Não é de hoje que vejo, com pesar,
manifestações que agridem valores, que lutamos para construir, na boca de pessoas
assumidamente gays, mas que não se incomodam de tê-las, pois foram "criadas" assim.
Para exemplificar bem o que digo, nada
melhor que tomar de exemplo Clodovil Hernandes. Gay, assumidamente gay, que se
orgulhava de reproduzir falas da sociedade heteronormativa, momento do qual ele
se via aceito ou próximo de uma “normalidade”, em última análise, sendo ele o
próprio culpado por toda rejeição social contra a sua sexualidade.
Vimos Ney Matogrosso declarar que
gay é o caralho, que ele se recusa a pegar essa bandeira, pois sua defesa é
mais abrangente, envolve índios, negros etc.
Aguinaldo Silva uma vez disse que em
suas novelas não teria o beijo gay, pois o grande público não queria ver, pois
estavam reunidos com suas famílias. Assim, a mensagem que essas personalidades passam, tacitamente, reproduz que o gay aceito é aquele que não faz
“bichices” em público ou na presença da família.
Pode parecer estranho, quando isso
vem de personalidades com grande alcance. Na verdade, o que elas fazem é
repetir o ódio que nunca morre, disfarçando em sutilezas, justificando-o em
maquiagens que o amenizam, mas o ódio é eterno.
Ódios sempre são alimentados, por
isso o racismo ainda hoje existe, por isso que a homofobia sempre vai existir,
o ódio é o sentimento mais fiel do mundo. Em um relacionamento em que houve
ressentimento de um, o ex será permanente, nunca passará, a velha história de
que: “é meu ex, não podemos ser amigos!”.
Quando os famosos reproduzem a
homofobia, o impacto é imediato; acontece, entretanto, que somos submetidos ao rancor
homofóbico todos os dias e, às vezes, nem percebemos. A internet deu voz aos
idiotas, dizia Umberto Eco... Ontem, por exemplo, observava pelo Facebook
homossexuais discutindo, em que gays negros humilhavam os gays “padrõezinhos”,
o motivo: eram padrõezinhos, entretanto, as agressões iam muito além disso. Gays
estavam humilhando gays por serem gays. Ser padrãozinho era a maquiagem que
disfarçava a homofobia internalizada.
Outro dia assistia, pelo You Tube,
Academia de Drags, em que uma das provas era “gongar o outro” Travestis humilhavam-se
mutuamente, disparando frases que retomavam a cultura heteronormativa, que inseria rancor e depreciação, mas era para ser engraçado. Às vezes, a maquiagem do ódio
é a piada.
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