Alergia ao látex: falta algo no sexo seguro?
por João Marinho
Uma coisa que tem me causado preocupação em relação ao sexo seguro - e que me veio à mente por conhecer pessoas que passam pelo problema - é... O que acontece quando a pessoa tem alergia ao látex comumente usado no preservativo masculino?
Sim, todas as propagandas e campanhas relacionadas ao sexo seguro e à prevenção ao HIV/Aids focam esse ponto: use camisinha! Mas, quando a pessoa tem algum grau de intolerância à “borracha”, pouco é dito... Ou nada - e, mesmo existindo também a camisinha feminina, ela nunca é enfatizada nas campanhas, já notaram?
O problema parece pouco sério. Em pesquisas realizadas em sites especializados, os mesmos indicam que a sensibilidade ao látex - que teria se originado do uso indiscriminado do material em hospitais a partir da década de 80, segundo esta reportagem do Via Mulher - ocorre em até 6% da população. É um público que possui algum grau de intolerância ao produto.
Essa intolerância varia desde uma dermatite de contato, com coceira, vermelhidão, inchaço e mesmo formação de feridas até formas mais severas, que podem chegar ao choque anafilático. Então, pensamos... Mas se “só” 6% das pessoas têm um problema assim, para que se preocupar, não é?
A preocupação surge quando convertermos a porcentagem em números inteiros. O Censo 2010 registra que o Brasil tem hoje mais de 190 milhões de habitantes. Se tão somente jogarmos sobre esse número a porcentagem de 6%, temos aí mais de 11 milhões de pessoas para quem o uso da camisinha tradicional simplesmente não é uma opção.
É um número maior do que os habitantes da maior cidade do país, São Paulo, ou, se vocês preferirem, mais que a população inteirinha do Rio Grande do Sul ou do Paraná, ou ainda próximo à soma das populações dos estados do Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí. Para mim, ter “três estados” de pessoas que não podem usar o preservativo tradicional é um problemão...
O que fazer nesses casos? O que muitos não sabem é que os preservativos de látex não são a única opção do mercado. Existem, por exemplo, as camisinhas masculinas de poliuretano, que não levam látex e têm uma resistência similar à dos primeiros. O poliuretano é também o material mais usado na camisinha feminina, justamente por ser hipoalérgico, o que faz dela igual candidata para contornar a sensibilidade ao látex.
Os problemas são: (1) encontrar e (2) pagar. Embora a camisinha feminina seja distribuída gratuitamente em alguns centros de referência, ela é bem menos disponível e mais difícil de encontrar. Mesmo em farmácias, vocês já devem ter percebido, ela não é propriamente o item mais comum – e, comprada, é também mais cara.
As camisinhas masculinas de poliuretano têm uma situação pior ainda. Simplesmente, pelo menos até um tempo atrás, não existiam no Brasil! A opção era comprar em sites de importação ou em sex shops, um problemão para quem tem acesso restrito à internet nos rincões do País ou não mora em grandes centros, em regiões onde sex shops são menos comuns e/ou, existindo, menos equipadas. Como item importado, o valor também não é dos mais convidativos. Nas farmácias, atendentes e farmacêuticos até mesmo desconhecem que elas existam.
Atualmente, existe no Brasil a opção da camisinha UNIQUE, que ilustra este texto. Ela é produzida em A10, uma resina de polietileno, está disponível na internet, onde é possível comprar ou saber em qual farmácia encontrar, e é vendida em uma cartela com três unidades, que pode custar de R$ 12 até... R$ 22! Uma facadinha, né? Especialmente para quem tem vida sexual mais ativa. Para quem é passivo, as opções ficam ainda piores, já que oferecer um preservativo masculino que não seja de látex pode causar estranhamento no parceiro e, claro, pelo fator preço.
Há, porém, uma opção mais barata. A famosa marca Blowtex lançou a sua camisinha PREMIUM, que é também "latex free", produzida em poli-isopreno. A embalagem com duas unidades é vendida a pouco mais de R$ 4 neste site.
As pesquisas, porém, ainda não apontaram definitivamente o grau de eficácia do uso anal do preservativo feminino no sexo gay – e, aliás, também no hétero, afinal a mulher pode praticar sexo anal e também ter sensibilidade ao látex, não é? Felizmente, tudo indica que os prognósticos são bons.
Ademais, se nos guiarmos pela lógica de que melhor uma barreira do que nenhuma e, se for possível, melhor gastar mais do que ter inchaços, coceira e feridas (que, por sinal, aumentam o risco de contágio de DSTs), restam essas opções para os alérgicos a látex: usar a camisinha feminina no sexo hétero vaginal ou anal e no sexo gay (anal), importar uma masculina de poliuretano na Web ou na sex shop mais perto de sua casa ou comprar a Unique ou a Blowtex Premium.
Só fica a dúvida do porquê não se avalia se todas as camisinhas poderiam ser feitas de material hipoalérgico por padrão e assim distribuídas nos serviços de saúde... E do porquê que ainda não inventaram uma camisinha anal, uma vez que, verdade seja dita, já passou da hora, não é?
Foto: Reprodução
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