SOBRE O PASTOR NORTE-AMERICANO E SUA HOMOSSEXUALIDADE
Gostaria de fazer um comentário, aqui, neste texto, enquanto esse algo mais que, na verdade, é fruto de uma crítica filosófica ferrenha, mas epistemologicamente válida enquanto reflexão e analise ontológica.
O idealismo platônico permeia o discurso religioso, e a mente ocidental de forma geral. É fato que desde a physis, ou seja, o nascimento da filosofia com essa escola de pensamento, os naturalistas negaram a opinião e os sentimentos (sentidos), em prol da razão. O próprio Heráclito, celebre pelo pensamento do movimento, do que tudo passa, tudo escorre, tudo muda é, nessa condição, também contrário aos sentidos em favor de algo racional, dito como verdade superior: "a verdade consiste em captar para além dos sentidos a razão que governa todas as coisas". Ainda, dizia ser olhos e ouvidos más testemunhas para os homens, sendo a razão que julga a verdade. Ou seja, talvez, uma razão que contraria o seu próprio pensamento sobre o movimento de todas as coisas. Ele não diz, mas a estabelece como algo quase que intocável, o crivo último de todo o saber verdadeiro, algo como o divino. Quando acontece o surgimento da metafísica, e sua sistematização com Platão, todo o ranço grego contra os sentidos estava presente no pensador, e mais, toda a forma órfica de entender o homem e seu corpo, em uma dicotomia caustica com a alma.
O corpo é o cárcere da alma, lugar dos prazeres e dos vãos sentidos. Existe um mundo supra-sensível, um mundo Ideal, do qual um dia a alma contemplou, mas se esqueceu, por ter sido aprisionada no corpo, mas que eventualmente se lembra desse lugar, e do conhecimento verdadeiro ali adquirido. Essa postura é acentuada no estoicismo, e sua moral exacerbada, e transferida ao cristianismo pela figura do apostolo Paulo. Um mundo ideal, perfeito, harmônico conduzido pelo Belo. Toda a verdade administrada aos objetos conhecidos atribui a faculdade do cognoscente ser Idéia do Bem.
O algo mais se dá aqui! Um líder religioso, platônico na essência estrutural do pensamento, tem como forma ética uma postura idealizada do comportamento social, uma postura idealizada de vida, que imagina uma sociedade perfeita, harmônica e livre de todo mau, que é a ausência do Belo, do Bom. Entretanto, para que isso aconteça, essa Idéia se torne tangível, uma busca deve acontecer... Isso certamente deverá passar pela negação dos desejos e dos prazeres carnais, que aprisionam a alma, sucumbem a verdade e destroem a Razão. A negação do corpo, dos desejos causam uma "esquizofrenia perceptiva", uma patologia neurótica comportamental. A visão do ser-no-mundo, a mesmeidade, não condizem com a hipsidade. Eu me imagino idealisticamente, platonicamente, um ser santificado, um homem segundo o coração de Deus, em estado puro. No mundo tenho que negar meus sentidos, minhas paixões, meu corpo, aquilo que me afasta do estado Ideal; a minha mesmeidade é de um homem santo, que peca, mas que busca a purificação. Minha hipsidade é contraria, sou gay! Mas como ser-no- mundo, isso é inadmissível, pois não é meu estado ideal. A "esquizofrenia perceptiva", acontece de forma antropológica, eu sou gay, mas quero um estado Ideal. Portanto, combato tudo aquilo que é minha forma hipsica, e não me enxergo como gay, mas como alguém que ainda falha na busca do Ideal último.
Essa postura, que foi combatida por Nietzsche, é esse mal social que nega o mergulhar do homem em sua lama interior, compreendendo que essa "lama" não é má, não é suja, mas é a própria humanidade (húmus, terra, lama), em sua potencialidade de vir-a-ser o super- homem; aquele que não nega seus instintos, mas que os vive em estado pleno. Nesse aspecto, e termino aqui, concordo que não apenas o pastor evangélico é vitima de sua sexualidade mal resolvida, mas todo o ocidente aprisionado na Idéia de Platão e seu profeta Paulo, o apostolo.
Abraços
Renato Hoffmann
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