, heróis nacionais com mão de ferro a cumprir o legado do bem e da moral,  acirram essa visão justiceira e empedernida do clamor da sociedade de bem, não permitindo que os seus pares prossigam. Querem, nos conceitos de austeridade desmedida, o controle social eficaz. Um puritanismo fundamentalista que faz do código normativo um livro religioso, em que juízes são deuses capazes de julgar, entre o céu e o inferno, o comportamento dos cidadãos. Extrapolam suas próprias funções por convicções motivadas em uma verdade relativa.

O erro reside no pensamento de que sempre é o outro passível das falhas, sempre é o outro o criminoso, o culpado,  enquanto nós não somos capazes dos mesmos atos. Criminologicamente, todos nós somos delinquentes em potencial.  E, na verdade, a reprovação dos atos delitivos configura, junto com a tipicidade e a ilicitude, o conceito de crime, contudo a pena cumprida esgota seu papel, mas o mesmo não ocorre com os rótulos impostos para aqueles que figuraram na condição de apenados.  A culpabilidade segue seu legado ceifador, pois sempre é o outro o passível do meu desprezo, ainda que eu seja igual a ele.

Obviamente que toda essa celeuma revela um pouco mais do sentimento repressivo que as políticas criminais vêm ganhando nos últimos anos. Entretanto, não é só isso. A total indiferença da sociedade com aqueles que são encarcerados, o preconceito e condição marginalizada, a falta de informação, fazem deles os eternos vilões do imaginário popular, a válvula de escape das mazelas, das frustrações da vida comunitária.

Guilherme de Pádua virou pastor evangélico, cumpriu sua dívida para com o Estado, isso não é motivo de indignação. Prosseguir é preciso, é humano! Que a igreja para ele continue a exercer esse papel de coerção social informal e que a repressão social, para nós, não seja a resposta imediata, estúpida, incoerente, irracional, dada como forma de combate à delinquência.



[1] Franz Von Liszt nascido em 2 de Março de 1851, em Viena, na Áustria e falecido a 21 de Junho de 1919, em Seeheim, Áustria. Advogado austríaco, especialista em Direito Internacional e Direito Penal.

sábado, 23 de setembro de 2017

O novo método dos evangélicos de evangelizar os gays e destruir direitos civis


Engana-se quem pensa que o ataque da senhora Rozângela Justino é algo isolado, ou uma tentativa apática, desesperada, sem fundamentos, para tentar validar sua profissão e sua fé.

Evangélicos começaram atacar massivamente as questões de conteúdo sexual. Eles se mobilizarão em todos os lugares: escolas, igrejas, mídia, judiciário, legislativo e executivo. Eles possuem um discurso, um método e uma meta.

O discurso

Você não ouvirá que ser gay é uma doença, eles não dirão isso a você! Eles concordarão com a ciência que diz que ser homossexual não é portar em si uma patologia. Acusarão a mídia de ser sensacionalista e espalhar essa falsa ideia de que eles consideram ser gay um fator doentio.

Eles dirão que querem o desenvolvimento científico, por prezarem tal desenvolvimento, acreditam que os estudos sobre a sexualidade não devam ser impedidos; que terapias de ORIENTAÇÃO sexual devam ser difundidas pela psicologia.

Eles não usarão em seu discurso o termo (RE)orientar, mas defenderão que qualquer pessoa deva ter o direito à orientação sexual que bem desejar. Afinal, para eles não é doença ser gay, mas uma OPÇÃO, UMA ESCOLHA que o indivíduo faz por ser depravado, imoral e viver em pecado.

No discurso você também não escutará esses termos: pecado, safadeza, imoralidade, mas, com certeza, escutará o termo DIREITO DE ORIENTAÇÃO DA SEXUALIDADE que, em suma, na boca de um evangélico, é ESCOLHA, OPÇÃO.

Eles defenderão isso, em que o direito à orientação sexual é desejar deixar de ser gay e, em nome da liberdade científica, tal processo é passível de realização, é uma escolha pessoal e individual, legítima de qualquer um. Com isso, o termo opção sexual será mitigado para desejo legítimo de uma assistência em que a pessoa se oriente e se aceite não gay.



O método

Não haverá discursos religiosos, não será usado o nome de Jesus, nem a bíblia. Tudo será feito através do direito da pessoa possuir a liberdade de uma orientação sexual que não lhe traga constrangimento.

O orgulho gay será colocado em cheque, não o atacarão, mas dirão que nem todas as pessoas sentem-se bem sendo homossexuais e elas têm o direito de tentar algo para ser felizes.

Farão esse discurso chegar ao judiciário, ao legislativo, ao executivo. O método não é o confronto direto, não é o combate agressivo, mas o indireto. Aquele que se mostra não combater, mas só advogar outra possibilidade, advogar uma “liberdade aparente de orientação” que, no fundo, não passa de terapia de reversão.

Concentrarão esforços para minimizar o orgulho gay, que chamarão de lobby , de propaganda de uma suposta felicidade que retira o direto de pessoas tentarem se rever e, quem sabe, aceitarem- se diferentes (ou seja, escolhendo, por exemplo, serem heterossexuais e não homossexuais).

A meta

Eles têm como meta sufocar o avanço da “agenda gay”, sufocar o direitos dos homossexuais casarem, adotarem filhos, terem direito à herança, pensão, ou seja, a meta é acabar com o direito civil dos homossexuais e voltar a renegá-los à esfera da margem social.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Juiz da "cura gay" diz ter sido mal interpretado. Gospel LGBT insiste que o magistrado está equivocado



Não precisamos de sutilizas, elas nunca foram a nosso favor. Sutilezas nos colocaram em armários, nos negaram casamento, adoção, herança, fizeram-nos histriônicos, tomaram-nos o afeto em público: carícias, andar de mãos dadas, beijos, enfim, não gostamos de sutilizas, porque somos gays com muita honra!

A única interpretação equivocada, excelentíssimo doutor juiz, foi a sua em possibilitar que psicólogos possam tratar a homossexualidade como doença e revertê-la em heterossexualidade, como se essa heteronormatividade fosse o padrão único de perfeição metafísica capaz de trazer dignidade ao homem.

Afinal de contas: NENHUM PSICÓLOGO NESSE PAÍS É PROIBIDO DE TRATAR A HOMOSSEXUALIDADE, então a liminar, aqui, é sutil e equivocada. O que se é proibido pelo CFP é o psicólogo tratar a homossexualidade como DOENÇA. Aliás, isso o senhor não diz em sua liminar.

Nenhum psicólogo é proibido de estudar a sexualidade nesse país, mas não me parece prudente que psicólogos transformem as clínicas de psicologia em laboratórios de estudos científicos e façam com seres humanos aquilo que se faz com ratos e camundongos.

Portanto, nesse sentido, sua liminar sutil iguala a clínica psicológica à psicologia clínica, coisas distintas, e que não podem ser confundidas pelo juiz, pelo psicólogo ou por qualquer pessoa minimamente honesta em suas arguições e questionamentos.

Hoje, uma sentença, uma liminar, uma decisão, seja qual for, pela nova redação do CPC, deve ser embasada pela motivação das provas. Elas têm que ser enfrentadas, pois o livre convencimento, ainda mais nesse quesito, não é bem-vindo, pois traz dor e oportunismos.

Rozângela Justino nunca teve o interesse científico sobre  a questão. A única razão de terem promovido o pleito é a afronta ao CFP; a turma de Rozângela advoga o direito de banalizar a psicologia se proclamando psicólogos cristãos. Isso não existe. Psicologia não é religião e não deve ser pautada pelos dogmas da fé. Através desse dogma, esses psicólogos têm dito que ser homossexual é errado e promoveram terapias de reversão sexual em suas clínicas, prática essa não permitida pelo CFP.

Entretanto, o  Conselho Federal jamais disse que um homossexual não possa ser submetido a muitas das terapias científicas em voga. O profissional o ajuda, colabora, questiona para que cada homossexual se entenda mais e a sua orientação sexual. Em nenhum momento cabe ao psicólogo dizer que é errado ou despertar a ideia de que seja possível mudar uma identidade sexual.

Então, esse blog volta a afirmar que quem se equivoca na decisão é o senhor ao dizer: “o objetivo seria não privar o psicólogo de estudar ou atender a pessoas que voluntariamente venham em busca de orientação acerca de sua sexualidade”.

Equivoca-se o magistrado, pois o Conselho Federal nunca proibiu, restringiu ou interferiu no estudo e no atendimento do psicólogo quanto à orientação sexual das pessoas. Sua sutileza, caríssimo magistrado, a nós não é bem-vinda, afinal, de boas intenções o inferno está cheio.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Juiz erra em decisão liminar: clínica psicológica não é laboratório de experiências científicas


Uma decisão sutil de efeitos nefastos, em caráter liminar, claro, assim pode-se mensurar o barulho que causará na sociedade civil organizada. Uma decisão de foro íntimo, de juízo personalíssimo, e convicções metafísicas, afinal, não se sustenta nos autos sob provas e demonstrações científicas que tal caminho é o correto a ser seguido.
Parece-me que o princípio do livre convencimento motivado ficou meio embaçado, quando a despeito de toda a orientação cientifica, médica e psicológica sobre terapias sexuais, o juiz sentencia mediante sua mera opinião (até aqui tudo bem, a mera opinião do juiz pode no livre convencimento). O que não ficou evidente, entretanto, foi à exposição das razões para o seu convencimento.
Meu Deus, para tudo! Lembrei-me, mudou-se o artigo, mudou-se o código de processo e há nova redação...
O artigo 371 do Novo Código de Processo Civil estabelece que “o juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação do seu convencimento”. A palavra “livremente” foi subtraída do diploma legal. Enquanto na lei anterior dizia “apreciar livremente a prova”, a legislação atual, VIGENTE, diz que o juiz apreciará a prova. Parece-me que a mera opinião não pode mais, aliás, vamos falar isso em termos jurídicos: a valoração da prova não pode ser feita pelo juiz de forma discricionária, como o sistema anterior estabelecia.
O que isso implica diretamente é que a decisão deve ser discutida e embasada em cima das provas apresentadas, justificando seu convencimento acerca da veracidade das alegações, e indicando os motivos pelos quais acolhe-se ou rejeita-se cada elemento do conjunto probatório.
Em suma: o juiz, mediante a alteração do dispositivo legal, não pode mais emitir, na sentença, sua mera opinião, desculpe, voltemos aos termos jurídicos, o juiz não pode mais, na sentença, examinar as provas de acordo com a sua livre motivação: não pode valorar questões que não estejam nos autos ou que não são objetos da ação; não haverá mais o julgamento conforme a consciência do juiz de forma livre, como se deseja, porque desejam assim.
Agora, falando da liminar, amigo psicólogo, parece-me que o juiz, que ganha pouco, algo em torno de 30 mil reais mensais ou um pouquinho acima disso, salário de fome, de miséria, quer, na decisão, preservar seu caráter de cientista: “a resolução não pode privar o psicólogo de estudar ou atender aqueles que, voluntariamente, venham em busca de orientação acerca de sua sexualidade, sem qualquer forma de censura, preconceito ou discriminação”.
Também entendo que os LGBT(s), nessa liminar, são os novos camundongos e que as clinicas de psicologia viraram laboratórios experimentais. Técnicas pavlovianas promissoras poderão ser admitidas juntas com os conceitos comportamentais de reforço de Skinner, maravilha de ciência! Contudo acho que merecia um embargo de declarações, pois gostaria de entender a liminar nesse ponto específico, pois ficou meio eclipsado o conceito para mim. Também, ganhando tão pouco por mês, algo um pouquinho acima de 30 mil reais, não poderíamos esperar um primor de decisão do magistrado, né? Afinal, ele não ganha bem para isso.

domingo, 10 de setembro de 2017

A opinião de Aguinaldo Silva te incomoda? Ela é mais comum do que se possa imaginar.



Não é de hoje que vejo, com pesar, manifestações que agridem valores, que lutamos para construir, na boca de pessoas assumidamente gays, mas que não se incomodam de tê-las, pois foram "criadas" assim.

Para exemplificar bem o que digo, nada melhor que tomar de exemplo Clodovil Hernandes. Gay, assumidamente gay, que se orgulhava de reproduzir falas da sociedade heteronormativa, momento do qual ele se via aceito ou próximo de uma “normalidade”, em última análise, sendo ele o próprio culpado por toda rejeição social contra a sua sexualidade.

Vimos Ney Matogrosso declarar que gay é o caralho, que ele se recusa a pegar essa bandeira, pois sua defesa é mais abrangente, envolve índios, negros etc.

Aguinaldo Silva uma vez disse que em suas novelas não teria o beijo gay, pois o grande público não queria ver, pois estavam reunidos com suas famílias. Assim, a mensagem que essas personalidades passam, tacitamente, reproduz que o gay aceito é aquele que não faz “bichices” em público ou na presença da família.

Pode parecer estranho, quando isso vem de personalidades com grande alcance. Na verdade, o que elas fazem é repetir o ódio que nunca morre, disfarçando em sutilezas, justificando-o em maquiagens que o amenizam, mas o ódio é eterno.

Ódios sempre são alimentados, por isso o racismo ainda hoje existe, por isso que a homofobia sempre vai existir, o ódio é o sentimento mais fiel do mundo. Em um relacionamento em que houve ressentimento de um, o ex será permanente, nunca passará, a velha história de que: “é meu ex, não podemos ser amigos!”.  

Quando os famosos reproduzem a homofobia, o impacto é imediato; acontece, entretanto, que somos submetidos ao rancor homofóbico todos os dias e, às vezes, nem percebemos. A internet deu voz aos idiotas, dizia Umberto Eco... Ontem, por exemplo, observava pelo Facebook homossexuais discutindo, em que gays negros humilhavam os gays “padrõezinhos”, o motivo: eram padrõezinhos, entretanto, as agressões iam muito além disso. Gays estavam humilhando gays por serem gays. Ser padrãozinho era a maquiagem que disfarçava a homofobia internalizada.

Outro dia assistia, pelo You Tube, Academia de Drags, em que uma das provas era “gongar o outro” Travestis humilhavam-se mutuamente, disparando frases que retomavam a cultura heteronormativa, que inseria rancor e depreciação, mas era para ser engraçado. Às vezes, a maquiagem do ódio é a piada.

A opinião de Aguinaldo Silva te incomoda? Mas ela é corriqueira, é mais comum do que se possa imaginar. De fato, o repórter foi direto, acontece que Aguinaldo Silva foi tão sutil quanto Bolsonaro e essa sutileza está dentro das representações LGBT(s), todos os dias, pois o ódio em que fomos criados não morre. 

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Deus ama ao que dá com alegria



Pode parecer piada, pode ser provocador, pode até tirar a seriedade de nossa proposta inicial, mas não vamos deixar de usar o versículo bíblico que tem causado polêmicas neste blog. Não faremos por uma razão muito simples: a maldade da interpretação não é nossa! Ninguém nos perguntou a intenção primeira, ninguém quis saber, minimamente, o nosso posicionamento, todos já tinham ou têm em mente suas próprias conclusões. Fato que não nos surpreendem as opiniões nem os conceitos aduzidos da maldade estampada em vocês que nos leem, não em nós que criamos o slogan.

A verdade é que nem as intenções mais polidas estão livres da perversidade de nos julgar com o peso da moral austera e conservadora, que vem através dos milênios, causando tanta dor quando o assunto é sexualidade.

Há aqueles, prezando pelo bom nome das escrituras e a complacência da sociedade heteronormativa, que querem nos ensinar a “hermenêutica correta do texto”, o que me leva a perguntar: por que não agem assim, quando a interpretação recai em textos que supostamente condenam a homossexualidade? Por que efeminados, sodomitas e outros não podem ter contexto, sendo que a interpretação é imediata e “dar com alegria” tem que ter?

Aliás, muito oportuno dizer que: os capítulos 8 e 9 da segunda carta de Paulo aos coríntios dizem de uma vivência integral, plena, verdadeira, completa, em que os irmãos dividem tudo com todos, os mais abundantes e os menos abundantes, não havendo desigualdades entre eles. Isso culmina no capítulo 9, versículo 7, quando Paulo afirma que a contribuição deve ser feita de acordo com a consciência, com a vontade, com a liberdade e isso (consciência do que se faz, vontade de fazer e liberdade no que faz) gera a alegria que é amada por Deus.

Desta feita, quando usamos o final do versículo “Deus ama ao que dá com alegria”, fizemos no sentido de dizer que: tudo que é feito com liberdade, prazer e consciência; tudo aquilo que não é pecado e que promove a si e o outro em dignidade, igualdade, fraternidade, é amado por Deus. Sim, Deus ama quem dá com alegria, quem mergulha por completo, por inteiro, em uma causa não se entristecendo, com pesar ou servidão, mas por liberdade de ser o que se é e fazer o que se faz.

Assim, por sermos homossexuais e nos orgulharmos, nos envolvemos nessa causa, certamente, podemos dizer que Deus ama quem dá com alegria, ou seja: aquele que vive sua sexualidade, sem desigualdade ou pesar, com consciência e liberdade, amando, vivendo, aprendendo, respeitando e lutando para que o mundo seja um lugar melhor para todos nós, integralmente nessa causa. Nisso somos amados por Deus.

Respondendo a um comentário em relação do que o meio inclusivo precisa ou deixou de precisar: nunca o Gospel LGBT voltou suas ações para as “igrejas inclusivas”, aliás, muitas vezes discordamos das abordagens inclusivas de um evangelho heteronormativo e opressor vivido dentro dessas comunidades. Não é por que se usa do álibi de ser inclusivo que se é livre de homofobias e preconceitos. Ao contrário, alguns editores deste blog já travaram as mais duras oposições, da mais sórdida homofobia, vindas das igrejas que incluem LGBT(s). Ao que nos parece, essas igrejas incluem tudo, inclusive, a homofobia contra seus adeptos.


Portanto, este blog segue sua independência interpretativa teológica, não sendo prisioneiro de nenhum conceito denominacional. Assim, continuaremos a promover uma espiritualidade livre que reflita a ética de ser homoafetivo e cristão.

sábado, 26 de agosto de 2017

A desconstrução da homofobia



Quando Umberto Eco disse que as rededes sociais deram voz aos imbecis, ele resumiu como os 17 primeiros anos do século XXI estão nos desafiando a selecionar o que permitimos chegar através delas a nós. É impressionante como devaneios pessoais, que outrora não passariam de meras esquisitices, ganham ares de intelectualidade e verdade.

Não é sem razão que: os Bolsonaros transformaram-se em mitos, Olavo de Carvalho é dito filósofo, Danilo Gentilli encarado como intelectual... Tempos estranhos, em que o idiota da pequena aldeia consegue viralizar seu ódio pessoal e contaminar milhões.

Na tendência desse início de século, algumas coisas estranhas também acontecem dentro da comunidade LGBT, entretanto, para a surpresa de muitos, a fórmula viral é antiga e a Inglaterra, dela se utilizando, conseguiu jogar árabes contra judeus, ocidente contra oriente.

Na cupidez da inclusão e visibilidade, houve o intento de dar forma a todos os representantes do acrônimo LGBT, sem embargo, penso que a iniciativa é fantástica, afinal, somos uma diversidade conceitual, construindo uma identidade social diferente da imposta pelo modelo heteronormativo. Assim, o nosso modelo é conceituado a partir de nós mesmos, de nossos significados, significantes e orgulho. Foucault já nos dizia isso: inventarmos o nosso jeito de ser homossexuais.  

O tiro no pé de toda essa empreitada veio por aquilo que dentre séculos tem sido a coisa mais sofrível para nós: a homofobia, ou melhor, a desconstrução dela. É modismo no meio reclassificá-la, relativizá-la, dizer dela com outros parâmetros, tudo em nome de uma tendência não refletida, o social, a visibilidade fluída. Tendência perigosa, ardilosa, sorrateira, que faz o preconceito sofrido pela lésbica, homofobia, ganhar o nome de lesbofobia; que faz o preconceito sofrido pelo gay, homofobia, ganhar o nome de gayfobia; que faz o preconceito sofrido pelo bissexual, homofobia, ganhar o nome de bifobia; que faz o preconceito sofrido pela transexual, homofobia, ganhar o nome de transfobia e por aí vai. Qualquer preconceito sofrido por um homossexual, hoje, ele pega, insere dentro da letrinha do acrônimo que se acha representado e diz: “é “X” fobia, ao invés de se enxergar no todo, naquilo que de fato ele é, naquilo que de fato o preconceito lançado contra ele é.

Pode não parecer, a comunidade LGBT talvez ainda não tenha percebido, mas essa visibilidade particular de grupos destrói o consenso, a unidade, enfraquece o movimento como todo. Eu sinto orgulho de ser homossexual, pois eu sou gay, assim todos na comunidade LGBT devem sentir orgulho de ser homossexuais. O preconceito que advém contra nós é pelo fato de sermos atraídos pelo mesmo sexo, não importa qual seja a letra que nos abrace no acrônimo.

Ter movimentos próprios dentro da comunidade é fantástico, mas esses movimentos não podem se encher de “nacionalismos”, fechando-se em seus próprios círculos. Afinal, uma lésbica não é mais homossexual do que um bi, do que uma trans e vice e versa.

A Inglaterra destruiu o império Otomano por acentuar as particularidades das nacionalidades que compunham tal império em demérito do todo. As consequências de tais ações foram: a queda do império, a guerra sem fim dos árabes contra os judeus, a guerra do “Estado Islâmico” contra o ocidente. Ódios plantados pelos ingleses nos séculos XIX e XX, que hoje em dia resvalam em nós.

Dessa forma, quando Mara Maravilha fala de Adão e Ivo na TV, a fala dela não é transfóbica. A fala dela é homofóbica, pois diz do desejo de pessoas que têm o mesmo sexo se relacionarem, coabitarem, constituírem família e terem seus direitos reconhecidos.

É fantástico que todos tenham visibilidade dentro da comunidade LGBT, que todos tenham representações e voz, mas em hipótese alguma essa visibilidade pode ser feita na desconstrução da homofobia, pois ela é real, epistemológica e sua relativização pode nos custar direitos e garantias, pode alimentar o ódio de grupos, contra outros, dentro da própria comunidade.

Nossa primeira identidade é sermos homossexuais, nosso primeiro orgulho é de sermos homossexuais, nosso primeiro preconceito é por sermos homossexuais e aquilo que sofremos na sociedade é HOMOFOBIA.


De resto, são as redes sociais, dando vozes aos idiotas como se fossem idôneos, ou tivessem conquistado algum premio Nobel. 

sábado, 1 de julho de 2017

LGBTT MAIS O QUÊ? : O ACRÔNIMO DA DISCÓRDIA, DA REVOLTA DE TODOS CONTRA TODOS.



Lembro-me com saudosismo da época que minha única preocupação era ser gay e não sofrer  por isso.
Como eu, milhões vivam situação análoga, o armário era uma realidade dizível, confortante e, ao mesmo tempo, assombrosa.

Assombrosa, pois ser arrancado de lá, digamos, era cruel, infame, vexatório para si e para a família, era ter direitos a menos, ou melhor, era não ter direitos, pois sua expressão e individualidade eram negadas pela sociedade como todo, sendo a única opção: calar-se diante do desprezo da família, dos amigos, da igreja, dos colegas, dos vizinhos, enfim, anular-se.

Obviamente que esse saudosismo se faz pela idade que vai avançando (é, estou ficando velho!), os tempos mudaram, as conquistas vieram, nossa luta e inserção obtiveram resultados significativos, embora ainda exista um quê rançoso em ser homossexual, temos direitos reconhecidos, já não somos anulados pela indiferença, ou ignomínia social, o debate avançou, a expressão individual e o direito a ela prevalecem na sociedade, óbvio que sempre acompanhados do preconceito daqueles que não aceitam o que você faz na cama com outro.

Isso faz com que nossa militância permaneça de forma ativa e isso é bom para todos. Não obstante, o meio homossexual é diverso, criativo e... cheio de manias (pois é, é divertidíssimo ser gay!), só para se ter uma ideia, em 2014, nos EUA, surgiu um tal de “Goys", são homens que se atraem por outros homens, mas que não aceitam ser definidos como gays, pois não praticam a penetração anal, de resto, tá liberado!  

Enfim, tanta criatividade em nosso meio e não conseguimos nos afastar da futilidade. Assim, lendo discussões, eu vi o termo GGG, contra uma pessoa, sendo levantado como argumento para se combater uma suposta ideia reducionista. Fiquei assustado, afinal, o que tinha as medidas corporais do sujeito a ver com a questão em si? Na minha época, P era tamanho pequeno, M era tamanho médio, G era tamanho grande, GG era tamanho muito grande e GGG era tamanho especial, roupas feitas para obesos que precisavam de medidas específicas.

Bem, como senti que a coisa extrapolava os meus conhecimentos, fui pesquisar e meu coração apertou. A falta de senso passou a figurar em índices ridículos. GGG é um termo que vem sendo usado para acusar a supervalorização do gay em demérito dos outros representantes da sigla LGBT. A questão é muito séria e o argumento propõe não haver uma homofobia, ou que ela não serve para expressar as necessidades específicas dos grupos como bissexuais (que sofreriam de bifobia), de lésbicas (que sofreriam lesbofobia) e por aí vai.

E, aqui, exatamente, o sinal vermelho acendeu. Nossa luta é contra a homofobia, caso contrário, qual é a violência que uma lésbica sofre, que um bissexual sofre, que um transexual sofre, que uma travesti sofre, antes de ser homofobia? Qual é o horror, o espanto, da condenação sexual da sociedade contra tais grupos que não seja, em  primeiro lugar, as pessoas  com genitálias iguais  praticarem o coito? Isso define a homofobia:  em que se tem homo, termo grego homós, -ê, -ón, e significa, o mesmo, igual, comum;  em que se tem fobia,  termo grego fóbos, -on, e significa, medo, aversão irreprimível. Homofobia= aversão irreprimível do igual, do comum, do mesmo sexo.

Dizer que cada grupo tem uma espécie de preconceito específico gerando uma demanda específica é sofisma, é discórdia, é tentativa de esvanecer a luta que travamos, todos os dias, contra o preconceito que, às vezes, disfarça-se de tolerância, mas continua desejoso em minar direitos e garantias sociais para todos nós homossexuais.

Penso e afirmo que todos  nós temos direto à visibilidade, ao reconhecimento, mas conquistá-lo não pode significar destruir a luta contra o real preconceito por atividades tribais, que contemplarão apenas categorias de uma sigla e não toda a comunidade de homossexuais envolta nessa luta.

Um exemplo disso é querer a inclusão de travestis e transexuais na lei Maria da Penha. Agora, somente travestis e transexuais teriam direto em não sofrer violência doméstica e familiar por serem homossexuais? Cadê o restante da galera? O certo é pleitear uma lei que condene a homofobia e, assim, todos no acrônimo seriam contemplados pelos direitos e garantias.

Fazer luta específica de tribos por conta de uma segregação imbecil, dentro da comunidade homossexual, é enterrar a nossa luta contra o preconceito, pois está trazendo discórdias e nada nos acrescenta. Infelizmente, chegamos a isso: a revolta de todos contra todos. 

sexta-feira, 23 de junho de 2017

SER FORA DO MEIO



Seria um clichê despudorado, um chove não molha daqueles que toda a comunidade está cansada de dizer e repetir, como se fosse um mantra, para nunca esquecerem: ser fora do meio é um horror!

Isso seria verdade caso a  sentença em si não estivesse plena de sofismas conceituais, elegendo-a na categoria de um rótulo minimalista, que não serve para nada, produzindo a solução mágica, contudo não atacando o problema de fato.

A nossa militância, ou melhor, a nossa comunidade não difere muito do pensamento religioso e seu modus operandi: o tempo todo está à procura dos inimigos externos. A religião não sobreviveria sem eles, afinal, dão forma, sabor, é aquele tempero que condiciona o ideal, é o paradigma que aponta contra o que e quem se lutar. Não bastasse o preconceito, passamos eleger inimigos secundários, começamos em nome de uma diversidade infinita diluir-nos em siglas, acrônimos, como se um preconceito comum a todos fosse específico de um grupo dentro da comunidade e não de outros.

Dessa forma, passamos a fazer a militância do substantivo sufixado: alguma coisa + fobia.  Diluídos nesse autismo conceitual de tribos sectárias (todos contra todos), não estamos conseguindo nos enxergar, olhar para nós mesmos e dizer que, às vezes, temos sido ridículos.

Fui, junto com tantos outros, defensor de que homossexuais tivessem o direito de constituir família reconhecido e aceito no campo jurídico brasileiro, isso aconteceu em 05 de maio de 2011, data histórica para nossa comunidade, mas o que se viu de lá até hoje é desanimador.

Teríamos que entender que a família moderna está para muito além do conceito de família nuclear, mas isso não foi  nem é refletido dentro de nossa comunidade, que se alegra em reproduzir o modelo família heterossexual feliz: imitam as cerimônias religiosas; as juras de fidelidade e amor eternos; os ritos são exatamente os mesmos.  Desta feita, não conseguem se reinventar fora do modelo heteronormativo e sem autocrítica disparam contra: cis, ativos, brancos, homens dentro do padrão,  etc...  contra os inimigos que elegeram para um grupo específico da sigla, como se todos nós não estivéssemos exatamente no mesmo barco e como se também não elegessem o “padrão” para si mesmos.

Agora  pouco,  lia sobre a nova moda de clareamento anal e chamou-me a atenção um comentário dizendo que a culpa disso é do ativo, padrãozinho, fora do meio que tem que ter sua necessidade satisfeita. Obvio que minha mente foi longe, afinal, primeiro, quem é que examina, EXCLUSIVAMENTE,  a cor do ânus de alguém antes de penetrar?: “Ah não meu caro! Seu ânus não é da cor que me dá tesão”, ou “Ei, estou a fim de penetrar em você, deixe-me ver se o seu ânus tem a cor padrão para minha pulsão sexual específica”. Segundo, como pode ser culpa desse ou daquele, antes de ser da pessoa que se submete ao clareamento?

A questão é que para tudo temos que apontar a culpa de alguém eleito para ser esse inimigo externo secundário, que vem tornando a nossa causa líquida, diluída e sem senso.  Fui pesquisar o que é ser fora do meio e, pasmo, descobri que é aquela pessoa que não gosta de frequentar boates, saunas, bares ou qualquer coisa do meio homossexual. Estritamente por isso essas pessoas são alvos das críticas da comunidade, mas a grande pergunta que se deveria fazer é:  tais pessoas que não gostam de frequentar os ambientes são preconceituosas por isso, ou por difundirem comportamento heteronormativo contra a comunidade?

Talvez, não é regra, mas a pessoa não gosta dos programas que o universo LGBT oferece, mas não necessariamente esteja enquadrando um padrão heteronormativo, apenas não se diverte nele.  Os transgêneros, por exemplo, muitos não gostam, não aceitam que se diga que, no passado, eles tinham outro sexo diferente do que possuem depois de operados, alguns até afirmam: “eu sou mulher”, ou invés de afirmarem: “eu sou homossexual”.

 Isso para mim, essa atitude, sim, é preconceito contra a homossexualidade e se não bastasse, hoje, fica a acusação de uns contra outros, minando o entendimento que nossa luta é contra a homofobia que se dá em desmerecimento de gays, lésbicas, travestis, transexuais, enfim, de todos que se atraem por pessoas do mesmo sexo biológico.


E o que temos feito sem nos darmos conta é: estamos reproduzindo a heteronormatividade no meio da homossexualidade sem nos descobrir, estamos nos atacando, todos contra todos, em nome do não cultivar preconceitos, mas  nos odiando mutuamente. Nosso papel não é fácil, pois temos que inventar um jeito de ser homossexuais, sem a imposição social, mas nosso jeito próprio e comum de ser. Enquanto importarmos o ódio social, que nos é jogado todos os dias, contra os acrônimos e os rótulos minimalistas não estaremos sendo nós mesmos, apenas reproduzindo tacitamente (e cegamente) o comportamento social que nos acusam e nos condicionam na marginalidade como párias e escórias da sociedade ideal.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Adão e Ivo, uma variante possível!




O desejo travesti de Adão

por: Renato Hoffmann

Certa vez, eu conversava com um professor de Letras, da UFMG, momento em que me surpreendi com o olhar sobre o personagem Frankenstein, da escritora romântica, inglesa, Mary Shelley. Na ocasião, o professor   relacionou-o como o primeiro travesti da história da literatura. A analogia usada, em tom de poesia, foi muito curiosa, significativa, além de bela e provocativa. De forma contemporânea, claro, sem se dar ao método de uma exposição acadêmica, contudo de uma riqueza inenarrável.

Vez ou outra, escutamos por aí que: “Deus criou Adão e Eva e não Adão e Ivo”, assim sendo, os favoráveis a esse argumento concluem:  “esse mesmo Deus não é a favor da homossexualidade, pois, se fosse, ele teria criado o homem para o homem, a mulher para a mulher e não a mulher para o homem”.
                     
Ora, sabemos que a Bíblia não fala literalmente em um Adão, não o estabelece como um único homem criado. A expressão hebraica para Adão, no sentido amplo, é Adamah: terra, solo, chão fértil e significa, na essência, HUMANIDADE, aquilo que pode ser cultivado, modelado. Há quem diga de solo vermelho. O termo é diferente de eres, que significa terra em oposição ao céu, ao mar, terra matéria, substância, há vários outros sentidos como o político: delimitação de domínio de um clã, de uma tribo, o geográfico: fronteiras, terras delimitadas, regiões.


A narrativa da revelação nos diz que Deus criou o ser humano (´adam) com o solo vermelho, fértil, cultivável (´adamah). Nesse momento não há distinção de gênero; Deus cria a humanidade, ou o ADAMAH.

Filosoficamente o Ser é só, é próprio que o homem viva a solidão, contudo,  ele só se dá conta de sua condição, quando ao seu semelhante percebe e não consegue transpor-se nele, no outro. Assim, o Ser é o que é, e o outro continuará sendo o que é, um sem se transpor no outro, cada um sendo indivíduo de si mesmo. Jean- Paul Sartre dirá nessa perspectiva que o outro é o inferno (o inferno é o outro).

A narrativa bíblica diz que Deus viu que o homem estava só e resolveu criar para ele uma companheira, assim Adão caiu em um profundo sono. Ora, se em um primeiro momento a narrativa fala de uma humanidade, bem certo que os gêneros nela já estejam definidos (mas não distintos), o escritor eloísta, em sua teodiceia, resolve explicar esse sentimento VAZIO do Ser, dando a ele uma companheira. Essa companheira nada mais seria do que o sonho de Adão. Adão sonha consigo mesmo (o sujeito sempre fala de si), Eva, nada mais é do que o desejo de Ser do próprio Adão. Eva é o Adão travestido nas escrituras, é tudo aquilo que o ADÃO não tem coragem de ser, assumindo-se em si mesmo... Eva é a mulher do fruto proibido, da desobediência: é o Adão se libertando do jugo de ser macho e se vendo feminino, percebendo-se delicado, passivo, histérico. Na narrativa ele dorme, enquanto é moldado em si mesmo, enquanto perde a vara, para receber o varão. E nisso Adão se compraz!

Adão e Eva, Ivo e Eva, Adão e Ivo nada mais é, nas escrituras, do que o desejo travesti de Adão.