A descoberta das origens do HIV
por João Marinho
Em homenagem ao Dia
Mundial de Luta contra a Aids, 1º de dezembro
Kinshasa, Congo Belga, 1908. Como é tradição no país, um
homem vai a um mercado local e compra uma deliciosa mistura para o almoço, muito
apreciada na região: carne de macaco.
Depois do banquete, o homem manda seus filhos brincarem na
vizinhança e tem uma “tarde quente de sexo” com sua esposa. À noite, com a
desculpa de que vai sair com amigos, ele encontra seu amante na aldeia próxima.
O homem não sabe, mas o hábito de comer carne de macaco
instalou um novo vírus em seu organismo, que será desconhecido pela ciência nos
próximos 70 anos e que iria matá-lo, sua esposa e seu amante: o HIV.
A cena anterior é fictícia, mas podia ser verdade. O HIV,
nós sabemos o que é. Ele se tornou conhecido em 1981, quando os Estados Unidos
enfrentaram o surto de um tipo raro de câncer – o sarcoma de Kaposi – e de uma
misteriosa condição de saúde, caracterizada pela progressiva destruição dos
glóbulos brancos do sangue. Pouco tempo depois, ficou claro que os usuários de
drogas e os homens gays eram os mais atingidos pela nova doença. Eles eram tão
afetados que a nova doença recebeu o nome de GRID (em inglês, deficiência
imunológica relacionada aos gays).
Entre 1983 e 1984, dois grupos de cientistas, um liderado
pelo Dr. Luc Montagnier, na França, e outro chefiado pelo Dr. Robert Gallo, nos
Estados Unidos, isolaram e identificaram o agente viral que causava a doença.
Por um tempo, acreditou-se que o Dr. Gallo era o único ou
primeiro descobridor do HIV. A polêmica começou no início dos anos 80, quando,
depois de ter isolado o vírus e desenvolvido um teste para detectá-lo nos
pacientes, o governo dos Estados Unidos convidou-o a anunciar a descoberta sem
o grupo francês, que já tinha escrito um artigo sobre o agente .
Hoje, sabemos que a equipe do Dr. Montagnier foi a primeira
a publicar um artigo sobre o isolamento do vírus – e que o Dr. Gallo tinha
recebido algumas amostras contaminadas com o vírus “francês”, que estava sendo
estudado. Atualmente, reconhece-se que tanto Luc Montaigner quanto Robert Gallo
são os descobridores – e também o Dr. Jay Levy, que, concomitantemente, tinha
isolado o vírus na Universidade da Califórnia, mas permaneceu fora da polêmica.
Não obstante, o anterior HTLV-III, que havia sido nomeado
assim pelo Dr. Gallo, tornou-se o HIV (em inglês, vírus da imunodeficiência
humana). A doença, por sua vez, foi rebatizada como aids (em inglês, síndrome
da imunodeficiência adquirida) e mostrou que não era “relacionada aos gays”,
afinal: ela se propaga através de fluidos sexuais, sangue e leite materno.
Se você leu este artigo até agora, a história do quarto ao
oitavo parágrafos é certamente bem conhecida por você – mas o que dizer de
Kinshasa, 1908, carne de macaco e HIV? Por que começamos por aí? Na verdade, há
uma grande lacuna na história do HIV para a maioria das pessoas, o que as levou
a acreditar que a aids é uma doença muito nova, que nasceu nos anos 80 e surge
devido a comportamentos sexuais libertários – e, por isso, um tipo de punição criada
por Deus, de acordo com algumas visões religiosas.
Na verdade, entre 2007 e 2008, um grupo de cientistas
liderados pelo Dr. Michael Worobey, da Universidade do Arizona em Tucson,
publicou dois artigos que relataram a descoberta da história prévia do HIV – e
da aids.
Hoje em dia, a tese mais aceita sobre a origem do HIV é um
vírus semelhante que ataca mais de 30 espécies de primatas africanos: o SIV
(vírus da imunodeficiência símia). As duas principais cepas do HIV – o HIV-1,
que causa a doença pandêmica em todo o mundo; e o HIV-2, que sobrevive
principalmente na África – nasceram de uma mutação do SIV que existia em dois
grupos de chimpanzés. Isso foi provado por análise genética de ambos os vírus,
HIV e SIV. Acredita-se que a migração do SIV para os seres humanos e a mutação
que originou o HIV tenham vindo do hábito milenar de comer carne de macaco na
África Central.
O primeiro artigo da equipe de pesquisadores da Universidade
do Arizona foi publicado em 2007 na revista Proceedings
of the National Academy of Sciences. Usando análise genética de pessoas
infectadas nos primeiros anos, eles traçaram a rota do HIV pelo mundo.
Depois que nasceu na África Central, o HIV se espalhou pelo continente
e foi transmitido para os haitianos que estavam na África convidados por
governos para trabalhar, devido ao desenvolvimento urbano das cidades
africanas. Acredita-se que o vírus tenha viajado para o Haiti em 1966 e entrado
nos Estados Unidos em 1969, devido à imigração haitiana. Dos Estados Unidos, a
expansão continuou pelo globo.
O segundo artigo foi publicado em 2008 na revista Nature. Nessa pesquisa, o Dr. Worobey e
seus colegas analisaram as duas amostras mais antigas de sangue contendo HIV:
uma é de 1959 e pertence a um homem que morreu em Kinshasa, ex-Congo Belga e
atual República Democrática do Congo; a outra pertence a uma mulher da mesma
cidade. A data da amostra: 1960.
O Dr. Worobey e seus pesquisadores descobriram que ambos os vírus
se originaram de um mesmo hospedeiro humano, que se acredita ter vivido entre
1884 e 1924. Eles até arriscaram uma data para o nascimento do HIV: 1908. É
quando nossa história começa.
Ótimo texto. Super didático.
ResponderExcluirAbração.
Nem tanto assim.
ResponderExcluirSupõe-se que esteja correto mas ao ver o Video e a reportagem intitulada:
AS ORIGENS DA SIDA.
Produzida na Europa pelos franceses e Portugueses mudará de opinião. A SIDA realmente foi criada em laboratório por um erro grosseiro de falta de controle ao s usar macacos CONTAMINADOS PELA SIV na produção de vacinas contra a POLIOMIELITE(paralisia infantil).
O vídeo é longo mas esclarecedor e ESTARRECEDOR. Conta com DEPOIMENTOS, DOCUMENTOS, FOTOS e chagam mesmo a irem nos lugares onde tudo começou.
Para mim só não existe cura ainda pois não interessa a INDUSTRIA FARMACÊUTICA e o tratamento do HIV1 e HIV2 (pois são DOIS vírus caso não saibam) dá uma sobrevida muito alta. E a carga viral diminui bastante podendo ficar quase INDETECTÁVEL mas o doente não fica curado.
Tenho dois casos de HIV em minha família.