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sábado, 26 de agosto de 2017

A desconstrução da homofobia



Quando Umberto Eco disse que as rededes sociais deram voz aos imbecis, ele resumiu como os 17 primeiros anos do século XXI estão nos desafiando a selecionar o que permitimos chegar através delas a nós. É impressionante como devaneios pessoais, que outrora não passariam de meras esquisitices, ganham ares de intelectualidade e verdade.

Não é sem razão que: os Bolsonaros transformaram-se em mitos, Olavo de Carvalho é dito filósofo, Danilo Gentilli encarado como intelectual... Tempos estranhos, em que o idiota da pequena aldeia consegue viralizar seu ódio pessoal e contaminar milhões.

Na tendência desse início de século, algumas coisas estranhas também acontecem dentro da comunidade LGBT, entretanto, para a surpresa de muitos, a fórmula viral é antiga e a Inglaterra, dela se utilizando, conseguiu jogar árabes contra judeus, ocidente contra oriente.

Na cupidez da inclusão e visibilidade, houve o intento de dar forma a todos os representantes do acrônimo LGBT, sem embargo, penso que a iniciativa é fantástica, afinal, somos uma diversidade conceitual, construindo uma identidade social diferente da imposta pelo modelo heteronormativo. Assim, o nosso modelo é conceituado a partir de nós mesmos, de nossos significados, significantes e orgulho. Foucault já nos dizia isso: inventarmos o nosso jeito de ser homossexuais.  

O tiro no pé de toda essa empreitada veio por aquilo que dentre séculos tem sido a coisa mais sofrível para nós: a homofobia, ou melhor, a desconstrução dela. É modismo no meio reclassificá-la, relativizá-la, dizer dela com outros parâmetros, tudo em nome de uma tendência não refletida, o social, a visibilidade fluída. Tendência perigosa, ardilosa, sorrateira, que faz o preconceito sofrido pela lésbica, homofobia, ganhar o nome de lesbofobia; que faz o preconceito sofrido pelo gay, homofobia, ganhar o nome de gayfobia; que faz o preconceito sofrido pelo bissexual, homofobia, ganhar o nome de bifobia; que faz o preconceito sofrido pela transexual, homofobia, ganhar o nome de transfobia e por aí vai. Qualquer preconceito sofrido por um homossexual, hoje, ele pega, insere dentro da letrinha do acrônimo que se acha representado e diz: “é “X” fobia, ao invés de se enxergar no todo, naquilo que de fato ele é, naquilo que de fato o preconceito lançado contra ele é.

Pode não parecer, a comunidade LGBT talvez ainda não tenha percebido, mas essa visibilidade particular de grupos destrói o consenso, a unidade, enfraquece o movimento como todo. Eu sinto orgulho de ser homossexual, pois eu sou gay, assim todos na comunidade LGBT devem sentir orgulho de ser homossexuais. O preconceito que advém contra nós é pelo fato de sermos atraídos pelo mesmo sexo, não importa qual seja a letra que nos abrace no acrônimo.

Ter movimentos próprios dentro da comunidade é fantástico, mas esses movimentos não podem se encher de “nacionalismos”, fechando-se em seus próprios círculos. Afinal, uma lésbica não é mais homossexual do que um bi, do que uma trans e vice e versa.

A Inglaterra destruiu o império Otomano por acentuar as particularidades das nacionalidades que compunham tal império em demérito do todo. As consequências de tais ações foram: a queda do império, a guerra sem fim dos árabes contra os judeus, a guerra do “Estado Islâmico” contra o ocidente. Ódios plantados pelos ingleses nos séculos XIX e XX, que hoje em dia resvalam em nós.

Dessa forma, quando Mara Maravilha fala de Adão e Ivo na TV, a fala dela não é transfóbica. A fala dela é homofóbica, pois diz do desejo de pessoas que têm o mesmo sexo se relacionarem, coabitarem, constituírem família e terem seus direitos reconhecidos.

É fantástico que todos tenham visibilidade dentro da comunidade LGBT, que todos tenham representações e voz, mas em hipótese alguma essa visibilidade pode ser feita na desconstrução da homofobia, pois ela é real, epistemológica e sua relativização pode nos custar direitos e garantias, pode alimentar o ódio de grupos, contra outros, dentro da própria comunidade.

Nossa primeira identidade é sermos homossexuais, nosso primeiro orgulho é de sermos homossexuais, nosso primeiro preconceito é por sermos homossexuais e aquilo que sofremos na sociedade é HOMOFOBIA.


De resto, são as redes sociais, dando vozes aos idiotas como se fossem idôneos, ou tivessem conquistado algum premio Nobel. 

sábado, 1 de julho de 2017

LGBTT MAIS O QUÊ? : O ACRÔNIMO DA DISCÓRDIA, DA REVOLTA DE TODOS CONTRA TODOS.



Lembro-me com saudosismo da época que minha única preocupação era ser gay e não sofrer  por isso.
Como eu, milhões vivam situação análoga, o armário era uma realidade dizível, confortante e, ao mesmo tempo, assombrosa.

Assombrosa, pois ser arrancado de lá, digamos, era cruel, infame, vexatório para si e para a família, era ter direitos a menos, ou melhor, era não ter direitos, pois sua expressão e individualidade eram negadas pela sociedade como todo, sendo a única opção: calar-se diante do desprezo da família, dos amigos, da igreja, dos colegas, dos vizinhos, enfim, anular-se.

Obviamente que esse saudosismo se faz pela idade que vai avançando (é, estou ficando velho!), os tempos mudaram, as conquistas vieram, nossa luta e inserção obtiveram resultados significativos, embora ainda exista um quê rançoso em ser homossexual, temos direitos reconhecidos, já não somos anulados pela indiferença, ou ignomínia social, o debate avançou, a expressão individual e o direito a ela prevalecem na sociedade, óbvio que sempre acompanhados do preconceito daqueles que não aceitam o que você faz na cama com outro.

Isso faz com que nossa militância permaneça de forma ativa e isso é bom para todos. Não obstante, o meio homossexual é diverso, criativo e... cheio de manias (pois é, é divertidíssimo ser gay!), só para se ter uma ideia, em 2014, nos EUA, surgiu um tal de “Goys", são homens que se atraem por outros homens, mas que não aceitam ser definidos como gays, pois não praticam a penetração anal, de resto, tá liberado!  

Enfim, tanta criatividade em nosso meio e não conseguimos nos afastar da futilidade. Assim, lendo discussões, eu vi o termo GGG, contra uma pessoa, sendo levantado como argumento para se combater uma suposta ideia reducionista. Fiquei assustado, afinal, o que tinha as medidas corporais do sujeito a ver com a questão em si? Na minha época, P era tamanho pequeno, M era tamanho médio, G era tamanho grande, GG era tamanho muito grande e GGG era tamanho especial, roupas feitas para obesos que precisavam de medidas específicas.

Bem, como senti que a coisa extrapolava os meus conhecimentos, fui pesquisar e meu coração apertou. A falta de senso passou a figurar em índices ridículos. GGG é um termo que vem sendo usado para acusar a supervalorização do gay em demérito dos outros representantes da sigla LGBT. A questão é muito séria e o argumento propõe não haver uma homofobia, ou que ela não serve para expressar as necessidades específicas dos grupos como bissexuais (que sofreriam de bifobia), de lésbicas (que sofreriam lesbofobia) e por aí vai.

E, aqui, exatamente, o sinal vermelho acendeu. Nossa luta é contra a homofobia, caso contrário, qual é a violência que uma lésbica sofre, que um bissexual sofre, que um transexual sofre, que uma travesti sofre, antes de ser homofobia? Qual é o horror, o espanto, da condenação sexual da sociedade contra tais grupos que não seja, em  primeiro lugar, as pessoas  com genitálias iguais  praticarem o coito? Isso define a homofobia:  em que se tem homo, termo grego homós, -ê, -ón, e significa, o mesmo, igual, comum;  em que se tem fobia,  termo grego fóbos, -on, e significa, medo, aversão irreprimível. Homofobia= aversão irreprimível do igual, do comum, do mesmo sexo.

Dizer que cada grupo tem uma espécie de preconceito específico gerando uma demanda específica é sofisma, é discórdia, é tentativa de esvanecer a luta que travamos, todos os dias, contra o preconceito que, às vezes, disfarça-se de tolerância, mas continua desejoso em minar direitos e garantias sociais para todos nós homossexuais.

Penso e afirmo que todos  nós temos direto à visibilidade, ao reconhecimento, mas conquistá-lo não pode significar destruir a luta contra o real preconceito por atividades tribais, que contemplarão apenas categorias de uma sigla e não toda a comunidade de homossexuais envolta nessa luta.

Um exemplo disso é querer a inclusão de travestis e transexuais na lei Maria da Penha. Agora, somente travestis e transexuais teriam direto em não sofrer violência doméstica e familiar por serem homossexuais? Cadê o restante da galera? O certo é pleitear uma lei que condene a homofobia e, assim, todos no acrônimo seriam contemplados pelos direitos e garantias.

Fazer luta específica de tribos por conta de uma segregação imbecil, dentro da comunidade homossexual, é enterrar a nossa luta contra o preconceito, pois está trazendo discórdias e nada nos acrescenta. Infelizmente, chegamos a isso: a revolta de todos contra todos. 

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Adão e Ivo, uma variante possível!




O desejo travesti de Adão

por: Renato Hoffmann

Certa vez, eu conversava com um professor de Letras, da UFMG, momento em que me surpreendi com o olhar sobre o personagem Frankenstein, da escritora romântica, inglesa, Mary Shelley. Na ocasião, o professor   relacionou-o como o primeiro travesti da história da literatura. A analogia usada, em tom de poesia, foi muito curiosa, significativa, além de bela e provocativa. De forma contemporânea, claro, sem se dar ao método de uma exposição acadêmica, contudo de uma riqueza inenarrável.

Vez ou outra, escutamos por aí que: “Deus criou Adão e Eva e não Adão e Ivo”, assim sendo, os favoráveis a esse argumento concluem:  “esse mesmo Deus não é a favor da homossexualidade, pois, se fosse, ele teria criado o homem para o homem, a mulher para a mulher e não a mulher para o homem”.
                     
Ora, sabemos que a Bíblia não fala literalmente em um Adão, não o estabelece como um único homem criado. A expressão hebraica para Adão, no sentido amplo, é Adamah: terra, solo, chão fértil e significa, na essência, HUMANIDADE, aquilo que pode ser cultivado, modelado. Há quem diga de solo vermelho. O termo é diferente de eres, que significa terra em oposição ao céu, ao mar, terra matéria, substância, há vários outros sentidos como o político: delimitação de domínio de um clã, de uma tribo, o geográfico: fronteiras, terras delimitadas, regiões.


A narrativa da revelação nos diz que Deus criou o ser humano (´adam) com o solo vermelho, fértil, cultivável (´adamah). Nesse momento não há distinção de gênero; Deus cria a humanidade, ou o ADAMAH.

Filosoficamente o Ser é só, é próprio que o homem viva a solidão, contudo,  ele só se dá conta de sua condição, quando ao seu semelhante percebe e não consegue transpor-se nele, no outro. Assim, o Ser é o que é, e o outro continuará sendo o que é, um sem se transpor no outro, cada um sendo indivíduo de si mesmo. Jean- Paul Sartre dirá nessa perspectiva que o outro é o inferno (o inferno é o outro).

A narrativa bíblica diz que Deus viu que o homem estava só e resolveu criar para ele uma companheira, assim Adão caiu em um profundo sono. Ora, se em um primeiro momento a narrativa fala de uma humanidade, bem certo que os gêneros nela já estejam definidos (mas não distintos), o escritor eloísta, em sua teodiceia, resolve explicar esse sentimento VAZIO do Ser, dando a ele uma companheira. Essa companheira nada mais seria do que o sonho de Adão. Adão sonha consigo mesmo (o sujeito sempre fala de si), Eva, nada mais é do que o desejo de Ser do próprio Adão. Eva é o Adão travestido nas escrituras, é tudo aquilo que o ADÃO não tem coragem de ser, assumindo-se em si mesmo... Eva é a mulher do fruto proibido, da desobediência: é o Adão se libertando do jugo de ser macho e se vendo feminino, percebendo-se delicado, passivo, histérico. Na narrativa ele dorme, enquanto é moldado em si mesmo, enquanto perde a vara, para receber o varão. E nisso Adão se compraz!

Adão e Eva, Ivo e Eva, Adão e Ivo nada mais é, nas escrituras, do que o desejo travesti de Adão.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mamãe já sabe...



Encontrei o texto abaixo no meu antigo blog, o Herege

Tem a data exata em que contei para minha mãe que era gay: 9 de janeiro de 2003. Nossa, já faz mais de 10 anos?

Percebam as reações dela. Preciso mencionar que, às vezes, subestimamos nossos pais.

Ao longo do tempo, mesmo evangélica, minha mãe evoluiu, chegando a me consolar quando fiquei solteiro em 2010.

No meu último aniversário, de 22/08/2013, me deu um de meus melhores presentes, ao dizer que não queria que eu fosse em nada diferente do que sou.

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Mamãe já sabe

por João Marinho



A mensagem abaixo foi escrita para a lista GospelGLTTB, mas, mesmo para quem não tem a mesma tradição religiosa (e os textos e referências serão inócuos), vale a pena ler, para saber quais "revoluções" andam acontecendo na minha vida...

"Então disse Sarai a Abrão: Meu agravo seja sobre ti; minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela agora que concebeu, sou menosprezada aos seus olhos; o Senhor julgue entre mim e ti. E disse Abrão a Sarai: Eis que tua serva está na tua mão; faze-lhe o que bom é aos teus olhos. E afligiu-a Sarai, e ela fugiu de sua face.

E o anjo do Senhor a achou junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no caminho de Sur. E disse: Agar, serva de Sarai, donde vens, e para onde vais? E ela disse: Venho fugida da face de Sarai, minha senhora. Então lhe disse o anjo do Senhor: Torna-te para tua senhora, e humilha-te debaixo de suas mãos"
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Gênesis 16:5-9

Não é do meu costume iniciar um texto para esta lista (GospelGLTTB) por uma passagem bíblica. Sabemos que nós temos interpretações diferentes da Palavra e, eventualmente, uma mesma passagem terá significados diversos que serão arduamente debatidos por aqui.

Entretanto, eu não podia deixar de colocar este texto, porque foi o que me veio à cabeça logo depois do que ocorreu hoje. Hoje, por volta das 9h da manhã, contei para minha mãe a verdade sobre minha sexualidade. Com isso, agora apenas o meu pai resta saber, pois, no final do ano que passou, descobri que minhas duas irmãs já tinham conhecimento de tudo.

O que ocorreu a respeito das minhas irmãs foi algo um tanto complexo, e a história, que se iniciou com um e-mail que recebi por esta mesma lista (aquele que o Paulão enviou à sua mãe e redirecionou para nós), é muito grande e não convém relatá-la detalhadamente aqui. Eu gostaria, porém, de pedir que vocês acessassem meu blog nos endereços abaixo e lessem os posts, pois eles contam tudo a respeito (NR: desnecessário fornecer os links aqui, no Herege, pois seus leitores, é claro, já sabem de tudo).

Com relação à minha mãe, eu não tinha em mente contar para ela hoje. Acordei atrasado para o trabalho, me arrumei e acabamos conversando sobre diversos assuntos, e Deus foi envolvido na conversa. Foi, então, que, tencionando lhe fornecer mais algumas pistas sobre mim, falei que havia certas coisas a meu respeito que ela não sabia, e que eu ainda não tinha achado o momento para contar – que seria definido por Deus.

No final de tudo, resumindo, ela me perguntou se eu era gay. Respondi na lata: "sou". Também lhe contei que o Wagner é meu namorado, que todos os meus amigos, companheiros de trabalho, colegas da faculdade e etc. sabiam a meu respeito e que o único local que ainda restava na condição de "não saber" era, oficialmente, minha casa.

A conversa transcorreu de forma mais tranqüila do que eu pensava. Evidentemente, ela disse que não aceitava, mas a reação foi similar à de minha irmã mais velha: ao que parece, não mudará, ao menos por enquanto, a relação carinhosa de mãe e filho.

Minha mãe chegou a arriscar certas frases típicas, do tipo: "era tudo o que eu não queria", "a gente cria um filho na igreja, dá tudo por ele, e resulta nisso", "você sabe o que a Bíblia diz sobre isso", "homem com homem é muito feio" e "deveria buscar a Deus e pedir para te livrar".

Eu lhe respondi. Disse que não havia motivos para se considerar a homossexualidade tão horrível, que não ia entrar em questões religiosas, mas que tinha razões bem concretas para saber que Deus nada tem contra mim, que já o busquei e essa foi a resposta que Ele me deu. Falei da passagem em que a Bíblia fala que os efeminados não entram no reino do céu, dizendo que, há algum tempo, a palavra original era traduzida por masturbadores.

Disse-lhe que orasse, para que Deus a ajudasse. Que se fosse da vontade Dele, por sua vez, que me casasse com uma mulher e tivesse filhos, que assim fosse, pois eu não resistiria: ao contrário, já até tinha procurado por isso, durante anos. Só que, para mim, a resposta de Deus já estava dada – e não envolvia nada daquilo.

Disse mais: que ela poderia me magoar com aquela história de ter me criado na igreja e ter dado tudo por mim, pois parecia que eles tinham falhado em minha criação e que eu era o pior dos seres simplesmente por amar outro homem, quando, na verdade, sempre me constou que eu era um bom filho: ajudava e ajudo em casa, nunca lhes levei problemas, nunca me viram envolvido em bebedeiras, usando drogas ou coisa do tipo.

Isso, disse eu, é que é importante e deveria ser levado em conta nessa hora, pois é a comprovação de que eles não falharam e de que o que aprendi, carrego comigo. Ela se desculpou, disse que não queria dizer que eu era um mau filho, que estava com a cabeça quente.

A conversa, assim, foi sem sobressaltos, e eu me mantive tranqüilo em todo o tempo. Apenas minha mãe disse que eu nunca falasse nada para meu pai (que é do tipo "machão do Nordeste"), pois ele me admira muito e tem orgulho de mim, e, se eu falar, ele é capaz de morrer. Além disso, ele está numa péssima fase estressada.

Eu lhe disse que morrer, ele não morre (pode até me pôr pra fora de casa, mas não morrer...) e que não falarei "amanhã". Mas, em algum dia, ele deverá saber porque não posso seguir enganando as pessoas, e a descoberta pode vir por outros meios, inclusive pela boca de terceiros.

O que posso dizer é que tudo ocorreu como ocorreu porque Deus, creio eu, estava comigo. Ainda nesta semana, orei a Ele depois de um acontecimento chato com um wallpaper do meu computador (NR: vocês leram sobre isso aqui, no Herege) e pedi que Ele assumisse a direção, que mostrasse a hora certa e a forma certa de contar para meus pais, que eu não iria mais me preocupar com o assunto. A hora, ao menos da minha mãe, veio. Deus deve ter me ouvido, assim como ouviu com relação às minhas irmãs.

No momento, estou um tanto confuso, como quando soube que minhas irmãs já sabiam a verdade. Não sei o que sentir. A situação e a angústia de não saber o porvir já me fizeram chorar por mais de uma vez, junto ao meu fofucho, desde o início do processo. Mas a época da depressão e do desespero já passou, ficou alguns anos para trás, quando eu esquecia de contar as bênçãos (como já pus aqui*) e pensava que Deus não me ouvia e me rejeitava por um "pecado tão vil", quando pensei que morrer seria o melhor para todos.

Deus me tem mostrado que não é assim, que nunca foi assim, a despeito do que outros tantos tenham a dizer em contrário. Talvez o choro seja fruto da perda do controle da minha vida e da queda de todo um castelo de mentiras que criei ao longo de minha adolescência. É difícil ver uma construção sua caindo, mesmo que mentirosa.

O texto de Gênesis me veio à cabeça (Deus?) porque a primeira idéia que tive foi não ir para casa hoje. Liguei para ela posteriormente, aqui do trabalho, para ver como estava, se chorava, etc. Não estava chorando e conversamos normalmente. Talvez o início seja mesmo difícil, mas eu não devo tentar fugir: é hora de enfrentar a minha senhora. Ainda bem.

(*NR: i. e., na lista GospelGLTTB)

terça-feira, 30 de julho de 2013

Estratégia católica?

Francisco e os gays

por João Marinho

De verdade, penso que nós, LGBTs, devemos ter cuidado com Jorge Mario Bergoglio, atualmente conhecido como papa Francisco. Tenho visto muitos empolgados com suas declarações recentes, de que gays não devem ser marginalizados, e até dizendo que ele “defendeu nossos direitos”.

Na verdade, não defendeu, não.

Na continuação da entrevista, ao falar sobre o “lobby gay” no Vaticano, ele declarou que o problema não era a orientação sexual, mas o “lobby” envolvendo a orientação – e que o problema estava em qualquer “lobby”.

É uma declaração dúbia, que tanto pode ser entendida como uma crítica direta aos bastidores nem sempre limpos da política e do alto escalão vaticano – quanto, mais perigosamente, pode ser entendida como uma “condenação generalista”, de que qualquer “lobby gay” é algo a ser visto com desconfiança.

O problema é que, no Ocidente, a maioria dos países vive em regimes democráticos. A união de grupos em torno de interesses comuns faz parte da democracia e é saudável, como já observava Alexis de Tocqueville em sua obra A Democracia na América, análise do regime norte-americano.

Só que, para os adversários de uma demanda, qualquer união nesse sentido pode ser entendida e referida, negativamente, como “lobby”. Do ponto de vista geral, lobby é a pressão que grupos organizados fazem em cima do poder público para aprovar suas propostas, mas, do ponto de vista restrito e negativo, é a mesma pressão visando a atender a interesses privados, em vez de uma genuína preocupação com a coisa pública.

Seria “lobby” a tentativa LGBT de instituir o casamento homoafetivo, o reconhecimento da identidade de gênero dos/as transexuais e o acesso à cirurgia, a proteção contra a homofobia? Para os adversários, sim, e de forma negativa – afinal, não argumentam eles que são demandas que “atendem somente a uma minoria” e não representam “avanço” para a coisa pública? Ora, se lobby é ruim, como disse Francisco, como é que fica, então, a pressão política LGBT para aprovação de suas demandas?

Pensando assim, a frase de Francisco sobre integrar os gays à sociedade ganha outros ares. Uma vez que ele não vai – e nem pode ir – contra o catecismo oficial da igreja católica, essa integração pode ser entendida, também, do ponto de vista heteronormativo. Vale informar que o catecismo faz diferenciação entre orientação sexual e ato sexual. Uma vez que uma pessoa é homossexual, é sua “cruz” praticar a castidade, segundo o catecismo, pois os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados.

A que integração Francisco se referiu, então? Ok, não se pode julgar os gays que buscam a Deus e estes devem ser integrados à sociedade – desde que mantenham a prevalência da heterossexualidade como único caminho digno e desistam de fazer “lobbies” em torno de seus direitos mais fundamentais, contra os quais a igreja católica formalmente se opôs em todos os países em que foram levados à discussão? Garanto que muitos não viram as declarações por esse ângulo – mas vejam o perigo...

É claro que é difícil dizer a real intenção de Francisco sem cair em injustiça ou especulações vazias. No entanto, dado o histórico da igreja católica e a atitude dos últimos dois papas que pude conhecer em vida (Jesus, como tô velha!), os patentemente homofóbicos João Paulo 2º (que vai ser canonizado pelo mesmo Francisco!) e Bento 16, que vociferavam – ainda que disfarçadamente, com voz doce – contra nós outros e nossos direitos até em pronunciamentos de Natal, eu diria que “pôr as barbas de molho” é a coisa mais certa a fazer. Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém, não é assim?

Também não podemos deixar de ter em mente que, enquanto cardeal, Bergoglio se opôs veementemente à aprovação do casamento gay sob o governo de Cristina Kirchner, na Argentina – e não apenas como religioso, mas incutindo-se na esfera pública para influenciar a política de um Estado laico, o que é sempre perigoso... Um... Lobby? Curioso, né? E não, Bergoglio e Francisco não são duas pessoas diferentes só porque trocou o homem de nome. A encíclica escrita a quatro mãos com Bento 16 reforçou seu histórico de oposição a tais direitos de homossexuais, inclusive – e, mesmo não sendo eu católico, sei perfeitamente que uma encíclica tem mais importância que uma declaração a jornalistas.

Há, porém, ao menos um fato que merece ser analisado positivamente nas declarações de Francisco. O tom com que falou dos homossexuais representou, de fato, uma mudança na abordagem feita por seus antecessores. Enquanto cardeal, diz-se, se opôs ao casamento gay, mas admitiu a união civil. Eu diria que a dubiedade a que me aludi mais atrás, inclusive, não foi fora de propósito.

Francisco está francamente atrás de conter o escape de fiéis, e assim, você pode não ter notado, mas, sob o “manto do amor”, tem reforçado os dogmas católicos. Reza com pastores na assembleia de deus, mas a posição de que a igreja católica é a única onde encontrar a salvação está “positiva e operante” como nunca. O papa, no fim, é pop e bastante inteligente – um excelente garoto-propaganda, que se mostra humilde e conquista simpatia, ao mesmo tempo em que solidifica a ideia de correção e hegemonia de tudo que é dito por sua igreja. Para o bem e para o mal. Isso pode ser percebido na questão dos gays, se minha chave interpretativa estiver correta.

Embora suas declarações possam ser um “morde e assopra”, têm a vantagem, que também não me é casual (ele é inteligente, lembre-se!), de marcar uma diferença entre a forma católica e a forma não católica (em outras palavras, evangélica) de tratar a questão. As reações de Silas Malafaia e Marco Feliciano, respectivamente, à popularidade e ao discurso de humildade do papa e à declaração sobre gays mostram que eles também sentiram isso – e se incomodaram, mesmo negando.

Se o papa estiver mesmo engajado numa “guerra fria” contra as religiões evangélicas – mordendo-as e assoprando-as também –, religiões essas que, via políticos fundamentalistas, têm se tornado uma verdadeira pedra no sapato do Brasil laico, tanto melhor. O inimigo do meu inimigo é meu “amigo”. Entretanto, enquanto LGBTs, precisamos ser maquiavélicos (no sentido de Maquiavel), saber aproveitar esse momento, mas estar cientes de que essa “amizade” vai até à página dois, antes de ir beijar os pés de Sua Santidade. Todo cuidado é pouco: e essencial para que não compremos um cordeiro e terminemos com um lobo nos devorando em casa.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Amor gay no cinema


SETE PASSOS PARA CRIAR UMA "HISTÓRIA DE AMOR" GAY NO CINEMA


por João Marinho

1- Crie um ambiente bem homofóbico. Pode ser de uma cidadezinha do interior a uma igreja... Mas o preconceito tem de grassar.

2- Junte um personagem que se aceita gay (a "bicha") apaixonado por um que não se aceita, ou mesmo é hétero (o "bofe").

3- Faça com que os dois vivam um caso de amor. Melhor ainda se for amor só pra "bicha": pro "bofe", só sexo ou ele não admite que é amor.

4- Coloque uma personagem hétero fofoqueira e bisbilhoteira para descobrir tudo e espalhar a notícia. Pode ser um homem também.

5- Faça com que todas as pessoas do ambiente bem homofóbico se virem contra o casal – e que ele sofra bastante.

6- Depois do sofrimento, faça com que o "bofe" descubra que sempre amou a "bicha" – ou que a "bicha" descubra que ele é só um aproveitador.

7- Mate a "bicha". De preferência, de forma bem trágica. Se for demais, que ela viva, mas termine sozinha e infeliz.

FIM

Sinceramente, não está na hora de os roteiristas pensarem em algo diferente, não?

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Triângulos Rosas




Dia do Orgulho Gay



por João Marinho


Não se confunda. Eu realmente gosto da Bandeira do Arco-Íris, um dos símbolos mais conhecidos da comunidade LGBT.

No entanto, para mim, como homem gay, nenhum símbolo representa o espectro gay da comunidade e sua luta particular contra a homofobia mais que o Triângulo Rosa.

A ideia do uso do Triângulo Rosa é verdadeiramente bela. Este símbolo foi usado em campos de concentração durante a era nazista, para identificar prisioneiros homossexuais masculinos.

Vermelho, verde, azul, roxo e preto foram as outras cores usadas para identificar, respectivamente, inimigos políticos (especialmente comunistas), criminosos comuns, emigrantes (prisioneiros de outros países), Testemunhas de Jeová e pessoas consideradas "antissociais". Lésbicas estavam entre elas. Amarelo foi a cor para os judeus. Vejam em: http://s769.photobucket.com/user/Infidelzfun/media/historical%20data/2.jpg.html.

Quando os aliados atacaram o Terceiro Reich, cada um dos prisioneiros dos nazistas foi libertado – exceto os homens gays. Eles tiveram de esperar, porque a homossexualidade entre homens ainda era crime sob a lei alemã – o Parágrafo 175 –, mesmo antes da era nazista.

Para mim, isso representa as dificuldades de ser um homem gay. Mesmo em um contexto de liberdade, as pessoas podem manter seu preconceito contra nós. Só no final dos anos 60, a homossexualidade entre homens foi derrubada como crime, tanto na Alemanha Oriental quanto na Ocidental, mas resquícios foram mantidos até 1994, após a reunificação, quando o Parágrafo 175 foi completamente cancelado.

É uma história interessante e romântica que o Triângulo Rosa tenha sido usado por homossexuais como um símbolo de luta, de serem orgulhosos de si mesmos, mesmo durante o período da Rebelião de Stonewall. Rebelião que começou em Nova York, em 28 de junho de 1969, e marca o atual Dia do Orgulho Gay.

Os presos homossexuais sob a era nazista (e depois) foram heróis, e eles ainda são, em países em que a homossexualidade ainda é crime, como na maioria dos muçulmanos. É por isso que, para mim, chamar o movimento gay de "gayzista" é uma das piores ofensas dirigidas a nós. É triste que venha se tornando tão popular no Brasil entre os evangélicos.

Para mim, minha homossexualidade é uma marca de orgulho. Não porque ser homossexual me dá algum tipo de poder ou habilidade específica, mas porque, na minha vida, minha sexualidade foi uma porta, pela qual eu passei, e me ajudou a desenvolver a empatia, ser mais compreensivo, mais flexível e até mesmo estudar mais, apesar da minha criação dentro da Igreja Batista.


Sou uma pessoa melhor agora porque me descobri gay, o que me levou a abandonar as ideias conservadoras e retrógradas, que antes apoiava. Então, seja orgulhoso, seja feliz. E pense nos heróis LGBTs que ainda estão entre nós.

sábado, 2 de março de 2013

O PT trai novamente a comunidade gay



O Partido dos Trabalhadores vem fazendo uma política desastrosa em relação às demandas gays. Óbvio que para o partido, hoje, o apoio dos evangélicos parece seduzir e para se ter a convergência cristã,  ele tem que  crucificar o direito dos gays.

Nada, entretanto, dificultoso para o PT, que quando precisou usar os LGBT(s) como moeda de troca  para blindar o então ministro da casa civil, Palocci, não hesitou... e, na voz da presidente Dilma,  declarou: 

“Não aceito propaganda de opções sexuais. Não podemos intervir na vida privada das pessoas”.

 Tal declaração foi feita pela presidente em convergência aos interesses da bancada evangélica, que ameaçava assinar um pedido de CPI, contra o ministro Antônio Palocci, caso o Kit anti-homofobia não fosse suspenso. 

Dilma foi mais além, nomeou o bispo Marcelo Crivella como ministro em seu governo, suspendeu os vídeos de campanha de preservação contra o vírus HIV, que abordavam o relacionamento homossexual, por vídeos que não polemizassem, ou não trouxessem desgostos aos evangélicos.  Secretarias ligadas aos LGBT(s) reclamam de parcos recursos para sua atuação efetiva e, como se não bastasse, em mais uma manobra política, o PT deixa a Comissão de Direitos Humanos nas mãos do PSC, que colocará o pastor Marco Feliciano à frente, na presidência da comissão.  Esse último feito, depois de Dilma lançar sua pré-campanha à presidência em 2014.

Meu compromisso com esse quadro social, que aí está, chegou ao fim! Se Dilma e o PT podem trair a confiança de quem os apoiou, então Dilma e o PT já não são dignos de representar os LGBTs. E acho estranho, por exemplo, que petistas venham com um discurso manso, falando das décadas de 1960-80, período da ditadura militar, querendo evocar certo heroísmo a um passado de militância às causas sociais de Dilma, como se esse passado bastasse no presente, como se aquilo que foi feito no passado desse o direito da traição presente. Ora, lutar por lutar Fernando Henrique Cardoso lutou, José Serra idem... Militantes do PT pensam que estão lidando com quem?

Para muitos, dentro do PT, crítica válida é a crítica de se fazer barulho nas ruas em manifestações e ser torturado pelo governo militar, fora dessa época nada é válido, a internet não presta, qualquer outra crítica não traz fidedignidade. Enquanto os mesmos usam de todo o expediente virtual para sabotar o PSDB, por exemplo, e quando fazem isso, encontram razão plausível, aceita, bem-vinda! Hipocrisia? O PT se acostumou a ela...

Um militante do PT, raivoso por eu ter escrito que Dilma é uma presideANTA, afirmou em um debate para mim, que comunidade é coisa de Lecy Brandão e que, provavelmente, o meu contexto é permanecer em guetos, isolados. Discordo do fato simplório do militante, herói da bomba, conceituar a comunidade como coisa de Lecy Brandão, há um quê de preconceito e racismo aqui! Mas concordo com ele, quando afirma meu contexto de gueto, Dilma, a presideANTA, não está dando chances a comunidade LGBT, e meu contexto é de isolamento, pois o governo da presideANTA empurra às margens a comunidade gay com políticas pró-cristãs. Nesse aspecto, acertou Paulo Rezende, meu contexto é de gueto, pois a presideANTA do Brasil está nos empurrando às mazelas da mediocridade e da segregação por não tolerar direitos iguais à comunidade gay.

Sendo assim, rompi mesmo com o PT: #foraDilma!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Justiça de BH autoriza casamento homossexual


Carlos Eduardo e Jorge irão formalizar união em abril próximo

Eduardo e Jorge: autorização para casamento foi publicada na sexta-feira no Diário Oficial de Minas Gerais
Estado de Minas: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/26/interna_gerais,352968/justica-de-bh-autoriza-casamento-homossexual.shtml


Em 16 de abril, o cartório do 2º Subdistrito de Registro Civil fará mais um casamento em Belo Horizonte. Os noivos escolheram a data com cuidado, de forma a coincidir com o dia do início do namoro, quando os dois se conheceram, há sete anos. Como se trata de uma cerimônia apenas no civil, os familiares queriam oferecer um almoço, mas eles recusaram a gentileza. Fazem questão de brindar os amigos e a família com uma recepção. Esses seriam os proclamas de um casamento qualquer, mas se torna especial no momento em que se revela os nomes dos noivos em questão. 

Com autorização da Justiça, publicada na última sexta-feira no Diário Oficial de Minas Gerais, o consultor de negócios Carlos Eduardo Guimãraes de Oliveira, 31 anos, e o analista de TI Jorge Chediack Miguel, 30, passam a ser o primeiro casal homoafetivo a se unir no civil em Belo Horizonte, exatamente como fazem os noivos heterossexuais. Eles vão adotar os sobrenomes um do outro (Chediack e Oliveira) e vão se casar no regime de comunhão total de bens. Como padrinhos e testemunhas, terão os amigos Erica Regina e Wagner Lopes, da parte de Eduardo, e do lado de Jorge, o irmão dele Guilherme Chediack e a amiga Natália Figueiredo. “É o natural da vida se conhecer, namorar, noivar e casar. Já temos planos para os próximos cinco anos, como conhecer o mundo e futuras aquisições de imóveis. Ainda não pensamos em adotar filhos”, relata Eduardo.

Eduardo e Jorge moram juntos desde 2005. Em 2010, passaram a viver uma união estável, legalizada por meio de escritura pública. Com base na decisão do juiz Valdir Ataíde Guimarães, da 11ª Vara de Família de Belo Horizonte, conseguiram converter a união estável em casamento. Segundo os termos da sentença, seus efeitos jurídicos e legais serão retroativos a 2005. “Cansaram de dar conselhos para a gente ir a Manhuaçu ou a cidades do Nordeste onde o casamento gay já é aceito, mas eu queria casar na minha cidade, por mais que ela tenha fama de conservadora”, afirma Eduardo. 

É o primeiro caso de casamento civil homoafetivo na capital mineira a se tornar público desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a união homossexual à heterossexual, em maio de 2011. A decisão do STF, de 2011, não é equivalente a uma lei sobre o assunto. O artigo 1.723 do Código Civil estabelece a união estável heterossexual como entidade familiar. O que o Supremo fez foi estender esse reconhecimento a casais homossexuais. “Eles comprovaram ter o verdadeiro intuito de formar uma família”, afirma a advogada Giulianna Sena, autora da ação. 

Convivência 

No decorrer do processo, ajuizado em novembro passado, a advogada orientou os dois a demonstrar a convivência pública, duradoura e contínua. Para tanto, eles apresentaram fotos onde aparecem juntos em situações de família, com os próprios pais e com amigos em comum. O casal anexou ao processo declarações de amigos e colegas de trabalho, autenticadas em cartório, e até a declaração da proprietária do apartamento que eles alugavam, que testemunhou a favor das reais intenções dos noivos. 

 “Sei que a decisão vai provocar antipatia em muita gente, porque o preconceito ainda é grande”, avalia a advogada, que omitiu da própria família estar cuidando do caso. “Venho de uma família muito católica, vou à igreja, mas depois que passei a conviver com eles percebi que são bem posicionados socialmente e formam uma família de muito respeito”, diz Giullianna. “Eles são aceitos pelos pais do Jorge. Eduardo já não tem mais família, mas a mãe dele chegou a conhecer o Jorge. Também são muito queridos entre os amigos”, acrescenta a advogada, que considera a decisão da Justiça mineira um avanço. Em outras capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, autorizações semelhantes vêm sendo concedidas há um ano e meio.

Memória
Primeira permissão em Manhuaçu


O primeiro casamento homossexual com registro civil em Minas Gerais foi realizado em março do ano passado em Manhuaçu, na Zona da Mata. Wanderson Carlos de Moura, de 34 anos, e Rodrigo Diniz Rebonato, de 18, foram autorizados pela Justiça local a oficializar a união. O ato abriu caminho para que outros relacionamentos fossem formalizados no estado. Wanderson e Rodrigo entraram com uma ação na Justiça, com base na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo. O juiz da comarca, Walteir José da Silva, acompanhou o posicionamento do STF, que considerou a união estável de pessoas do mesmo sexo como uma unidade familiar.

Querem desprestigiar os gays!



O Vaticano lançou uma crítica sobre a matéria publicada nos meios de comunicação, em que afirmava que havia um lobby gay, infiltrado na Sé romana, capaz de influenciar os cargos mais importantes da instituição, promovendo pessoas ou demovendo-as.

Assim, na crítica, o Vaticano afirmou que estavam tentando caluniá-los, bem, o termo calúnia nem deveria ter sido empregado, uma vez que, juridicamente, calúnia é imputação de falso crime às pessoas. Mas, a crítica trouxe um quê... um desprestígio, ou uma tentativa do mesmo, ao associar o Vaticano às relações homoafetivas.

Pois bem, de fato, houve um desrespeito, um desprestígio, mas não ao Vaticano, desprestígio e desrespeito aos gays, em serem nivelados por baixo, igualados à máfia papal, difamados como manipuladores de um conservadorismo hipócrita, onde, na realidade, não passa de uma “gaiola das loucas”, que joga lama para todos os lados, em um comportamento gay demente, subjugando a todos num jogo de interesses espúrios, em que, no final, prevalece  o sexo desenfreado!

Desrespeito aos gays, em sugerir que são dissimulados e propagadores da própria homofobia cultural que a instituição católica apregoa durante milênios de sua existência.

A tentativa de colocar no cenário do Vaticano homossexuais dementes, enrustidos, lutando por um poder espúrio, é molecagem de uma reportagem sensacionalista, que desrespeita a causa gay e o sofrimento da mesma população, que luta por DIREITOS IGUAIS nas sociedades em que se inserem.  

Colocar os gays como seres poderosos dentro do vaticano é debochar da comunidade gay, da sua consciência, da sua expressão, no mundo! 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Censura magistrado?




Obviamente, que nesse momento, em que produzo nessas laudas esses rabiscos, meus olhos lacrimejam. Não tanto sem razão, mas, sobretudo, pela falta da mesma, em que o injustificável se torna justo, o insensato se torna nobre e a insanidade passa ser almejada no rol das normalidades, não patológica, que conduzem a boa qualidade de vida para uma população qualquer, que não pensa por si mesma.  É quase que um sentimento nazista! Essa história de que: “posso não concordar com nenhuma palavra que você disser, mas defenderei, até a morte, o direito de você dizê-las.”, tem um fulcro perverso, quando, retirada do ideal iluminista, que defende a liberdade, e passa ser usada de forma a privilegiar a liberdade de uns falarem e de outros se calarem ETERNAMENTE.

De fato, a sensação é de se estar na Europa na década de 1940, sob bombardeios, insultos, gente tentando sobreviver em um modelo meticulosamente planejado, por alguns nobres nacionalistas, que exaltavam a fé cristã, em um radicalismo doentio, e estouram a Segunda Guerra Mundial , essa liderada por um exército nazifascista perseguidor, preconceituoso, devastador.

A raça que deveria prevalecer era a ariana, e em nome da liberdade dessa raça se expressar, todos os outros grupos, que estavam fora dos valores por essa raça defendidos, deveriam ser exterminados, silenciados. Então, em nome da legítima LIBERDADE DE EXPRESSÃO, os nazistas massacraram 6 milhões de judeus, afinal, eles não gostavam deles, e se expressaram da forma mais íntima e livre que às LEIS ALEMÃS assim permitiam. Enquanto os nazistas se EXPRESSAVAM LIVREMENTE, nesse  direito absoluto de dizer, homossexuais, ciganos, Testemunhas de Jeová, judeus,  negros, etc... Deveriam ser silenciados, exterminados.

Assim, entendeu, em nome dessa LIBERDADE DE EXPRESSÃO ABSOLUTA,  o senhor magistrado, Victorio Giuzio Neto, que Silas Malafaia não deve ser censurado no seu direito de atacar a comunidade gay, e, enquanto reina a legítima liberdade de expressão ABSOLUTA de Silas Malafaia, os gays vão sendo silenciados, humilhados, massacrados, e ao invés de poderem responder, ter o mesmo espaço, a mesma paridade de ações, a eles cabem o inconfundível direito de desligarem a televisão, ou mudarem de canal!

Brilhante sentença excelentíssimo doutor juiz federal , Victorio Giuzio Neto, professor da PUC-SP, afinal, poderemos  continuar assistindo, todos os dias, pelo Brasil a fora, o direito de liberdade ABSOLUTA  de expressão de homens e mulheres que não gostam de homossexuais, poderem se expressar agredindo-os, matando-os, denegrindo-os, insultando-os, enquanto aos mesmos caberá a liberdade de gritar de dor, essa expressão magnífica da existência,  enquanto são espancados por seus algozes que também, nada mais fazem do que a legítima manifestação da BOA EXPRESSÃO!

Agora, excelentíssimo juiz Victorio Giuzio Neto responda uma pergunta, faria o senhor parte da  UJUCASP? 

sábado, 28 de abril de 2012

Jerusalém: o desafio de ser gay na cidade "sagrada"

REPORTAGEM DO OPERA MUNDI




Apesar de reunir uma pluralidade de crenças e estilos de vida, a intolerância contra homossexuais ainda é grande






Uma terra de contrastes. Ao mesmo tempo em que Jerusalém é considerada sagrada por três religiões monoteístas – o cristianismo, o judaísmo e o islamismo – e reúne símbolos e pessoas tão diferentes entre si, é também terreno sinuoso para a manifestação de direitos civis. A cidade abriga uma comunidade homossexual vibrante, mas que frequentemente é alvo das camadas mais conservadoras.

Em Jerusalém, há apenas um bar gay e a realização da Parada do Orgulho Gay foi um direito conquistado após muito esforço. Ela reuniu quatro mil pessoas em 2011, que exigiram a aprovação de uma legislação que proteja os homossexuais em Israel. Indignados com o desfile, grupos de judeus ortodoxos protestaram em diversos pontos da cidade, controlados por cerca de mil policiais espalhados por Jerusalém -- alguns chegaram a agredir os participantes do evento. Em junho daquele ano, a marcha em Tel Aviv conseguiu reunir 70 mil pessoas.

“Embora não existam tantos homossexuais quanto em Tel Aviv, todos os anos Jerusalém atrai milhares de ativistas gays para participar da marcha, para mostrar que, mesmo que os religiosos nos considerem ‘sujos’, esta é nossa cidade também”, comenta A.S. um membro da comunidade homossexual da cidade.


Apesar das diversas ameaças de morte que recebem ano após ano durante a parada, a marcha anual se supera cada vez mais em termos de assistência e organização. “A diferença entre a nossa marcha anual e a de Tel Aviv e outras partes do mundo é que, em Jerusalém, adquire também um significado de luta pelos nossos direitos e contra o ódio que uma ampla maioria da população de Jerusalém sente por nós”, acrescenta Natalie V., uma belga que desembarcou em Jerusalém há cinco anos.

Natalie, que há cinco anos namora uma mulher israelense, é prova da dualidade do estado de Israel em relação à homossexualidade. Embora Israel seja um país democrático, o judaísmo ortodoxo interfere em muitos assuntos civis, incluindo os casamentos. Em Israel, é impossível realizar um casamento civil, mesmo entre heterossexuais. No entanto, em uma distorção, estão permitidas as uniões homossexuais, inclusive se uma delas for estrangeira, como é o caso de Natalie.

“É curioso que isto seja possível em um país onde predomina tanto a religião. Eu quero deixar claro que em Jerusalém e Israel, até o momento, não tive nenhum problema por andar de mãos dadas com a minha namorada, nem por darmos um beijo”, diz. “No entanto, trabalho com uma família ortodoxa judia e não comentei nada sobre a minha orientação sexual em quase quatro anos", conta Natalie.

Ultraortodoxos caminhando ao lado de uma mulher muçulmana usando o véu e uma menina de minissaia logo atrás são cenas comuns nas ruas de Jerusalém. E é nessa heterogeneidade que, no final, reside uma espécie de acordo tácito de não agressão. Embora, às vezes, essa bolha possa estourar, como aconteceu durante a Parada do Orgulho Gay de 2005, quando um judeu ultraortodoxo esfaqueou vários participantes. Atentado pior aconteceu à comunidade gay de Tel Aviv, quando uma bomba matou duas pessoas e feriu uma. O culpado, um colono da Cisjordânia, afirmou que os homossexuais são “animais”.

Portanto, apesar da mescla aparentemente suave entre religiosos e seculares em Jerusalém, assim como no resto do país, uma tensão soterrada pulsa abaixo da superfície. “Aqui, em geral, como os gays não carregam um cartaz dizendo ‘sou gay’, não há tantos problemas, mas também você não vai dar um beijo em outro homem em Mea Shearim (o bairro ultraortodoxo), não queremos provocá-los em seu bairro”, diz Adam.


Segundo ele, porém, o resto da cidade é de todos. O bar Mikve, antes conhecido como Shushan, na rua Shushan, foi o primeiro voltado para o público gay a ser aberto na cidade. O lugar está vivendo uma nova era dourada depois de permanecer fechado durante muitos anos devido às pressões dos ortodoxos. Durante toda a semana há festas para clientes homossexuais e as segundas-feiras são exclusivas das drag queens.

“Em Jerusalém, não há muitas festas nem lugares para dançar, por isso sempre aparecem heterossexuais. Na cidade, todos nos conhecemos e amigos de todas as orientações sexuais se juntam a nós. Estamos misturados”, conta com um sorriso Daniel R., empresário.

A empresa encarregada de organizar as festas, Unibra, garante que é um sucesso, que atrai dezenas de pessoas a semana toda, embora as festas drag sejam as preferidas. “As pessoas querem se divertir, já estão cansadas de se esconder, mas infelizmente nesta cidade não há lugares para onde sair à noite”, lamenta a Unibra.

Palestinos

Para os membros da comunidade homossexual palestina os desafios são ainda maiores. “Para eles é mais difícil, pois vem de uma sociedade mais conservadora, em que a homossexualidade é punida ou humilhada em público. Por isso, a última coisa que querem é fazer uma declaração pública de que são gays, sejam homens ou mulheres”, explica Adam.

A organização para palestinos homossexuais em Israel Al Qaws organiza eventos para os palestinos e ajuda a criar uma rede de apoio e conscientização entre a comunidade árabe. Uma vez por mês organiza uma festa para que os gays e lésbicas palestinos que vivem em Israel possam se conhecer.

“Mesmo que os palestinos que vivem em Israel contem com os mesmos direitos que os cidadãos judeus, muitas vezes há racismo e incompreensão em relação aos gays palestinos”, comenta a Al Qaws. “Há também muita incompreensão por parte da comunidade internacional, que se foca na ocupação israelense. Além disso, a opinião da comunidade palestina pesa demais. Dessa forma, não podemos esperar que eles saiam do armário como no Ocidente.”

Às vezes, Israel chega a acolher como refugiados os palestinos homossexuais que correm risco de morte ou que tenham recebido ameaças, embora não seja algo tão frequente. Enquanto isso, em Jerusalém, continua a luta para que a comunidade religiosa aceite aos homossexuais, se não como iguais, como cidadãos com os mesmos direitos de todos.

“Este é o nosso objetivo. Não queremos nem mais nem menos do que têm os demais e poder passear tranquilamente de mãos dadas, sem ter medo que nos façam sentir inferiores, nem ter a nossa Parada do Orgulho Gay cercada por centenas de policiais”, diz Adam.

Para mostrar que, embora nem sempre venha à tona, o ódio contra os gays corre solto em Jerusalém, em 2006 foi a homofobia que uniu representantes das três religiões monoteístas para protestar contra a marcha gay daquele ano. “É uma pena. Poderiam ter se unido para protestar contra outras coisas mais importantes”, lamenta Adam.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Em nome de um Estado secular






A palestra “Globalização, Religiões e o Secular”, ocorrida no dia 07 de março na UERJ, abordou os caminhos que aproximam cada vez mais a religião e o Estado, em uma dinâmica de tensão que envolve também a participação de movimentos sociais cujas demandas são afetadas por esta aproximação. Em jogo, a capacidade de influenciar e definir decisões de governo através de barganhas.


Organizada pela Linha de Pesquisas Religião e Movimentos Sociais (PPCIS/UERJ), pelo Núcleo Religião, Gênero, Ação Social e Política (ESS/UFRJ), pelo Centro Latino-Americano de Estudos do Pentecostalismo (Projeto PCIR/UERJ) e pelo Grupo de Estudos do Cristianismo (PPCIS/UERJ), a palestra contou com a participação do sociólogo especializado em religiões José Casanova (Georgetown University), da socióloga Maria das Dores Campos Machado (UFRJ), do sociólogo Paul Freston (Wilfrid Laurier University, Canadá), da teóloga e socióloga Brenda Carranza (PUC Campinas) e da socióloga Cecília Mariz (UERJ).


O crescimento de novos movimentos religiosos nos últimos anos – como os neopentecostais (evangélicos) e os carismáticos (católicos) – foi um tema que gerou ampla discussão, sobretudo por causa da atuação política desses grupos. Paul Freston destacou que a campanha eleitoral de 2010 foi um momento de destaque desse fenômeno. “Notamos que a questão dos valores religiosos foi uma bandeira levantada e defendida com vigor. Ao menos no embate do processo eleitoral, a temática do aborto obrigou os candidatos a serem cautelosos ou recuarem de suas convicções. Na hora do voto, no entanto, conforme entrevista que fiz com algumas lideranças religiosas, tais temas não necessariamente foram decisivos para definir o candidato. O que chamo a atenção é para o poder de mobilização que alguns valores imprimiram na campanha”, observou Paul Freston.


O Brasil tem observado uma crescente atuação de movimentos religiosos que convergem para as instituições públicas, dinâmica muito criticada pelos movimentos feminista e LGBT. Durante a campanha de 2010, a então candidata Dilma Rousseff mudou sua posição em relação à descriminalização do aborto, adotando uma postura contrária à que defendia até então. Eleita, já no primeiro ano do governo, a presidente foi obrigada a recuar em iniciativas de ampliação da cidadania LGBT e a modificar o foco das políticas de saúde da mulher. O kit anti-homofobia foi suspenso diante da pressão da bancada religiosa no Congresso Nacional. Nesse contexto de pressão conservadora, a concepção maternalista prevaleceu nas ações do Ministério da Saúde – que priorizou a ideia da mulher gestante e mãe em detrimento de outros momentos da trajetória reprodutiva.


Para Maria das Dores Campos Machado, especialista no estudo dos evangélicos, a atuação política de grupos religiosos tem se intensificado. “A ação constante e vigorosa de grupos religiosos evidencia que eles reconhecem a política como uma instância central da vida nacional. Os neopentecostais acham que a política é um campo positivo, que a política partidária e eleitoral é relevante. É uma situação distinta da dos anos 1980, quando o discurso pentecostal era apolítico. Além disso, temos percebido que há um forte diálogo com o discurso dos direitos humanos. Eles se apropriam deste campo para argumentar e defender seus valores e ideias. No entanto, é uma apropriação seletiva, focada na questão da liberdade religiosa e na desigualdade social. Questões como aborto e direitos LGBT não são pronunciadas”, afirmou Maria das Dores Machado.


De acordo com a socióloga, cada vez mais estes grupos religiosos participam das discussões e das definições da agenda política. “É importante observar que há um componente geracional no momento atual. Os pentecostais estão em sua 3ª geração, cujos integrantes têm escolaridade maior que a de seus pais e avós. São, por exemplo, médicos, juízes e jornalistas que circulam pelas mais variadas instituições, como a universidade, a mídia, o poder judiciário”, analisou Maria das Dores Campos Machado.


O movimento pentecostal surgiu e se desenvolveu concomitantemente aos movimentos feminista e LGBT algumas décadas atrás. Nesse sentido, afirmou a socióloga Brenda Carranza, a atuação destes grupos religiosos esteve associada ao combate ao feminismo e às demandas LGBT. “Os meios de comunicação têm sido largamente utilizados com esse propósito. Dessa forma, questões como os direitos da mulher estão sob constante vigilância e ataque na televisão aberta,” afirmou, chamando a atenção para os inúmeros programas religiosos que algumas igrejas exibem em emissoras comerciais, algumas vezes de domínio de grupos religiosos.


Maria das Dores Campos Machado classificou como relação de ódio a que se estabelece entre tais movimentos religiosos e as feministas. “É um contexto que não pode ser analisado internamente. Há uma forte atuação articulada a movimentos nos EUA, especialmente aqueles ligados ao combate ao aborto (“pró-vida”). A atuação tem servido para estimular as ações políticas dos grupos brasileiros, facilitando, inclusive, a parceria entre evangélicos e católicos em temas que dizem respeito a direitos sexuais e reprodutivos. No entanto, temos que admitir que grupos conservadores e tradicionais podem e têm o direito de se manifestar e atuar. Não podemos desqualificar o direito deles se manifestarem por mecanismos democráticos”, explicou Maria das Dores Campos.


Para Brenda Carranza, no entanto, a atuação política dos movimentos religiosos não se difere do padrão da política brasileira. “Vemos o uso constante da política como favor e barganha para ocupação de cargos – como no recente caso de Marcelo Crivella, cuja indicação para o Ministério da Pesca contemplou uma negociação de aliança eleitoral. Portanto, a religião, nesse aspecto, também serve como moeda de troca”, observou Brenda Carranza.


Paul Freston avaliou que a participação crescente destes movimentos é legítima, embora apresente aspectos reprováveis. “As discussões que envolvem valores são muito caras aos grupos católicos e evangélicos. Dentro dos marcos democráticos, são embates saudáveis. O preocupante é quando as discussões se dão no grito, com o intuito de silenciar os opositores, como é o caso do aborto”, arrematou Paul Freston, que concluiu afirmando que as discussões e as mudanças possíveis em temas de sexualidade, gênero e reprodução são lentas. “São mudanças que demandam anos de avanços graduais, o que é natural, pois não estamos tratando de temas simples. São temas que incidem sobre a sensibilidade moral e religiosa de uma população”, finalizou.


Publicada em: 14/03/2012 às 11:25 notícias CLAM