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terça-feira, 5 de junho de 2012

O Espírito de Cruzada do IV Congresso Pentecostal da CCNE Nordeste



Rev. Márcio Retamero*



          Foi com espanto que tomei ciência, através de um cartaz ou banner, de uma atividade chamada IV Congresso Pentecostal, a ser realizado nos dias 7, 8 e 9 de Junho na CCNE Fortaleza, mas promovido pela CCNE Nordeste. O tema do IV Congresso Pentecostal é “12 Passos para Avançar” e a divisa encontra-se em Isaías 13:4: “Já se ouve sobre os montes o rumor como o de muito povo, o clamor de reino e nações já congregados. O Senhor dos Exércitos passa em revista às tropas de guerra”.

          O versículo, fora do contexto, está inserido na profecia de Isaías contra a Babilônia; logo nos primeiros capítulos do Livro do Profeta, lemos vários textos assim “Profecias contra...” e Deus profetizando contra muitas nações e povos, inclusive contra Jerusalém. O versículo que precede o quatro, assim diz, segundo a versão da Bíblia do Peregrino: “Deu ordem aos meus consagrados, recrutei meus guerreiros, entusiastas de minha honra, para *executar a minha ira*” (Is 13:3).

          Uma das regras de ouro da boa exegese bíblica nos alerta: texto fora de contexto é pretexto. E a análise histórico-crítica das Escrituras nos alerta para jamais tirarmos um texto fora do seu contexto e levar em conta absolutamente tudo o que podemos levar em relação ao texto, autor, tempo, geografia, história, filologia, ou seja, o contexto histórico existencial.

          A escola teológica bíblica do método histórico crítico, nos ensina que o Livro de Isaías não foi redigido por um homem apenas cujo nome era Isaías, mas por vários “Isaías”, ou seja, a “escola de Isaías”; o Livro é um processo de edição compiladora de vários escritos, desde o primeiro Isaías, o personagem profeta que dá nome ao livro, bem como seus sucessores que no pós-exílio da Babilônia, ajunta tais textos, dando-lhe uma unidade chamada Livro do Profeta Isaías. Assim temos, o proto-Isaías ou Primeiro Isaías, o deutero-Isaías ou Segundo Isaías e o Trito ou Terceiro Isaías que é do período pós-exílico.

          Didaticamente, a TEB nos ensina quanto à divisão do Livro:

          1 – Introdução ao conjunto do livro, constituída por uma seleção de oráculos de épocas diversas e destinada a fornecer um resumo da pregação do profeta;

          2-12 – Profecias sobre Israel e Judá , que na sua maioria estão entre as mais antigas de Isaías;

          13-23 – Oráculos sobre as nações estrangeiras;

          24-27 – Conjunto com dominante apocalíptica;

          28-33 – Oráculos diversos de promessas e de ameaças sobre Israel e sobre Judá (cf. 2-12);

          34-35 – Outros fragmentos apocalípticos;

          36-39 – Relatos sobre a atividade de Isaías no momento da campanha de Senaqueribe contra Jerusalém.

          Em nota de rodapé, a Bíblia de Genebra comenta o capítulo 13, no qual está inserido o versículo escolhido pela CCNE Nordeste para seu IV Congresso Pentecostal:

“13.1 a 23.18: Oráculos acerca de nações específicas. Essa seção apresenta as profecias de Isaías relativas às ações de Deus para com dez nações específicas que desempenharam papéis importantes durante o período do julgamento assírio. Depois de iniciar com uma declaração sobre a derrota final da Assíria (13.1 – 14.27)... As profecias predizem acontecimentos que logo seriam vistos em outras nove nações ligadas à campanha militar da Assíria, bem como a orientação que os fiéis de Israel e Judá obteriam a partir desses acontecimentos.

“13.1 Babilônia. Vários fatores indicam que essa passagem refere-se de fato ao reino assírio, em vez de ao reino babilônico. (1) Desde o tempo de Tiglate-Pileser III (c. 720 a.C.), os reis assírios se autoproclamavam “o rei da Babilônia” porque a Babilônia estava entre as suas possessões e era uma cidade muito importante do mundo antigo (14:3). (2) O contexto literário mais amplo dessa passagem envolve o período do julgamento assírio, não o julgamento babilônico. (3) Is 14.24-17 cita a Assíria explicitamente, mas ela não está destacada por um título introdutório como na apresentação das outras nações neste contexto (Is 14.28; 15.1; 17.1; 19.1; 21.1,11,13; 22.1; 23.1). Por essas razões, podemos estar certos, de que essa profecia prediz a derrota dos assírios pelos babilônios em c. 612 a.C.”

          Ou seja, irmãos e irmãs, os irmãos e irmãs da CCNE Nordeste escolheram um versículo que vai contra os interesses e soberania de Israel e de Judá, historicamente, contra o povo de Deus, enfim, que celebra a vitória da Babilônia a preço de muito sangue e vidas e fazendas. É a Babilônia que mais tarde invadirá a terra do povo de Deus, levando para sua capital a elite da Terra de Israel, um marco na história do povo de Deus, um lamento na existência do povo de Deus, um período de terror na história do povo de Deus como bem demonstra Jeremias e suas Lamentações!

          Texto fora de contexto é pretexto e não havia versículo pior como divisa de um congresso ou o que o valha cujo tema é 12 passos para avançar, a não ser que, belicosamente, na base da guerra, a CCNE Nordeste queira avançar e ir de encontro ao povo de Deus como a Assíria e a Babilônia, invadindo nossos campos e nos tornando exilados!

          Um triste episódio ocorreu na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos entre minha pessoa e pessoas da CCNE Maceió. Um irmão, chamado Gustavo, entrou no grupo da CCNE Maceió e escreveu algo sobre “igrejas inclusivas libertinas”, sem dar o nome da(s) igreja(s). Como sou pastor zeloso e como tínhamos iniciado um trabalho da Igreja da Comunidade Metropolitana em Maceió não muito tempo antes, eu sabia que ele estava fazendo referência à ICM como “igreja libertina”. Forcei até onde pude, escrevendo no tal grupo, o que causou um grande rebuliço lá, porque cobrava quem era a Igreja, mas, como acontece sempre entre os hipócritas, filhos do diabo mentirosos e meninos que não sabem ser homens, eles não tiveram a coragem de dizer que estavam falando, sem nomear, coisa de “Candinha”, a ICM Maceió, ou seja, uma completa falta de ética!

          Depois de tanto pedir explicações um rapaz, cujo sobrenome é Moreira, depois de ter apagado tudo o que escrevemos e gritado em caixa alta que o grupo era DELE, embora tivesse o nome CCNE Maceió, disse com todas as letras: ICM LIBERTINA.

          Vejam vocês a belicosidade dos fatos na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Membros da CCNE Maceió chamado um igreja irmã, a ICM, de libertina! Onde a ética? Onde a moral? Onde a hombridade? Onde o espírito de união e unidade? Onde o zelo pastoral para que coisas como essas não aconteçam mais no nosso meio? Interessante é que na mesma semana, recebi um telefonema do Dr. Átila, da CCNE Sede em São Paulo, me convidando para um Café com Pastores a ser realizado nos próximos meses, para justamente fazermos a engenharia de um Conselho Nacional de Igrejas Inclusivas do Brasil! Mas como fazermos isso com tanta fofoca, com tanta trama diabólica, com tanta guerra intestinal, com tanta maledicência, perjúrio, discurso injurioso, falsidade e mentiras? Pedi um pedido de desculpas dos envolvidos sobre o caso, o que até agora não me chegou às mãos, ou seja, caluniar, fofocar, cometer injúria pode, pedir desculpas por escrito não pode! Por isso irei à Maceió pessoalmente para tratar do assunto. Isso foi só um parêntese, voltemos ao texto.

           Meu objetivo com esse texto é esclarecer. A CCNE Nordeste, além de ter escolhido um versículo bélico contra a Babilônia que tanto fez sofrer o povo de Deus, ainda confeccionou um banner ou cartaz que me causou arrepios, não apenas como pastor, mas também como historiador.

          O banner ilustra esse texto e o que nele vemos? Uma cena das chamadas “Cruzadas Medievais”, uma campanha militar de “evangelização” convocada pelo Papa para libertar Jerusalém dos mulçumanos, os fiéis de Maomé. No caminho da Cruzada mataram mulheres e as estupraram; mataram cristãos e mataram muitos, milhares de mulçumanos.

          Reflita comigo: este é um tipo de versículo e um tipo de banner de uma igreja que se pretende inclusiva? Que chama à guerra, ilustrando-a com as Cruzadas Medievais? Veja o Cavaleiro Templário com sua cruz e sua capa, armado até os dentes de couraça e com uma espada na mão! Pronto para matar e libertar Jerusalém pelo poder da espada que fere e mata!

          Não, irmãos e irmãs, não cabe isso numa igreja que se pretende inclusiva e que deve pregar o amor e a justiça de Deus, que são as duas faces da mesma moeda, mas a justiça de Deus não abre mão do Seu Amor. Deus é Amor.

          Contudo, refletindo sobre os últimos episódios que aconteceu entre a minha pessoa e membros da CCNE Maceió, que faz parte da CCNE Nordeste, é fácil entender tanto a divisa do versículo quanto o banner. Eles são bons de briga, de fofoca, de maledicência e sua arma é a língua que fere, mata e faz matar.
          Nessa disputa infantil que se instalou entre as igrejas inclusivas do Brasil, melhor, as ditas inclusivas, a língua tem sido a arma letal desses cruzados que constroem igrejas pescando em aquários, que aqui e ali espalham fofocas, injúrias que causam prejuízos principalmente á denominação à qual estou ligado: a Igreja da Comunidade Metropolitana do Brasil, porque entre nós não há interditos, máscaras, hipocrisias, tampouco a santidade da cara pra fora.

          Se eu for escrever sobre tudo o que sei e que acontece dentro dessas ditas igrejas inclusivas, como a CCNE, eu escreveria um livro, inclusive com depoimentos de pessoas que lá dentro estiveram. Caberia páginas e páginas de fatos concretos que atestaria a libertinagem. Mas não o faço – se continuarem posso até pensar em fazer – mas não o faço e por que? Porque tenho zelo e, para usar a linguagem bélica que tanto gostam, gostaria que as ditas inclusivas fossem como um exército de um só homem, para fazer frente à militância política, buscar espaços de luta social e advocacy junto ao poder público, além de ações por um Estado Laico e contra o avanço fundamentalista.

          Mas infelizmente, pastores e pastoras ditos inclusivos, bem como seus fiéis, preferem as guerras intestinais, as fofocas, as maledicências, o ferir o outro com a língua – que é arma – o rotular o outro como libertino, porque o outro é diferente, tem um ethos diferente e não reza na mesma cartilha.

          Estou farto deste estado de coisas entre as igrejas ditas inclusivas – o que é ou deveria ser uma igreja inclusiva, vocês sabem? – e não me calarei mais e exporei as entranhas dessas igrejas a começar pela minha igreja, para não dizerem que estou salvaguardando meu latifúndio. Chega de hipocrisia e espírito bélico! Chega de fofocas e maledicências! Chega do espírito do Acusador, satânico, entre nós. É hora de unidade na diversidade; é hora de unirmos nossos ombros e mãos; é hora de aprender, de estudar, para não repetirmos as besteiras do fundamentalismo religioso como essa Cruzada Medieval promovida pela CCNE Nordeste. É hora de nos levantarmos como um exército de um homem só pelo nosso bem, pelo bem do nosso povo, pelo bem da nossa nação! É hora de desaprender 10, 14, 11 passos para avançar, porque não avançaremos na mentira, no ataque às outras igrejas inclusivas, na santidade falsa da cara pra fora, na vilania.

          Cristãos e cristãs inclusivos, uni-vos!

*Rev. Márcio Retamero, 38 anos, é teólogo e historiador. Mestre em História Moderna, UFF/Niterói. É pastor da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo e da Igreja da Comunidade Metropolitana do Rio de Janeiro, a Comunidade Betel. É membro da Aliança de Batistas do Brasil e autor de quatro livros, o último, intitulado “Você tem fome de que?”, todos editados pela Metanoia Editora.


sexta-feira, 27 de maio de 2011

Cine Betel no dia 28/05 | Filme: "Alexandria" | Entrada franca!

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Cine Betel neste sábado às 17h. Filme: Alexandria. Tema do Debate: Fundamentalismo Religioso. Debatedor: Prof. Dr. André Sena

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Praia de Botafogo, 430 (sobreloja) Botafogo- Rio de Janeiro.

quinta-feira, 10 de março de 2011

CINE BETEL - 19 DE MARÇO, 2011, 17H - ENTRADA FRANCA!!!

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COMUNIDADE BETEL

Igreja da Comunidade Metropolitana do Rio de Janeiro
Cultos: Domingos, às 19:00, Quintas, às 19:30. Praia de Botafogo, 430 - Sobreloja - Botafogo, Rio
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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

I JORNADA TEOLÓGICA DA COMUNIDADE BETEL

Jornada_IIIA

"Reconstruindo Ideias e Resignificando as Escrituras"


Palestrantes: Rev. Márcio Retamero e Presb. Ricardo.


Sábado - 16:00 às 19:15
...Domingo - 17:30 às 18:45

PARTICIPE!!!
Inscrições: cardo@oi.com.br

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COMUNIDADE BETEL
Uma Igreja Cristã Protestante, Reformada e Inclusiva
Cultos: Domingos, às 19:00, Quintas, às 19:30.
Praia de Botafogo, 430 - Sobreloja - Botafogo, Rio (Templo da Igreja Presbiteriana da Praia). Próx. ao Metrô e ao Botafogo Praia Shopping.
Site: www.betelrj.com
Twitter: http://www.twitter.com/comunidadebetel
ICM - Igrejas da Comunidade Metropolitana
www.icmbrasil.com

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Coluna do Rev. Márcio Retamero

Com imensa alegria, nós, do Gospel LGBT, anunciamos nosso mais novo colunista: O Rev. Márcio Retamero da Comunidade Bethel do Rio de Janeiro, uma igreja protestante, reformada e INCLUSIVA. Hoje, afiliada às Igrejas da Comunidade Metropolitana (www.betelrj.com).

Uma honra para nós, uma fonte de inspiração para os leitores desse blog, um acréscimo para a espiritualidade de nós todos.

Seja bem-vindo Rev. Márcio, a “casa” é sua!

Renato Hoffmann

sábado, 13 de março de 2010

A Igreja e a homossexualidade: a lição de um pastor que, de fato, pastoreia!

Vou reproduzir aqui um texto que está publicado no site A Capa, na coluna do Rev. Márcio Retamero, este texto o próprio Rev. Márcio me enviou, pelo e-mail. Fazemos parte de uma mesma lista de discussão, e eu não o conheço pessoalmente, muito embora, desejo expressar o quanto fico honrado pela presença nobre que ele, por lá, nos concede. Admiro o trabalho deste homem, e de sua Igreja, que na verdade é um orgulho para mim! Sempre quando sou procurado por algum jornalista, querendo entrevistas e me pergunta: “você conhece alguma igreja que aceita homossexual?” Dou a resposta estufando o peito: “A Igreja Bethel do RJ, do Rev. Márcio.

Eles primam pela Reforma, e a igreja lá é de tradição reformada, o querido Márcio (se assim me permitem) foi pontual nesse texto, muito feliz mesmo, diria brilhante! Querido pastor, que Deus continue te iluminando, e que cada dia mais essa referência do amor de Cristo esteja no seu coração, com suas ovelhas, em todo seu trabalho, iluminando o mundo, anunciando o Reino de Deus e sua justiça!

Amor de mãe
Por Márcio Retamero* 12/3/2010 - 13:39

"Assim diz a Bíblia" ("For the Bible tells me so") é um documentário estadunidense sobre cinco famílias cristãs que enfrentaram corajosamente o fundamentalismo religioso após a descoberta da homossexualidade de seus filhos e filhas. O filme mostra contundentes análises de teólogos e pastores que desconstroem os falaciosos argumentos do fundamentalismo religioso.

Assistindo "Assim diz a Bíblia" percebemos que é possível em nossa geração o que um dos profetas bíblicos definiu como sua missão: "converter os corações dos pais aos seus filhos e dos seus filhos aos seus pais". Muitas são as famílias destruídas pelo discurso dos evangélicos e católicos fundamentalistas! Neste exato momento que você lê essas linhas, pode ter certeza que em algum lugar deste planeta um  homossexual está sendo expulso de casa porque seus pais aprenderam na igreja com o pastor ou padre que "homossexualismo" (sic) é abominação para Deus e que "são dignos de morte os que tais coisas praticam" (Romanos 1.32). Como não têm coragem de matarem os próprios filhos e filhas literalmente, matam em seus corações, expulsando-os do lar.

Um dos depoimentos mais emocionante e também chocante do filme é o de Mary Lou Wallner (foto ao lado), da cidade de Cabot/Arkansas. Mary Lou é a mãe de Anna, uma linda americana de olhos azuis, que aos dez meses de idade já balbuciava o hino cristão, que diz: "Yes, Jesus loves me! This I know, for the Bible tells me so" (Sim, Jesus me ama! Isso eu sei, porque assim diz a Bíblia).

Anna escreveu uma carta à sua mãe que contava que ela era diferente das demais meninas da universidade onde estudava, pois amava meninas e não meninos. Na carta ela escreveu sobre a angústia que sentia desde que se descobriu diferente das demais meninas, pedia à mãe compreensão, afeto, amor enfim.

Mary Lou respondeu por escrito que a amava, mas que odiava a homossexualidade de Anna, porque a Bíblia diz que homossexualidade é uma abominação para Deus. Recheou sua carta com versículos bíblicos tirados do seu contexto (como o acima citado) para que a filha não tivesse dúvidas que, para Deus, o que ela sentia era algo abominável. Anna não segurou a dor da rejeição de sua mãe, afinal, ser lésbica era parte dela, era ela, e tirou sua própria vida, pendurando-se no seu quarto.

Devastada pelo suicídio de Anna, Mary Lou conheceu a teologia inclusiva. Conheceu outras famílias cristãs que passaram pelo que ela estava passando e com eles estudou profundamente as Escrituras. A descoberta da verdade acerca do que realmente diz a Bíblia sobre a homossexualidade e a revelação de um Deus de Amor, conforme proclamado por Jesus não jogou a pá de cal sobre Mary Lou. Antes, a levantou do monturo existencial sobre o qual jazia para a militância por uma igreja inclusiva de fato e pelos direitos dos LGBTs em seu país, tornando-a uma das mais aguerridas militantes pela causa LGBT, enfrentando frente a frente as mentiras dos fundamentalistas religiosos e tombando-os com a verdade agora descoberta.

Escrevo essa coluna há dez meses. De maio de 2009 até o presente momento, tenho recebido inúmeras boas surpresas na vida, uma delas, é que há um mês multiplicam-se os e-mails em minha caixa postal de mães de LGBTs que me leem aqui no A Capa. Sim, muitas mães brasileiras estão me escrevendo pedindo auxílio para compreenderem a sexualidade de seus filhos e filhas; são mães cristãs (pais também, mas em menor número). Este artigo é a resposta pública que dou a uma delas, na verdade, a minha tréplica.

Duas semanas atrás recebi um e-mail de uma mãe de São Paulo, integrante de uma importante e conhecida Igreja Batista desta capital. Ela é mãe de três filhos e um deles, o do meio, é gay. Esta mãe e seu esposo estavam passando por uma imensa crise há cerca de um ano, desde que seu filho foi excluído do rol de membros de sua igreja, não antes de ter sido exposto diante de inúmeras pessoas de sua congregação. O resultado do que ela chamou de "calvário" foi ver seu filho profundamente deprimido, um jovem que antes era cheio de força, vigor e saúde mental, entregue aos remédios receitados por um especialista. Além disso, seu esposo jamais retornou à igreja e seus outros filhos, se recusavam também. Ela era a única que persistia em voltar à igreja "de cabeça erguida", pois até aquele momento, "sentia" que o certo tinha sido feito: seu filho é uma abominação para Deus e estava sofrendo as conseqüências do seu "pecado". 

O que esta mãe não entendia era porque, se o certo tinha sido feito, sua família que antes era uma família saudável e feliz, estava partida, sofrendo profundamente; e me perguntava: "aprendi na minha igreja que Deus ama o pecador, mas odeia o pecado. Quero saber de você que escreve neste site gay que Deus ama os homossexuais, de onde você tira essa certeza. Preciso saber disso com urgência, pois minha família está em crise e temo perdê-la".

Em minha resposta, enviei em anexo um estudo sobre Bíblia e Homossexualidade; pedi que ela lesse com atenção toda a apostila, mas não sozinha, que fizesse isso junto aos filhos e seu esposo. Também indiquei o documentário "Assim diz a Bíblia", reforçando que ela não deveria vê-lo sozinha, mas com a família reunida; que anotasse todas as suas dúvidas e que me escrevesse novamente.

Recebi sua resposta no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher e meu aniversário. Foi o melhor presente que recebi neste ano! Agora, assinava ela e seu esposo e eu pude sentir a emoção e o amor deles naquele e-mail. Neste, eles agradeciam muito os textos e a indicação dos filmes e que não tinham dúvidas alguma, pois o que leram e assistiram foi cura para tudo o que estavam passando até ali. Escreveram: "a missão de um profeta é também converter os corações dos pais aos filhos e vice-versa e isto foi o que seu trabalho profético fez aqui em nosso lar. Deus o abençoe!" Pediam indicação de uma igreja inclusiva e prometeram reunir a família para, no próximo domingo, estarem lá juntos, como fizeram tantas vezes no passado.

Vocês, mães queridas, que neste momento estão lendo este artigo, não precisam passar a dor que Mary Lou Wallner passou; nem precisam passar pelo "calvário" que esta mãe de São Paulo passou para se converterem aos seus filhos e filhas LGBTs. Deus é Amor e tudo o que não promove o amor, mas causa divisão, dor, sofrimento, suicídio, morte, trevas, doenças e separação não pode vir de Deus, nem de pessoas de Deus. A religião que escolhe o fundamentalismo como via tem as mãos sujas do sangue de Anna Wallner e de milhões de gays e lésbicas, travestis e transexuais que tombam, diariamente, sem vida ao chão.

A cura para o veneno que fundamentalismo religioso e o mau uso da Bíblia inoculou em nós, encontramos no amor em primeiro lugar - amor incondicional; e no conhecimento acumulado por pessoas que estudam temas como a Bíblia e a homossexualidade, dentre outros tantos temas que perpassam o assunto. Estudem! Leia tudo o que for necessário para compreenderem que homossexualidade não é pecado nem doença e se afastem daqueles que estão destruindo famílias em nome de um deus que não sabe o que é amor.

Derrubar muros e construir esperanças é o alvo de todo teólogo inclusivo e de toda igreja inclusiva. Continuem me escrevendo! Deus abençoe vocês!


* Márcio Retamero, 36 anos, é teólogo e historiador, mestre em História Moderna pela UFF/Niterói, RJ. É pastor da Comunidade Betel do Rio de Janeiro - uma Igreja Protestante Reformada e Inclusiva -, desde o ano de 2006. É, também, militante pela inclusão LGBT na Igreja Cristã e pelos Direitos Humanos. Conferencista sobre Teologia, Reforma Protestante, Inquisição, Igreja Inclusiva e Homofobia Cristã. Seu e-mail é: revretamero@betelrj.com.