Certa vez, eu conversava
com um professor de Letras, da UFMG, momento em que me surpreendi com o olhar
sobre o personagem Frankenstein, da escritora romântica, inglesa, Mary Shelley.
Na ocasião, o professor relacionou-o como o primeiro travesti da história da literatura. A analogia usada, em tom de
poesia, foi muito curiosa, significativa, além de bela e provocativa. De forma
contemporânea, claro, sem se dar ao método de uma exposição acadêmica, contudo
de uma riqueza inenarrável.
Vez ou outra, escutamos por aí que: “Deus criou Adão e Eva e não Adão e
Ivo”, assim sendo, os favoráveis a esse argumento concluem: “esse mesmo Deus não é a favor da
homossexualidade, pois, se fosse, ele teria criado o homem para o homem, a
mulher para a mulher e não a mulher para o homem”.
Ora, sabemos que a Bíblia não fala literalmente em um Adão, não o
estabelece como um único homem criado. A expressão hebraica para Adão, no
sentido amplo, é Adamah: terra, solo, chão fértil e significa, na essência,
HUMANIDADE, aquilo que pode ser cultivado, modelado. Há quem diga de solo
vermelho. O termo é diferente de eres, que significa terra em oposição ao céu,
ao mar, terra matéria, substância, há vários outros sentidos como o político:
delimitação de domínio de um clã, de uma tribo, o geográfico: fronteiras,
terras delimitadas, regiões.
A narrativa da revelação nos diz que Deus criou o ser humano (´adam) com
o solo vermelho, fértil, cultivável (´adamah). Nesse momento não há distinção
de gênero; Deus cria a humanidade, ou o ADAMAH.
Filosoficamente o Ser é só, é próprio que o homem viva a solidão,
contudo, ele só se dá conta de sua
condição, quando ao seu semelhante percebe e não consegue transpor-se nele, no
outro. Assim, o Ser é o que é, e o outro continuará sendo o que é, um sem se
transpor no outro, cada um sendo indivíduo de si mesmo. Jean- Paul Sartre dirá
nessa perspectiva que o outro é o inferno (o inferno é o outro).
A narrativa bíblica diz que Deus viu que o homem estava só e resolveu
criar para ele uma companheira, assim Adão caiu em um
profundo sono. Ora, se em um primeiro momento a narrativa fala de uma
humanidade, bem certo que os gêneros nela já estejam definidos (mas não
distintos), o escritor eloísta, em sua teodiceia, resolve explicar esse
sentimento VAZIO do Ser, dando a ele uma companheira. Essa companheira nada
mais seria do que o sonho de Adão. Adão sonha consigo mesmo (o sujeito sempre
fala de si), Eva, nada mais é do que o desejo de Ser do próprio Adão. Eva é o
Adão travestido nas escrituras, é tudo aquilo que o ADÃO não tem coragem de
ser, assumindo-se em si mesmo... Eva é a mulher do fruto proibido, da
desobediência: é o Adão se libertando do jugo de ser macho e se vendo feminino,
percebendo-se delicado, passivo, histérico. Na narrativa ele dorme, enquanto é
moldado em si mesmo, enquanto perde a vara, para receber o varão. E nisso Adão
se compraz!
Adão e Eva, Ivo e Eva, Adão e Ivo nada mais é, nas escrituras, do que o
desejo travesti de Adão.
MUITO INTERESSANTE ESSA EXPLANAÇÃO FEITA SOBRE ADÃO E EVA!
ResponderExcluirha um outro problema: a Biblia acabou por condenar ao ostracismo a figura de Lilith, a primeira companheira de Adão, segundo a tradição hebraica. Acontece, que, segundo a lenda, Lilith, realmente reia sido expulsa por Deus, pelo fato de não aceitar submeter a Adão. Seria uma analogia às identidades femininas fora do padrão patriarcal, ou Lilith teria sido a primeira travesti, anterior a Eva?
ResponderExcluirEu diria que Deus criou adão e Ivo sim
ResponderExcluirUsando a ideologia religiosa, Deus fez Eva que veio da costela de adão, Se Eva veio da costela de adão logo ela é homem, pq tem DNA masculino, ou então Eva era uma travesti ou uma transexual .