Rev.
Márcio Retamero*
Foi com espanto
que tomei ciência, através de um cartaz ou banner, de uma atividade chamada IV
Congresso Pentecostal, a ser realizado nos dias 7, 8 e 9 de Junho na CCNE
Fortaleza, mas promovido pela CCNE Nordeste. O tema do IV Congresso Pentecostal
é “12 Passos para Avançar” e a divisa encontra-se em Isaías 13:4: “Já
se ouve sobre os montes o rumor como o de muito povo, o clamor de reino e
nações já congregados. O Senhor dos Exércitos passa em revista às tropas de
guerra”.
O versículo, fora do contexto, está
inserido na profecia de Isaías contra a Babilônia; logo nos primeiros capítulos
do Livro do Profeta, lemos vários textos assim “Profecias contra...” e Deus
profetizando contra muitas nações e povos, inclusive contra Jerusalém. O
versículo que precede o quatro, assim diz, segundo a versão da Bíblia do
Peregrino: “Deu ordem aos meus consagrados, recrutei meus guerreiros,
entusiastas de minha honra, para *executar a minha ira*” (Is 13:3).
Uma das regras de ouro da boa exegese
bíblica nos alerta: texto fora de contexto é pretexto. E a análise
histórico-crítica das Escrituras nos alerta para jamais tirarmos um texto fora
do seu contexto e levar em conta absolutamente tudo o que podemos levar em
relação ao texto, autor, tempo, geografia, história, filologia, ou seja, o
contexto histórico existencial.
A escola teológica bíblica do método
histórico crítico, nos ensina que o Livro de Isaías não foi redigido por um
homem apenas cujo nome era Isaías, mas por vários “Isaías”, ou seja, a “escola
de Isaías”; o Livro é um processo de edição compiladora de vários escritos,
desde o primeiro Isaías, o personagem profeta que dá nome ao livro, bem como
seus sucessores que no pós-exílio da Babilônia, ajunta tais textos, dando-lhe
uma unidade chamada Livro do Profeta Isaías. Assim temos, o proto-Isaías ou
Primeiro Isaías, o deutero-Isaías ou Segundo Isaías e o Trito ou Terceiro
Isaías que é do período pós-exílico.
Didaticamente, a TEB nos ensina quanto à divisão do Livro:
1 – Introdução ao conjunto do livro,
constituída por uma seleção de oráculos de épocas diversas e destinada a
fornecer um resumo da pregação do profeta;
2-12 – Profecias sobre Israel e Judá
, que na sua maioria estão entre as mais antigas de Isaías;
13-23 – Oráculos sobre as nações
estrangeiras;
24-27 – Conjunto com dominante
apocalíptica;
28-33 – Oráculos diversos de
promessas e de ameaças sobre Israel e sobre Judá (cf. 2-12);
34-35 – Outros fragmentos
apocalípticos;
36-39 – Relatos sobre a atividade de
Isaías no momento da campanha de Senaqueribe contra Jerusalém.
Em nota de rodapé, a Bíblia de Genebra comenta o capítulo
13, no qual está inserido o versículo escolhido pela CCNE Nordeste para seu IV
Congresso Pentecostal:
“13.1 a 23.18: Oráculos
acerca de nações específicas. Essa seção apresenta as profecias de Isaías
relativas às ações de Deus para com dez nações específicas que desempenharam
papéis importantes durante o período do julgamento assírio. Depois de iniciar
com uma declaração sobre a derrota final da Assíria (13.1 – 14.27)... As
profecias predizem acontecimentos que logo seriam vistos em outras nove nações
ligadas à campanha militar da Assíria, bem como a orientação que os fiéis de
Israel e Judá obteriam a partir desses acontecimentos.
“13.1 Babilônia. Vários
fatores indicam que essa passagem refere-se de fato ao reino assírio, em vez de
ao reino babilônico. (1) Desde o tempo de Tiglate-Pileser III (c. 720 a.C.), os
reis assírios se autoproclamavam “o rei da Babilônia” porque a Babilônia estava
entre as suas possessões e era uma cidade muito importante do mundo antigo
(14:3). (2) O contexto literário mais amplo dessa passagem envolve o período do
julgamento assírio, não o julgamento babilônico. (3) Is 14.24-17 cita a Assíria
explicitamente, mas ela não está destacada por um título introdutório como na
apresentação das outras nações neste contexto (Is 14.28; 15.1; 17.1; 19.1;
21.1,11,13; 22.1; 23.1). Por essas razões, podemos estar certos, de que essa
profecia prediz a derrota dos assírios pelos babilônios em c. 612 a.C.”
Ou seja, irmãos e irmãs, os irmãos e
irmãs da CCNE Nordeste escolheram um versículo que vai contra os interesses e
soberania de Israel e de Judá, historicamente, contra o povo de Deus, enfim,
que celebra a vitória da Babilônia a preço de muito sangue e vidas e fazendas.
É a Babilônia que mais tarde invadirá a terra do povo de Deus, levando para sua
capital a elite da Terra de Israel, um marco na história do povo de Deus, um
lamento na existência do povo de Deus, um período de terror na história do povo
de Deus como bem demonstra Jeremias e suas Lamentações!
Texto fora de contexto é pretexto e
não havia versículo pior como divisa de um congresso ou o que o valha cujo tema
é 12 passos para avançar, a não ser que, belicosamente, na base da guerra, a
CCNE Nordeste queira avançar e ir de encontro ao povo de Deus como a Assíria e
a Babilônia, invadindo nossos campos e nos tornando exilados!
Um triste episódio ocorreu na Semana
de Oração pela Unidade dos Cristãos entre minha pessoa e pessoas da CCNE
Maceió. Um irmão, chamado Gustavo, entrou no grupo da CCNE Maceió e escreveu
algo sobre “igrejas inclusivas libertinas”, sem dar o nome da(s) igreja(s).
Como sou pastor zeloso e como tínhamos iniciado um trabalho da Igreja da
Comunidade Metropolitana em Maceió não muito tempo antes, eu sabia que ele
estava fazendo referência à ICM como “igreja libertina”. Forcei até onde pude,
escrevendo no tal grupo, o que causou um grande rebuliço lá, porque cobrava
quem era a Igreja, mas, como acontece sempre entre os hipócritas, filhos do
diabo mentirosos e meninos que não sabem ser homens, eles não tiveram a coragem
de dizer que estavam falando, sem nomear, coisa de “Candinha”, a ICM Maceió, ou
seja, uma completa falta de ética!
Depois de tanto pedir explicações um
rapaz, cujo sobrenome é Moreira, depois de ter apagado tudo o que escrevemos e
gritado em caixa alta que o grupo era DELE, embora tivesse o nome CCNE Maceió,
disse com todas as letras: ICM LIBERTINA.
Vejam vocês a belicosidade dos fatos
na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Membros da CCNE Maceió chamado
um igreja irmã, a ICM, de libertina! Onde a ética? Onde a moral? Onde a
hombridade? Onde o espírito de união e unidade? Onde o zelo pastoral para que
coisas como essas não aconteçam mais no nosso meio? Interessante é que na mesma
semana, recebi um telefonema do Dr. Átila, da CCNE Sede em São Paulo, me
convidando para um Café com Pastores a ser realizado nos próximos meses, para
justamente fazermos a engenharia de um Conselho Nacional de Igrejas Inclusivas
do Brasil! Mas como fazermos isso com tanta fofoca, com tanta trama diabólica,
com tanta guerra intestinal, com tanta maledicência, perjúrio, discurso
injurioso, falsidade e mentiras? Pedi um pedido de desculpas dos envolvidos
sobre o caso, o que até agora não me chegou às mãos, ou seja, caluniar,
fofocar, cometer injúria pode, pedir desculpas por escrito não pode! Por isso
irei à Maceió pessoalmente para tratar do assunto. Isso foi só um parêntese,
voltemos ao texto.
Meu objetivo com esse texto é
esclarecer. A CCNE Nordeste, além de ter escolhido um versículo bélico contra a
Babilônia que tanto fez sofrer o povo de Deus, ainda confeccionou um banner ou
cartaz que me causou arrepios, não apenas como pastor, mas também como
historiador.
O banner ilustra esse texto e o que nele
vemos? Uma cena das chamadas “Cruzadas Medievais”, uma campanha militar de
“evangelização” convocada pelo Papa para libertar Jerusalém dos mulçumanos, os
fiéis de Maomé. No caminho da Cruzada mataram mulheres e as estupraram; mataram
cristãos e mataram muitos, milhares de mulçumanos.
Reflita comigo: este é um tipo de
versículo e um tipo de banner de uma igreja que se pretende inclusiva? Que
chama à guerra, ilustrando-a com as Cruzadas Medievais? Veja o Cavaleiro
Templário com sua cruz e sua capa, armado até os dentes de couraça e com uma
espada na mão! Pronto para matar e libertar Jerusalém pelo poder da espada que
fere e mata!
Não, irmãos e irmãs, não cabe isso
numa igreja que se pretende inclusiva e que deve pregar o amor e a justiça de
Deus, que são as duas faces da mesma moeda, mas a justiça de Deus não abre mão
do Seu Amor. Deus é Amor.
Contudo, refletindo sobre os últimos
episódios que aconteceu entre a minha pessoa e membros da CCNE Maceió, que faz
parte da CCNE Nordeste, é fácil entender tanto a divisa do versículo quanto o
banner. Eles são bons de briga, de fofoca, de maledicência e sua arma é a
língua que fere, mata e faz matar.
Nessa disputa infantil que se
instalou entre as igrejas inclusivas do Brasil, melhor, as ditas inclusivas, a
língua tem sido a arma letal desses cruzados que constroem igrejas pescando em
aquários, que aqui e ali espalham fofocas, injúrias que causam prejuízos
principalmente á denominação à qual estou ligado: a Igreja da Comunidade Metropolitana
do Brasil, porque entre nós não há interditos, máscaras, hipocrisias, tampouco
a santidade da cara pra fora.
Se eu for escrever sobre tudo o que
sei e que acontece dentro dessas ditas igrejas inclusivas, como a CCNE, eu
escreveria um livro, inclusive com depoimentos de pessoas que lá dentro
estiveram. Caberia páginas e páginas de fatos concretos que atestaria a
libertinagem. Mas não o faço – se continuarem posso até pensar em fazer – mas
não o faço e por que? Porque tenho zelo e, para usar a linguagem bélica que
tanto gostam, gostaria que as ditas inclusivas fossem como um exército de um só
homem, para fazer frente à militância política, buscar espaços de luta social e
advocacy junto ao poder público, além de ações por um Estado Laico e contra o
avanço fundamentalista.
Mas infelizmente, pastores e pastoras
ditos inclusivos, bem como seus fiéis, preferem as guerras intestinais, as
fofocas, as maledicências, o ferir o outro com a língua – que é arma – o
rotular o outro como libertino, porque o outro é diferente, tem um ethos
diferente e não reza na mesma cartilha.
Estou farto deste estado de coisas
entre as igrejas ditas inclusivas – o que é ou deveria ser uma igreja
inclusiva, vocês sabem? – e não me calarei mais e exporei as entranhas dessas
igrejas a começar pela minha igreja, para não dizerem que estou salvaguardando
meu latifúndio. Chega de hipocrisia e espírito bélico! Chega de fofocas e
maledicências! Chega do espírito do Acusador, satânico, entre nós. É hora de unidade
na diversidade; é hora de unirmos nossos ombros e mãos; é hora de aprender, de
estudar, para não repetirmos as besteiras do fundamentalismo religioso como
essa Cruzada Medieval promovida pela CCNE Nordeste. É hora de nos levantarmos
como um exército de um homem só pelo nosso bem, pelo bem do nosso povo, pelo
bem da nossa nação! É hora de desaprender 10, 14, 11 passos para avançar,
porque não avançaremos na mentira, no ataque às outras igrejas inclusivas, na
santidade falsa da cara pra fora, na vilania.
Cristãos e cristãs inclusivos,
uni-vos!
*Rev. Márcio
Retamero, 38 anos, é teólogo e historiador. Mestre em História Moderna,
UFF/Niterói. É pastor da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo e da Igreja
da Comunidade Metropolitana do Rio de Janeiro, a Comunidade Betel. É membro da
Aliança de Batistas do Brasil e autor de quatro livros, o último, intitulado
“Você tem fome de que?”, todos editados pela Metanoia Editora.
Precisamos ouvir os pensamentos provenientes do Rev Marcio Retamero, um dos principais teólogos inclusivos do Brasil, de fato ele tem razão em relação a imagem e ao texto usados como tema do congresso, ele falou com propriedade no assunto! Ademais somos igreja inclusiva ou fonte de exclusão? A referências Bíblicas usadas e imagens do congresso estão fora do contexto teológico adequado para uma igreja inclusiva. Peço a Deus que tenham humildade e sabedoria pra entender e corrigir esse equívoco, e, espero que não entendam esta minha intervenção como um ato de rebeldia, na verdade e no fundo é o contrário, é um ato de amor, transparência e sinceridade. Ainda há tempo de divulgar uma nota de desculpas ao Rev. Marcio e a ICM, somos irmãos, e, não estamos em guerra. Também ainda há tempo de mudarem a referência Bíblica do congresso bem como a imagem utilizada que nada condiz com o evangelho inclusivo do Reino de Deus que pretendemos anunciar, através de uma errata. Afinal de contas não a nenhuma vergonha em reconhecer quando nos equivocamos e corrigir as falhas cometidas. Sei que a CCNE-Fortaleza não fez por mal, apenas por falta de conhecimento, afinal de contas todos nós estamos sempre aprendendo, e, ainda há tempo de exercer um ato verdadeiramente cristão, pedir desculpas e corrigir as falhas!
ResponderExcluirResposta Teológica da CCNE-Nordeste: A bíblia Dake em seus comentários diz que esta passagem Is 13.2 expressa a idéia de Deus está reunindo suas forças para virem a Terra para destruir o Anticristo e assumir os governos deste mundo. Também pode ser um cumprimento duplo no chamado as nações da terra para que juntas pelejem no Armagedon. É UMA PROFECIA CONTRA A BABILÔNIA E NÃO EM SEU FAVOR. Já o verso 3 diz que somente os seres humanos remidos e os santos anjos exultam com a majestade de Deus, indicando que esses santificados são os santos anjos que acompanham a Cristo. O verso 4 trata da reunião de um exercido celestial. A Bíblia dake reune muitos teólogos de renome e ficaremos com a opinião deles.
ResponderExcluirEm face a defesa feita pela ccne-nordeste, compreendo que é apenas uma questão de corrente teológica, ao qual cada um tem o direito de escolher sua linha de pensamento! Assim sendo acredito encerrada a polêmica!
Gostaria de emitir minha opinião dizendo que mesmo que haja um erro na imagem usada e no texto escolhido o seminário é uma benção, já participei de outros anteriormente, e, posso falar com propriedade. O fato é que há uma divergência teológica e de pensamento, o que não impedirá o agir de Deus na vida das pessoas que participarem do mesmo.
A Igreja em questã ofensiva, já postou cartazes em apologia a Doutrina do Cadomblé das quais as Igrejas Pentecostais Inclusivas, não adotam como fontes e formas de rendição ao NOSSO DEUS, que abomina tais atos!
ResponderExcluirNem por isso fomos contra ou postamos algo de natureza que tenham os OFENDIDO.
Sou de acordo a CO-IRMÃ CCNE-NORDESTE.
E que estes irmãos se limitem a governar sua própria igreja e seus dogmas!
Respeite a doutrina e pensamentos dos Irmãos Pentecostais!