sábado, 1 de julho de 2017

LGBTT MAIS O QUÊ? : O ACRÔNIMO DA DISCÓRDIA, DA REVOLTA DE TODOS CONTRA TODOS.



Lembro-me com saudosismo da época que minha única preocupação era ser gay e não sofrer  por isso.
Como eu, milhões vivam situação análoga, o armário era uma realidade dizível, confortante e, ao mesmo tempo, assombrosa.

Assombrosa, pois ser arrancado de lá, digamos, era cruel, infame, vexatório para si e para a família, era ter direitos a menos, ou melhor, era não ter direitos, pois sua expressão e individualidade eram negadas pela sociedade como todo, sendo a única opção: calar-se diante do desprezo da família, dos amigos, da igreja, dos colegas, dos vizinhos, enfim, anular-se.

Obviamente que esse saudosismo se faz pela idade que vai avançando (é, estou ficando velho!), os tempos mudaram, as conquistas vieram, nossa luta e inserção obtiveram resultados significativos, embora ainda exista um quê rançoso em ser homossexual, temos direitos reconhecidos, já não somos anulados pela indiferença, ou ignomínia social, o debate avançou, a expressão individual e o direito a ela prevalecem na sociedade, óbvio que sempre acompanhados do preconceito daqueles que não aceitam o que você faz na cama com outro.

Isso faz com que nossa militância permaneça de forma ativa e isso é bom para todos. Não obstante, o meio homossexual é diverso, criativo e... cheio de manias (pois é, é divertidíssimo ser gay!), só para se ter uma ideia, em 2014, nos EUA, surgiu um tal de “Goys", são homens que se atraem por outros homens, mas que não aceitam ser definidos como gays, pois não praticam a penetração anal, de resto, tá liberado!  

Enfim, tanta criatividade em nosso meio e não conseguimos nos afastar da futilidade. Assim, lendo discussões, eu vi o termo GGG, contra uma pessoa, sendo levantado como argumento para se combater uma suposta ideia reducionista. Fiquei assustado, afinal, o que tinha as medidas corporais do sujeito a ver com a questão em si? Na minha época, P era tamanho pequeno, M era tamanho médio, G era tamanho grande, GG era tamanho muito grande e GGG era tamanho especial, roupas feitas para obesos que precisavam de medidas específicas.

Bem, como senti que a coisa extrapolava os meus conhecimentos, fui pesquisar e meu coração apertou. A falta de senso passou a figurar em índices ridículos. GGG é um termo que vem sendo usado para acusar a supervalorização do gay em demérito dos outros representantes da sigla LGBT. A questão é muito séria e o argumento propõe não haver uma homofobia, ou que ela não serve para expressar as necessidades específicas dos grupos como bissexuais (que sofreriam de bifobia), de lésbicas (que sofreriam lesbofobia) e por aí vai.

E, aqui, exatamente, o sinal vermelho acendeu. Nossa luta é contra a homofobia, caso contrário, qual é a violência que uma lésbica sofre, que um bissexual sofre, que um transexual sofre, que uma travesti sofre, antes de ser homofobia? Qual é o horror, o espanto, da condenação sexual da sociedade contra tais grupos que não seja, em  primeiro lugar, as pessoas  com genitálias iguais  praticarem o coito? Isso define a homofobia:  em que se tem homo, termo grego homós, -ê, -ón, e significa, o mesmo, igual, comum;  em que se tem fobia,  termo grego fóbos, -on, e significa, medo, aversão irreprimível. Homofobia= aversão irreprimível do igual, do comum, do mesmo sexo.

Dizer que cada grupo tem uma espécie de preconceito específico gerando uma demanda específica é sofisma, é discórdia, é tentativa de esvanecer a luta que travamos, todos os dias, contra o preconceito que, às vezes, disfarça-se de tolerância, mas continua desejoso em minar direitos e garantias sociais para todos nós homossexuais.

Penso e afirmo que todos  nós temos direto à visibilidade, ao reconhecimento, mas conquistá-lo não pode significar destruir a luta contra o real preconceito por atividades tribais, que contemplarão apenas categorias de uma sigla e não toda a comunidade de homossexuais envolta nessa luta.

Um exemplo disso é querer a inclusão de travestis e transexuais na lei Maria da Penha. Agora, somente travestis e transexuais teriam direto em não sofrer violência doméstica e familiar por serem homossexuais? Cadê o restante da galera? O certo é pleitear uma lei que condene a homofobia e, assim, todos no acrônimo seriam contemplados pelos direitos e garantias.

Fazer luta específica de tribos por conta de uma segregação imbecil, dentro da comunidade homossexual, é enterrar a nossa luta contra o preconceito, pois está trazendo discórdias e nada nos acrescenta. Infelizmente, chegamos a isso: a revolta de todos contra todos.