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Contudo, mesmo havendo a distinção anatômica e fisiológica, a distinção entre os gêneros continuou preconceituosa, atribuindo a Deus um status ideológico masculinizado, atendendo aos apelos da sociedade burguesa, capitalista, individualista, nacionalista, imperialista e colonialista dos paises europeus. De homem invertido, a mulher ganha o conceito de complemento do homem, mantendo a posição inferior. O homem é voltado para o mundo social amplo em seus conceitos econômicos e políticos, e segundo Parker (1991), a mulher ocupa a função doméstica, do mundo doméstico limitada à esfera familiar. Um fato agravante é a potência de Deus como gênero masculino, refletindo a tendência social da bissexualização e o reforço do masculino sobre o feminino, ressaltando a mulher em sua fragilidade corpórea (ossos e nervos), e também quanto ao prazer erótico, ou seja a mulher é frágil, desprovida do calar vital e menos privilegiada que os homens.
Falar de um Deus mãe pode parecer estranho, pode dar a entender uma interpretação gay de um travestismo da identidade de gênero dessa potência. De uma heresia, ou deboche frente à esfera sagrada do Deus trinamente masculinizado, Pai, Filho e Espírito Santo. Mas Deus mãe, evidencia o valor do lado materno e dignifica o gênero feminino nessa potência. O Deus pai, todo poderoso, onisciente, onipotente e onipresente está desatualizado, ultrapassado e decrépito frente ao apelo ideológico que ele carrega em si mesmo. Deus encarado apenas dentro do gênero masculino carrega um preconceito, e uma valorização desigual, desonesta, e desonrosa para assegurar o ônus de uma identidade, ou de um resgate à figura masculina, que se encontra na atual sociedade em decadência. Da mesma forma que o feminino ocupa seu espaço na sociedade, ele também tem que ocupar na religiosidade, e na religião. Cultuar uma divindade masculinizada é manter o “status quo” da marginalização contra o papel social da mulher. E ratificar o culto à masculinidade do século XIX. Uma vez que, segundo Laqueur, a reprodução das desigualdades sociais e políticas, entre homens e mulheres, se justificava pela norma natural do sexo. Em seguida, de efeito torna-se causa. A diferença de gêneros ganha um acordo, e passa a ser vista dentro das qualidades morais e sócias dos humanos. Agora, quem pode ser invertido sexualmente é o próprio homem. Demarcando a anormalidade frente às subjetividades sexuais masculinas. A partir da inferioridade sexual e política, da fragilidade do sexo, dos invertidos sexuais e da mulher, a FEMINILIDADE passará a atormentar o imaginário burguês. Algo precisava ser feito, para que esse estado de decadência, não fosse tomado como norma. Ou seja, o homem burguês sobreviveu a Revolução Francesa, a Industrial e as guerras, mas não conseguiu evitar a desordem no papel por eles representados. Tentando reconstruir o que está sendo diluído, a consolidação de uma masculinidade hegemônica a todos os homens.
Deus apenas como pai, é uma construção arrogante, espúria, desequilibrada, infantil e delinqüente. Uma superprojeção fálica, e libidinosa dos desejos dominadores, e desenfreados de um homem e de uma mulher sem coragem para encarar a vida, e suas expressões.
A figura do Deus mãe, ou a expressão da figura materna de Deus, trazem a nós, no presente século, o grito libertador, e justo pela humanização da religião. De um cristianismo igualitário, justo e não preconceituoso, ou excludente. Cria em nós o sentimento de uma sociedade, que preza pelo bem comum, e liberdade de todos os seus membros, como um todo simbólico no Deus mãe e pai, que nos da a vida. Em outras palavras, a elevação em supremacia de um determinado gênero sobre o outro, é a própria agressão de todo o humano, masculino efemino em equilíbrio. Um deus tipicamente masculino é necessariamente sanguinário, uma deusa tipicamente feminina libidinosa e fértil, um Deus mãe e pai, concentram em si, todo o caráter da criação perfeita, que não é uma criação de gêneros, mas de liberdade e harmonia.
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