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sexta-feira, 5 de março de 2021

Grupa Galo- grupo de militância feminina da torcida do Atlético Mineiro-, não tem senso justiça!



Ser militante e defender causas sociais é algo de extrema importância, defender a inclusão, ser contra o preconceito e estabelecer pautas justas na promoção de uma sociedade mais digna, mais igualitária é um bem almejado. Contudo, não se pode, não se deve, perder-se pelo caminho sob pena de transformar reivindicações legitimas em injustiças sem precedentes, não precisa olhar muito longe, basta ver Curitiba e o que se transformou a saga de Moro e Dallagnol quando, em nome de um pretenso bem, institutos do direito foram ignorados, atravessados, solapados, desprezados.

Às vezes é legal fazer barulho, ter exposição do trabalho nas redes sociais e na mídia, entretanto nem sempre a mídia é positiva, de repente temos que ter o cuidado de separar o joio do trigo, afinal, existe uma parte mercadológica na mídia que se alimenta do barulho. Aqui, parece-me o caso. Chamar o técnico Cuca de estuprador é irreal, até porque a condenação em que foi submetido não é a de estupro. Segundo consta, o fato da sentença ter sido proferida é em razão de uma menor ter entrado no quarto de jogadores. A lei penal na Suíça diz que QUALQUER pessoa com mais de 3 anos de diferença na idade para um menor, que praticar ato sexual com ele, deve ser punida. Veja a ironia: na Suíça, se uma menina de 14 anos namorasse um garoto de 17 anos, o garoto receberia a mesma sentença de Cuca! Segundo, a pessoa que transou com a menina, em ato consentido, só foi apenada pela diferença na idade, afastando a leitura do estupro (que é ato praticado contra a vontade e com violência ou grave ameaça), sendo que Cuca recebeu a sentença de 15 meses de prisão por estar no quarto quando a menina chegou. Não por ter feito nada contra ela ou com ela.

Por que esse lobby agora? Qual a necessidade de se acabar com a imagem de alguém sem dar o direito à pessoa de defesa? Onde estava o Grupa Galo, em 2018, quando a torcida GALOUCURA entoava a plenos pulmões: “oh cruzeirense, toma cuidadado! O Bolsonaro vai matar viado…”?

Não me parece que a pauta seletiva da Grupa Galo seja justa, ou tenha qualquer senso de justiça, dizer que não quer o Cuca no Atlético Mineiro, pois, no passado, ele esteve envolvido em uma polêmica em que foi condenado, oras... não é justo o suficiente! Tem que ser levada em conta as circunstâncias, e elas, as circunstâncias, não autorizam esse barulho, sequer em nome da visibilidade da causa. Quem é o técnico Cuca? Quem é a família do técnico Cuca? Qual é o histórico de vida do cidadão Cuca? Estas perguntas aqui deveriam ter sido feitas pela torcida feminina do Galo antes da difamação e calúnia. Quem é Bolsonaro? Por que o Grupa se cala sobre ele, por que se calou quando Sette Câmara, então presidente do clube, foi tirar foto com ele e dar camisa?

Há outras causas nobres para o Grupa Galo se manifestar, por exemplo, cadê a mobilização ferrenha, combativa e barulhenta das atleticanas do Galo quando a GALOUCURA grita: “BICHA, BICHA, BICHA”, para o goleiro Fábio do Cruzeiro ao bater o tiro de meta?

Qual é o senso de justiça dessa agremiação virtual que não sabe selecionar suas causas e nem se importa que no Direito não haja execração perpétua, por que essa torcida se pauta pelo linchamento moral de alguém que foi condenado em uma sentença duvidosa?


quarta-feira, 17 de junho de 2020

TENHA O CORPO-HABEAS CORPUS: J. K. Rowling seria transfóbica?




TENHA O CORPO-HABEAS CORPUS
J. K. Rowling seria transfóbica?



Em épocas não tão distantes, mas que incompreensíveis ao homem contemporâneo, o corpo, esse pedaço de carne que individualiza os seres, não pertencia ao súdito, mas ao soberano, ao rei, que nesse mesmo corpo, alheio, individual e individualizado, poderia infringir como pena suplícios inúmeros sem quaisquer parâmetros, tão somente, a satisfação da vontade soberana que se igualava à satisfação da vontade divina, a demonstração do poder.

Ora, o suplício servia ao espetáculo, se não houvesse a espetacularização da dor, em vão era o castigo, em vão seria dizer ao súdito que o seu corpo pertencia ao soberano rei e o seu crime atentava contra o próprio monarca. Era preciso tornar visível tal conceito, aos olhos de todos na corte, no reino.

A expressão, comumente usada, hoje, habeas corpus vem dessa época, em que extraída de uma antiga fórmula processual inglesa, utilizada pelo magistrado, ordenava ao carcereiro que se lhe apresentasse o preso. É uma expressão que serve para devolver ao indivíduo o seu corpo, no caso sua liberdade. Não nos damos conta do corpo, porque é uma coisa tão nossa!

O corpo é a nossa expressão máxima de individualização e de limitação, bem ou mal, não sobrevivemos sem ele, bem ou mal, pertencemos a um corpo. No corpo temos nossa história, no corpo temos nossas mazelas, no corpo temos nossas cicatrizes e tudo isso se limita a um corpo!

J. K. Rowling seria transfóbica? Ou apenas se referia a sua experiência de corpo? Há muito, a comunidade LGBT, em prol das letrinhas do alfabeto sem fim, aboliu, ou pelo menos tenta, o termo homofobia para um neologismo de maior visibilidade: gayfobia, bifobia, transfobia, etc. J. K. Rowling milita para que o termo mulher não seja abolido e nisso não há problema algum. Isso não faz ser a escritora homofóbica ou contra a comunidade transsexual.

Todos nós temos a experiência de corpo, porque temos um corpo que nos individualiza, o homem transsexual nasceu mulher, teve parte de sua história como mulher e mesmo que não tenha se ajustado em sua história com seu corpo, vindo a transicionar, o passado não pode ser eliminado de sua história, enquanto indivíduo que chega até essa fase. Isso pertence a ele, é a história dele, faz parte dele, enquanto indivíduo transsexual. Rowling chega a ensaiar tal pensamento quando diz: "Se sexo não é real, não existe atração entre pessoas do mesmo sexo. Se sexo não é real, a realidade vivida por mulheres ao redor do mundo é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a habilidade de muitos discutirem suas vidas de forma significativa. Não é ódio dizer a verdade".

O autor do artigo: PESSOAS QUE MENSTRUAM foi preconceituoso ao contrário de inclusivo, ao excluir os termos de visibilidade “mulheres e homens trans” do ensaio. A comunidade LGBT não pode se assentar em torpeza alheia para justificar a sua própria, é da comunidade LGBT a militância para que essas letrinhas não tenham limites na história do alfabeto em prol da “inclusão e visibilidade”, assim o termo LGBT perde-se em letras várias: LGBTQ+Y- XZWK… agora essa mesma comunidade vem atacar uma pessoa que pede que o termo mulher não seja suprimido de um artigo, em que parte está a coerência dos LGBTs na crítica a essa mulher?

Ouçam o que a pessoa diz: "Respeito o direito de todas as pessoas trans de viverem da maneira que lhes pareça autêntica e mais confortável. Protestaria com vocês se vocês fossem discriminados por serem trans. Ao mesmo tempo, minha vida foi moldada pelo fato de eu ser mulher. Não acredito que seja odioso dizer isso".

Antes de chegar a conclusão de que Rowling está advogando que a identidade de gênero de uma pessoa é exclusivamente definida pelo sexo biológico, tem que se ler, obrigatoriamente, o que ela está dizendo, e o que ela diz é: NÃO EXCLUAM O TERMO MULHER DA HISTÓRIA. Não é ódio dizer isso, mas apenas assumir que ao se ter um copro se tem uma história com esse corpo! Essa história não pode ser suprimida, apagada, esquecida, ou como se nunca tenha existido só por que A ou B transicionaram e ganharam uma nova carteira de identidade, um novo registro, a história pregressa não é sucumbida pela nova fase, mas faz parte dela, faz parte do indivíduo que a vivenciou e não há nada de mal nisso, não faz com que a pessoa seja mais verdadeira do que a outra em sua existência.

Tenha o corpo- habeas corpus- mas antes de tudo: TENHA A SUA HISTÓRIA!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Homem feminista? Repensando



O Deus Forseti, movimento de homens e a imagem da igualdade como meta




por João Marinho



Por muitos anos, eu me considerei um homem feminista, como até já postei várias vezes aqui e em textos meus.

Afinal, sempre fui a favor da igualdade de condições entre homens e mulheres – desde criança, como minhas irmãs podem atestar.

No entanto, tenho repensado essa classificação.

Na semana passada, tivemos eu e meu amigo, Ricardo, uma experiência péssima com mulheres feministas na discussão sobre os vagões exclusivos para mulheres que querem os políticos implantar no metrô de São Paulo.

Tratava-se de um evento das feministas contra a implantação, e, embora eu concordasse com isso desde o começo, e o Ricardo, posteriormente, logo fomos acusados de coisas nada agradáveis.

Ricardo, verdade seja dita, é muito mais feminista que eu. Embora, a princípio, discordasse das mulheres do manifesto contra a implantação dos vagões, sempre escreveu a partir de uma visão feminista e do direito e bem-estar das mulheres.

Eu não.

Estava defendendo outros valores, entre eles a injustiça de considerar qualquer homem um abusador/estuprador em potencial apenas por ser homem e por prevenção (Minority Report?) e ainda reduzir, para nós, a oferta de um serviço público pela metade (mantendo o mesmo custo).

As acusações? De estarmos fazendo "mansplaining" até sermos parte dos opressores apenas porque somos homens.

Argumentei que era impossível que nos colocassem nessa posição, não apenas por nosso histórico, mas também por nossa própria condição de gays. Afinal, que "opressores" são esses que se assumem e são demitidos, levam lampadada na rua se demonstram seu amor, são expulsos de casa por suas famílias (mesmo suas mães) e são mortos ou presos apenas por serem quem são em mais de 80 países?

Algumas concordaram comigo, mas as mais radicais deletaram tudo, em represália. Outro amigo meu teve experiência similar.

Ocorreu-me, então, que eu talvez não seja, afinal, feminista. Isso porque o que defendo é uma igualdade de condições e, eventualmente, para atingi-la, a necessidade de leis diferenciadas para contrapor desvantagens prévias ou impostas.

Essa posição, muitas vezes, me fará estar ao lado das feministas... Mas, muitas vezes, me fará estar em oposição a elas – e não para "reafirmar o poder do macho", como faz um machista.

No entanto, como não posso sair e deixar meu gênero, minha identidade de gênero, minha cissexualidade e minha orientação sexual em casa, sempre vou me colocar contra qualquer pauta que represente para mim, enquanto homem gay, algo que considero injusto ou a inclusão em um grupo que perde direitos quando o meu grupo sequer os atingiu todos. Ser homem e ser gay significa defender meus interesses como tal, um direito que me assiste.

Por isso, por exemplo, sou contra aposentadoria diferenciada para mulheres e homens. Contra licença-maternidade e paternidade diferenciadas apenas pelo sexo do pai/mãe (proponho a licença-parentalidade flexível, uma estendida e outra reduzida) e contra a Lei Maria da Penha não estar escrita em termos jurídicos neutros.

Por quê? Porque os argumentos que usam para justificar esses desníveis não me concernem e não me incluem enquanto homem gay. Enquanto homem gay, jamais contribuirei para a "dupla jornada" feminina e não vejo razão para que eu seja responsabilizado se parte dos héteros não encontram arranjos mais igualitários em seus casamentos; sou a favor da igualdade de salários e vencimentos, mas discordo que deva ser resolvida na aposentadoria, especialmente colocando para trabalhar 5 anos a mais quem, estatisticamente, vive 5 anos a menos e, não raro, começa mais cedo; enquanto gay que deverá adotar com seu companheiro, considero injusto que não gozemos de uma licença similar e negociada para nossos rebentos; e, enquanto gay e sabendo de caso de violência doméstica em relação homoafetiva (e de violência em que a mulher é agressora), causa-me desconforto que esses casos tenham sido deixados fora da legislação positiva apenas por não serem majoritários.

Pelo que entendo, sobretudo para as feministas que consideram que "ter pênis = ser do mal", tais posições entram em conflito com as suas demandas.

Então, o que sou? As imagens de alguns Deuses me vieram à cabeça. Têmis, a titânide que segura a balança visando ao equilíbrio, mas sem a espada de sua filha Dice ou da romana Iustitia, foi uma: o equilíbrio sem violência, dosando as diferenças até a balança ficar horizontal – aliás, "equilíbrio" é uma palavra que inclui, em sua origem, a palavra latina para "balança": "libra".

No entanto, alguém poderia imaginar que automaticamente eu seria acusado de "roubar" uma imagem feminina, uma vez ser Têmis uma representação em forma de mulher.

Forseti, então, me pareceu mais adequado. Um Deus da mitologia nórdica, Forseti (c) também é identificado com a justiça naqueles povos antigos e da forma que me veio à cabeça.

Filho de Balder, um Deus de paz e muito amado, tanto a ponto de ser assassinado por Loki, e Nanna, Forseti é identificado com Fosite, dos frísios, e seu domínio era resolver querelas entre homens e deuses, promovendo a reconciliação. Ouvia ambos os lados com imparcialidade e seus julgamentos eram tão justos que jamais couberam correções. Mais aqui.

Uma imagem forte... E quem sabe não criamos nós outros uma palavra? Será que soa bem me definir como forsetista? Podia virar até um movimento de homens – e de homens gays...

sábado, 20 de julho de 2013

Machismo feminino

As mulheres, a religião, o machismo


por João Marinho

Sempre me perguntei por que as mulheres não são todas ateístas, ou não buscam sua religiosidade em credos que as valorizem, como os relacionados à bruxaria e ao Sagrado Feminino.

Nunca consegui compreender ao certo, por exemplo, mesmo quando eu era evangélico, por que existem mulheres evangélicas, que tão alegremente defendem a submissão feminina no casamento ou o uso do véu (como na Congregação Cristã no Brasil) e mesmo permitem que pastores preguem isso em suas cerimônias de união.

Nunca entendi por que há mulheres católicas, pois, mesmo sabendo que há Maria e as santas, não consigo compreender por que aceitam que a valorização seja dada pela virgindade (Maria era virgem) e participam de uma religião que lhes fecha as portas à liderança por causa de seu sexo.

Nunca compreendi por que há mulheres muçulmanas, que aceitam cobrir todo o corpo para manifestar sua "decência", mas não exigem dos homens a contrapartida dessa "decência": a de que o corpo da mulher não é "território livre" a ser explorado, mas que deve ser respeitado mesmo nu - e se contentam com uma religião que lhes "autoriza", na terra, a dividir seu marido com outras três, contra sua vontade; e, no Paraíso dos heróis, a admitir que o mesmo homem seja agraciado por 70 virgens - e ela?

Nunca entendi por que há mulheres machistas, que ensinam a seus filhos que chorar "não é para homem", que arrancam os cabelos ao vê-los brincando de boneca, mas festejam quando se tornam "pegadores" enquanto analisam milimetricamente o comprimento da saia de suas filhas.

Também sempre me perguntei por que há mulheres lesbofóbicas, bifóbicas e transfóbicas, quando lésbicas, mulheres bissexuais, travestis e mulheres trans tão-somente mostram que o feminino pode ser autossuficiente: seja na busca pelo prazer, sem a necessidade da contrapartida peniana; seja no fato de que o pênis, por si só, presente biologicamente em um corpo, não é suficiente para negar à pessoa esse mesmo feminino.

Nunca entendi por que há mulheres homofóbicas (ou, melhor dizendo, gayfóbicas), que se incomodam com "homens que se comportam como mulheres", sobretudo os efeminados - por que, afinal, o que há de tão errado com o feminino para que homens não possam assimilá-lo para si?

A história da norueguesa que denunciou um estupro em Dubai e acabou presa por indecência (http://tinyurl.com/le9c2bb) mostra bem o lugar reservado a elas em leis e costumes baseados em religiões tão machistas, tão masculinas e tão fechadas ao feminino, religiões que também condenam todas as sexualidades "desviantes" e "desviadas" - e não me venham dizer que "não tem nada a ver com religião", pois em um país majoritariamente islâmico e onde a ideia de laicidade é mais fraca, tem tudo a ver com isso, sim.

No entanto, não é só no Islã que vemos essas barbaridades. Hoje, o Ocidente ainda desrespeita muito suas mulheres, mas inegavelmente sua vida é mais fácil, ou menos difícil, e sofre menos interditos. No entanto, que esteja clara uma coisa: se isso aconteceu, a religião - cristã ou judaica - é a última a quem deve ser dado qualquer reconhecimento, posto que, enquanto pôde, resistiu às mudanças. Ainda resiste, e, via de regra, tenta revertê-las.

O feminismo muito ajudou em denunciar essa sociedade machista. Em lutar por direitos iguais - luta que está longe do fim. No entanto, nunca vamos chegar lá se as mulheres não perceberem que elas também contribuem para o estado machista das coisas. Há feministas que tratam todos os homens como inimigos e todas as mulheres como vítimas, quando há homens que apoiam os direitos femininos e mulheres que se esmeram em reproduzir o discurso antifeminino e misógino e ainda lutam pelo "direito a tê-lo" por "razões morais e religiosas".

Alguém há de argumentar que a dominação do patriarcado tomou conta do corpo e das mentes femininas de tal forma que elas assimilaram essas ideologias. Isso tem fundamento: percebemos isso até em gays homofóbicos. Os outsiders assimilam a ideologia dos estabelecidos e passam a concordar e estimular a própria segregação.

Isso, porém, não retira a parcela de responsabilidade que cabe a essas mulheres, assim como não retira a responsabilidade da homofobia nutrida por gays. Porque, se há uma coisa que aprendemos sobre liberdade é que ela não pode ser imposta. Não se pode obrigar alguém a ser livre. A liberdade tem de ser querida, desejada, almejada e, não raro, conquistada.

Eu me pergunto, inclusive, até que ponto o horror ao estupro não está ligado ao machismo de alguma forma, à ideologia do corpo dominado da mulher e sua valorização a partir da "pureza" e da "virgindade". O estupro seria, portanto, horrendo não apenas por atentar contra o corpo da mulher, mas por atentar contra sua "pureza", pré-exigida pelos machos em busca de parceira.

Não, não nego que o estupro seja um crime hediondo, à medida que atenta contra o corpo e a liberdade violentamente, mas sempre me chamou a atenção que fosse considerado menos grave ou inexistente quando a vítima fosse homem (supostamente "forte" e "dominante"), especialmente tendo a mulher como agressora, ou ainda fosse considerado menos grave ou inexistente quando supostamente oriundo de comportamentos permissivos por parte da mulher-vítima: se ela vai a um baile funk com roupas mais curtas e requebra-se no colo de um rapaz, é como se este "ganhasse" o direito de penetrá-la sem autorização.

Também sempre me chamou a atenção que o comportamento supostamente permissivo por parte da mulher, no usufruto de seu corpo, fosse considerado um diferencial para atestar sua imoralidade e sua impossibilidade de ser considerada vítima ou cidadã. A prostituta que não é explorada por cafetões e cafetinas e escolheu sua profissão não pode ser feliz na campanha do Ministério da Saúde, mesmo sendo tal campanha oriunda de oficinas com apoio de organizações de prostitutas e buscando o resgate de sua autoestima.

Voltando ao caso de Marte Deborah Dalelv, a norueguesa de 24 anos condenada em Dubai, que saiu de uma festa depois de ter bebido e, sob o efeito de álcool, foi estuprada e penetrada contra a vontade - e, após denunciar o crime, foi condenada por atentado à decência, ingestão de álcool e sexo antes do casamento -, me pergunto quantos homens... E mulheres... Ficariam ao lado dela se o sexo tivesse sido consentido.

Quantos e quantas defenderiam que é imoral condenar uma mulher que quis f*der antes do casamento (e uso essa expressão para não amenizar o aspecto tão carnal e visceral de um bom sexo), porque o corpo é dela? Ou será que notaríamos uma mudança no discurso, que passaria a condenar a mulher de olhos claros porque "evidentemente" teria desrespeitado os costumes de Dubai e deveria "ter se comportado"?

Eu aposto minhas fichas na segunda hipótese - e você? Se concordar comigo, havemos de chegar a um ponto comum: o fato de que tantas mulheres reproduzam esse discurso significa que precisamos, urgentemente, de uma Revolução Feminina.