domingo, 28 de agosto de 2022

FÉ DEMAIS NÃO CHEIRA BEM: OS CAMINHOS DA DITADURA E DO BOLSONARISMO


Chocante! Eu sei... pode parecer absurdo, pode parecer a ideia de um ateu sobre religião, pode parecer uma imagem fantástica, que ninguém em sã consciência teria a audácia de relacionar, mas não é! A Bíblia evangélica, a fé protestante, muitas vezes, ao longo da história da humanidade, é usada como forma de opressão, de perseguição, de maldade àqueles que não se curvam aos ideais de seus líderes.

Ao lermos a história recente do Brasil, vemos essa imagem nítida nos relatos do teólogo Leonildo Silveira Campos que ao lembrar de seu torturador, o pastor batista Roberto Pontuschka, conta que o pastor os torturava de noite e os evangelizava de dia, entregava-os o Novo Testamento e quando questionado, seu comportamento, por um dos encarcerados, se não tinha vergonha de torturar e tentar evangelizar. Como resposta, o ministro batista afirmou, apontando para uma pistola debaixo do paletó: “Para os que desejam se converter, eu tenho a palavra de Deus. Para quem não quiser, há outras alternativas”  (Fonte: Isto E Independente).

Não à toa Max Weber (1864-1920) escreveu sua obra: A ética protestante e o espírito do capitalismo- em que ao analisar o contexto do século XVI-, descreve como a igreja protestante está diretamente vinculada ao desenvolvido do sistema econômico capitalista como dever moral. O que eu quero afirmar com isso é que: a religião protestante nasce como símbolo da troca de poder que sai das mãos do Papa e passa para as mãos dos príncipes, burguesia e das regiões por eles comandadas.

Não há graça, não há salvação, não há misericórdia, sem que se chegue ao poder. O discurso de conversão dos pecados é o discurso do “encha a minha igreja para que tenhamos poder”. O poder é o axioma que move a fé, é a única coisa que, no fundo, realmente importa. Sem embargo, os líderes religiosos desfrutam de casas luxuosas, carros luxuosos, telefones celulares luxuosos, enquanto os irmãos são convencidos de que é a vontade de Deus, porque tal prosperidade financeira traz poder: é status, dá visibilidade, dá voz.

Destarte, não se é de estranhar o alinhamento dos evangélicos com as ideologias de Bolsonaro. Bolsonaro e os evangélicos são a mesma pessoa ou, para melhor dizer, o mesmo ideal. Bolsonaro dá voz ao desejo de poder dos evangélicos, mesmo que isso os leve a idolatrar as armas, mesmo que isso os leve a adorar o diabo, desde que seja camuflado, tudo estará no seu devido lugar.

Assim, as pregações sobre amor, sobre perdão, sobre união, sobre salvação são secundárias ao projeto de poder e a ele os servem, afinal, no fim, o que importa é demonstrar a força que a igreja tem e os seus líderes disso se beneficiam. 


quarta-feira, 24 de agosto de 2022

HIV+ NÃO É O FIM




Estava na sala de aula, quando Jamil entrou. Seus olhos estavam marejados, como quem havia chorado muito, pálido, uma tristeza profunda vinha do seu ser e era algo quase palpável. Olhei para aquele rapaz, 25 anos, loirinho, pela macia e sedosa, 1,77m de altura, olhos azuis que mesclavam com o vermelho das lágrimas. Eram 18h33 minutos de uma terça-feira do mês de maio...

Ontem, dia 23 de agosto de 2022, concidentemente, terça-feira, estava eu na sala de aula, quando Tyler entrou. Chorava copiosamente e dizia que sua vida tinha acabado. Ele, um rapaz de 22 anos, negro, pele macia e sedosa, 180m de altura, olhos negros que mesclavam com o vermelho das lagrimas. Eram 09h da manhã...

O que esses dois fatos narrados têm em comum? Os dois rapazes em questão foram diagnosticados com o HIV+, os dois rapazes em questão perderam o chão debaixo dos pés, os dois rapazes procuraram seu professor como uma luz no fim do túnel pela vergonha, pelo desprezo, pela culpa, pelo PRECONCEITO.

Há muito dou aulas e trabalho com inúmeras pessoas durante o ano. São diversas pessoas, de diversos lugares diferentes, culturas e condição social diversas, mas o que choca é que ser HIV+ ainda, pasmem! É sinal de um estigma cruel imposto pela sociedade que nunca se educa, que nunca aprende, que nunca se esforça e apenas segue o baile como uma canoa desgovernada na correnteza.
Tyler

Aqueles rapazes choraram suas mágoas, expressaram suas revoltas, seus medos, incertezas, inseguranças. Tyler chegou dizer que envelheceria 15 anos em sua idade, enquanto eu via um rapazote de 22 anos, belíssimo, malhado, pronto para ter o mundo aos seus pés, mas que se convenceu, por ter lido não sei em que lugar, que pessoas com HIV+ são 15 anos mais velhas em suas biologias do que sua idade temporal. Eu sinceramente não sei de onde vem esses conceitos, mas sei o estrago que eles fazem em pessoas fragilizadas. Na ocasião, eu intervim dizendo que ele me parecia ter 22 anos e não 37 anos, que a expectativa de vida dele era exatamente a mesma do que os outros rapazes da turma dele! Foi quando ele sorriu...
Jamil

O Jamil dizia que todos os seus sonhos tinham ido para o lixo com o diagnóstico, que ele jamais chegaria a envelhecer e que só trouxe tristezas para sua família. Eu intervim, disse que sonhos geralmente costumam ir para o lixo quando não lutamos para concretizá-los, que ele não envelheceria caso morresse: atropelado (Deus o livre), baleado (Deus o livre), envenenado (Deus o livre), mas por ter tido um diagnóstico positivo para HIV não o mataria e sim traria qualidade de vida para ele, que pode viver normalmente como qualquer pessoa. Tristezas para a família, perguntei se ele era traficante ou assassino, ele me olhou curioso, deu um sorriso amarelo, disse não ser, então afirmei que tristezas todos temos, é normal, inclusive, mas que se a família sentisse tristeza, no sentido de desonra, ela precisaria de rever os conceitos, fazer terapia e parar de frequentar a igreja evangélica. 
Diogo

Em 2003, um grande amigo meu, Diogo, veio com o choro parecido, tinha sido diagnosticado com o HIV+, na ocasião, ele que se formara em jornalismo, dizia que não chegaria a velhice e que esteva condenado. Intervim, disse que não chegaria se ele não quisesse, mas que teria uma vida normal. Bem, 19 anos depois, ele está bem, namorando e desenvolvendo inúmeros projetos pessoais.
A vida normal

O importante saber é que: ser diagnosticado com HIV+ não é o fim, não é o começo (aliás, começo só do tratamento), não é nada, não vai modificar em nada a sua vida. Então tirando o impacto inicial, você vai tomar o remédio (que não vai curá-lo, mas também não vai deixar você morrer e nem transmitir), que irá te proporcionar uma vida saudável e duradoura até seus 120 anos (queira Deus!). No mais, as pessoas falam dos efeitos colaterais e eu pergunto: você já leu a bula do paracetamol? Você já viu os efeitos colaterais daquilo? Quantos deles você teve? Pois é, efeito colateral não é que você terá ao tomar, é que você pode ter, não é regra, é exceção.

Infelizmente, vivemos em meio a preconceitos, em que ser normal é ser perfeito e quem não é está excluído. Não é à toa que a humanidade nunca deixou de guerrear, ter mendigos, pessoa com depressão, suicidas e mazelas em geral. Os valores nobres da humanidade fazem o inferno aplaudir. 

Se você é HIV+, viva a vida normalmente, pois não há nada de errado com você. Errado é a hipocrisia social, o resto é vida!

domingo, 28 de março de 2021

TODA INQUISIÇÃO É BURRA




Senhor, eu clamo por vós, socorrei-me; 

quando eu grito, escutai minha voz!

Minha oração suba a vós como incenso, 

e minhas mãos, como oferta da tarde!

(Sl 140, 1-2).


Já escutamos falar de pessoas tóxicas, vez ou outra nos deparamos com situações que nos fazem mal, que nos entristecem, que nos prejudicam ou nos abalam de alguma forma. Reagir às situações de injustiça é bom, faz bem e não deixa de ser um dever. Entretanto, nem sempre aquilo que pensamos ser justo, na verdade, é. Nem sempre a causa que resolvemos militar, ainda que pareça correta, é justa. 

Essa lição, dia 27 de março, foi aprendida por uma pessoa muito especial e, lamentavelmente, de forma mesquinha, inclusive, de modo contrário ao aprendizado, na vulgaridade, na pobreza de espírito, no “intuito lacrativo”, disseminada com rancor e preconceito em nome da justiça ou de se fazer justiça, foi esquecida por alguns setores da esquerda brasileira. 

Toda a inquisição é burra, porque nela não há o caminho do meio, ela não aceita o arrependimento, aliás, debocha dele como fraqueza e com desdém. A esquerda militadora conseguiu dar voz ao ridículo, sendo mais absurda na sua falsa pretensão de querer justiça mais do que querer aparecer.

Falo do episódio envolvendo Xuxa Meneguel e seu pedido de desculpas em que reconhece de forma peremptória que errou. O fato de reconhecer o erro, pedir desculpas e dizer que não há justificativa para sua fala, porque está errada mesmo, não foi suficiente para a esquerda lacradora querer palco em cima do negócio. O desejo de visibilidade torna-nos patéticos e insensíveis… aliás, tão patéticos que lá foram eles fazer uma “carta aberta” para alguém que horas depois de dizer o absurdo que disse voltou atrás e se retratou. 

Gostaria de saber quem elegeu o dono da proposição: “Seu pedido de desculpas, eu vi. Mostra que você não entendeu nada. Não se convenceu de fato que falou uma bobagem descomunal. Você propagou uma ideia nazista. Acorde!” como senhor Deus e juiz dos sentimentos alheios quando, em público, as pessoas vêm se retratar de um erro, assumindo ter errado e não disfarçando o fato?  Gente, o autor dessa nominada: “Carta aberta a Xuxa Meneguel” é mais cruel do que Tomás de Torquemada, qual o padrão para se dizer: “...Seu pedido de desculpas, eu vi… Não se convenceu de fato que falou uma bobagem descomunal”? Ah, já sei! É o padrão Sérgio Moro de qualidade, mais um infeliz que adere ao Instituto Dallagnol de acusação e propalação de boatos, afinal, essa forma arrogante de se portar em relação às pessoas é da Lava Jato. 

Ora, Senhores, o que desejais: que a Meneguel fique nua perante o Cristo Redentor, em praça pública, receba 80 chibatadas enquanto repete o mantra: “… por minha culpa, minha tão grande culpa…” e assim saciar vossos desejos implacáveis por sangue e destruição da reputação alheia? Não sejam ridículos! 

O texto da “carta aberta” propõe uma série de situações prisionais e sociais sugerindo que Xuxa só se preocupa com veganismo e animais abandonados e sequer lembrou, falou, suscitou, a Fundação Xuxa Meneguel para crianças em situação vulnerável que em 2015, durante uma entrevista no 12º Fórum Empresarial de Comandatuba na Bahia, Xuxa declarou que gasta anualmente R$ 1,5 milhão para manter a fundação, o valor é desembolsado por ela há cerca de 22 anos, fazendo a soma chegar a R$ 33 milhões.

Quando Xuxa tomou conhecimento das questões sociais de sua fala, quando um fã a ela escreveu e disse da situação prisional no Brasil, a loira voltou atrás em seus pensamentos e de forma contumaz disse: “… Mas também fiz a mesma coisa, também julguei, também maltratei, usei palavras que não deveriam ser usadas… Quem sou eu para dizer que essas pessoas devem ficar ali ou morrer ali. Se eu faço isso, estou sendo ruim como as outras pessoas que também maltratam outras vidas. Eu errei, me julgaram certo”. 

Se essa fala não foi suficiente para aplacar a ira da fama sobre o erro alheio, o que faz dessas pessoas diferentes dos atores na Lava Jato, em Curitiba? Como podem falar de justiça, sendo que em seus corações impera a injustiça e a condenação? Porque são “Mouros” disfarçados de cristãos piedosos. Quem tem ouvido para ouvir, ouça! 

Esse episódio envolvendo a Xuxa é emblemático. Ela pediu perdão e afirmou estar errada. Desculpou-se, caso você ache que tudo bem, mas… O problema não está com ela. A pessoa tóxica é você, que não compreende nada da vida e nem de suas realidades. Se para você existe um mas em um pedido sincero de desculpas, você precisa urgentemente de um psicólogo, pois você é tóxico.

Espanta-me que entre setores da esquerda a máxima: “quando não se tem algo para dizer se diz qualquer coisa…” tenha valor e voz. Não sejamos inquisidores quando há verdade na expressão alheia. Menos é mais! 

quinta-feira, 18 de março de 2021

O BOM CRISTÃO



Non nobis, domine, domine. Non nobis, domine. Sed nomini, sed nomini tuo da gloriam! (Sl 115,1).
Uma canção antiquíssima na vida da cristandade retirada do livro dos Salmos, entoada, certamente, nos primeiros anos da Igreja, com certeza vivenciada nos mosteiros cristãos, até porque, constam no prólogo da Regra de São Bento os dizeres:
“...São aqueles que, temendo o Senhor, não se tornam orgulhosos por causa de sua boa observância, mas, julgando que mesmo as coisas boas que têm em si não as puderam por si, mas foram feitas pelo Senhor, glorificam aquele que neles opera, dizendo com o profeta: "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai Glória." (RB Prol. 29,30).
Cantada pelos Templários quando venciam algum inimigo, sua melodia é viciante, pena que não o suficiente para transformar a realidade da súplica dessa canção em ação positiva da cristandade. Aliás, que confunde seus interesses pessoais com a glória de Deus.
Uma vez li em um livro da bíblia que: “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação (Rm 13,1). Foi, então, que pensei em Bolsonaro…
O que fizemos para Deus ordenar sobre o povo um “comensal da morte”? Há também uma frase antiga que diz que o líder é o reflexo de seu povo, alguns discordarão e, certamente, dirão: “eu não sou como Bolsonaro!”, às vezes nos imaginamos muito melhores do que realmente somos! Que judeu, em sã consciência, admitiria que matar o filho de Deus é um bom negócio? São pessoas boas, do bem e de bem… Entretanto, matar Jesus (com quem discordavam) não é um mal em si mesmo, ele é desordeiro. Os alemães não eram todos nazistas, entretanto os que não eram não fizeram muita coisa para frear os que eram (não havia alemão protestando contra os campos de concentração, embora Lutero foi considerado o pai dos protestantes) . Como diz uma frase do filme Hannibal: “As pessoas não dizem o que pensam, apenas providenciam para que sua vida não melhore”!
Bolsonaro é o reflexo da morte e sempre foi. Em 1999, em entrevista, ele desejava uma guerra civil no Brasil que matasse 30 mil; sua campanha à presidência da República foi junto aos cristãos fazendo armas com dos dedos; sua política sanitária, na pandemia, depois de eleito é praticamente inócua. Mas Bolsonaro reflete, consideravelmente, o que é a cristandade no Brasil. Ah, claro! Logo saltará algum piedoso dizendo: “eu sou cristão, mas não sou de Bolsonaro!”… É, talvez… O repúdio aos direitos civis dos gays, o repúdio ao pobre estudar e frequentar aeroporto, o repúdio de se preservar minimamente um sistema jurídico garantirista e não punitivista/ elitista, o repúdio por prostituta ter direito, o desejo de juízo sobre os outros, àqueles que pensam diferente de você, mas que não necessariamente são inimigos, o desejo do enriquecimento, do lucro, do dinheiro, do poder e da glória, claro, em nome de Jesus, tudo isso em demérito do próximo e de quem pede pão para saciar sua fome, o torpor da morte em eleger alguém que desde sempre não teve o menor compromisso com a vida, mas é contra o aborto, gays e imoralidade assentam a frase: “as pessoas não dizem o que pensam, apenas providenciam que sua vida não melhore”. Desde que esse desordeiro morra, tanto faz, bandido bom é bandido morto! Crucifiquem-no.
Não só armas matam, os vírus também. Depois de tanto ruminar juízo e devassidão, depois de tanto desejar as facilidades da prosperidade, enquanto a única promessa de Cristo é a vida, Deus certamente deu a nossa nação um líder que é a imagem e a semelhança de seu povo e não, isso não é castigo, é apenas a consequência de não se dar valor ao que é essencial, é o reflexo de não valorizar o que mais foi prezado por Deus em Jesus, a própria vida pelo bem de todos. Bolsonaro é o reflexo do bom cristão!
Kyrie eloison;
Christie eloison;
Kyrie eloison.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Grupa Galo- grupo de militância feminina da torcida do Atlético Mineiro-, não tem senso justiça!



Ser militante e defender causas sociais é algo de extrema importância, defender a inclusão, ser contra o preconceito e estabelecer pautas justas na promoção de uma sociedade mais digna, mais igualitária é um bem almejado. Contudo, não se pode, não se deve, perder-se pelo caminho sob pena de transformar reivindicações legitimas em injustiças sem precedentes, não precisa olhar muito longe, basta ver Curitiba e o que se transformou a saga de Moro e Dallagnol quando, em nome de um pretenso bem, institutos do direito foram ignorados, atravessados, solapados, desprezados.

Às vezes é legal fazer barulho, ter exposição do trabalho nas redes sociais e na mídia, entretanto nem sempre a mídia é positiva, de repente temos que ter o cuidado de separar o joio do trigo, afinal, existe uma parte mercadológica na mídia que se alimenta do barulho. Aqui, parece-me o caso. Chamar o técnico Cuca de estuprador é irreal, até porque a condenação em que foi submetido não é a de estupro. Segundo consta, o fato da sentença ter sido proferida é em razão de uma menor ter entrado no quarto de jogadores. A lei penal na Suíça diz que QUALQUER pessoa com mais de 3 anos de diferença na idade para um menor, que praticar ato sexual com ele, deve ser punida. Veja a ironia: na Suíça, se uma menina de 14 anos namorasse um garoto de 17 anos, o garoto receberia a mesma sentença de Cuca! Segundo, a pessoa que transou com a menina, em ato consentido, só foi apenada pela diferença na idade, afastando a leitura do estupro (que é ato praticado contra a vontade e com violência ou grave ameaça), sendo que Cuca recebeu a sentença de 15 meses de prisão por estar no quarto quando a menina chegou. Não por ter feito nada contra ela ou com ela.

Por que esse lobby agora? Qual a necessidade de se acabar com a imagem de alguém sem dar o direito à pessoa de defesa? Onde estava o Grupa Galo, em 2018, quando a torcida GALOUCURA entoava a plenos pulmões: “oh cruzeirense, toma cuidadado! O Bolsonaro vai matar viado…”?

Não me parece que a pauta seletiva da Grupa Galo seja justa, ou tenha qualquer senso de justiça, dizer que não quer o Cuca no Atlético Mineiro, pois, no passado, ele esteve envolvido em uma polêmica em que foi condenado, oras... não é justo o suficiente! Tem que ser levada em conta as circunstâncias, e elas, as circunstâncias, não autorizam esse barulho, sequer em nome da visibilidade da causa. Quem é o técnico Cuca? Quem é a família do técnico Cuca? Qual é o histórico de vida do cidadão Cuca? Estas perguntas aqui deveriam ter sido feitas pela torcida feminina do Galo antes da difamação e calúnia. Quem é Bolsonaro? Por que o Grupa se cala sobre ele, por que se calou quando Sette Câmara, então presidente do clube, foi tirar foto com ele e dar camisa?

Há outras causas nobres para o Grupa Galo se manifestar, por exemplo, cadê a mobilização ferrenha, combativa e barulhenta das atleticanas do Galo quando a GALOUCURA grita: “BICHA, BICHA, BICHA”, para o goleiro Fábio do Cruzeiro ao bater o tiro de meta?

Qual é o senso de justiça dessa agremiação virtual que não sabe selecionar suas causas e nem se importa que no Direito não haja execração perpétua, por que essa torcida se pauta pelo linchamento moral de alguém que foi condenado em uma sentença duvidosa?


quarta-feira, 17 de junho de 2020

TENHA O CORPO-HABEAS CORPUS: J. K. Rowling seria transfóbica?




TENHA O CORPO-HABEAS CORPUS
J. K. Rowling seria transfóbica?



Em épocas não tão distantes, mas que incompreensíveis ao homem contemporâneo, o corpo, esse pedaço de carne que individualiza os seres, não pertencia ao súdito, mas ao soberano, ao rei, que nesse mesmo corpo, alheio, individual e individualizado, poderia infringir como pena suplícios inúmeros sem quaisquer parâmetros, tão somente, a satisfação da vontade soberana que se igualava à satisfação da vontade divina, a demonstração do poder.

Ora, o suplício servia ao espetáculo, se não houvesse a espetacularização da dor, em vão era o castigo, em vão seria dizer ao súdito que o seu corpo pertencia ao soberano rei e o seu crime atentava contra o próprio monarca. Era preciso tornar visível tal conceito, aos olhos de todos na corte, no reino.

A expressão, comumente usada, hoje, habeas corpus vem dessa época, em que extraída de uma antiga fórmula processual inglesa, utilizada pelo magistrado, ordenava ao carcereiro que se lhe apresentasse o preso. É uma expressão que serve para devolver ao indivíduo o seu corpo, no caso sua liberdade. Não nos damos conta do corpo, porque é uma coisa tão nossa!

O corpo é a nossa expressão máxima de individualização e de limitação, bem ou mal, não sobrevivemos sem ele, bem ou mal, pertencemos a um corpo. No corpo temos nossa história, no corpo temos nossas mazelas, no corpo temos nossas cicatrizes e tudo isso se limita a um corpo!

J. K. Rowling seria transfóbica? Ou apenas se referia a sua experiência de corpo? Há muito, a comunidade LGBT, em prol das letrinhas do alfabeto sem fim, aboliu, ou pelo menos tenta, o termo homofobia para um neologismo de maior visibilidade: gayfobia, bifobia, transfobia, etc. J. K. Rowling milita para que o termo mulher não seja abolido e nisso não há problema algum. Isso não faz ser a escritora homofóbica ou contra a comunidade transsexual.

Todos nós temos a experiência de corpo, porque temos um corpo que nos individualiza, o homem transsexual nasceu mulher, teve parte de sua história como mulher e mesmo que não tenha se ajustado em sua história com seu corpo, vindo a transicionar, o passado não pode ser eliminado de sua história, enquanto indivíduo que chega até essa fase. Isso pertence a ele, é a história dele, faz parte dele, enquanto indivíduo transsexual. Rowling chega a ensaiar tal pensamento quando diz: "Se sexo não é real, não existe atração entre pessoas do mesmo sexo. Se sexo não é real, a realidade vivida por mulheres ao redor do mundo é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a habilidade de muitos discutirem suas vidas de forma significativa. Não é ódio dizer a verdade".

O autor do artigo: PESSOAS QUE MENSTRUAM foi preconceituoso ao contrário de inclusivo, ao excluir os termos de visibilidade “mulheres e homens trans” do ensaio. A comunidade LGBT não pode se assentar em torpeza alheia para justificar a sua própria, é da comunidade LGBT a militância para que essas letrinhas não tenham limites na história do alfabeto em prol da “inclusão e visibilidade”, assim o termo LGBT perde-se em letras várias: LGBTQ+Y- XZWK… agora essa mesma comunidade vem atacar uma pessoa que pede que o termo mulher não seja suprimido de um artigo, em que parte está a coerência dos LGBTs na crítica a essa mulher?

Ouçam o que a pessoa diz: "Respeito o direito de todas as pessoas trans de viverem da maneira que lhes pareça autêntica e mais confortável. Protestaria com vocês se vocês fossem discriminados por serem trans. Ao mesmo tempo, minha vida foi moldada pelo fato de eu ser mulher. Não acredito que seja odioso dizer isso".

Antes de chegar a conclusão de que Rowling está advogando que a identidade de gênero de uma pessoa é exclusivamente definida pelo sexo biológico, tem que se ler, obrigatoriamente, o que ela está dizendo, e o que ela diz é: NÃO EXCLUAM O TERMO MULHER DA HISTÓRIA. Não é ódio dizer isso, mas apenas assumir que ao se ter um copro se tem uma história com esse corpo! Essa história não pode ser suprimida, apagada, esquecida, ou como se nunca tenha existido só por que A ou B transicionaram e ganharam uma nova carteira de identidade, um novo registro, a história pregressa não é sucumbida pela nova fase, mas faz parte dela, faz parte do indivíduo que a vivenciou e não há nada de mal nisso, não faz com que a pessoa seja mais verdadeira do que a outra em sua existência.

Tenha o corpo- habeas corpus- mas antes de tudo: TENHA A SUA HISTÓRIA!

domingo, 26 de janeiro de 2020

GOLEIRO BRUNO E CONDENAÇÃO PERPÉTUA: A FACETA PUNITIVISTA NA CONCEPÇÃO COMUM


 
Goleiro Bruno Fernandes, sua mulher, Ingrid Calheiros, e a filha do casal, de 2 anos, foram para praia de Cabo Frio (RJ) passar o Réveillon 2019/2020


Crime é todo o ato praticado que viola uma norma estabelecida em lei e a esse ato violado, pela lei, é imputado uma pena de reclusão ou detenção, podendo ainda haver multa.

Nas sociedades modernas, o Estado substitui a parte ofendida (vítima, família da vítima e sociedade), assumindo para si a ofensa e o direito-dever de punir o ofensor. Tal ação tem uma razão de ser, a punição não é encarada como vingança nua e crua, em que o transgressor tenha que receber em si o mesmo mal que praticou. Antes, a norma legal, legislada, abstrata, pune a conduta tida como lesiva: matar alguém; provocar lesão corporal em alguém; subtrair para si ou outrem coisa alheia, mediante violência ou grave ameaça...

Assim, a intenção é a desmotivação do ato criminoso por parte do agente e a inibição da reação dos particulares (vítima contra o agressor) de forma desproporcional, às vezes, superior à própria agressão cometida.

Isso acontece para se afastar do modelo de sociedade primitiva, em que uma determinada família, ou um clã de uma tribo, tinha o dever de matar o membro de uma unidade correspondente que havia praticado a ofensa. Era o caso da vingança particular. Entretanto, entre a lei de talião, os suplícios medievais e toda a história do Direito Penal, a humanização da pena é um freio à pretensão punitiva como forma de poder e tirania. Afinal, ainda que o crime seja de homicídio, há na pena imposta elementos que consideram a reprovabilidade do ato, a gravidade social, o sofrimento da vítima e todos os elementos suficientes para que se façam da pena cominada proporcional ao ato transgressor estabelecido pela lei, ao mesmo tempo que desmotiva o uso de suplícios, por exemplo, como forma de oprimir alguém indesejado.

Comumente, principalmente pelo desserviço de setores da mídia que lucram muito com as tragédias pessoais (afinal, as páginas policiais vendem), o Direito Penal vem sendo interpretado como esse meio de vingança particular e, quando não corresponde aos anseios punitivistas,  a sensação de impunidade difundida pelos veículos da imprensa sensacionalista toma sua forma no corpo social.

O caso do goleiro Bruno, em particular, torna-se emblemático. Há um sadismo por trás do grito de justiça, há uma sociopatia, uma perversão assombrosa, alçada em vozes feministas que tentam impedir o famigerado goleiro sua volta aos estádios.

É o caso da jornalista Jessica Senra, que viralizou nas redes, por protestar contra a contratação de Bruno pelo futebol do Fluminense de feira de Santana. Para a repórter o “FEMINICIDA” Bruno não deve voltar ao futebol, pois ele não pode se tornar ídolo.

Há um problema sério aqui, um não, vários: o primeiro vem pelo adjetivo feminicida, vejamos:

O Feminicídio passou a integrar o rol de crimes do código penal brasileiro em 09 de março de 2015, pela lei 13.104 que alterou o art. 121, § 2º, inciso IV; art. 121, § 2º-A, incisos I e II; art. 121, § 7º, incisos I, II e III. Entretanto, o crime atribuído ao goleiro Bruno contra Eliza Samudio teria ocorrido em 10 de junho de 2010.

O que isso significa?

Significa que a repórter, in comento, não pode, não tem esse direito de chamá-lo de feminicida, pois a sentença condenatória transitada em julgado o condenou pelo homicídio e não pelo feminicídio, figura penal que nem existia à época. Para alguém ser considerado feminicida há que se estabelecer se o crime praticado é por conta da condição de mulher, isso deve ficar reduzido a termo na sentença, não é o caso do Bruno, podendo ter havido, inclusive, calúnia contra o goleiro.  Afinal, não basta uma mulher ser assassinada para que o assassino seja caracterizado por feminicida, a vítima, no caso, tem que ter a vida subtraída pelo simples fato de ser mulher, tem que existir o preconceito dessa condição particular. Foi o caso do goleiro Bruno? Não! O tipo penal nem existia à época, não podendo, portanto, retroagir para atingi-lo. O que dirá da discussão em si, em que os elementos para o condená-lo, a tal espécie de crime, sequer foram debatidos.

Outros elementos mostram a perversidade social colocada como uma voz feminista, mas que descaracteriza totalmente o valor do feminismo e suas lutas por condições sociais de igualdade e lugar da mulher, na fala da jornalista Jessica Senra. É o caso, por exemplo, da distorção e contradição de seu discurso ao dizer: “Desejamos e precisamos que pessoas que cometem crimes tenham a possibilidade de refazer suas vidas. Mas diante de um crime tão bárbaro, tão cruel, poderíamos tolerar que o feminicida Bruno voltasse à posição de ídolo?”.

Em que pese o caráter hediondo, onde está na lei que aqueles que cometam tal espécie de crime não possam voltar ao convívio social? Mesmo que, no início da fala da repórter, ela “desejar” que pessoas que cometam crimes refaçam suas vidas, esse desejo é seletivo, à medida que: para alguns crimes essa possibilidade é plausível, para outros não. Uma contradição medonha que aponta para uma crueldade simpatizante: “olha, eu até acho que essas pessoas criminosas possam ser gente um dia, mas o Bruno não!”. É a fala do bandido bom é bandido morto mitigada aos valores da luta pelo empoderamento da mulher, descaracterizando essa luta em um ódio particular (afinal, Bruno não cometeu feminicídio) e preconceituoso.

Preconceito sim, Bruno é negro, nasceu em uma comunidade carente no município pobre de Ribeirão das Neves, é um alvo fácil desse extremismo social de eugenia cultural, explodido no Brasil, e camuflado no cotidiano, mas que ganha força no absconditus revelatus das redes sociais. É a mentalidade bolsonarista, distorcida, que faz mulheres votarem no Messias, mesmo que esse seja manifestadamente contra os direitos das mulheres. Ou a jornalista não sabe o que é, de fato, feminicídio?

O desejo da condenação perpétua àqueles que não estão no mesmo estrato social e cultural de determinada classe reina na concepção mediana, não importa se a voz venha de uma repórter ou apresentadora da Rede Globo de Televisão. É sensacionalismo punitivista, desde o início, em que Bruno ao defender um time sem expressividade alguma, possa vir se tornar novamente um ídolo nacional.

Entretanto, o mais duro: execrado por um feminicídio que não cometeu, talvez um homicídio, mas que não seria suficiente e legalmente capaz de impor a ele uma condenação perpétua. Mas que para a apresentadora da Globo é controle, é política de prevenção à criminalidade, camuflando seu preconceito intrínseco e transformando em uma voz aceitável aos holofotes populares, enquanto bate em “cachorro morto”, propaga seu fascismo sem dar direito ao outro de se explicar.

Essa é a faceta punitivista comum de uma sociedade que carece de representantes capazes de dizer o contrário. Estamos fadados aos imbecis que ganharam relevante voz.