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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Adoção e o direito da verdade sobre a origem biológica

Lei que deu a filho adotivo direito de conhecer origem biológica melhora adaptação



Especialistas defendem confiança na relação


A nutricionista Ester Gonçalves (nome fictício), de 44 anos, sente-se como se fosse personagem de uma novela, só que na vida real. Ela sempre soube que era adotada, mas ninguém contava a ela a história verdadeira. Nas visitas recebidas em casa, as pessoas trocavam olhares entre si e a mãe adotiva distribuía cotoveladas quando alguém ameaçava tocar no assunto proibido. Para evitar mais constrangimentos, Ester fingia não saber de nada. Desde os 4 anos, porém, descobriu o fio da meada com a chegada do irmão mais novo, também adotado. “Perguntei à mamãe porque a barriga dela não tinha crescido. Ela inventou uma história e disse que havia usado uma cinta durante a gravidez. Era o começo de uma vida de mentiras. Eu me sentia enganada o tempo todo”, afirma.

Se o processo de adoção de Ester tivesse ocorrido nos dias de hoje, ela teria direito a saber, desde criança, que é adotada, não apenas por uma mudança de comportamento em relação à adoção no país, mas também por força de lei. A partir da Lei Nacional da Adoção (12.010/09), o direito a conhecer a origem biológica passou a fazer parte do artigo 48 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Acolhida por um casal de advogados de renome de Belo Horizonte, Ester seria criada dentro dos novos termos da lei, o que evitaria problemas futuros. “Quando chegavam visitas, eu me trancava no quarto. Meu maior trauma era ter de fingir para todo mundo da família que eu não sabia a verdade”, completa.

Trauma

Só descobre que foi adotado quem nunca ficou sabendo a verdade desde criança. Segundo juristas, assistentes sociais e psicólogos, a revelação tardia da adoção é o principal motivo que pode prejudicar o sucesso de um processo de adoção, levando muitas vezes à revolta contra os pais adotivos. Ester não chegou a esse ponto, mas só se casou mais tarde, aos 38 anos, e nunca quis ter filhos. “Quando tinha 20 e poucos anos, eu e meu irmão fomos à casa da mulher de um senador, que havia facilitado a transação. Ele nem abriu a porta. Pela janela do casarão, disse que nem que enfiassem uma faca no seu peito ela iria contar a verdade. Parecia uma cena de novela, que ficou gravada na minha memória”, revela.

Com a lei, o momento de contar a verdade tem se tornado cada vez menos traumático para a criança e também para os pais. Se quiser saber toda a verdade sobre seus pais biológicos, o filho adotivo terá acesso irrestrito aos detalhes do seu processo de adoção. Basta procurar o Juizado da Infância e da Juventude. A revelação da origem biológica poderá ser feita após ele completar 18 anos ou até antes disso. Se for menor de idade, terá de obter a autorização do juiz, que vai designar um psicólogo e um advogado para acompanhar o caso.

Processo aberto

Segundo o juiz Marcos Padula, titular do Juizado da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, a requisição da pasta de adoção em nome da criança independe de autorização dos pais. “O jovem vem aqui e pede para ter acesso a seu processo, que será entregue em mãos. Se tiver interesse, ele pode ter acesso aos nomes dos pais biológicos e, na maioria dos casos, ao endereço da mãe e também de algum familiar biológico, além do estudo psicossocial que levou à entrega do filho para adoção”, explica. Para que isso ocorra, porém, o processo terá de ser feito sob a barra dos tribunais.

A revelação tardia para o filho é o maior fator de insucesso no processo da adoção, alerta a psicóloga Lídia Weber, da Universidade Federal do Paraná. Ela mediu práticas parentais de 600 crianças, jovens e adultos brasileiros, adotados ou não. “Ficamos sabendo de histórias mágicas de adoções interraciais, de adoções tardias (de filhos mais velhos), de grupos de irmãos. Todas elas deram certo. Tiveram adaptação mais demorada ou mais rápida, dependendo da família. Já a revelação tardia mostrou ser um sério fator de risco”, compara.

O que diz a lei


A Lei Nacional da Adoção, nº 12.010/2009, incluiu o direito à revelação da origem biológica no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90). Artigo 48: “O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 anos”. Parágrafo único: “O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18 anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica”.

Revelação tardia é traumática

Adotado aos 13 anos, o escritor e contador de histórias Roberto Carlos Ramos, de 47 anos, parte do princípio de que “não existe verdade que não deva ser falada”. Com a revelação imediata, é possível evitar choques futuros ou a busca desesperada pelos pais biológicos. “Quando se descobre de forma tardia, todos os desesperos da adolescência e a rebeldia passa a ter uma causa. Essa situação poderia ser evitada”, afirma o escritor, que já adotou 14 filhos.

Segundo ele, quando o jovem se sente abraçado como se fizesse parte da família e está bem estruturado, ele nem sente a necessidade de reencontrar os pais biológicos. Ex-menino de rua em Belo Horizonte, Roberto Ramos foi adotado em 1979 pela pesquisadora francesa Margherit Duvas, que o conheceu na antiga Febem. Sua história inspirou o diretor Luiz Villaça no filme O contador de histórias.

“Tudo conversado é resolvido”, afirma o percussionista, Marcelo Adalton, de 36. Desde que se entende por gente ele sabe que é adotado. Ele afirma que, aos 11 anos, foi forçado pela família adotiva a conhecer a mãe biológica. “Foi um baque. Antes de ir já não queria e depois nunca mais procurei. Não quero misturar as coisas. Para mim, é como se nunca tivesse existido a outra família e sinto que esse sentimento é recíproco da parte dos meus pais”, afirma.

Segundo Marcelo, hoje ele até se esquece de contar a história da adoção. O segredo ficou em segundo plano. “Quando conto para alguém, a pessoa geralmente não acredita, pois me pareço muito com as pessoas daqui de casa”, afirma. Solteiro, ele faz companhia para a mãe, a dona de casa Mariza de Sousa Freitas, de 66, no Bairro Nova Vista, em BH. 

Sucesso em acolhida temporária

A recomendação da advogada carioca Silvana do Monte Moreira, presidente da Comissão Nacional da Adoção pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFam), é contar a verdade desde o primeiro contato da família adotiva com a criança ou adolescente. “Desde o momento em que a criança chega em casa, mesmo que não tenha idade para perceber tudo, ela tem de ter noção de que é uma criança escolhida pelos pais. Tem de saber que não veio da barriga da mãe. A base de um relacionamento é a confiança”, lembra.

Nem todos os casais que adotam, porém, estão totalmente preparados para receber uma criança e muito menos para contar a verdade ao filho. “Atendo uma família em que a menina já tem 7 anos e o casal está em pânico para contar a adoção. Geralmente, quem esconde a verdade tem medo de ser rejeitado pela criança, mas ela não faz isso nunca com os pais adotivos, pois está louca para ganhar um lar; os pais é que são inseguros”, afirma Sandra Amaral, coordenadora do grupo de apoio à adoção De Volta para Casa, de Divinópolis. Segundo ela, o casal chegou a simular uma foto da mãe grávida, como forma de sustentar a mentira até chegar a hora de abrir o jogo.

Para Sandra, antes de partir para a adoção, que é irreversível segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, os casais deveriam passar pela experiência de se tornar família acolhedora, de forma temporária e por prazo determinado. “É uma forma sutil e delicada de o juiz da infância mostrar ao casal que ele não está pronto para adotar uma criança. Muitos desistiram de adotar ao descobrir que a criança chora à noite e precisa de trocar fralda”, explica.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Carta do presidente da ABGLT ao Zé Dirceu

Toni Reis, presidente da ABGLT, parabeniza Zé Dirceu pela crítica ao PT e cobra do Governo Federal o compromisso com os direitos humanos e com o combate à homofobia.

Toni Reis presidente da ABGLT


Prezado José Dirceu de Oliveira e Silva -  Companheiro Zé Dirceu, de tantas lutas  contra todas as formas de opressão. 

Como profissional de direito, articulista e político, você foi muito feliz ao defender a laicidade do Estado e o direito das pessoas à individualidade, à autonomia, à dignidade, à igualdade*.

Estamos perplexos  com certos posicionamentos do governo federal que não estão de acordo com as bandeiras históricas do PT - que tem uma trajetória de compromisso com os direitos humanos e com o combate à homofobia.

Estamos  realmente preocupados com o rumo  que está tomando a discussão sobre os direitos  das pessoas LGBT no   Brasil, particularmente no último ano no excutivo e  legislativo:

- o projeto de criminalização da homofobia está parado no Congresso Nacional.

- houve um veto explícito do material educativo do projeto Escola sem Homofobia, do Ministério da Educação, pela própria presidenta  Dilma.

-  houve, agora, um veto/censura  à campanha de prevenção de  Aids no  Carnaval, segundo consta, novamente determinado pela presidenta Dilma.


Estes são apenas três exemplos de retrocesso na caminhada pela garantia da igualdade entre todas as pessoas, no combate à violência, ao preconceito, à discriminação.

Como diria nosso querido Lula: "nunca antes neste país" o governo federal foi tão pautado por posições das bancadas religiosas fundamentalistas, que não têm compromisso com os direitos humanos.

Estamos ocupando espaços na mídia e no Ministério Público para denunciar esses problemas. Além de já ter feito denúncias nos espaços  de  controle  social em que estamos representados (Conselhos, Grupos  de  Trabalho, Conferências  entre outros)  E  em breve faremos todas as denúncias internacionais  com os devidos protestos de rua que aprendemos a fazer durante todos esses anos de luta.

Agora mesmo voltamos às ruas na III Marcha Nacional Contra Homofobia. Queremos que o governo federal retome as políticas de combate à homofobia e tire do papel as diretrizes aprovadas na II Conferência LGBT, ocorrida em dezembro de 2011.

É fundamental pautar esta discussão dentro do Partido dos Trabalhadores, como você bem recomenda. Afinal, o PT é o Partido da Presidenta Dilma e é o depositário de tantas esperanças dos movimentos sociais e de milhões que lutaram e lutam por transformação e justiça.

Parabéns pela lucidez e pela forma tranquila, mas firme, com a qual você abordou um tema tão caro para a comunidade LGBT brasileira.

Parabéns por estar firme e forte no bom combate em favor das causas justas, contra todo e qualquer tipo de discriminação e preconceito, pela garantia da  laicidade do Estado.

Toni Reis
Presidente da ABGLT

Na oportunidade Toni Reis comentou a seguinte manifestação de Zé Dirceu: 

*O PT e não o governo precisa assumir disputa política contra a direita
Publicado em 16-Fev-2012

Debater o aborto, a homossexualidade e a questão ideológica...
Uma ameaça de crise com a bancada evangélica (pluripartidária), desencadeada pelo tema do aborto e por declarações sobre a necessidade de o governo conquistar o numeroso contingente de trabalhadores chamado de nova classe C, que está nas mãos dos conservadores, levou o Secretário-Geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, ao Congresso Nacional para espontaneamente dar explicações aos parlamentares religiosos.

A crise só chegou a se esboçar e foi considerada superada por deputados e senadores da própria bancada evangélica, que se considerou satisfeita com as explicações do governo. Não foi contornada, no entanto, da forma ideal.

O governo não precisava entrar nessa disputa. Estes temas - aborto, questões ideológica, homossexualidade - ainda que dividam inclusive a nossa bancada, precisam ser enfrentados não pelo governo, mas pelo PT, por suas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais.

Temas já estão sendo explorados na campanha deste ano

Eles estão aí, precisam ser discutidos e, infelizmente, serão explorados na campanha eleitoral - de novo, a exemplo do que ocorreu em 2010. Não deveriam, já que o aborto e a homossexualidade não são temas políticos, são questões de foro íntimo, pessoais, e de gênero.

Mas, já estão sendo explorados diariamente, pelos nossos adversários, na questão do aborto com críticas à nova ministra de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci; e na da homossexualidade, com a história que a imprensa chama de kit gay (um material de esclarecimentos elaborado pelo MEC) contra o nosso candidato a prefeito de São Paulo este ano, o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad.

São questões polêmicas que a nova direita, para fugir do embate ideológico, converteu em suas bandeiras e agora empunha com amplo espaço na imprensa. No dia a dia, nos jornais; na semana, nas revistas. À frente a VEJA, líder na vanguarda do atraso. As posições de VEJA hoje sobre comportamento só se comparam com as da direita norte-americana do Tea Party e Cia.

Debater sem patrulhamento e com respeito ao caráter laico do Estado


Vamos ao combate e ao debate, então - o partido, não o governo. Cabe aos que no PT, no Parlamento e na sociedade defendem o fim do preconceito e da violência contra os homossexuais, o direito da mulher decidir sobre seu corpo, e que o aborto tem que ter um tratamento como questão de saúde pública, travar essa batalha.

Podemos, devemos fazê-lo, e temos todas as condições de encarar essa disputa política e abrir este debate. E de promovê-lo respeitando as posições e
opiniões divergentes, mas sem aceitar o patrulhamento e nenhum ato restritivo das liberdades individuais e do caráter laico do Estado brasileiro.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

MG: Professora transexual tem nome social reconhecido

Publicado no Jornal OTEMPO
Sayonara está feliz com decisão


Uma professora transexual da rede estadual de ensino em Uberlândia, no Triângulo, comemorou a orientação do governo de Minas de que o nome social seja utilizado na administração pública direta e indireta. A resolução 8.496 assegura "às pessoas transexuais e travestis a identificação pelo nome social no âmbito da administração pública do poder executivo".

Isso significa que, nos documentos referentes à sua vida funcional, a professora poderá utilizar o nome Sayonara Nogueira e não o seu nome civil, Marcos Nogueira.

Para agentes públicos, a resolução assegura que o nome social pode ser usado em documentos de identificação funcional e em comunicações internas, mediante requerimento.

As normas de como essa solicitação deve ser feita ainda estão sendo estudadas no governo, mas o certo é que a professora terá o nome Sayonara em documentos relacionados à sua vida profissional. "Meu maior desejo é mudar o nome no diário de classe. Quando os alunos veem o nome Marcos eles não entendem. Poder usar o nome que eu escolhi é um sinal de respeito profissional", explica a professora, que já manifestou o interesse de utilizar seu nome social nos departamentos pessoais das escolas nas quais trabalha.

Professora dos anos finais do ensino fundamental e médio, Sayonara iniciou sua trajetória como professora há dez anos. Segundo ela, por meio do diálogo, ela conseguiu ser acolhida pela comunidade escolar e pelos alunos.

A coordenadora Especial de Políticas de Diversidade Sexual de Minas, Walkíria La Roche, afirma que não são apenas os servidores que poderão se beneficiar dessa resolução. "Qualquer pessoa que tiver uma relação com a administração pública garante esse tipo de tratamento. Um visitante numa unidade da administração, por exemplo, poderá, se quiser, ser identificado pelo nome social", explica.

A resolução assegura que o nome social tenha preferência, salvo em casos em que o nome civil seja uma exigência legal, como em concursos públicos.
"Sempre converso com meus alunos. Os adolescentes têm a mente mais aberta para a inclusão social e eu tive uma acolhida muito boa."Sayonara Nogueira
Professora

sábado, 13 de agosto de 2011

Somos inclusivos?



Certa vez, em um artigo, afirmei que ninguém quer um pobre por perto... Esse pensamento não é fruto de um arroubo político, de teorias libertárias e revolucionárias, pelo contrário, é simples constatação do quotidiano, daquilo que muitas vezes elegemos para nós e, em contraprestação, renegamos todo o resto que se difere de um ideal muito próprio e pessoal.

A verdade é que o homem ocidental recusa a ideia de fracasso, de derrota, por um modelo de vida social altamente competitivo, em que, no fim último, são valorizados e reconhecidos aqueles que obtiveram significativas posses materiais, sendo, os restantes, estigmatizados como coitados, indignos, sofredores... Colocados à margem, chegam a causar repulsa em muitos por contraporem o ideal material, capitalizado, desejado e perseguido no imaginário coletivo.

Em uma sociedade de ideal financeiro, em que se vale pelo que se tem, possui, e não pelo que se é, em que a propriedade é colocada acima da pessoa e de sua dignidade, todos aqueles que não conseguem evoluir nesse meio, de um modo ou outro, são marcados pela ausência de uma identidade positiva, em outras palavras, o homem, para sociedade, vale aquilo que ele tem, se ele não tem nada, ele não vale nada!

No meio gay isso é um fator ainda mais excludente, pois uma das características das comunidades homossexuais é: seus membros possuírem um poder aquisitivo acima da média, e um nível de formaçâo pessoal e acadêmica de igual forma elevadas. Entretanto, existem as exceções, e elas não são poucas, e, às vezes, bem mais acentuadas do que se possa imaginar.

Assistindo a esse vídeo abaixo fico a imaginar que, hoje, até para se sentir alguém amado por Deus tem que se pagar por isso. Contudo, somos adeptos de uma teologia inclusiva e o que temos feito para mudar isso? O que temos incluído; será o homem em sua integralidade, ou parte desse homem, em que só se considera humano e alguém, aqueles que têm posses? Fica a reflexão para o nosso modo de ser cristão inclusivo:



sábado, 6 de agosto de 2011

Será que funciona? "Tolerância zero!"


Teoria das janelas quebradas ou "Tolerância Zero"


Em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou dois automóveis abandonados na via pública; dois automóveis idênticos, da mesma marca, modelo e até cor. Um deixado no Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York e o outro em Palo Alto, uma zona rica e tranqüila da Califórnia.
Dois automóveis idênticos, abandonados em dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada lugar.

Resultou que o automóvel abandonado no Bronx começou a ser vandalizado em poucas horas. Perdeu as janelas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, o automóvel abandonado em Palo Alto manteve-se intacto.

É comum atribuir à pobreza as causas de delito. Atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras, (da direita e esquerda). Contudo, a experiência em questão não terminou aí, quando o automóvel abandonado no Bronx já estava desfeito e o de Palo Alto estava a uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto.

O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o do Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre. Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso?

Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem a ver com a psicologia humana e com as relações sociais.

Um vidro partido num automóvel abandonado transmite uma idéia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como que vale tudo. Cada novo ataque que o automóvel sofre reafirma e multiplica essa idéia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.

Em experiências posteriores (James Q. Wilson e George Kelling), desenvolveram a 'Teoria das Janelas Partidas', a mesma que de um ponto de vista criminalístico, conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores.

Se se quebra um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o conserta, muito rapidamente estarão quebrados todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.

Se se cometem 'pequenas faltas' (estacionar-se em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar-se um semáforo vermelho) e as mesmas não são punidas, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas.

Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor aos gangs), estes mesmos espaços abandonados pelas pessoas são progressivamente ocupados pelos delinqüentes.

A *Teoria das Janelas Partidas*foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: grafites deteriorando o lugar, sujeira das estações, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno delito, conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.

Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, o prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de 'Tolerância Zero'. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana.

O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York. A expressão 'Tolerância Zero' soa como uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança.

Não se trata de linchar o delinqüente, nem da prepotência da polícia. De fato, a respeito dos abusos de autoridade, deve-se também aplicar a tolerância zero. Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

POR QUE PEÇO A KASSAB QUE VETE O PROJETO DO DIA DO ORGULHO HÉTERO


por João Marinho
jornalista

É preciso, antes de tudo, deixar claro que gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais não são "heterofóbicos". Nem poderiam, pois é hétero boa parte de seus amigos, de seus familiares e, muito comumente, são héteros seus próprios pais.


No entanto, existem motivos para haver o Dia do Orgulho Gay. O primeiro deles, histórico e datado, refere-se à revolução de Stonewall em 1969, ocorrida no dia 28 de junho em Nova York, quando LGBTs, então discriminados inclusive sob o peso de um Estado autodeclarado democrático, revoltaram-se e exigiram direitos iguais e respeito como cidadãos.

A ideia de "orgulho" aí se insere, e é o segundo motivo, conceitual. Historicamente - e estamos falando de um passado ainda muito recente em dezenas de países e ainda presente em outros tantos - os LGBTs foram/são tratados como cidadãos de segunda, com menos direitos, doentes e até criminosos. Não há dúvidas de que essa realidade causou efeitos à autoestima de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, sendo necessário o resgate dessa autoestima por meio da expressão "orgulho": orgulho de ser o que se é, orgulho de saber que não há nada de errado consigo, orgulho para exigir direitos iguais, orgulho de ser humano e ser um igual em direito.

O orgulho gay, portanto, é um conceito que vem dar algo àqueles que nunca o tiveram antes: orgulho de si e de estarem integrados a uma sociedade que deve respeitá-los tanto quanto eles a respeitam. Nesse sentido, o conceito de orgulho gay, ao concedê-lo a quem não o teve, é um conceito que preza pela igualdade de todos os cidadãos, ao colocá-los no mesmo nível e propiciar o sentimento de pertencimento a um todo maior.

Ora, em que pese os heterossexuais terem direito a ter orgulho de sua própria condição, é fartamente sabido que eles não foram discriminados com base em sua heterossexualidade e, por isso, não precisaram, como os LGBTs, de uma revolta para colocarem na pauta do dia direitos a eles negados. 

É também sabido que os heterossexuais jamais foram constrangidos, criminalizados, presos, torturados, lobotomizados, agredidos por conta de sua heterossexualidade, de maneira a minar sua autoestima. Ao contrário: uma série de costumes, valores, comportamentos e religiões coloca a heterossexualidade acima de todas as coisas, de maneira que nunca foi necessário dar orgulho aos héteros, porque eles sempre o tiveram.

Não obstante, fosse o Dia do Orgulho Hétero restrito ao conceito de orgulho em si, seria menos polêmico. Afinal, como já foi dito, nada impede que heterossexuais tenham orgulho de sua condição. O problema é o argumento utilizado pelo vereador Carlos Apolinário, de São Paulo, na escritura de seu projeto: o resguardo da "moral e dos bons costumes", a ser promovido pela Prefeitura do município.

Ora, em que pese o fato de moral e bons costumes terem um quê relativo e pertencerem, em larga medida, à vida privada, e não à esfera pública - a escolha de quais valores são morais ou não são por parte do poder público, da Prefeitura, é, em si mesma, arriscada -, constrangem-nos ainda as mensagens transmitidas pelo argumento: a de que os LGBTs são incompatíveis com a moral e os bons costumes por conta de sua própria orientação sexual e, de outro lado, a de que o simples fato de alguém se definir como heterossexual torna essa pessoa, automaticamente, moral e boa. Sabemos que a orientação sexual não define essas questões, havendo tanto exemplos de LGBTs e heterossexuais cidadãos de bem e altruístas quanto de heterossexuais e LGBTs entre os piores criminosos.

Essa mensagem, arriscada, ocorre ainda num momento particularmente vulnerável de LGBTs em São Paulo, cidade que tem ganhado os noticiários infelizmente graças aos repetidos casos de agressões a gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, notadamente na região da Rua Augusta/Avenida Paulista.

Qual será o impacto no número de agressões quando o próprio poder público, por meio do projeto de Carlos Apolinário, declara, por vias tortuosas, que a condição de LGBT torna alguém automaticamente imoral e adepto de costumes questionáveis, enquanto automaticamente torna um heterossexual signatário desses valores? Quantas pessoas LGBTs mais serão agredidas diante da mensagem, dada pelo próprio poder público, de que somente a heterossexualidade faz de alguém uma pessoa moral e boa cidadã?


Dito isso, peço ao Prefeito Gilberto Kassab que VETE o projeto de lei aprovado ontem na Câmara. Não para negar aos heterossexuais o seu orgulho, mas para não declarar algo que não compete ao poder público e opor LGBTs e heterossexuais em termos de imorais versus morais, ideologia esta que não encontra fundamento na realidade e muito menos em nossa Constituição Federal, senão nos mais abjetos argumentos preconceituosos.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Casal gay adota cinco irmãos no interior paulista

01/07/2011

O casal Leandro e Miguel, de Itapetininga, interior de São Paulo, ganharam na Justiça o direito de adotar as cinco crianças que eles já cuidavam há dois anos.
As crianças, todas irmãs, passaram três anos na fila de adoção esperando pela guarda. Agora, a justiça concedeu ao casal a adoção.


Os três meninos e as duas meninas são de uma cidade do Rio de Janeiro e o mais velho tem 10 anos. As crianças estavam em um abrigo deixada pelos pais que alegaram não ter condições de criá-los.

As crianças recebem acompanhamento psicológico, além de todo carinho do casal. Elas terão os sobrenomes do casal que ganhou a guarda definitiva.

Fonte: Cena G

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Nota Oficial da ABGLT sobre a suspensão do kit educativo do projeto Escola Sem Homofobia

ESH

A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT, por meio de suas 237 ONGs afiliadas, assim como a Articulação Nacional de Travestis e Transexuais - ANTRA, a Articulação Brasileira de Lésbicas – ABL, o Grupo E-Jovem, milhares de militantes LGBT e defensores dos direitos humanos, lamentam profundamente a decisão da Presidenta Dilma de suspender o kit educativo do projeto Escola Sem Homofobia. A notícia foi recebida com perplexidade, consternação e indignação.

Apesar de entender que houve suspensão, e não cancelamento, do kit, até porque o material ainda não está disponível para uso nas escolas e aguarda a análise do Comitê de Publicações do Ministério da Educação, a ABGLT considera que sua suspensão representa um retrocesso no combate a um problema – a discriminação e a violência homofóbica – que macula a imagem do Brasil internacionalmente no que tange ao respeito aos direitos humanos.

Este episódio infeliz traz à tona uma tendência maléfica crescente e preocupante na sociedade brasileira. O Decreto nº 119-A, de 17 de janeiro de 1890, estabeleceu a definitiva separação entre a Igreja e o Estado, tornando o Brasil um país laico e não confessional. Um princípio básico do estado republicano está sendo ameaçado pela chantagem praticada hoje contra o governo federal pela bancada religiosa fundamentalista e seus apoiadores no Congresso Nacional. O fundamentalismo de qualquer natureza, inclusive o religioso, é um fenômeno maligno atentatório aos princípios da democracia, um retrocesso inaceitável para os direitos humanos.

Os mesmos que queimaram os homossexuais, mulheres e crentes de outras religiões na fogueira da Inquisição na idade média estão nos ceifando no Brasil da atualidade. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, a cada dois dias uma pessoa LGBT é assassinada no Brasil por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. É preciso que sejam tomadas medidas concretas urgentes para reverter esse quadro, que é uma vergonha internacional para o Brasil.

Uma forma essencial de fazer isso é através da educação. E por este motivo o kit educativo do projeto Escola Sem Homofobia foi construído exaustivamente por especialistas, com constante acompanhamento do Ministério da Educação, e com base em dados científicos. Entre estes são os resultados de diversos estudos realizados e publicados no Brasil na última década.

A pesquisa intitulada “Juventudes e Sexualidade”, realizada pela UNESCO e publicada em 2004, foi aplicada em 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras. Segundo resultados da pesquisa, 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual, e 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de aula.

O estudo "Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas", publicado em 2009 pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, baseada em uma amostra de 10 mil estudantes e 1.500 professores(as) do Distrito Federal, e apontou que 63,1% dos entrevistados alegaram já ter visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito; mais da metade dos/das professores(as) afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas; e 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmaram que não gostariam de ter colega homossexual na sala de aula. 

A pesquisa “Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar” realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, e também publicada em 2009, baseou-se em uma amostra nacional de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários, e revelou que 87,3% dos entrevistados têm preconceito com relação à orientação sexual e identidade de gênero. 

A Fundação Perseu Abramo publicou em 2009 a pesquisa “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais”, que indicou que 92% da população reconheceram que existe preconceito contra LGBT e que 28% reconheceram e declarou o próprio preconceito contra pessoas LGBT, percentual este cinco vezes maior que o preconceito contra negros e idosos, também identificado pela Fundação.

Estas e outras pesquisas comprovam indubitavelmente que a discriminação homofóbica existe na sociedade é tem um forte reflexo nas escolas. Eis a razão e a justificativa da elaboração do kit educativo do projeto Escola Sem Homofobia.

Com a suspensão do kit, os jovens alunos e alunas das escolas públicas do Ensino Médio ficarão privados de acesso a informação privilegiada para a formação do caráter e da consciência de cidadania de uma nova geração.

Em resposta às críticas ao kit, informamos que o material foi analisado pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça, que faz a "classificação indicativa" (a idade recomendada para assistir a um filme ou programa de televisão). Todos os vídeos do kit tiveram classificação livre, revelando inquestionavelmente as mentiras, deturpações e distorções por parte de determinados parlamentares e líderes religiosos inescrupulosos, que além de substituírem as peças do kit por outras de teor diferente com o objetivo de mobilizar a opinião pública contrária, na semana passada afirmaram que haveria cenas de sexo explícito ou de beijos lascivos nas peças audiovisuais do kit.

O kit educativo foi avaliado pelo Conselho Federal de Psicologia, pela UNESCO e pelo UNAIDS, e teve parecer favorável das três instituições. Recebeu o apoio declarado do CEDUS – Centro de Educação Sexual, da União Nacional dos Estudantes, da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, e foi objeto de uma audiência pública promovida pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, cujo parecer também foi favorável. Ainda, teve uma moção de apoio aprovada pela Conferência Nacional de Educação, da qual participaram três mil delegados e delegadas representantes de todas as regiões do país, estudantes, professores e demais profissionais da área.

Ou seja, tem-se comprovado, por diversas fontes devidamente qualificadas e respeitadas, como base em informações científicas, que o material está perfeitamente adequado para o Ensino Médio, a que se destina.

Os direitos humanos são indivisíveis e universais. Isso significa que são iguais para todas as pessoas, indiscriminadamente. Os direitos humanos de um determinado segmento da sociedade não podem, jamais, virar moeda de troca nas negociações políticas. Esperamos que a suspensão do kit não tenha acontecido por este motivo e relembramos o discurso da posse da Presidenta no qual afirmou a defesa intransigente dos direitos humanos.

Esperamos que a Presidenta Dilma mantenha o diálogo com todos os setores envolvidos neste debate e que respeite o movimento social LGBT. Da mesma forma que há parlamentares contrários à igualdade de direitos da população LGBT, há 175 nesta nova legislatura que já integraram a Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT, e que com certeza gostariam de ter a mesma oportunidade para se manifestarem em audiência com a Presidenta, o mais brevemente possível.

A Presidenta Dilma tem assinalado que seu governo está comprometido com a efetiva garantia da cidadania plena da população LGBT, por meio das ações afirmativas de seus ministérios. Na semana passada, na ocasião do Dia Internacional contra a Homofobia, a ABGLT foi recebida por 12 ministérios do Governo Dilma, onde um item comum em todas as pautas foi o cumprimento do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT. Também na semana passada, por meio de Decreto, a Presidenta convocou a 2ª Conferência Nacional LGBT. Porem, com a atitude demonstrada no dia de hoje acreditamos estar na contramão dos direitos humanos, retrocedendo nos avanços dos últimos anos. Exigimos que este governo não recue da defesa dos direitos humanos, não vacile e não sucumba diante da chantagem e do obscurantismo de uma minoria perversa de parlamentares e líderes fundamentalistas mal intencionados.

Esperamos que a Presidenta da República reconsidere sua posição de suspender o kit do projeto Escola Sem Homofobia, para restabelecer a conclusão e subsequente disponibilização do mesmo junto às escolas públicas brasileiras do ensino médio. Esperamos também que estabeleça o diálogo com técnicos e especialistas no assunto. Estamos abertos ao diálogo e esperamos que nossa disposição neste sentido seja retribuída o mais rapidamente possível, sendo recebidos em audiência pela Presidenta Dilma e pela Secretaria-Geral da Presidência da República e que a mesma reveja sua posição.

Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

25 de maio de 2011

Links para os vídeos do kit educativo do projeto Escola Sem Homofobia:

ENCONTRANDO BIANCA

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=A_0g9BEPVEA
PROBABILIDADE http://www.youtube.com/watch?v=tKFzCaD7L1U&feature=related
TORPEDO   http://www.youtube.com/watch?v=hKJjOJlEw_U&feature=related

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Preta Gil diz que lutará para que Bolsonaro não seja reeleito no RJ

Publicado no Jornal OTEMPO em 18/05/2011

preta

A cantora Preta Gil disse ontem - Dia Internacional de Luta contra a Homofobia -, em seminário sobre casamento civil entre homossexuais na Câmara dos Deputados, que "vai lutar" para que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) não seja reeleito no Rio de Janeiro. "O que ele quer é ibope, é aparecer às nossas custas", completou Preta Gil, que está no centro da polêmica envolvendo o político.

Bolsonaro não foi ao seminário e disse que só iria se fosse convidado e se "tivesse segurança". Ele provocou os colegas: "Quem é contra (o kit anti-homofobia) é homofóbico e quem está quieto está no armário. Se defender a família e as crianças é ser homofóbico, eu vou acabar usando uma camiseta nesse sentido. Se vou perder voto, estou me lixando".

Abaixo-assinado. O presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros, Toni Reis, disse que vai entregar à Câmara e ao Senado abaixo-assinado com cerca de 100 mil assinaturas em apoio ao projeto de lei que criminaliza os atos de homofobia. Prevista para a semana passada, a votação no Senado foi adiada por pressão da bancada evangélica.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Gays "saem do armário" cada vez mais jovens

Realidade.Pesquisa mostra que maioria dos jovens revela orientação sexual antes de chegar aos 15 anos

 

Publicado no Jornal OTEMPO em 02/05/2011

FOTO: CRISTIANO TRAD

Exemplo. Aos 21 anos, Pedro é uma exceção; contou aos pais sobre sua orientação sexual quando tinha 16 anos

Os jovens gays estão assumindo a homossexualidade antes dos 15 anos e, na maioria das vezes, contam primeiro para a mãe. A tendência foi comprovada em um estudo da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que entrevistou mais de 800 pessoas com idades entre 10 e 24 anos. O levantamento mostrou também que um em cada três indivíduos com sexualidade diferente da hetero assumiu ser gay entre 10 e 14 anos. Pelo menos 70% escolheram a mãe como apoio.

Mas o fenômeno ainda está longe de encontrar um cenário pacífico. Na última semana, um vídeo no site YouTube que mostrava um estudante recebendo uma declaração de amor de um outro rapaz na porta de uma escola na capital ganhou apoio de grande parte dos colegas de colégio, mas também foi alvo de centenas de críticas homofóbicas.

Uma universitária de 22 anos que se assumiu lésbica para os pais aos 14 anos disse à reportagem que, embora seja "aberta" para a família e amigos, não iria gostar de se expor como o estudante. "Meus pais iriam odiar. E eu também não teria coragem de beijar na frente de todo mundo", afirmou.

Poucos são aqueles que aceitam se expor e falar abertamente do assunto. O estudante de enfermagem Pedro Henrique Gomes, 21, é exceção. Ele contou para a família que é gay aos 16 anos, quando começou a namorar. No entanto, diz que teve que encarar a homofobia dos pais. "Inicialmente, ficaram assustados, mas depois disseram que estava tudo bem. Mas enfrentei uma série de problemas e tive que ‘sair do armário’ mais de uma vez".

Para Daniel Arruda, coordenador do projeto Educação sem Homofobia, do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da UFMG, a mídia está se abrindo a um tratamento mais sério e respeitoso sobre o assunto, e as obras de ficção têm abordado experiências da homossexualidade, desmistificando o assunto. "Jovens e adolescentes de diferentes contextos e classes sociais têm encontrado espaços e recursos que contribuem para a afirmação de uma identidade homossexual e, ainda, formas de expressar sua sexualidade", analisa Arruda.

Pais. Enquanto a faixa etária de gays assumidos diminui, aumenta o número de mães e pais que se isolam. Há casos em que eles se revoltam com a realidade dos filhos. A especialista em diversidade sexual e questões de gênero, Edith Modesto, escreveu sobre o tema no livro "Mãe sempre sabe?", após se dar conta de que o caçula de sete filhos era gay. "Foi há 22 anos. Eu era uma professora universitária, me achava moderna e, de repente, me vi com essa bomba. Passei por todas as fases do sofrimento. Eu sabia que se eu conversasse com outra mãe iria ser melhor. Mas cadê essa mãe?", contou.

Mais de 200 mães no país fazem parte do Grupo de Pais Homossexuais (GPH), fundado por Edith em 1997. "É difícil os pais terem uma aceitação como a do Toninho Cerezo em relação à filha transexual. Eles precisam de apoio", disse.

FOTO: E-JOVEM/DIVULGAÇÃO

Grupo de apoio. Integrantes do grupo E-Jovem, de Uberlândia, em encontro de lazer pela diversidade sexual

Encontros ajudam no debate

Jovens mineiros podem encontrar no site do grupo E-Jovem apoio em diversas regiões do Estado para enfrentar problemas de aceitação, discriminação ou compartilhar atividades comuns com temáticas homossexuais. Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, o coordenador do grupo, Bruno Miranda, 24, atende 60 pessoas entre 15 e 35 anos que têm interesses comuns e que participam de atividades desde piqueniques em parques a sessões de cinema.

"O E-jovem tem como característica promover encontros fora dos estereótipos LGBT, de festas, boates e sexo. A gente conversa sobre os problemas que muitos trazem com os pais, medos, bullying na escola. A gente tenta ajudar através das experiências que outros também tiveram", afirmou. (FMM)

FOTO: RODRIGO CLEMENTE - 2.12.2010

Maturidade

"As coisas se ajeitam quando existe o amor"

Ex-jogador de futebol afirma que família teve dificuldades para enfrentar tabu

Flávia Martins y Miguel

De ex-jogador de futebol com fama mundial, Toninho Cerezo, 56, hoje também é conhecido como o pai da modelo transexual Lea T., 29.

Requisitada nas passarelas internacionais, Lea já desfilou para marcas de moda importantes como a francesa Givenchy, participou do São Paulo Fashion Week com status de celebridade e se prepara para uma cirurgia de mudança de sexo.

Há dois anos, ela começou a tomar hormônios para iniciar o processo de transição de gênero. O assunto foi o tema central de uma entrevista que Lea concedeu à Oprah Winfrey, a apresentadora de TV mais popular dos Estados Unidos, em fevereiro último.

O ex-atleta e treinador de futebol é pai de quatro filhos. Lea nasceu em 1981 com o nome de Leandro Cerezo. A coragem da filha em assumir sua identidade transexual há pouco mais de três anos foi difícil para a família na época, como revela o pai em entrevista a O TEMPO. No entanto, segundo ele, "as coisas se ajeitam". Orgulhoso do sucesso da modelo, Cerezo enxerga a coragem da filha como uma "bandeira grande" que ela está levantando para o mundo. E afirma com convicção que ela tem marcado uma época.

Cerezo diz ter consciência da dificuldade enfrentada por pessoas como sua filha, que não têm alternativa a não ser enfrentar a discriminação a todo momento. Ele mesmo confessa que também é alvo de críticas e comentários preconceituosos por onde passa. No entanto, prefere valorizar mais as pessoas que o param na rua para apoiá-lo. "Muitos fãs dizem que me admiram ainda mais por conta da minha postura".

A filha do técnico de futebol mora na Itália, onde foi criada desde criança por causa do trabalho do pai. Ela é estilista e foi descoberta pelo diretor de criação da Givenchy, Ricardo Tisci, para ser o rosto da campanha da marca no inverno de 2010/2011. Desde então, a modelo se tornou a sensação fashion mundial. Ao lado de tops famosas, como Kate Moss, Lea, de 1,80m e 48 kg, disputa as principais passarelas da Europa nos desfiles da alta costura.

Machismo. O ambiente "machista" do futebol, como o próprio ex-jogador definiu, não o preparou para lidar com a sexualidade da filha. Durante a carreira, Cerezo sempre demonstrou competência para enfrentar a marcação dos adversários e receber os aplausos de torcedores do Atlético Mineiro, São Paulo Roma e Sampdoria. No entanto, após a aposentadoria, ele teve mais uma vez que driblar uma realidade ainda difícil para muitos pais: um filho transexual.

Em uma carta enviada para a revista feminina "Lola", Cerezo faz uma declaração de amor e respeito à filha Lea T. Em um texto emocionado, ele conta como foi observando que o Leandro de anos atrás era diferente dos outros meninos. Mesmo assim, ele declarou: "Leandro ou Lea, não importa mais, sempre serei seu pai e você, orgulhosamente, um pedaço de mim". Confira abaixo a entrevista que o ex-jogador concedeu à reportagem.

FOTO: CARLOS ZAMBROTTI /AGNEWS - 29.1.2011

Mensagem de um pai

Trecho da carta de Toninho Cerezo enviada à revista "LOLA":

"Pode ser que eu tenha sido negligente como pai, mas não há motivos para frustrações. Não podemos ser bons em tudo. E você, Lea T. Cerezo, sabe muito mais que embaixadinhas. Teve coragem de, elegantemente, tentar quebrar paradigmas e mostrar ao mundo que devemos aceitar, sim, as diferenças, ser tolerantes com a diversidade, entender e não julgar aquilo
que não conhecemos. O caminho pode ser longo, mas com certeza não será o mesmo depois de você. A paternidade é livre de qualquer padrão, de qualquer critério imposto pela sociedade.

Filho deve ser aceito na sua totalidade, na sua integral condição de vida, independentemente de sua sexualidade. Sendo assim, aqui ou lá, torço por você, Lea. menino ou menina, Leandro ou Lea, não importa mais, sempre serei seu pai e você, orgulhosamente, um pedaço de mim".

Minientrevista

Entrevista com Toninho Cerezo

Ex-jogador de futebol

Como foi para você lidar com a transexualidade da sua filha?
No primeiro momento é um impacto muito grande. E o tempo ajuda demais as coisas a se adequarem, se acalmarem. Você sempre vai olhar o seu filho com os olhos de pai. E depois, quando eles crescem, você não tem mais como ter controle da vida deles. Acho que o que eles precisam mais é de apoio.


O que você diria para os pais que hoje passam por uma experiência semelhante, no que diz respeito à aceitação da sexualidade dos filhos?
As coisas se ajeitam quando existe o amor. Isso é fundamental! Não tome medidas imediatas, deixe as coisas acontecerem naturalmente. Não tenho ou tive experiência para encarar esse assunto. Venho de um ambiente machista do futebol. Mas quando as coisas se tornam família, pai e filho, é outra coisa. E Deus é tão bom que ele mostra que o tempo se encarrega das coisas. Quando há carinho das duas partes, existe um maior comprometimento também.


E qual é a visão que você tem da sua filha hoje?
Ela sempre batalhou sozinha. Só se abriu depois de um determinado tempo. Foi um sofrimento muito grande, muita solidão. Vejo como ela luta em um ambiente competitivo e carregado. As coisas estão mudando, mas existe uma discriminação muito grande ainda. Eu acho que ela levantou uma bandeira grande, e foi muito importante. E acho que ela vai marcar uma época.


Você tem quantos filhos?
Agora? Eu tenho três meninas e um menino. (FMM)

Fonte: O tempo

Licença-gala é proposta para gays do Senado

MT

A pedido da vice-presidente do Senado, Marta Suplicy (PT), os servidores da Casa que vivem com pessoas do mesmo sexo poderão ter direito à gala, licença concedida após o casamento.

A chamada licença-gala é prevista da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como uma espécie de falta justificada em caso de casamento do funcionário.
O requerimento proposto pela senadora será analisado pela Mesa Diretora, a pedido do presidente do Senado José Sarney (PMDB). E, caso seja aprovado, passará a valer imediatamente.

Marta Suplicy apresentou a proposta depois que uma servidora homossexual requereu ao setor administrativo o direito à licença (ela registrou em cartório a união civil), atualmente concedida a funcionários heterossexuais.
De acordo com a senadora do PT, é preciso ter uma norma para regular pedidos semelhantes.

Segundo o Senado, a gala para servidores públicos é de oito dias. Para empregados regidos pela CLT, o período é de três dias após o casamento.
O senador Wilson Santiago (PMDB-PB) será o relator da proposta, que poderá ser avaliada na próxima reunião da Mesa, ainda sem data marcada.

Fonte: O Tempo

sábado, 30 de abril de 2011

Ministro da Justiça repreende Bolsonaro

MJ

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) tornou a causar polêmica na Câmara dos Deputados, ao criticar o material do Ministério da Educação para combate de homofobia nas escolas. Nessa quarta-feira, durante sessão da Comissão de Direitos Humanos sobre segurança pública, Bolsonaro disse ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que "não teria orgulho de ter um filho gay" e chamou o material do MEC de "kit gay". Indiretamente, o deputado atacou o colega parlamentar Jean Wyllys (PSOL-RJ), que é professor e se declara homossexual.

"Este é o ambiente propício para colocar isso. Uma pessoa já disse aqui que as melhores professoras que teve foram as prostitutas. Tem professor que é gay. Será que é bom também?", afirmou Bolsonaro. A presidente da comissão, deputada Manuela D'Ávila (PCdoB-RS), advertiu o comentário do deputado, dizendo que não aceitaria provocações. Jean Wyllys reagiu, respondendo que se sentia "profundamente ofendido" com a declaração do colega. Sustentando o bate-boca, Bolsonaro disse que era vítima de preconceito. "Estou sofrendo preconceito homossexual", declarou, aos gritos.

O ministro Cardozo defendeu o deputado do PSOL e o material do Ministério da Educação. “O limite do direito é o direito do outro. É na escola que se combate os preconceitos”, afirmou Cardozo.

Jair Bolsonaro tenta se defender, na Corregedoria da Câmara, a acusações de racismo e preconceito contra homossexuais, por declarações concedidas a um programa de televisão em março.

Fonte Gay1