Mostrando postagens com marcador artigo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador artigo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

CURSO INTENSIVO DE FLORA PASSIVA - III


O fim do ano está chegando, mas, para a Mama, não tem descanso. Afinal, tudo que é duro dói, mas tem de continuar, rsrs...!

Por isso, antes que 2011 dê um tchauzinho de miss e 2012 ADENTRE nossas vidas, fizemos uma edição especial do nosso Curso Intensivo de Flora Passiva e demos em dobro (ui!), catalogando nada mais, nada menos que quatro novos tipos!


5. AS AMÉLIAS

As que são mais maduras, como Mama, lembrarão daquela famosa música que diz que a “Amélia é que era mulher de verdade... Amélia não tinha a menor vaidade”.

A palavra virou sinônimo daquelas rachas que ficam em casa e fazem de tuuudo pro bofe que chega do trabalho cheirando a cerveja (“hora extra”, claro...) no fim do dia.

Pois bem: é exatamente o que as bees amélias fazem – e vale dizer que esse tipo foi sugerido por alguém especial, sinal de que está funcionando pedir ajuda para catalogarmos todas nós!

Tradicionalistas e conservadoras, as amélias sonham com um marido para chamar de seu e querem ter uma casinha no mais puro esquema mamãe-papai.

Seu objetivo é serem sustentadas, fazer o café da manhã, preparar o jantar, limpar o banheiro e perfumar a cama onde, idilicamente, serão abatidas à noite – ah, e o bofe, nem pensar de dar uma de delicado! Tem de ser macho-cho, com todos os vícios e, hummm, durezas a que tem direito!

Vale dizer, porém, que existe hoje um novo tipo de amélia. Sim, meu bem: elas se dividiram em duas cepas. Hoje, as mais modernosas é que saem pra trabalhar e deixam o bofe em casa – mas ainda dão conta do jantar quando voltam e não descuidam da chuca, no melhor esquema multitarefa e autolimpante. Não é raro que até sustentem o ocó!

Mama sabe que existem diferentes tipos de arranjo de namoro e casamento, mas não pode dizer que deixe de se preocupar com as duas amélias.

Afinal, quando as rachas fizeram sua revolução e cometeram o pecado de queimar sutiãs Victoria’s Secret em praça pública, du-vi-do que estivessem pensando que algumas bibas assumiriam, orgulhosas, seu lugar – e a mama da Mama, a Abuela, já ensinava que, se for para sustentar macho, que seja em cima de mim, porque, para f*der a conta corrente, já tem gerente de banco e cartão de crédito, right?


6. AS FLEX DE MEIA-TIGELA

Na primeira aula de nosso curso, falamos das falsas ativas, lembra, bee? Aquelas que “só dão para um pau maior que o delas”? Mas, como a evolução é uma regra da natureza, elas deram origem a uma subespécie: as flex de meia-tigela. Essas representantes da flora passiva são a razão por que recai sobre as versáteis verdadeiras a alcunha de dadeiras não assumidas.

Diferentemente das falsas ativas, elas não escondem que gostam de ser devoradas e, embora sejam também adeptas do ditado popular que diz: “tudo vale a pena se a vara não é pequena” (aimmmm... Não é esse?! Mais um que Mama erra rsrs), a verdade nua e crua é que topam as mais diferentes opções de comprimento e largura.

O problema é que elas dizem permanecer com um lado ativo, embora tudo não passe de uma jogada de marketing para ganhar terreno no mercado do sexo.

O discurso tradicional é falar que são “totalflex” – mas de “total”, elas nada têm, gata: rodam 90% no álcool e só 10% na gasolina. Resumindo: elas até comem... Mas só quando não têm nenhuma outra opção, o que pode ser um problema se a senhora não está interessada em entrar numa de Marisa e ficar “de mulher pra mulher”.

Infelizmente, Mama ainda não descobriu como separar facilmente essas passivas das verdadeiras versáteis. Parece que a evolução as dotou de uma camuflagem de última geração.

O único jeito é fazer uma análise minuciosa enquanto conversam, no MSN, nos sites de relacionamento ou antes de ir pro motel. Se ela for uma rosa vermelha, em algum momento, a senhora sentirá o cheiro...


7. AS VAMPIRAS

Tudo bem. Mama sabe que, por incrível que pareça, está assim, ó, de ativas por aí que mais parecem homem hétero machista e chato: elas se perturbam se descobrem que a senhora tem um laaaaargo currículo (sem trocadilhos...), ficam estupefatas ao saber que a senhora já fez caridade e deu tudo que é seu e arrepiam o púbis de ciúme antes de levá-la ao altar de véu, grinalda e sem calcinha – mas, verdade seja dita, isso, por si só, não justifica a existência dessa categoria de passivas, que adoooram gongar as amigas à luz do dia, chamando-as pejorativamente de “promíscuas”.

Não se conforme com isso, gata. Essas santinhas não são nem do pau oco, porque o único pau que querem é o dos ocós!

Elas se fazem de puras, castas e casamenteiras, mas é só dar uma passadinha no darkroom da buátchy mais próxima ou no cinemón da vizinhança para vê-las mostrando a verdadeira face e toda a capacidade de seus orifícios – sem falar que você também pode topar com uma delas no bosque à noite, na praça com iluminação quebrada ou naquela ruazinha escura ali, ó, onde a senhora sabe que acontece de tudo: de bandidos comedores a sexo sobre quatro rodas.

Aliás, é por isso que elas são vampiras: quanto mais escuro o lugar, melhor. É só aí, certas de que ninguém vai reconhecê-las, que colocam as presas tratadas com clareamento dental de fora e buscam aquilo que verdadeiramente querem: um banquete de carne de homem!

Como a senhora já deve ter aquendado se viu a aula anterior, as vampiras são muito similares às egípcias na hora do sexo e, por isso, podem se combinar com elas, gerando híbridos espetacularmente desinteressantes...

Para combater esse tipo, é muito simples. É só jogar um foco de luz ou ameaçar com uma câmera na “hora H”. Ao verem o próprio reflexo com a boca cheia, elas se enrolam e desaparecem, assustadas, como o Mumm-Ra dos ThunderCats. Ainda bem que, como a famosa múmia e os vampiros de verdade, elas não têm vida eterna, rsrsrs...


8. AS GUZULAS

Quem aqui viveu nos anos 70 ou curte desenhos animados clássicos vai se lembrar do Guzula, um monstro gordinho que comia metal e cuspia fogo e cujo chavão era “Guzula está aqui. Guzula tá com fome de ferro!”.

Bom, meus amores, agora já cantamos a bola (as duas!) para esse tipo especial de passiva, que Mama confessa admirar: as guzulas, gordinhas ou magrinhas, também estão sempre com fome e sempre querendo FERRO rsrs!

Esse tipo particular de passiva dá em todo lugar – e nos dois sentidos da expressão. Não apenas se reproduzem e invadem os espaços, como são, errrrr, invadidas em todos eles. Gulosas, para elas, não tem tempo ruim: é só “cair na gandaia e entrar nessa festa”. Claro, quem entra são sempre os bofes...

O bom das guzulas é que elas são divertidíssimas e assumidíssimas. Extremamente caridosas, elas não dão: distribuem, divulgam, publicizam, compartilham – e, convictas, nem sonham em dizer que gostam de outra coisa.

Embora eventualmente assustem as ativas mais caretas, a verdade é que é muito mais fácil lidar com elas. Sem falar que têm a vantagem de serem inimigas naturais das vampiras e das egípcias, que as acusam de ser verdadeiras “manchas” e lhes dedicam aquele olhar de azedume de quem furou a dieta e está com refluxo.

Assim, a senhora pode ter as amigas guzulas como amuletos. Além de não fazerem questão nenhuma de pouca luz – o que é útil para quem faz a voyeur –, elas ainda pegam todos os bofes que as outras desdenham ou fingem desdenhar, deixando a senhora literalmente mais... Aberta... Às possibilidades se as acompanhar em suas caçadas incessantes...

Mais:
Curso Intensivo de Flora Passiva - II

Curso Intensivo de Flora Passiva - I

domingo, 11 de dezembro de 2011

CURSO INTENSIVO DE FLORA PASSIVA - II


Nosso curso de flora passiva está bombando, gatas! Dessa vez, batemos o nosso recóóórde e recebemos o incrível retorno de 1 mail e meio – porque o segundo veio truncado...

Em homenagem a esse retumbante sucesso, Mama resolveu continuar o curso, depois de uma semana regada a antidepressivos e calcinhas usadas por não saber se haveria novas inscritas.

Felizmente, a curiosidade pela tipologia passiva é única no Brasil. Afinal, ninguém quer levar gato por Mulher Melancia pra casa, não é? Então, vamos em frente que atrás vem gente... E bem fundo! Ui!

 

3. AS EGÍPCIAS

Antes de tudo, Mama precisa dizer que não tem absolutamente nada contra nossas amigas que são mais donzelas. Nem poderia, já que eu mesma sou uma, right?

Então, se estamos todas de mãos dadas na nobre causa de DAR alento aos pobres bofes carentes de, digamos... Expressão oral... Não será o fato de que algumas de nós gostam de levar sua mulher interior para passear algumas vezes – 7 dias por semana – que romperá as algemas cor-de-rosa e emplumadas que nos mantêm unidas.

No entanto, é verdade que é sobretudo entre as damas que encontramos este que é um dos tipos mais odiados entre as passivas. Numa flora habitada por rosas, orquídeas, tulipas, azaleias, margaridas e petúnias, elas estão mais para um jarro-titã (http://tinyurl.com/d9kwayr): são chatas, presunçosas, perturbam o ambiente, cobrem as fragrâncias das demais e ainda depõem contra o nosso lindo jardim. Estou falando das egípcias.

Se, como a Mama, você está acostumada ao jargão gay, já entendeu o que elas fazem. “Fazer a egípcia”, nós sabemos, é dar carão. É isso que elas fazem: viram o pescoço como as gravuras das pirâmides, olhando com desdém para as demais, sem o mínimo de comprometimento com a união pela nobre causa.

Na sauna, são as que entram de sunga e camiseta e fazem cara de azedo para qualquer um que cruze seu caminho, as sobrancelhas arqueadas como numa aplicação de botox. Nervosas, não conseguem parar no lugar e não param de abrir as portas procurando um príncipe que nunca chega – e tornando os exercícios das demais menos... Quentes.

Na buátchy, são as que se unem para criticar o modelito e o excesso de gostosura da colega ao lado, enquanto se esforçam para dançar com o bumbum arrebitado e as mãos delicadas em garra, fazendo um uso invejável do músculo adicional e flexível no pescoço, que as faz bater cabelo mesmo quando não os têm. No sex club e no cinemão, são as que entram com cara de nojinho (by Pôneis Malditos) e destratam, inclusive, os ocós que, tomados de coragem, delas se aproximam.

Mama nunca entendeu o porquê desse comportamento de desprezo, mas observou duas verdades incontestes sobre as egípcias. A primeira é que elas são, como os jarros-titã, inflorescências: andam sempre juntas, em grupo, e não se separam nem nas raras horas de caçar, no melhor estilo “pague uma, leve duas”. A segunda é que, ao contrário das famílias dos verdadeiros faraós, são absolutamente contra prestar uma mãozinha amiga às irmãs, e, assim, perto do fim da festa, lançam-se sedentas aos darkrooms e outros lugares escuros, deixando de lado a nobreza e se dedicando a uma autêntica democracia, onde ENTRA qualquer um. Afinal, como diz o ditado, a boca mama aquilo de que está cheio o coração (ah, não é esse o ditado?! Bobage!).

Por isso, dica da Mama: femininas, sim. Egípcias, nunca. Por que não se mirar nos exemplos das gregas, romanas e babilônias? Vênus ou Afrodite tinha filhos e sexo com bofescândalos e era uma deusa voluptuosa do amor – nasceu até de um “leite tipo P”, lançado ao mar, olha que delícia. Ishtar era a deusa da fertilidade, tinha prostitutas sagradas – nossas ancestrais! – como sacerdotisas e ganhou até um portão que era um luxo! Mas a Ísis egípcia, tadinha, vivia chorando o marido esquartejado...

 

4. OS BOFES-PANQUECA

As mais desavisadas entre nós confundirão essa espécie com as falsas ativas, mas abra o olho, meu bem, porque a diferença é sutil como uma trama de tule ou organza. Ao contrário das falsas ativas, os bofes-panqueca não têm a pretensão de se passarem pelo que não são.

O problema é que eles são, à primeira vista, bofes. Aí, já viu o doce, né? A senhora vai bunita caçar um deles e, como é uma moça de família quase boa, fica com receio de perguntar o que eles verdadeiramente curtem – bom, mas eles são tão másculos, fortes, têm a voz tão grossa e macia, as mãos grandes e um pernil suculento que não resta dúvida: só podem ser como os guerreiros vikings, loucos para COMER carne.

E eles estão mesmo, gata – mas o bife que eles buscam é o mesmo que a senhora, e naquela grelha só entra coxão DURO. O pior é que a senhora geralmente descobre isso da pior forma: quando sai do banheiro do motel, depois de retocar a maquiagem, dá de cara com o “ex-bofe” já devidamente virado na panqueca – bateu na cama, virou! –, nua, com a bundinha pra cima, pronta para envolver o que a senhora usa pra fazer xixi (afinal, nós, que somos phynas, não “mijamos”, né...).

Tsc-tsc...

Aí, não adianta reclamar, querida: ou a senhora comparece, ou fica malfalada. Por isso, dica da Mama: não se engane com qualquer bofe achando que, por parecer bofe, só por isso vai penetrar o seu... Errr... Âmago.

Pergunte, ou procure saber de forma indireta, mas procure saber. Há muitas bees femininas que são ativas e dominadoras! E, caso se depare com um bofe-panqueca na catalogação e a senhora for passiva convicta, seja educada e dê a entender, phynamente, que não come panqueca no jantar porque está de dieta para manter o shape...

Mais: Curso Intensivo de Flora Passiva - I

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

CURSO INTENSIVO DE FLORA PASSIVA - I



Olá, meus amores! Mama voltou! Sei que foi uma longa ausência, mas fico feliz de ter sido trazida de volta por causa das dezenas de mensagens que recebi perguntando quando publicaria um novo texto.

Mentira, rsrsrs! Se muito, recebi só uma – mas fiquei tão feliz de ter pelo menos UMA pessoa que me lê que resolvi voltar a usar minhas mãos de miss para escrever em vez de, digamos, trabalharem em meu próprio proveito...

Bom, depois do Kit Passivo (http://gospelgay.blogspot.com/2011/08/o-que-levar-no-seu-kit-passivo.html) e do Manual Básico de Etykettah no Cinemão (http://gospelgay.blogspot.com/2011/09/manual-basico-de-etykettah-no-cinemao.html), dessa vez, eu pensei em explorar um pouco a flora passiva do meio gay. Não, não é fauna, meu bem... Embora muitas de nós, passivas, gostemos de ser onças, panteras e leoas, a verdade incontestável é que carregamos uma floooor dentro do nosso coração, cujo som encantado, às vezes, sai pela boca... Mas bobage!

E por que falar justamente das passivas – e de novo? Pelo óbvio, ué. Num Brasil como o de hoje, em que ativas são tão comuns quanto nota de 1 real – todo mundo já pegou, mas agora ninguém tem –, nada mais útil do que saber identificar aquelas bees altruístas, doidas para dividir, compartilhar, disponibilizar, dar o que é seu, mas tímidas em assumir isso para suas amigas. É claro que, devido à complexidade do tema, o curso será em partes, e analisaremos, ao longo de alguns dias, uma dupla por vez. Afinal, um depois do outro é sempre mais gostoso...

1. AS BARBIES

Sim, eu sei... Falar de passivas e começar com as barbies é lugar-comum, mas todo curso é assim, não é? Antes do avançado, vem o bási-cu.

Bom, se como eu, você já é escolada no mundo gay, sabe que, para nós, Barbie é mais do que a namorada do Ken: verdade que ainda é uma boneca, mas fabricada milimetricamente nas academias, entre supinos e mesas flexoras. Se você observar bem, tem sempre uma perto de sua casa.

As línguas ferinas e venenosas dizem que as barbies têm “corpo de Tarzan, voz de Jane e cabeça de Chita”, o que não é absolutamente verdade, porque, como muitas de nós, a cabeça é que é “jânica”. Por isso, elas também se dedicam a capturar ocós – e usam como armas o inconfundível ato de tirar a camisa na balada, mostrando o tanquinho e atraindo incautos a fim de que as ajudem a trabalhar um determinado músculo anelar impossível de malhar na ginástica...

Por que elas são perigosas para nós, outras e passivas? Porque tem bee desinformada, bem! Elas veem aqueles músculos enrijecidos saltando pra fora e, embasbacadas, já pensam que a barbie vai lhes oferecer outra coisa dura e mais interessante, mas, invariavelmente, tudo que ganham é uma senhora bofetada com luva de pelica e rendas – se, e somente se, como na matemática, conseguirem escapar dos glúteos anabolizados.

Então, dica da Mama: ao ver uma barbie de academia, pense na Barbie da Mattel, e, no máximo, dê um espelhinho, que elas também adooooram. Certamente, a senhora vai ganhar um sorriso phyno, e ela vai lhe ajudar a conseguir o fone daquela outra barbie ali, ó, que juuura que é bofe. Bom, verdade seja dita, Mama até acredita em barbies ativas, mas sabe que elas são fruto de engenharia genética...

2. AS FALSAS ATIVAS

Muito cuidado com esse tipo, amiga! E Mama tem certeza de que você já viu, embora elas se esforcem em se maquiar (hummm...), para não serem percebidas. O perigo: assim como as travestis, elas confundem a muitos... Mas não se desespere: é só ficar atenta aos sinais.

Na internet, as falsas ativas são até relativamente fáceis de reconhecer: são aquelas que marcam, orgulhosas, a posição ATIVO nos seus perfis – mas, curiosamente, só têm foto de bunda e homem roludo como favoritos. Outras, mais sagazes, sabem esconder até este truque, mas basta que uma ativa-verdadeira lhes apareça para que se revelem com a conversa de que “gostariam de experimentar” (como nas outras 15 vezes da semana).

Infelizmente, porém, no mundo offline, as coisas não são tão simples. Aqui, elas estufam o peito e se escondem em discursos do tipo “só dou pra cara com pau maior que o meu”. Pense comigo, amiga... Digamos que a senhora seja razoavelmente dotadinha, uns 18 cm – e diz que “nunca dá”. A senhora, de saída, vai escolher pras núpcias logo um gajo com 20 cm de rola?! Que ativa é essa, bee, que, pra ser pescada só aceita varão, enquanto que nós, passivas assumidas e experientes, às vezes, sofremos com os mais agraciados pela natureza?

Pior é aquela outra versão, a que diz que um “cara precisa ser muito macho pra me comer”. A mensagem é tão clara que nem precisa de entrelinhas, né? Cê jura que ela não quer um bofescândalo para fazê-la descobrir sua mulher interior? (E ela quer sair!). Dica da Mama: abra o olho, bee, porque essa Coca é Fanta, e a pinga com mel é licor de amarula. Não se deixe enganar – e dedique a essas abusadas o merecido desdém.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Heterofobia e moscas albinas



Heterofobia e moscas albinas
Sites brasileiros distorcem estudo produzido nos Estados Unidos

por João Marinho

O que vem a ser homofobia? Atualmente muito popular, a palavra parece ser autoexplicativa para a maioria dos mortais, mas há grupos e "especialistas" que procuram problematizar a questão – quase sempre, em nossa opinião, no intuito de jogar uma cortina de fumaça sobre o preconceito e a discriminação sofridos cotidianamente por gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs).

Em 2007, assisti a uma audiência pública no Senado a respeito do PLC 122/2006 – o projeto de lei que busca criminalizar, no Brasil, precisamente essa prática discriminatória. Lembro-me de que um dos convidados foi o Reverendo Guilhermino Cunha, da Academia Evangélica de Letras do Brasil (AELB), que, durante sua argumentação, tentou desqualificar a palavra homofobia.

Recorrendo aos elementos formadores da palavra – o prefixo homo-, de "igual" ou "semelhante"; e o sufixo -fobia, de "medo" –, Cunha procurou sustentar a impossibilidade de utilizar o termo para descrever o preconceito e a discriminação sofridos por LGBTs. Segundo ele, uma pessoa homofóbica seria alguém que tivesse medo do igual, ou seja, do mesmo sexo. Uma definição em que a maioria dos heterossexuais, e dos evangélicos que se opõem ao PLC, jamais poderia ser encaixada.

Parecia uma explicação plausível, mas aprendi, ao estudar autores como Michel Foucault e Pierre Bourdieu, que o questionamento sobre o que diz um saber especializado normalmente é um dos primeiros e mais necessários passos ao propormos uma sociedade mais libertária e aberta às diferenças. A ciência e os discursos do saber não são, afinal, integralmente neutros – e, aqui e ali, é preciso depurá-los de valores culturais e julgamentos morais que advêm de ideologias a priori e preconceitos históricos prévios.

Não sou linguista, mas, para qualquer pessoa que estude minimamente a língua portuguesa, resulta claro que o processo de formação de palavras pode ser mais livre e espontâneo do que certos etimólogos gostariam, e, nesse processo, nem sempre um prefixo de origem grega ou latina corresponde ao seu significado original na formação de uma palavra. Por vezes, o prefixo assume o sentido global de uma palavra da qual antes era componente, resultando no que se denomina falso prefixo.

Auto- é um dos melhores exemplos. O significado original grego é o de "por si mesmo" ou "próprio", como na palavra automóvel: algo que se move por si mesmo. No entanto, auto- é, por vezes, um falso prefixo, ao assumir, em outras palavras, precisamente o significado de automóvel, carro, e não o de "por si mesmo".

Com efeito, em palavras como autoescola e autovia, qualquer um entende que falamos de uma escola para aprender a dirigir um carro e de uma via em que os carros passam – e não de uma escola ou de um caminho que, magicamente, se movem sozinhos. Aeroporto é outro exemplo, com o falso prefixo aero-: obviamente, falamos de um lugar onde aeronaves pousam, e não de um porto que flutua no ar, que seria o caso se aero- mantivesse seu significado original.

Ora, homo-, de homofobia, deriva de homossexual. É um caso de falso prefixo, em que homo- não é "igual" ou "semelhante": homo- é gay! E fobia? Bom, embora, na psicologia e na psiquiatria, fobia seja quase sempre um medo patológico de alguma coisa, ela também se revestiu de um sentido conotativo ou derivado no uso cotidiano do português, significando aversão ou falta de tolerância. Portanto, como já registram dicionários como o Houaiss, homofobia simplesmente é a "rejeição ou aversão a homossexual e a homossexualidade".

Prova desse uso corrente de -fobia, eu tive em 2010, quando encomendei óculos novos com lentes hidrofóbicas. É óbvio que a vendedora falava de uma tecnologia que permitia às lentes serem à prova d'água e não se mancharem com gotículas – e não de lentes que, ao observarem a chuva chegando, fugissem dela, assustadas e traumatizadas.

Obviamente, conforme a palavra homofobia se populariza, o apelo de argumentos como o do Reverendo Cunha torna-se mais fraco. Gostem ou não, todos hoje têm uma consciência, mesmo parcial, do que é homofobia e do que é ser homófobo, homofóbico.

Foi, então, que os que se opõem aos direitos dos LGBTs lançaram outra ideia: a de heterofobia. Assumindo o uso do falso prefixo e o sentido conotativo ou derivado de fobia, passaram a dizer que gays e afins são heterofóbicos, ou seja, têm aversão a heterossexuais.

Posso admitir que existam pessoas que sejam, por exemplo, machistas – e considerem os homens superiores às mulheres de alguma forma. Pessoas que sejam misóginas – tenham aversão a mulheres; que sejam misândricas – tenham aversão a homens; ou mesmo misantropas, que tenham aversão ao gênero humano.

No entanto, a existência de pessoas que tenham aversão a heterossexuais ou à heterossexualidade especificamente, embora seja teoricamente possível, é bem mais difícil de sustentar. Quando alguém tem aversão a mulheres, por exemplo, normalmente é uma aversão que se dirige a todas, e as lésbicas costumam até mesmo sofrer essa aversão em dose dupla.

Fica até difícil pensar de que maneira a heterofobia se manifestaria. Se gays podem ser xingados de "veados", "bichas", "baitolas"... Como se xingaria alguém por ser hétero? E quantos héteros, no Brasil, são agredidos e mortos por esta razão: o fato único e exclusivo de gostarem do sexo oposto?

No entanto, a oposição aos LGBTs diz ter seus dados. Na internet em língua portuguesa, é repetida à exaustão a existência de um determinado estudo conduzido por Stephen M. White e Louis R. Franzini que indicaria "que há mais sentimentos negativos e heterofobia por parte das pessoas homossexuais, quando comparados com os sentimentos negativos e homofobia por parte das pessoas heterossexuais". Dúvida? Consultem este link: http://tinyurl.com/82mu4q4. A descrição encontra espaço até na Wikipédia, que muitos estudantes utilizam como fonte de pesquisa.

Sabendo que há muitos boatos e informações incorretas na internet, incluindo a Wikipédia – por sinal, chama a atenção que nenhum site indique qual seria esse estudo, onde e quando foi publicado –, procurei saber mais sobre a pesquisa dos Drs. White e Franzini.

Os autores existem, e, após navegar por mares nunca dantes navegados, deparei-me com a existência do estudo Heteronegativism? The attitudes of gay men and lesbians toward heterosexuals, publicado no Journal of Homosexuality, em 1999.

Infelizmente, quase todos os sites que disponibilizavam o estudo cobravam pelo download, e não foi possível obtê-lo na íntegra... Mas, como geralmente ocorre numa pesquisa bem-feita mesmo na internet, acabei por encontrar o contato do Dr. Stephen M. White no The Rainbow Connection, um site dedicado a ajudar pais de crianças homossexuais mantido pelo próprio psicólogo – e que possui o mesmo nome de um livro escrito por ele, sobre o mesmo assunto.

Tomei a liberdade de escrever-lhe pedindo que esclarecesse suas descobertas, informando que o material seria utilizado neste artigo, que vocês ora leem. A reação do Dr. White foi de surpresa. Com todas as palavras, ele me informou que os sites brasileiros – e portugueses – que indicam maior preconceito de gays e lésbicas em relação aos heterossexuais do que o inverso simplesmente dizem o contrário do que o estudo havia descoberto!

White e Franzini, na verdade, descobriram que, apesar de sofrerem muito mais discriminação devido a sua orientação sexual, gays e lésbicas mantinham, em geral, uma atitude extremamente positiva para com os heterossexuais, muito mais do que os heterossexuais dedicam a eles. Meu contato com o Dr. White resultou em uma nota de esclarecimento, assinada por ele, em inglês, e agora disponível no The Rainbow Connection: http://the-rainbow-connection.org/ResearchClarification.html.

Resumo da ópera e lição de jornalismo: não acreditem em tudo que leem; busquem sempre fontes e informações confiáveis e comparem dados; não reproduzam aquilo sobre o que paira dúvida ou não se sabe a origem; e se deem o benefício de questionar e perguntar sempre – e aproveitem agora para, orgulhosos, mandar a cada site que fez um uso incorreto das descobertas dos Drs. White e Franzini a informação fidedigna e desmascarar mais essa mentira que paira sobre os LGBTs.

Para mim, particularmente, o que me resta é dizer que até acredito que exista heterofobia. Também acredito em moscas albinas de olhos azuis – mas, até o momento, não vi nenhuma das duas coisas...



A imagem ilustrativa foi manipulada no software Adobe Photoshop.


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Homossexualidade Feminina: embates e desafios de assumir-se lésbica



1. INTRODUÇÃO

Por: Conceição Alves*

O presente trabalho tem como objetivo identificar quais os embates e desafios de assumir-se lésbica numa sociedade hegemonicamente heterossexual e patriarcal. Bem como estudar as conseqüências da publicização do amor entre mulheres, de que forma a visibilidade desse amor pode acarretar reações socais homofóbicas e quais são as práticas homofóbicas mais freqüentes nesta sociedade.

A sexualidade humana tem sua gênese firmada na história da humanidade. Segundo Góis (1991, p.119) “somos educadas por mulheres, numa sociedade onde a virilidade e o prestígio do macho estão longe de serem apagados”. A mesma, ainda afirma que as mulheres são educadas para agirem como filhas e mães sem passarem pelo estágio de mulher, tornando-se assim, alvo da sociedade heterossexista.

As mulheres foram sendo criadas com base numa sociedade heterossexual e patriarcal, que nada mais é que um modo de estruturação e organização da vida coletiva baseado no poder de um pai, ou seja, o que prevalecem são as relações masculinas sobre as femininas; onde o poder dos homens são mais fortes que os das mulheres.

Didaticamente podemos dizer que a sociedade patriarcal teve início na Grécia Antiga, onde a mulher era basicamente objeto de satisfação masculina. Segundo Góis (1991), a mulher quando criança é obrigada a ter bons modos e controle sobre as suas vontades, pois aquelas que não possuem esse dote são afastadas. Na adolescência, as mulheres não são preparadas para a vida, mas sim para negarem aquilo que é próprio delas, o prazer humano, tornando-se alguém que é cheia de culpa, censura e medo. Nesta fase, as questões sobre sexo acabam gerando constrangimentos e são respondidas de maneira incompleta, já que são ignoradas.

O autor Diamantino (1993) é de opinião que a mulher brasileira desde muito cedo, ou melhor, desde que nasce é educada ‘para dentro’, ou seja, é criada para servir, para ser obediente, casar, respeitar seu marido, ter filhos, ser dona de casa, expor-se a um trabalho exaustivo, sem folgas ou reconhecimento. E desta forma, vive, sem condições alguma de lhe ser proporcionado o prazer. Para ela, a sexualidade “refere-se ao impulso e à emoção que a proximidade do sexo pode produzir, transcende definições físicas e se coloca como algo mais difuso permeando todos os momentos da vida” (Diamantino 1993, p. 1154).

Como uma das variantes da sexualidade humana surge a Homossexualidade, que nada mais é que a atração física e sentimental entre pessoas do mesmo sexo. O termo homossexualidade deriva do grego homos, que significa "semelhante", "igual"; e foi criado em 1869 pelo escritor e jornalista austro-húngaro Karl-Maria Kertbeny.

Historiadores afirmam que, embora o termo seja recente, a homossexualidade existe desde os primórdios da humanidade tendo havido diversas formas de abordar a questão.

Para se ter uma idéia, registros arqueológicos mais antigos apontam para 1.200 a.C., na Era Paleolítica, onde algumas pinturas de caverna retratavam a atividade sexual da época. Elas foram encontrados na caverna de Gorge d'Enfer em Dordonha na França, e desde então, se tem indícios de que haviam relações homossexuais entre os povos. (MOTT, 2003)

Nos últimos anos houve, no Brasil e na América Latina, um crescente interesse por estudos sobre a homossexualidade, tanto masculina quanto feminina. Paralelamente a isto, percebe-se uma multiplicação significante de movimentos homossexuais no Brasil, os chamados LGBT . A temática lésbica, alvo de nosso estudo, nem sempre teve espaço, e por isto mesmo, é que adentramos no assunto, uma vez que este tema surgiu fundamentalmente das nossas inquietações teóricas no decorrer da formação acadêmica, pois são vários os problemas que esse grupo de mulheres vem passando ao longo dos anos.

O surgimento de novas formas de elaboração para identidades sexuais não é uma novidade na sociedade brasileira, foram observadas mudanças nas três últimas décadas e constatou-se uma acelerada modernização na área dos costumes, fazendo surgir novos códigos relativos à sexualidade em geral, e a homossexualidade em particular. A propagação da homossexualidade demonstra uma fragilização da hegemonia do modelo tradicional, que guiado por uma oposição de gênero e fundado numa lógica significativa da atividade homossexual como sendo anormal, passa a admitir para esse grupo uma classificação estigmatizante. (FRY, 1982).

A classificação de anormalidade que os homossexuais receberam ao longo dos anos, desenvolve uma forma de preconceito estabelecido pelos heterossexuais, onde, os homossexuais passam a ser vistos como pecaminosos, desenvolvendo, assim, a homofobia. Este termo deriva das palavras gregas homo (semelhante; igual) e fobia (medo). Ao juntá-las, o psicólogo clínico norte-americano George Weinberg (1972) utiliza-o como conceito que designa o complexo emocional, que no seu entender é a fonte do medo de amar e/ou relacionar-se afetiva ou socialmente com alguém do mesmo sexo.

O vocábulo homofobia constitui um neologismo, ou seja, é um vocábulo novo, embora tenha sido desenvolvido por muitos na antiguidade. Este vocábulo procura representar o ato de repulsa aos homossexuais e às suas práticas tanto afetivas quanto sexuais. A aversão nem sempre é direta, mas é perceptível através de chacotas, expressões de nojo, por meio de agressões verbais como xingamentos, desqualificação; ou ainda por meio de violências físicas como espancamentos e assassinatos. (MOTT, 2003)

Atualmente, pode-se compreender homofobia como uma série de atitudes e ações revestidas de intolerância à homossexualidade, materializada através do nojo, gestos obscenos, agressões verbais e físicas. Assim, pode-se conceituar homofobia como o ato de repulsa e intolerância contra homossexuais. Tal sentimento tem sua gênese, muito forte nos valores judaico-cristãos, que supervaloriza a figura masculina em detrimento da feminina, esta última sendo considerada frágil e indefesa.

Dentro disto, encontram-se as lésbicas, que já sendo uma minoria, acaba por sofrer preconceitos exacerbantes em relação à sua orientação sexual. Elas são ainda praticamente invisíveis na sociedade, pois assumir sua condição significa expôr-se às violências diversas. Ao longo da história sabemos que existiram mulheres lésbicas que, por sua orientação sexual, permaneceram ou ainda permanecem invisíveis.

O termo “Lésbica” surgiu originalmente na Antigüidade, entre os século VI e VII a.C., e referia-se somente às habitantes da ilha de Lesbos, na Grécia. Nesta época, morava naquela ilha a poetisa Safo, admirada por seus poemas sobre amor e beleza, em sua maioria dirigidos às mulheres. Ela nasceu na ilha de Lesbos, provavelmente por volta de meados do século VII a.C. Por esta razão, o relacionamento amoroso entre mulheres passou a ser conhecido como lesbianismo ou safismo. A poetisa Safo parece ter deixado Lesbos em conseqüência de perturbações políticas na ilha, em relação ao amor entre ela e as mulheres. Muitos termos foram usados para descrever o amor entre mulheres nos últimos dois séculos, entre os quais: amor lesbicus, urningismo, safismo, tribadismo, dentre outros. Entre os mais variados termos, muitos foram criados como formas pejorativas, como sapatão, popocha, maria-homem, etc. Estes, no entanto, aumentam a possibilidade de se praticar aquilo que chamamos de homofobia. (OLIVEIRA, 2005).

A questão da visibilidade da mulher é muito complexa, e falar em visibilidade lésbica, foco principal do nosso trabalho, pior ainda; já que as lésbicas exercem e discutem a sua sexualidade à margem da sociedade, repleta de discriminação, sociedade esta que não lhe dá o devido espaço, o qual lhe pertence. Segundo Swain (2000) houve uma política de esquecimento e de silêncio sobre a multiplicidade das relações humanas que acabaram excluindo as mulheres dos demais, pois essa exclusão se deu não só socialmente, como sexualmente. Mott (2003) acrescenta ainda que o tabu do silêncio insiste em abafar a voz e a visibilidade dos homossexuais como se eles mesmos não tivessem uma história passada a resgatar, um presente para viver com dignidade e um futuro melhor a reivindicar.

O processo de visibilidade das mulheres traz consigo a necessidade social de uma melhor análise dos discursos e das práticas em todos os níveis. Segundo o psicólogo Paulo Bonança (2007), membro da Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana (Sbrash), a luta dos movimentos que reivindicam a visibilidade da mulher lésbica enfrenta hoje uma dupla batalha: uma frente à sociedade patriarcal, determinista, estruturalista, centrada na figura da dona de casa submissa ao esposo, mãe dedicada, despojada de autonomia econômica e liderança social.

A outra dificuldade dessas mulheres - que lutam por seus direitos ao amor e ao afeto - é encontrar apoio e solidariedade junto a outros grupos que lutam por direitos semelhantes, ou seja, buscar apoio aqueles que carregam a mesma bandeira colorida do arco-íris como símbolo de unidade e diversidade, para que assim, possam combater o preconceito de forma justa. Mas a dificuldade se encontra justamente no fato de que não é encontrado o apoio necessário dos grupos, com isso, essas mulheres lutam de forma solitária, ou seja, sem o devido apoio de outros grupos mais sólidos

Diante disto, foi escolhida, para desenvolvimento do trabalho, a pesquisa de caráter exploratório e descritivo, pelo fato de apresentar a descrição do fenômeno e posteriormente compreendê-lo numa dada realidade. A técnica de coleta de dados foi o roteiro de entrevistas de cunho qualitativo, já que esta não se define por números, mas sim por abranger experiências humanas e dar-lhes significados, além de permitir uma visão dos indivíduos, associada ao estilo de vida e valores de cada sujeito. Segundo Gelain (1991, p. 61) "a pesquisa qualitativa identifica as características, os significados das experiências humanas que são descritas pelos sujeitos e interpretadas pelo pesquisador em vários níveis de abstração".

Adotamos o Enfoque Fenomenológico, que de acordo com Forguieri:

"(...) é aquele que abarca o existir humano em sua totalidade, abrangendo a tristeza e a alegria, a angústia e a tranqüilidade, a raiva e o amor, a vida e a morte como pólos que se articulam numa única estrutura, e cuja vivência dá a cada um dos extremos, aparentemente opostos, o seu real significado". (FORGUIERI; 1990, p.8)

Para a autora, este enfoque vê o homem como um ser no mundo, que vivencia o tempo presente, relacionando este às experiências passadas e o que espera do futuro. Assim, optamos por uma amostra de dez mulheres, as quais foram abordadas em boates LGBT, como a Clone Mix Bar, e em lugares pré-determinados para a realização da entrevista. Esta abordagem se desenvolveu através de redes de contatos, ou seja, algumas pessoas íam indicando quais lugares deveríamos freqüentar para encontrar as mulheres que precisávamos a fim de realizar as entrevistas. Em primeira instância, determinamos o local a ser realizada as entrevistas, após isto, era o momento de abordar fisicamente essas mulheres, objeto de nosso estudo. Perguntávamos primeiramente qual era a sua orientação sexual, uma vez que o local também era freqüentado por heterossexuais, e após a resposta das mesmas, apresentávamos e explicávamos o nosso trabalho que estava sendo desenvolvido. No início foi desafiador, pois algumas mulheres que abordamos não preenchiam o perfil que procurávamos, ou seja, não eram lésbicas; além de que muitas lésbicas que abordamos, se recusavam a dar a entrevista que precisávamos.

Para análise dos dados cruzamos as mais variadas respostas que nos foram concedidas através da entrevista e pudemos identificar quais os desafios e enfrentamentos do assumir-se lésbica numa sociedade hegemonicamente heterossexual e patriarcal, além de conhecer de que forma o processo de publicização afeta a vida dessas mulheres. Quanto à construção do TCC, este compreende-se em dois capítulos. O primeiro, intitulado de Sexualidade, Lesbianismo e Feminismo, faz um histórico acerca da sexualidade e homossexualidade feminina. Além disso, este mesmo capítulo caracteriza o feminismo e faz uma relação do mesmo com o lesbianismo. Já o segundo capítulo, Os desafios e enfrentamentos do assumir-se lésbica, traz toda a análise dos dados coletados nas entrevistas, relatando quais foram esses desafios no que diz respeito a sua aceitação enquanto lésbica e a aceitação dos outros em relação a sua orientação sexual.

Em suma, esperamos que esta pesquisa seja uma forma de sensibilizar as pessoas para que possam de alguma forma, respeitar a orientação sexual das lésbicas. Esperamos também que preconceitos e tabus enraizados na história possam ser quebrados de forma que venham a garantir uma maior liberdade de expressão das pessoas tidas como anormais, ou seja, desse grupo de mulheres que nada mais são do que seres humanos merecedoras de respeito, com suas particularidades e singularidades. Continue lendo ►

    2. SEXUALIDADE, LESBIANISMO E FEMINISMO.

    2.1. Sexualidade Feminina no Brasil

    O cotidiano e a sexualidade feminina entre os séculos XVI e XVII, época do descobrimento, é analisada a partir de relatos de viajantes que observaram a cultura daquela época. Assim, eles observaram as mulheres que ali habitavam a terra brasileira por volta de 1.500 e encontraram uma população indígena. A cultura indígena foi descrita a partir do paradigma teológico e do princípio de que os brancos eram os eleitos de Deus, e por isso eram superiores a esses povos. (Raminelli apud Del Priore, 2008)

    Para entender os comportamentos sexuais das primeiras mulheres que habitavam o Brasil, aqui conhecidas como Índias Tupinambás, faremos pequenos relatos desde o nascimento da mulher até a fase adulta. Uma mulher grávida na aldeia era motivo de alegria, porém, essas mesmas mulheres chamadas de puruabore, não deixavam de exercer suas atividades normalmente, a realizavam até o momento do parto, que, aliás, nesse momento, não procuravam um leito para isso, elas simplesmente, se sentavam e comunicavam às outras que daria à luz. Após o parto, a mulher continuava realizando suas tarefas, e era o marido que ficava de resguardo em uma cama e era tratado como se tivesse sido ele que teria dado à luz.

    O nascimento de um tupinambá contava com a presença de todas as mulheres da tribo, ou seja, o parto ocorria na presença de todas elas. O pai participava do parto apenas nos momentos complicados e para cortar o cordão umbilical dos meninos, pois o cordão das meninas era cortado por uma mulher. A mãe dava os primeiros cuidados às meninas nascidas, já que os meninos eram primeiro cuidados pelos pais. Essas mães, porém, possuíam uma grande fragilidade materna, ou seja, o amor maternal e a preservação da família pouco representavam para aquelas mulheres da comunidade nativa. RAMINELLI (apud Del Priore, 2008)

    As meninas atingiam a idade adulta após a primeira menstruação. Esse momento era representado por um ritual relacionado à sua sexualidade que provocava temor entre as jovens. Antes da cerimônia, seus cabelos eram cortados rente à cabeça com alguns instrumentos cortantes ou fogo. Depois, as moças subiam numa pedra e os índios faziam incisões em seu corpo por completo com dentes de animais, e neste instante, seu corpo ficava ensangüentado. Ainda assim, os índios esfregavam-lhe substâncias com capacidade corrosiva semelhante à pólvora e ao salitre. Essas marcas deixadas em seus corpos ficavam pelo resto de suas vidas. Esse ritual tinha a intenção de mostrar que agora eram mulheres e dar às futuras mães um ventre sadio e filhos bem formados, uma vez que a figura feminina era relacionada à procriação.

    Após esse ritual, eram dadas às jovens algumas restrições como permanecer em uma rede de dormir por três dias sem alimentação alguma. Ao término desse prazo, voltavam à pedra e sofriam novos cortes. Após essa segunda etapa do ritual, retornavam à rede e se alimentavam apenas de farinha e raízes cozidas e bebiam apenas água. Assim eram mantidas até o momento do segundo fluxo menstrual e passavam pelo mesmo ritual. Para alívio das jovens, nas demais menstruações guardavam as mesmas proibições, mas o ritual já não era mais realizado. O primeiro fluxo menstrual de uma jovem era motivo de festa, já que a mesma estava entrando no mundo adulto e, em breve, poderia se casar e ter filhos. Mas esse casamento só ocorria depois que seus cabelos voltassem ao comprimento normal. (RAMINELLI, apud Del Priore, 2008)

    A virgindade da moça era marcada por um fio branco de algodão que as envolvia, mas após o primeiro ato sexual esse fio era rompido. O primeiro ato sexual nem sempre ocorria após o casamento, pois os índios não se preocupavam em manter uma jovem virgem, tudo era mais voltado para as mulheres após o casamento. Por isso, as jovens podiam ter vários parceiros antes de seu casamento, mas após este acontecimento, elas só poderiam ter um único marido, e se o traíssem, poderia até ser morta. (RAMINELLI, apud Del Priore, 2008)

    Como os homens, as mulheres andavam nuas e tiravam todos os pêlos que cresciam sobre a pele, inclusive pestanas e sobrancelhas. Elas tinham um grande apreço pelos cabelos, que lavavam, penteavam e faziam minuciosas tranças com fios de algodão. Diferente dos homens, elas não furavam os lábios nem as faces, mas furavam as orelhas e penduravam conchas.

    Alguns europeus da época relacionavam a nudez das índias com a luxúria, mas, segundo Raminelli (apud Del Priore, 2008, p. 11), as índias, apesar de sua nudez, “(...) não possuíam gestos, palavras ou atos ofensivos ao olhar (...)”, isso ocorria porque as mulheres agiam naturalmente. Por conta disto, os europeus acreditavam existir entre os índios perversões sexuais, pois segundo os relatos dos europeus, os índios eram possuidores de pecados nefandos.

    Para os europeus, as índias cometiam desvios contra a ordem natural, uma vez que algumas delas abandonavam as funções ditas femininas da aldeia e passavam a imitar os homens. Elas cortavam os cabelos como os homens e iam à guerra com seus arcos e flechas. Além disso, elas possuíam uma outra mulher para serví-las, desenvolvendo condutas de marido e mulher, uma vez que se diziam casadas.

    As mulheres em 1590 eram desprovidas de afeto, já que os homens eram tidos como superiores, fazendo com que as mesmas não compartilhassem da vida em sociedade com maior tranqüilidade. Segundo Araújo (apud Del Priore, 2008), as mulheres eram tão vigiadas que só havia três ocasiões em que a mulher poderia sair do lar: para se batizar, para se casar e para ser enterrada.

    Na época do Brasil colonial temos a figura da Igreja exercendo uma forte pressão sobre a mulher, pois havia certo estereótipo em relação a elas. Aqui, o objetivo era abafar a sexualidade feminina, pois a mulher era uma ameaça aos padrões locais da época. Segundo os preceitos religiosos, o homem era superior à mulher e com isso, tinha o livre direito de exercer fortemente sua autoridade. A tirania dos pais era muito presente, pois existia uma cultura de adestramento da sexualidade feminina, que tinha como objetivo, o pleno respeito ao pai e ao marido, além de uma educação rígida com direção exclusiva aos afazeres domésticos. Esse tipo de aprendizado era bem diferente do dirigido aos meninos, já que, de forma geral, as mulheres eram direcionadas ao casamento, tendo como ensinamento a sedução, o encanto. ARAÚJO (apud Del Priore, 2008)

    Assim, os pais afastavam suas filhas do convívio com os rapazes para garantir que as mesmas pudessem seguir para o casamento, cuja cerimônia era arranjada pelo próprio pai. A idéia principal era que as meninas de doze anos de idade estavam em um bom tempo para casar, por isso que desde muito cedo a mulher tinha seus sentimentos abafados, retraídos.

    Com todos esses desejos e sensações reprimidos, vinha, mais cedo ou mais tarde, o casamento. Agora, essa mesma mulher que sempre foi regulada, recebe um homem bem mais velho , como seu marido. Apesar de casada, a mulher não deixava de ser regulada pela Igreja, uma vez que esta pregava o não erotismo, o controle da carne, pois o ato sexual não era para o prazer, mas sim para a procriação.

    A Igreja também prezava pela sexualidade feminina, por este motivo, tinha a responsabilidade, através da religião, de reprimir esta sexualidade. Uma vez que, no confessionário, as mulheres eram instruídas para que não cometessem pecados. Ela vigiava os gestos femininos, os atos e até os sonhos através de perguntas objetivas no confessionário.

    A única forma que as mulheres tinham de demonstrar sua sexualidade era através de suas roupas. O vestuário era a melhor e preferida forma de ser notada. Havia diferenças na qualidade do tecido entre as mulheres, pois, era o tecido quem definia a classe social a qual pertencia as mulheres. As ricas, usavam sedas, veludos, ouros, além de seus penteados exuberantes. Já as mais pobres, usavam saia de chita, algodão, xales, etc. Assim, elas se apresentavam bonitas e faceiras com seus trajes para as outras. (Araújo, apud Del Priore, 2008)

    Nesta época, a pretensão era justamente, controlar a sexualidade feminina das mais variadas formas. Desta forma, ou as mulheres se submetiam aos padrões misóginos impostos, ou então, elas reagiam com o exercício da sedução e da transgressão. Uma das maneiras que essas mulheres encontravam para violar, agredir e se defender dos padrões estava justamente em se refugiar no amor de outra mulher. (Araújo, apud Del Priore, 2008)

    As mulheres casavam cedo, e com isso sua sexualidade era despertada cedo, por isso, era comum que, enquanto o casamento não chegava, as meninas praticavam-na como podiam. Desta forma, cerca da metade das mulheres acusadas de homossexualidade à Inquisição no Brasil, confessaram ter cometido o tal 'pecado' muito jovem, entre os 7 e 15 anos de idade. Muitas, apesar de casadas, continuaram a ter relações sexuais com as mais variadas parceiras. (ARAÚJO, apud Del Priore, 2008)

    A homossexualidade era condenada com muita severidade, mas algumas mulheres não se amedrontavam. Na primeira visita ao Brasil em 1590, o Santo Ofício da Inquisição assinalou para 29 mulheres que, ou praticavam atos homossexuais esporádicos, ou assumiram a transgressão. A sexualidade feminina registrada nos documentos da Inquisição não era tão perceptível e as descrições dos atos sexuais neles contidos trazem uma forte marca de jargões do tipo 'beijos e abraços' ou ainda, 'ficavam uma sobre a outra, como se fosse macho sobre fêmea'. Nesta última percebemos com nitidez a projeção do modelo de cópula heterossexual julgado natural pelos teólogos. (VAINFAS, apud Del Priore, 2008)

    Essa homossexualidade se tornava cada vez mais presente quando a reclusão feminina era praticada com severidade. Assim, aumentavam os contatos entre as mulheres, uma vez que frequentemente ocorriam visitas, proporcionando assim, uma troca de confidências e experiências e uma maior compreensão umas com as outras. Segundo relatos da época, essas mulheres não tinham o interesse em tornar públicas suas ligações amorosas, já que tudo se passava em círculos de amizade e muitas vezes nem era preciso sair de casa, pois aproveitava-se a hierarquia e a intimidade em que conviviam senhoras e escravas.

    Era nos conventos em que não acreditavam existir a manifestação da sexualidade feminina, pois teoricamente, as mulheres se recolhiam lá por espontânea vontade e renunciavam os prazeres sensuais. Mas nem sempre a escolha pela clausura ocorria pelas mulheres, na maioria das vezes, o pai era quem decidia. isso porque ele acreditava que desta forma poderiam salvar a alma da família e ganhariam um maior status social.

    Agora enclausuradas, ainda meninas de dez anos, pensava-se que a vida conventual, com sua disciplina, seu ambiente, sua rotina, levaria as mulheres à piedade e ao recato próprios de sua condição. O problema era que freiras à força, muitas jovens continuavam a se comportar como se estivessem em casa, rodeadas de escravas realizando seus desejos, uma vez que na clausura também haviam escravas. A própria cela, que devia ser despojada de confortos, reproduzia ou até amplificava o luxo e o bem-estar da vida doméstica anterior, encontrando-se ali, cortinas, pias de cristal, espelhos, porcelanas, esculturas, perfumes, bancos com franjas de seda ou de ouro, móveis caros, tetos com relevos ou pinturas. ARAÚJO (apud Del Priore, 2008)

    No convento, essas jovens, agora freiras, aproveitavam a distância da família para extravasar toda a sexualidade reprimida em casa. O dia a dia no convento levava à excitação dos sentidos, pois essas jovens vivam num extremo luxo, com vestuários belos, atraindo os olhares masculinos quando apareciam fora do convento. Apesar da clausura, as mulheres não deixavam de possuir relações amorosas com os homens. E mais ainda, passavam a ter relações com as amigas com quem dividiam o ambiente do convento. Mesmo aquelas que mantinham relações com outros homens, não deixavam de realizar seus desejos amorosos, através de carinhos, carícias e atos sexuais umas com as outras, dividindo suas emoções. Vale ressaltar que isso não acontecia com todas as freiras. ARAÚJO (apud Del Priore, 2008)

    Seja como for, o certo é que as relações homoeróticas entre as mulheres, quase não eram perceptíveis. E não é improvável que elas mesmas tenham contribuído para este obscuramento da sua própria sexualidade.


    2.2. Homossexualidade Feminina

    É muito difícil determinar o momento exato do surgimento da primeira relação homossexual feminina no mundo de forma mais geral. A relação homossexual é tão antiga quanto a humanidade, e alguns registros tendem a datar para além de cinco séculos antes de Cristo. Mas, através de alguns documentos históricos, faremos neste capítulo, uma relação acerca da evolução do lesbianismo na história.

    A começar com o primeiro registro , temos o Código de Hammurabi, datado de 1770 a.C e, segundo Bouzon (1992), é o mais antigo e conhecido corpo legal. Criado por Hammurabi foi baseado em antigas leis semitas e sumerianas. Neste documento existe a figura de SALZIKRUM , que caracteriza uma “mulher-homem”, que segundo a história, podia ter uma ou mais esposas.

    Segundo a poeta, historiadora e pesquisadora da cultura homossexual, Judy Grahn (apud Godoy, 1997), o primeiro texto poético foi criado por uma mulher chamada Enheduanna. Ela, que era filha do rei Sárgon I de Acádia, compunha, em 2.300 a.C, para Inanna, considerada a deusa do amor. Enheduanna exaltava a beleza de sua deusa e se referia a ela como esposa.

    Segundo Mott (2003), em algumas comunidades antigas, como da Albânia, foram aceitas relações lésbicas no passado. Tomemos como exemplo as zonas montanhosas de Cabira, onde existiu uma sociedade aborígine composta apenas de mulheres, chamada de SBRAIE. Na China, essa relação homossexual também foi encontrada. Segundo historiadores, havia mulheres que intergesticulavam como marido e mulher, uma relação chamada de DIUSHI. Em Roma havia os chamados ‘banhos públicos’ para mulheres, que era uma simples forma de as mulheres satisfazerem seus desejos sexuais femininos. Até mesmo as mulheres casadas com homens não deixavam de ir aos banhos pois era lá que se realizavam alguns desejos lésbicos incumbidos. (RICHARDS, 2003)

    Segundo o autor Richards (1993), na Grécia antiga as relações homossexuais supriam a necessidade de relações pessoais de uma intensidade não encontrada no casamento. As mulheres, por terem sido consideradas como inferiores intelectualmente, fisicamente e emocionalmente em relação aos homens, eram excluídas das reuniões e encontros masculinos, obrigando-as a formarem entre si, um grupo para tratar dos mais variados assuntos. Desta forma, eram compartilhadas, umas com as outras, experiências sexuais, onde fazia permanecer entre elas o desejo pelo mesmo sexo.

    Na Idade Média há poucos documentos em relação ao lesbianismo praticado nesta época. Mas, analisando os pouco existentes, pode-se fazer uma análise da relação com que a homossexualidade era tratada. Partimos de uma época onde o sexo era permitido entre homossexuais e adentramos em uma em que é visto como condenável crime hediondo. Era desta forma que o sexo entre essas pessoas era visto.

    Neste período a Igreja mantinha o seu maior poder e o Cristianismo exercia grande influência no ocidente, fazendo uso da idéia de que o prazer deveria ser extinto. Nesta época, a Igreja desenvolveu uma caça contra os homossexuais, pois pregava que ‘Deus fez o homem para a mulher e a mulher para o homem’. Por conta dessa busca, centenas de lésbicas foram queimadas como bruxas e os homossexuais em geral foram usados como “lenha” para as fogueiras purificadoras da santa igreja. (ARAÚJO, apud Del Priore, 2008)

    Neste momento, na Idade Média, ainda não se usava o termo ‘homossexualismo’, este, no entanto, só surge a partir do século XIX, e era erroneamente vinculado a uma doença, a qual merecia tratamento. Essa concepção de doença vigorou até os anos 80, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1996 tira o homossexualismo da lista de doenças. Essa medida se deu, justamente por conta dos movimentos homossexuais internacionais que despontavam no mundo.

    A Idade Média foi o período em que a sexualidade passou a ser excessivamente controlada, já que se tinha o sexo como algo sujo, pecaminoso, repulsivo diante do sagrado. O clero mantinha uma postura de aversão as atividades homossexuais, pois seguia os preceitos de que o sexo só poderia ser feito se fosse para procriação, caso contrário, deveria ser passível a pena de morte. Em contrapartida, o clero era quem mais sofria com as acusações de que mantinha relações homossexuais nos mosteiros, uma vez que os monges mantinham esse tipo de relação com os rapazes. As penas para esse tipo de atividade variavam a depender do status social do praticante. As penas dos monges geralmente eram mais leves, mas quem não tivesse um bom status eram condenados a morte, como queimados vivos na fogueira, enforcado, castrado, dentre outros.(ARAÚJO, apud Del Priore, 2008)

    Adentrando a Idade Moderna, século XV, não é perceptível mudanças em relação às formas de tratamentos com os homossexuais, uma vez que as torturas e crueldades ainda permaneciam para aqueles que contrariassem a lei.

    Com relação à Idade Contemporânea, século XVIII, algumas mudanças bastante perceptíveis irão ocorrer. A sexualidade humana passa a ser vista como doença e o desejo pelo mesmo sexo passa a ser mais observado. No século XIX foram surgindo algumas teorias que explicavam a homossexualidade como doença, desvio patológico, deixando prevalecer o conceito de heterossexualidade como sendo um padrão lícito e normal da sexualidade.

    No século XX, a visibilidade das diversas orientações sexuais começou a aumentar, principalmente a partir dos anos sessenta, quando houve um incremento dos movimentos tendentes a mudar a conceituação individual e social das relações homoafetivas.

    Esses movimentos homossexuais surgiram na Europa, com o propósito de repensar a identidade homossexual, de lutar contra o preconceito social contra a homossexualidade e o reconhecimento dos seus direitos civis.

    Foi neste mesmo século, mais especificamente em 1960, que os movimentos passaram a aparecer de forma mais efetiva, tornando as reivindicações mais audaciosas. Nessa época, a primeira organização lésbica era bem pequena, pois muitas mulheres preferiam não participar de nenhum movimento, muitas tinham receio de entrar em algum movimento e serem descobertas como homossexuais e sofrerem discriminação em seu convívio social. No entanto, com o desentendimento das homossexuais femininas com os masculinos dentro de alguns grupos, impulsionou para que muitas dessas homossexuais resolvessem fazer seu próprio grupo. Então a partir desse embrião, vários grupos ativos foram formados.

    2.3. O Feminismo e o Lesbianismo

    O Feminismo é o movimento social que defende a igualdade de direitos entre homens e mulheres em todos os campos. Ele teve origem no ano de 1848, na convenção dos direitos da mulher em Nova Iorque e adquire cunho reivindicatório por conta das grandes revoluções. O feminismo surgiu, principalmente, no contexto das idéias transformadoras da Revolução Francesa, a qual tinha como lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade. Esta idéia era reivindicada pelas feministas, porque elas acreditavam que os direitos sociais e políticos adquiridos a partir das revoluções deveriam se estender também a elas enquanto cidadãs, e não apenas aos homens. (ALAMBERT, 1986)

    É exatamente na Revolução Industrial, no final do século XVIII e início do XIX, que o movimento feminista se fortifica, pois é neste momento que a mulher passa a assumir postos de trabalho e a ser explorada, uma vez que esta assume uma tripla jornada de trabalho, dentro e fora do lar.

    “No século XIX, grandes mudanças ocorreram na vida das mulheres. Com a consolidação do capitalismo, elas entraram em massa na produção, junto com seus filhos, como mão de obra barata (...), principalmente nos grandes centros têxteis, que ocupavam o maior número de mulheres.” (ALAMBERT; 1986, p.11)

    A situação da mulher aparece como parte das relações de exploração na sociedade de classes. Assim, o movimento feminista reaparece e se fortifica aliando-se aos movimentos operários e a alguns partidos de esquerda, já que as mulheres encontravam espaço para as reivindicações. A partir de então, os movimentos feministas passaram a ficar intimamente ligado aos movimentos políticos, buscando ampliar as idéias liberais.

    Na década de 1960 os movimentos feministas se influenciaram com a publicação do livro “O Segundo Sexo” de Simone de Behavoir, pois a mesma diz que “[...] a hierarquização dos sexos é uma construção social e não uma questão biológica.” (BEHAVOIR, 1970)

    No Brasil o movimento feminista sofreu influências européias e norte-americanas onde o sufragismo obteve, como uma repercussão mundial, o direito de votar. Neste momento, as mulheres saíram às ruas reivindicando seus direitos de cidadã. Apesar disso, em alguns lugares da América Latina, existia na Constituição a proibição do voto feminino, uma vez que as mulheres eram consideradas seres inferiores, insignificantes, onde a supremacia masculina prevalecia e somente aos homens era dado o título de cidadão. (PINTO, 2003)

    Durante décadas as mulheres foram dominadas pela Igreja e pelo Estado que determinava o certo e o errado, sendo eles os responsáveis por tomar decisões sem se quer dar o direito às mulheres de participação nas decisões.

    Na busca pela sua identidade, a mulher vem lutar pela auto afirmação enquanto cidadã que possui direitos, mesmo estes indo de encontro a uma sociedade patriarcal que resume o papel da mulher a simplesmente, dona de casa, mãe e esposa. Junto ao movimento feminista, que tinha como lema igualdade entre homens e mulheres, as reivindicações se davam também na busca do direito ao voto, incluindo o direito à educação e à equiparação salarial. O movimento feminista brasileiro teve como sua principal líder a bióloga e zoóloga Berta Lutz, que fundou, em 1922, a ‘Federação Brasileira pelo Progresso Feminino’. Essa organização tinha entre suas reivindicações o direito de voto, o de escolha de domicílio e o de trabalho, independentemente da autorização do marido. (PINTO, 2003)

    No final do século XIX e início do século XX, as mulheres começam a ter um lugar na sociedade, aparecem as primeiras romancistas, cantoras e os primeiros jornais editados por mulheres. Neste momento, as mulheres reivindicavam também o direito à saúde, ao pré-natal, ao planejamento familiar e ao prazer sexual.

    Mas, qual a relação do movimento feminista com o lesbianismo? Como já foi citado anteriormente, o movimento feminista tinha a sexualidade como seu tema central, ou seja, ele tinha como meta a conquista da igualdade de direitos entre homens e mulheres, garantindo a participação da mulher na sociedade de forma equivalente à dos homens.

    Segundo Borges (apud Alambert, 1986) o lugar da sexualidade é tratado pelo feminismo como “(...) um lugar de desconstrução de idéias, práticas sociais, regras, imagens (...)”, apontando para a necessidade de conceber a sexualidade como uma construção e não simplesmente como um fenômeno biológico.

    A palavra lesbianismo surgiu no século XIX ligado a patologia cujo objetivo era estudar as perversões sexuais da época praticada por mulheres. No Brasil, em 1894, essa palavra também teve sentido de inversão sexual, justamente neste aspecto, como sendo algo pejorativo, ligado a doença. (SWAIN, 2000)

    Por este motivo, só a partir dos anos 70 é que o movimento feminista passou a dar um novo significado e uma nova definição acerca do lesbianismo. Uma vez que este até a época possuía uma imagem altamente deformada, cercada de preconceitos, onde era visto pelos médicos como doença, limitando assim, seu acesso ao movimento.

    Assim, juntamente com o despontar do movimento homossexual, as lésbicas trouxeram poderosas teorias que buscavam explicitar seus direitos. É neste momento que as mulheres lésbicas, antes escondidas, encontram no movimento feminista dos anos 70 as interpretações necessárias para se definir enquanto grupo com legitimidade própria. Embora, o movimento feminista, como todo movimento social, seja composto por várias tendências, sua trajetória tem sido marcada por aproximações e silenciamentos no que tange a sexualidade lésbica. (PINTO, 2003)

    Nos anos 80 o lesbianismo, juntamente com o movimento feminista, aparece interrogando a categoria “gênero”, buscando resposta para o que viria a ser o natural que era tão defendido pelos heterossexuais da época. E é justamente através da sexualidade que as lésbicas buscam a centralização da dominação e da libertação, pois é com esta que se constrói a personalidade. Foi com o movimento feminista que a construção da mulher enquanto sujeito tornou-se possível, desta forma, essas mulheres buscam sua capacidade de agir livremente.

    É pelo fato de essa experiência ser tão forte que as lésbicas lutam por um reconhecimento legal, através de reivindicações de direito, lutando por uma participação maior na política, deixando para trás o a imposição de mulher enquanto ser submisso ao homem. Esse reconhecimento de liberdade é uma luta de difícil afirmação, pois a imagem que sempre foi criada da mulher é alguém que possui papéis femininos a cumprir, sendo assim, o seu lado natural, justificando que a natureza define o papel de cada um na sociedade.

    3. OS DESAFIOS E ENFRENTAMENTOS DO ASSUMIR-SE LÉSBICA

    3.1 A aceitação de si mesma

    A descoberta do desejo homossexual é o que define a homossexualidade. (FERRARI, 2007). Filosoficamente, o desejo é uma tensão em direção a um fim, considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação. Uma vez que se deseja e se pratica este desejo podemos afirmar que isto se torna algo positivo, bom, belo e justo. Esta descoberta pelo desejo tem se tornado cada vez mais natural numa sociedade onde os valores estão cada vez mais íntimos, sendo este, o elemento principal para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária com respeito às diversidades.
    Segundo 60% das entrevistadas, em relação à pergunta 'Como você se descobriu tendo desejo por mulheres?', a descoberta do desejo se deu de forma natural, já que essa descoberta parte do princípio da intimidade de cada uma. As mulheres defendem seus desejos como interior, uma vez que o desejo “é um movimento interno erótico impulsionado por uma carga de atração física e emocional” (FERRARI, 2007)

    “Naturalmente, algo biológico, através do desejo físico, emotivo.”(informação verbal)

    “Natural, porque era uma coisa que eu percebia que ia acontecer comigo.”(informação verbal)

    A naturalidade com que é encarada essa descoberta do desejo por mulheres ocorre pelo fato das entrevistadas possuírem idade inferior aos 25 anos, pois a partir da década de 80 houve maiores informações acerca da homossexualidade, acarretando uma quebra de tabus existentes em uma sociedade machista. Segundo Jackson (apud Soares, 2007), a sexualidade tem sido uma área com maior debate teórico nos últimos anos, refletindo diretamente na descoberta e aceitação enquanto lésbica por parte daqueles mais jovens.

    A naturalidade com que é relatada pelas entrevistadas, é algo que tem servido como justificativa para uma então diversidade de atos e valores questionados na atualidade. Assim, o desejo torna-se cada vez mais importante na construção de uma identidade sexual, uma vez que essa identidade é uma construção social estabelecida a partir de uma discussão acerca do saber e do poder. Em suma, o desejo é posto como uma definição da homossexualidade. (FERRARI, 2007)

    Em contrapartida, no decorrer das entrevistas, 10% das mulheres admitiu ter sido extremamente difícil se descobrir tendo desejos por mulheres. As mesmas afirmaram que não viram, em momento algum, normalidade em relação a este sentimento.

    “Muito difícil, eu me apaixonei pela minha professora, um processo complicado, de difícil aceitação, desejo, vontade, sem saber o que fazer e em que mundo estar, o porquê daquilo está acontecendo, “você” vive numa sociedade machista, “você” é criada pra isso. Nesse momento eu era noiva, e pra mim as coisas se confundiam, os sentimentos se confundiam e eu achava que eu não era normal”. (informação verbal)

    De acordo com este relato, podemos perceber uma influência dos valores da sociedade machista, colocando a heterossexualidade em primeiro plano e dentro dos padrões normais. A idade dessas entrevistadas varia entre 25 e 30 anos, nos alertando para uma possível socialização pautada num discurso machista, onde a homossexualidade é vista como conduta errônea. Portanto, para essas mulheres, aceitar o fato de sentir desejos por outras mulheres, requer uma quebra nos valores pré-estabelecidos numa sociedade guiada estritamente pela heterossexualidade.

    Embora a descoberta do desejo por mulheres tenha se dado de forma comum para as 90% das entrevistadas, desse total, quando perguntamos como foi a aceitação enquanto lésbica, 33% afirmou ter sido muito mais difícil a sua aceitação enquanto lésbica. Isso se dá por conta da não afirmação de sua identidade enquanto homossexual, uma vez que a partir desta, é que se constroem valores, condutas e julgamentos em relação a si mesmas e perante a sociedade. Isto se evidencia na fala da mesma entrevistada para as duas perguntas, como se descobriu tendo desejo por mulheres e como foi a sua aceitação enquanto lésbica, respectivamente.

    “Natural, porque era uma coisa que eu percebia que ia acontecer comigo”. (informação verbal)

    “Extremamente difícil, porque a pior coisa é você se assumir, assumir pra os outros é muito banal, agora pra você mesmo é altamente complicado”. (informação verbal)

    Para se aceitar enquanto lésbica, é necessário se defender enquanto tal, para que elas existam primeiramente para e por elas mesmas (TOURAINE, 2007). Trata-se de defender a aceitação de sua orientação sexual, aonde seus desejos e condutas venham a colocá-las diante delas mesmas com o olhar daquilo que elas realmente são e não com o olhar daquilo que querem que elas sejam.

    A identificação com o termo lésbica não está presente para 30% das entrevistadas, pois segundo as mesmas, trata-se de um termo pejorativo. “o termo lésbica é carregado de negatividade, isto leva a mulheres a sufocarem suas emoções diante do espectro da anormalidade, do pecado, da monstruosidade”. (GARCIA; 2004, P.68).

    Segundo Fry e McRae (1984) é preciso deixar de julgar as mulheres por conta do seu comportamento sexual e sim levar em conta suas identidades totais. Com isso, os autores atentam que ao invés de usar o termo “lésbica,” seria melhor chamá-las apenas de “mulheres identificadas com mulheres”.

    As entrevistadas afirmam também que o termo lésbica presume apenas rótulos. E esses rótulos, segundo Swain (2000) servem para categorizar a identidade sexual, pois as práticas sexuais não podem ser consideradas como único fundamento de uma identidade.
    “Eu acho que são rótulos, simplesmente rótulos”.(informação verbal)

    “Pra mim é indiferente, ‘lésbica’, ‘sapatão’, ‘trantantã’, ‘tontontá’, o que vale pra mim é o que eu sinto o que vem do outro lado é indiferente, o que vale pra mim é o que eu escolhi pra ser em minha vida, o resto é besteira”. (informação verbal)

    Outros 50% das entrevistadas afirma que se identificam com o termo, isso se dá porque as mulheres ao se identificarem com o termo lésbica, como caracterização da sua orientação sexual buscam a criação de um “mundo” que as definam enquanto sujeito. Dessa forma, segundo Touraine (2007), as mulheres têm uma imagem positiva delas mesma, onde tem como objetivo o desenvolvimento pessoal e uma participação ativa enquanto sujeito que compõe uma sociedade.

    “Sim... afinal é a definição de mulher homo e se sou então encaro numa tranqüilidade comum, sou acima de tudo uma GRANDE MULHER... uma mulher lésbica”. (informação verbal)

    Apenas 10% das entrevistadas acha indiferente no que diz respeito à nomenclatura. Para elas, não é o termo que vai definir a sua identidade.


    3.2 A aceitação dos outros

    Das entrevistadas 20% volta a reafirmar que o maior desafio é a auto-aceitação. São notórias as dificuldades enfrentadas pelas lésbicas ao ter se assumido, pois entre as entrevistadas 80% delas sofre rejeição, principalmente familiar. Isso decorre da educação familiar que é uma das que mais contribui para a produção e reprodução do preconceito, já que eles têm a crença que a sexualidade humana é biológica.

    Portanto, para a maioria dos familiares é como se tudo que se é humano se aprende com a cultura, na cultura, como cultura, em uma concepção naturalizante da cultura. E todo e qualquer movimento que seja estranho a isso se torne “anormal”.

    Então se pode afirmar que essa rejeição familiar que as entrevistadas sofrem ocorre devido a uma reprodução de preconceitos, tornando-se um circulo vicioso. Nota-se também nas falas a presença da religiosidade que julga a homossexualidade como algo “pecaminoso”.

    Esse tipo de discriminação não só vem do seio familiar, mas também do ambiente amigável, onde também existem pessoas criadas de forma preconceituosa, enfim é uma reprodução que atinge toda uma sociedade.

    “Desprezo familiar por parte da maioria”. (informação verbal)

    “Primeiro me aceitar, depois que eu me aceitei, eu passei a entender que a opção sexual independe de pessoa, de cor e o segundo preconceito é a família, é complicado, repito, agente nasceu numa sociedade machista, então até você ter o respeito da sua família, é um caminho longo, mas quando ele vem é muito gratificante”. (informação verbal)

    Para Souza (apud Lago, 2004), pais e filhos são vitimas de uma educação conservadora, orientada para a reprodução da ordem social, em que a sexualidade é também orientada no sentido de não variar do estabelecido, funcionando como metáfora do esforço global da ordem no sentido dela própria não variar. Pai e filho sofrem sem saber pelo que estão sofrendo: vitimas de uma ordem que necessita de preconceitos para se perpetuar, brigam, se insultam, se machucam, sofrem, adoecem, morrem pela sujeição a convenções que se fixam e se legitimam, dentre outras formas, também pela via do preconceito.

    Entre as entrevistadas, 60% afirmam encontrar limitações na sua vivencia em ser lésbica. Dessa porcentagem 40% volta a reafirmar que a sua maior limitação é a questão do preconceito e o desprezo existente na sociedade. A restante fala sobre a falta de liberdade de se relacionar com suas parceiras da mesma forma que os casais heterossexuais agem, o que não deixa de ser um preconceito que a sociedade transparece. Portanto para elas, não poder andar de mãos dadas, trocar carícias em público, falar de maneira espontânea sobre seu dia-a-dia, torna-se cada vez mais, uma limitação na sua convivência enquanto lésbica, pois o que essas mulheres realmente queriam era ter mais liberdade.

    “Não poder ser e agir como eu quero. Andar de mãos dadas com minha parceira... assim, são pequenas coisas que fazem diferença.” (informação verbal)

    Martinho (apud Lago, 2004) afirma que a visibilidade lésbica é uma estratégia de combate ao preconceito, ela afirma que muitos dos mitos existentes sobre as mulheres que amam mulheres advêm do fato que a sociedade não a conhece porque elas permanecem escondidas, “invisíveis”, temerosas dos efeitos da discriminação em suas vidas.

    Para Machado e Prado (2008, p. 67), “é mister assumir que o processo de visibilidade como resposta, ainda que insuficiente, é fundamental para desconstruir e ressignificar atribuições sociais construídas historicamente no campo da religião, da ciência e da moral acerca da homossexualidade”.

    Já para 40% das entrevistadas afirma não sofrer nenhum tipo de limitação e para justificar usam a independência financeira.

    “Ser independente, é a maior, porque quando você é independente ninguém pode falar de você.” (informação verbal)

    Quando perguntamos às entrevistadas quais as mudanças ocorridas na vida delas após terem se assumido lésbicas, 10% delas afirmam que não houve diferença alguma. Outras 90% afirmaram que provocou profundas mudanças, tanto positivamente, quanto negativamente. Desse total (90%) 88% acredita que essa mudança se deu de forma positiva, pois obtiveram felicidade e realização pessoal.

    Segundo Ferrari (2007), aceitar a sua orientação sexual e poder publicizá-la adquire um sentido de libertação dos controles, antes aprisionados, causando, necessariamente, uma sensação de felicidade, mesmo que não se vivencie essa felicidade, pelo menos há uma real expectativa dela. Dessa forma, a aceitação serve para uma maior afirmação da sua felicidade enquanto lésbica, uma vez que os sujeitos encontram em sua vivência, maior possibilidade de realizar-se enquanto ser social. Essa felicidade está associada à busca de uma auto-afirmação, pois a expressão “sair do armário”, citada por uma das entrevistadas, designa justamente a oportunidade de uma vivência mais feliz e realizada, pois estar fora do armário significa a não ocultação da sua orientação sexual.

    “Tudo, do olhar até o ato. Me senti muito melhor depois que me assumi.” (informação verbal)

    “Muita coisa, para melhor, ter saído do armário foi muito bom para meu ego, eu sei e diante de toda comunidade(...)” (informação verbal)

    Já a mudança de forma negativa (12%) se deu através de preconceitos antes não sofridos por elas, uma vez que não tornou público sua sexualidade. A sociedade moderna é detentora do controle, por meio de repressão, assim, o preconceito acaba gerando uma relação de inferiorização social em relação às lésbicas. Segundo Machado e Prado (2008), esse preconceito, no âmbito da homossexualidade, produz uma invisibilidade de certas identidades sexuadas, garantindo uma subalternidade de alguns direitos sociais e, por sua vez, legitimando práticas de inferiorizações sociais, como a homofobia.

    3.3. Desafios e enfrentamentos durante o processo de publicização de sua orientação sexual

    O prazer, mencionado por 50% das entrevistadas quando perguntamos o que sentiu ao se descobrir lésbica, é o sentimento de libertação dos seus desejos incumbidos. Esse prazer esta associado à forma com que sempre foi tratada a questão das lésbicas, pois agora, aceita enquanto tal, a mulher tende a manifestar o sentimento de liberdade, uma vez que precisou aprisioná-lo no seu interior.

    O sentimento de prazer está associados à idéia de felicidade, pois nada melhor do que afirmar para si mesma a idéia de ser lésbica, já que, uma vez definida como tal, pode construir sua real imagem enquanto homossexual, sem negar seus próprios valores. (TOURAINE, 2007)

    “Prazer, porque eu queria que isso acontecesse na minha vida”.(informação verbal)

    “Prazer”. (informação verbal)

    “Uma coisa mágica, inexplicável (...)”. (informação verbal)

    Embora este sentimento de prazer prevaleça entre as entrevistadas, outras 40% declarou ter sentido medo. Este, por sua vez, acontece por conta do novo momento em que estão vivenciando, pois isso se reduz ao sentimento de medo, vergonha de ser diferente, já que se trata de um mundo até então, desconhecido. Segundo Storr (1967) as lésbicas demonstram um sentimento de medo, quando se trata da sua sexualidade. Além de que a própria palavra lésbica designa e constrói todo um campo de representações negativas perante os outros (SWAIM, 2000).

    “Medo, vergonha, pensava porque isso está acontecendo comigo, o que é que eu tenho de diferente, um monte de emoções, que eu não sei nem explicar”. (informação verbal)

    “Medo, não imaginava aquilo acontecendo comigo”. (informação verbal)

    O sentimento de medo relatado pelas entrevistadas também está associado aos preceitos religiosos, pois admitem terem tido, desde muito pequena, orientações acerca da religiosidade e sua condenação diante da homossexualidade. Quando instaurado no Brasil em 1536, o Santo Ofício tinha como objetivo, perseguir e punir aqueles que praticassem atos sexuais com pessoas do mesmo sexo, pois isto era considerado um pecado nefando (Vainfas apud Del Priori, 2008). Assim, de lá para cá, o catolicismo passou a incorporar em seu discurso a idéia de que Deus, como ser superior, abominava a homossexualidade, fazendo com que aqueles que a praticassem, fossem impiedosamente, castigados de alguma forma. Muitos religiosos acreditam que o primeiro “castigo divino” contra os homossexuais tenha vindo na década de 80 através da AIDS. Essa idéia de castigo foi mencionada por algumas entrevistadas:

    “(...) eu achei que ia pro inferno, me senti culpada, sei lá.” (informação verbal)

    “Que ia pro inferno. Aff, foi triste, pensei que ia ser castigada por Deus, e sei que o que estou fazendo aqui, algum dia vou pagar, mais na frente(...).” (informação verbal)

    As outras 10% entrevistadas, relatou ter possuído um duplo sentimento, envolvendo prazer e medo. Isso, segundo Soares (2007) se dá por conta da dualidade existente entre sentimentos que são indefinidos e incertos, onde de um lado, existe um momento prazeroso, felicidade em relação a si; e do outro, o medo, a abominação, já que se trata de novas formas de agir e pensar. Essas incertezas acoplam-se ao “novo” para uma melhor forma de viver e se relacionar, pois esse momento é cercado de sufocamentos emocionais, tornando-se uma interferência na formação de sua identidade.

    “(...) uma mistura de sentimentos, alegria junto com culpa, medo de estar errando...” (informação verbal)

    Observa-se que 60% das entrevistadas procurou algum tipo de ajuda para assumir-se lésbica (mães, amigos, psicólogos), para desabafar nesta construção de uma nova identidade. Já que a sociedade determina padrões na construção de uma família e de um relacionamento, o papel de manter e reproduzir o modelo heterossexual. A mulher é reprimida por sentir desejo por pessoas do mesmo sexo que vai de encontro com os padrões que a sociedade impõe.

    A construção de si pelas mulheres é fundada sobre aquilo que resiste á sua identidade social, esta é sobre sua natureza que não se reduz a uma cultura ou a uma organização social. É assim que as mulheres vão se erguendo ate chegar à afirmação da singularidade e a liberdade de escolher sua própria vida, definida por sua oposição a toda definição imposta de fora (Touraine, 2007, pg. 47).

    Assumir-se lésbica não é uma tarefa fácil, uma vez que implica em várias questões como preconceitos, indiferença dos amigos, parentes e até a rejeição da família. As famílias educam as mulheres para serem donas de casa, esposas, mães. Em uma sociedade patriarcal e machista a construção da identidade da mulher que se assume lésbica é muito difícil, elas são massificadas por sentirem desejos e atração sexual por outras mulheres.

    “Não, a ajuda que eu procurei, foram os amigos que não eram próximos, porque não compactuavam do mesmo momento, pessoas que eu fui conhecendo que tinham a mesma opção e que podiam me dizer algum coisa daquilo que eu estava vivendo, mas em momento nenhum eu conseguir compartilhar isso com os meus amigos que eu dizia ser verdadeiros e que eu vivi e convivi a vida inteira e por isso você se prende num mundo sem respostas, de perguntas simplesmente vazias, o porquê isso está acontecendo comigo? porque eu sou assim? Será que eu não tenho solução? Será que não é um momento passageiro? Mas não passa! É um desejo e você vai à busca do seu desejo e descobre que o sentimento e o amor pela pessoa independem de sexo e aí eu passei a me aceitar, a viver.” (informação verbal)

    Mas 40% das entrevistadas não acha necessário procurar ajuda para assumir-se lésbica.

    “Eu?! De forma alguma. Não precisaria de alguém pra assumir minha própria identidade.”(informação verbal)

    Entre todas as entrevistadas, 70% afirma não ser necessário que os outros saibam que elas são lésbicas, já que para elas sua orientação sexual não interfere na sua personalidade, ela não deixa de ser “fulana” porque se relacionou com outra pessoa do mesmo sexo, portanto o termo lésbica acaba tornando-se para elas simplesmente rótulos, algo pejorativo. Vale ressaltar que mesmo não sendo necessário que outros saibam da sua preferência sexual, elas não veem nenhum problema em assumir, caso sejam perguntadas.

    “Não, não. Eu não gosto de rótulos, e acredito que rótulo não faz ninguém crescer, lésbica é um termo muito pesado e acredito que o sentimento é muito maior que isso, eu não compartilho com essa dedução das pessoas, eu acho e continuo dizendo que sexo não tem rótulos.” (informação verbal)

    Essa postura se dá justamente para que sua orientação sexual não venha a interferir no seu convívio social. Para Costa (1982), uma vez que identificada como homossexual o sujeito dificilmente consegue proteger sua privacidade sexual do espaço público, pelo simples fato se ser sempre interpelado em nome de sua preferência erótica, como se sua pessoa se resumisse à singularidade de sua inclinação erótica.

    Em contrapartida 20% das lésbicas entrevistadas acredita ser necessário que os outros tomem conhecimento de sua orientação sexual, para que desta forma, questões como a homossexualidade, tantas vezes massificada, ganhe visibilidade perante a sociedade. Acreditam também que desta forma possam adquirir respeito.

    “Talvez por questões de empoderamento de visibilidade, é necessário sim que a sociedade saiba sim para enfrentamento ao preconceito”.(informação verbal)

    Esse posicionamento de tornar a homossexualidade visível é a tentativa de quebrar as idéias preconcebidas da população sobre as mulheres lésbicas e de deixar de ser refém das culpas e vergonhas sem sentido que a sociedade impõe.

    Das entrevistadas apenas 10% teve uma postura diferente das outras, pois para elas é como se a questão de se assumir não interferisse na sua vida, nem negativamente, nem positivamente.

    3.4. Práticas homofóbicas mais freqüentes como conseqüência da publicização
    Quando falamos de violência, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a da agressão física ou sexual. No entanto, os homossexuais sofrem as mais diferentes formas de violência, desde as mais sutis como a ironia até as mais graves como o espancamento, estupro e homicídio, resultando em lesões corporais, traumas psicológicos e morte.
    A agressão, seja ela verbal e psicológica ou física, é decorrente do preconceito social existente numa sociedade marcada pela heterossexualidade. Dentro dessa realidade 60% das entrevistadas assumiram ter sofrido agressão, já 40% afirmam não ter sofrido nenhum tipo de agressão.

    A agressão mais freqüente é a verbal, uma vez que ocorrem através de xingamentos, chacotas com palavras pejorativas como: “sapatão”, “bresca”, “popocha”, entre outras.
    “Sim. Agressões verbais como ‘Sapatão’, ‘Maria-homem’ e assim vai”.(informação verbal)

    O preconceito social produz uma invisibilidade de algumas identidades sexuais, provocando várias práticas de inferiorização, como a homofobia. Segundo Machado e Prado (2008), a homofobia representa o ato de repulsa aos homossexuais e às suas práticas (afetivas ou sexuais). Aversão nem sempre direta, mas perceptível através de chacotas, expressões de nojo, por meio de agressões verbais (xingamentos, desqualificação), ou ainda por meio de violências físicas (espancamentos e assassinatos).

    Isso se dá segundo Prado e Machado (2008) pelo fato de que a agressão é vista como um sofrimento advindo de uma relação de violência, onde sustenta e mantém formas de inferiorizarão, permitindo uma subalternidade desse grupo em relação às outras classes sexuais ditas “normais”. Dessa forma estamos diante de uma conseqüência daquilo que chamamos de homofobia, que é a exclusão dos homossexuais.

    3.5. Considerações Acerca da Entrevista

    A descoberta do desejo como definidor da homossexualidade é algo presente na fala das entrevistadas, uma vez que admitem que ocorreu de forma natural. Em contrapartida, essa normalidade não está presente quando se trata da aceitação de si mesma enquanto lésbica. Já que, segundo elas, a afirmação da sua orientação sexual é de extrema dificuldade, uma vez que esta atitude confronta seus valores, condutas e princípios subjetivos.

    Na medida em que se assumem lésbicas, essas mulheres afirmam possuir um sentimento de prazer relacionando-o com a felicidade, sendo este o momento em que elas alcançam sua liberdade enquanto sujeito homossexual, diante de uma sociedade marcada pela heterossexualidade.

    A necessidade da procura de ajuda para se assumir lésbica está presente na fala das entrevistadas. Vale ressaltar que essa ajuda não se dá apenas de forma profissional, mas também através de familiares e amigos, pois elas encontram nestes uma forma de compartilhar seus medos e angústias.

    O fato de se assumir lésbica não determina a necessidade de os outros saberem qual a orientação sexual do sujeito. Pois, as entrevistadas afirmam que essa atitude não vai interferir no seu convívio social. Apesar dessa afirmação, essas mulheres, agora assumidas, encontram no seu dia-a-dia a rejeição, principalmente familiar, como seu principal desafio.

    Apesar desses desafios, profundas mudanças de forma positiva ocorrem, em se tratando de realização pessoal. Elas afirmam se sentirem mais felizes após a decisão de se assumirem.

    Embora a falta de liberdade em se relacionar publicamente com suas parceiras ainda seja um limitação encontrada na vivência da lésbica, pois expressar-se naturalmente torna-se muito difícil numa sociedade onde os homossexuais ainda são alvos de preconceitos, assumir-se continua sendo uma forma de quebrar preconceitos e adquirir espaço de livre expressão.

    Portanto, para elas a identificação com o termo lésbica torna-se necessário por conta da legitimação desse grupo perante a sociedade e uma maneira de dizer “eu sou gente, eu existo”.

    Em contrapartida essa exposição acarreta em agressões, verbal, física e psicológica, desencadeando numa forma de preconceito social – a homofobia.

    4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Considerando o objetivo principal desta pesquisa, que foi estudar os embates e desafios de se assumir lésbica, percebemos que a sociedade ainda tem a heterossexualidade como algo normal e a homossexualidade, principalmente feminina, como anormalidade, aberração. Desta forma, as mulheres homossexuais têm em seu dia-a-dia inúmeras dificuldades no que se diz respeito a convivência social.

    No decorrer da pesquisa, percebemos que o feminismo teve uma grande contribuição em termos de conquista dos direitos das mulheres, pois podemos observar que as mulheres, tanto heterossexuais quanto homossexuais, vêm conquistando espaços sociais antes considerados exclusivamente masculinos. Mas apesar dessas conquistas, ainda se tem muito a conquistar no que se diz respeito às mulheres homossexuais.

    Ao longo do estudo, sentimos a necessidade de introjetar na pesquisa a questão da independência financeira, uma vez que não era ponto de nossa análise. Isso se deu, necessariamente porque percebemos que as respostas das entrevistadas iam se diferenciando a depender da situação financeira em que as mesmas se encontravam. Diante disto, percebemos que as mulheres que possuíam independência financeira, não sentiam tantas dificuldades em se assumir quanto aquelas que dependiam financeiramente de outrem.

    Estas dificuldades encontravam-se justamente no fato de que a sociedade, de maneira mais geral, ainda não havia quebrado algumas barreiras construídas ao longo dos anos. Com isso, a cobrança dos familiares e da sociedade tornava-se cada vez maior quando se tratava da publicização daquelas lésbicas que eram dependentes financeiramente.

    Outra questão que merece destaque é a idade, que antes não analisada, passa a ser ponto de divergências em relação as respostas, por este motivo, decidimos dividir o grupo de lésbicas em dois: aquelas que possuem idade entre os 19 e 27 anos, e aquelas que têm idade entre os 28 e 35 anos. Desta forma, pudemos perceber que aquelas que pertenciam ao primeiro grupo não sentiam tanta dificuldade em se aceitar lésbica, enquanto as do segundo grupo, essa questão de aceitação se tornou alvo de maior dificuldade.

    Isso se dá porque aquelas mulheres que possuem idade entre 19 e 27 anos vivenciam uma época em que viver novas experiências sexuais se tornou cada vez mais normal entre os mais jovens, pois este é o momento de experimentar.

    Já aquelas com idade entre 28 e 35 anos, no momento de descoberta enquanto lésbica aprenderam que a heterossexualidade era o normal, sendo a homossexualidade um pecado. Por este motivo, muitas delas mencionaram o fato de que ao se olhar no espelho, sentiram anormalidade em si mesma. Essa anormalidade foi introjetada por uma sociedade hegemonicamente heterossexual e patriarcal.

    Pudemos perceber também, que os dogmas religiosos ainda estão presentes em muita das entrevistadas, tornando-se assim, um embate no que se diz respeito a aceitação de si mesma. Essas mulheres, com bases religiosas, acreditam que a homossexualidade é um pecado e o que elas estão vivenciando aqui, futuramente irá ser punida por isso. Essa idéia de punição, segundo Araújo (apud Del Priore, 2008) teve início no final do século XVI, quando o Santo Ofício de Inquisição fez a primeira visita ao Brasil e começou a punir aquelas mulheres que praticassem atividades sexuais com outras. A partir daí, essas idéias de punição passou a ser utilizada pela Igreja como forma de fazer com que seus seguidores fosse da forma que ela queria que eles fossem, e não como eles eram por si mesmos.

    Outra questão de bastante relevância na pesquisa é o fato de as lésbicas não acharem ser necessário que os outros saibam sobre sua homossexualidade, pois o se assumir publicamente é um processo complicado, já que o preconceito ainda é muito forte na sociedade. Existe uma grande pressão para que os homossexuais assumam publicamente sua homossexualidade, mas, muitos afirmam que nem todos precisam assumir para os outros sua condição sexual. Diante disto, apontamos que o não se assumir publicamente, não significa negar a sua homossexualidade, e sim, vontade de resguardar sua individualidade.

    O desejo de resguardar a individualidade se dá porque as lésbicas ainda são altamente discriminadas, motivo de chacota, de xingamentos, enfim, são alvo de preconceitos, de atitudes homofóbicas. Estas se dão, na maioria das vezes, por agressão verbal através de xingamentos. Essa, portanto, é uma das grandes barreiras que as lésbicas encontram para se realizar afetivamente, são os preconceitos que a sociedade nutre contra essa forma de orientação sexual.

    Em suma, através desta pesquisa, pudemos perceber que a homossexualidade feminina, que durante anos foi reprimida e vista como uma doença vem atualmente ganhando espaço nas mais diversas áreas de estudo, embora isto não signifique que a questão da homossexualidade feminina passe a ser vivenciada sem preconceitos. Para o combate a essas atitudes, é necessário que além de ser aqui, um objeto de estudo, passe a ser lá fora, uma forma de ação para que esse grupo de mulheres tenha um maior espaço na sociedade. Desta forma, esperamos que esta pesquisa, intitulada de “Homossexualidade Feminina: embates e desafios de assumir-se lésbica”, não tenha a intenção de ser conclusiva, uma vez que a mesma possui aspectos complexos, o que exige uma constante e contínua discussão.

    REFERÊNCIAS

    ALAMBERT, Zuleika. Feminismo: o ponto de vista marxista. São Paulo: Nobel, 1986.

    BEAUVOIR , Simone de. O segundo sexo. São Paulo: Difusão Européia do livro , 1970.

    BOUZON, E. O Código de Hammurabi. 5ª edição. Petrópolis: Vozes; 1992.

    BOZON, M. Sociologia da Sexualidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

    BRAID, V. Sex, Love and Homophobia, Anistia Internacional, 2004. disponível em . Acessado em 10 de Novembro de 2008, às 16:00.

    BRASIL. Ministério da Saúde. Brasil sem Homofobia: Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLBT e Promoção da Cidadania Homossexual. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

    COSTA, J.F. A inocência e o vício: estudos sobre o homoerotismo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1982.

    DANIEL, Marc, BAUDRY, André. Os homossexuais. Rio de Janeiro: Artenova, 1973.

    DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.

    DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. 3ª ed, São Paulo, Atlas, 1995.

    DIAMANTINO, E.M.V. et al. Aspectos básicos da sexualidade humana na parte clínica. Parte I. Femina, v. 21, n. 10, p. 1016-29, 1993a.

    DIAMANTINO, E.M.V. et al. Aspectos básicos da sexualidade humana na parte clínica. Parte II. Femina, v. 21, n. 11, p. 1152-80, 1993b.

    FERRARI, Anderson. O desejo como definidor da homossexualidade. Gênero: Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero – NUTEG. - v.7, n.2 (1 semestre de 2000). Niterói: EdUFF, 2007

    FORGUIERI, Y. C. Contribuição da fenomenologia para o estudo de vivência. Revista Brasileira de Pesquisa de Psicologia, v. 2, n.1, . 7 – 20, 1990.

    FRY, P. Para inglês ver: identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

    FRY, Peter, MACRAE, Edward. O que é homossexualidade. Coleção Primeiros Passos. 3ªEdição. São Paulo: Brasiliense, 1984.

    GELAIN, I. O significado do “ETHOS” e da consciência ética do enfermeiro em suas relações de trabalho. São Paulo, 1991. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo.

    GODOY. R.M. A voz das mulheres lésbicas: o discurso oculto ao desvendamento das vivências e do imaginário erótico. Revista do Núcleo de Estudos da Sexualidade. Florianópolis: NES, v.1, n.1, ago./dez.1997.

    GÓIS, M.M.S. Aspectos Históricos e sociais da anticoncepção. Reproduo, v.6, n.3, p. 119 – 124, 1991.

    GWERCMAN, S. Casamento Gay. ed. 202. Revista Super Interessante, São Paulo: Editora Abril, p.46-53, jul. 2004.

    LAGO, Maria Coelho de Souza. ET all. Interdisciplinaridade em diálogos de gênero: teorias, sexualidades, religiões. Florianópolis: Mulheres, 2004

    LOURO, G. Currículo, gênero e sexualidade. Porto Alegre: Porto Editora. 2001

    MACHADO, F.V.; PRADO, M.A.M. Preconceitos contra homossexualidades: a hierarquia da invisibilidade. São Paulo: Cortez, 2008.

    MOTT, Luiz. Homossexualidade: mitos e verdades. Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2003.
    __________. Lesbianismo no Brasil. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.

    PINTO, Céli R. J. O feminismo no Brasil: suas múltiplas faces. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003. (Coleção História do Povo Brasileiro).

    RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

    SOARES, Rosângela. Jovens Contemporâneos – sexualidade, corpo e gênero na mídia.
    Gênero: Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero – NUTEG. - v.7, n.2 (1 semestre de 2000). Niterói: EdUFF, 2007

    STORR, A. Desvios Sexuais. Rio de janeiro : Zahar, 1967.

    SWAIN, T. N. O que é Lesbianismo. São Paulo: Brasiliense, 2000. (Coleção Primeiros Passos).

    TEIXEIRA, J.S. Homossexualidade Feminina: o amor por meio da invisibilidade? (Monografia de conclusão de curso Psicologia para obtenção do grau de Bacharel), 2005.

    TOURAINE, Alain. O mundo das mulheres. Petrópolis: Vozes, 2007


    APÊNDICE

    ROTEIRO DE ENTREVISTA

    1.Como você se descobriu tendo desejo por mulheres?

    2.Como foi para você aceitar sua orientação sexual?

    3.O que você sentiu/pensou quando isso aconteceu?

    4.Procurou alguma ajuda para que pudesse se assumir lésbica?

    5.Você acredita ser necessário que as pessoas saibam que você é lésbica? Por quê?

    6.Quais foram ou são os principais desafios e/ou enfrentamentos que você encontrou ao ter se assumido lésbica?

    7.Que limitações você encontrou na vivência de ser lésbica?

    8.O que mudou na sua vida após ter se assumido lésbica?

    9.Você se identifica com o termo “Lésbica” como caracterização da sua orientação sexual?

    10.Já sofreu algum tipo de violência por conta da sua orientação sexual? Qual?

    *Assistente Social. Graduanda em Letras Português. Mestranda em Direção de Recursos Humanos. Especialista em Organização e Gestão de Políticas Sociais. Pós-graduanda em Docência e Tutoria em Educação a Distância. Possui experiência em educação, gênero e diversidade. Atualmente é professora tutora do curso de Serviço Social da UNIT.