Lembro-me com saudosismo da época que minha única preocupação era ser gay e não sofrer por isso.
Como eu, milhões vivam situação
análoga, o armário era uma realidade dizível, confortante e, ao mesmo tempo,
assombrosa.
Assombrosa, pois ser
arrancado de lá, digamos, era cruel, infame, vexatório para si e para a
família, era ter direitos a menos, ou melhor, era não ter direitos, pois sua
expressão e individualidade eram negadas pela sociedade como todo, sendo a
única opção: calar-se diante do desprezo da família, dos amigos, da igreja, dos
colegas, dos vizinhos, enfim, anular-se.
Obviamente que esse
saudosismo se faz pela idade que vai avançando (é, estou ficando velho!), os
tempos mudaram, as conquistas vieram, nossa luta e inserção obtiveram
resultados significativos, embora ainda exista um quê rançoso em ser
homossexual, temos direitos reconhecidos, já não somos anulados pela
indiferença, ou ignomínia social, o debate avançou, a expressão individual e o
direito a ela prevalecem na sociedade, óbvio que sempre acompanhados do
preconceito daqueles que não aceitam o que você faz na cama com outro.
Isso faz com que nossa
militância permaneça de forma ativa e isso é bom para todos. Não obstante, o
meio homossexual é diverso, criativo e... cheio de manias (pois é, é
divertidíssimo ser gay!), só para se ter uma ideia, em 2014, nos EUA, surgiu um
tal de “Goys", são homens que se atraem por outros homens, mas que
não aceitam ser definidos como gays, pois não praticam a penetração anal, de
resto, tá liberado!
Enfim, tanta criatividade
em nosso meio e não conseguimos nos afastar da futilidade. Assim, lendo
discussões, eu vi o termo GGG, contra uma pessoa, sendo levantado como
argumento para se combater uma suposta ideia reducionista. Fiquei assustado,
afinal, o que tinha as medidas corporais do sujeito a ver com a questão em si?
Na minha época, P era tamanho
pequeno, M era tamanho médio, G era tamanho grande, GG era tamanho muito grande e GGG era tamanho especial, roupas feitas
para obesos que precisavam de medidas específicas.
Bem, como senti que a
coisa extrapolava os meus conhecimentos, fui pesquisar e meu coração apertou. A
falta de senso passou a figurar em índices ridículos. GGG é um termo que vem
sendo usado para acusar a supervalorização do gay em demérito dos outros
representantes da sigla LGBT. A questão é muito séria e o argumento propõe não haver uma homofobia, ou que ela não serve para expressar as necessidades específicas dos grupos como bissexuais (que sofreriam de bifobia), de lésbicas (que
sofreriam lesbofobia) e por aí vai.
E, aqui, exatamente, o
sinal vermelho acendeu. Nossa luta é contra a homofobia, caso contrário, qual é
a violência que uma lésbica sofre, que um bissexual sofre, que um transexual
sofre, que uma travesti sofre, antes de ser homofobia? Qual é o horror, o espanto, da
condenação sexual da sociedade contra tais grupos que não seja, em primeiro lugar, as pessoas com
genitálias iguais praticarem o coito? Isso define a homofobia: em que se tem homo, termo grego homós, -ê, -ón, e
significa, o mesmo, igual, comum; em que se tem fobia, termo grego fóbos, -on, e significa, medo, aversão
irreprimível. Homofobia= aversão
irreprimível do igual, do comum, do mesmo sexo.
Dizer que cada grupo tem
uma espécie de preconceito específico gerando uma demanda específica é
sofisma, é discórdia, é tentativa de esvanecer a luta que travamos, todos os
dias, contra o preconceito que, às vezes, disfarça-se de tolerância, mas continua
desejoso em minar direitos e garantias sociais para todos nós homossexuais.
Penso e afirmo que todos nós temos direto à visibilidade, ao
reconhecimento, mas conquistá-lo não pode significar destruir a luta contra o
real preconceito por atividades tribais, que contemplarão apenas categorias de
uma sigla e não toda a comunidade de homossexuais envolta nessa luta.
Um exemplo disso é querer
a inclusão de travestis e transexuais na lei Maria da Penha. Agora, somente
travestis e transexuais teriam direto em não sofrer violência doméstica e
familiar por serem homossexuais? Cadê o restante da galera? O certo é pleitear
uma lei que condene a homofobia e, assim, todos no acrônimo seriam contemplados
pelos direitos e garantias.
Fazer luta específica de
tribos por conta de uma segregação imbecil, dentro da comunidade homossexual, é enterrar a nossa luta contra o preconceito, pois está trazendo discórdias e nada nos
acrescenta. Infelizmente, chegamos a isso: a revolta de todos contra todos.
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