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segunda-feira, 24 de junho de 2024

Mateus 25. 31-46 A MENSAGEM!



 

Há uma passagem no Evangelho de Mateus que muito me intriga, na verdade, impacta-me. Nela não há nada de especial, de sacrificial ou de ações que estejam além daquilo que me é capacitado.  Entretanto, por ser extremamente singela, é extremamente difícil, principalmente, se interpretada literalmente.

Ela é a síntese de toda a missão de Jesus, da sua proposta de Reino, de vida e por que não pensar a causa de sua morte? Afinal, tudo que ele fez está ali resumido em poucas palavras, mas de forma radical, terminante, sentencial.

O texto começa falando de glória, a glória que é dele e de mais ninguém. Fala também do que ele irá fazer, de como ele separará as ovelhas dos bodes, uma metáfora que ilustra aqueles que o serviram daqueles que estavam presentes, mas que ele simplesmente não conheceu. Aqui reside a dificuldade, quando ele disse de amar o próximo como a ti mesmo, ele não estava brincando. A mensagem de Jesus é de empatia que se traduz em ação. Não basta palavras, não adianta confessar, não há razões para dizer se não houver ação.

Hoje vejo os cristãos lutando por poder, por domínio, por prosperidade. Gritos histéricos vociferam dos púlpitos uma imagem que não pertence a Deus, uma mensagem falsa, que conduz a riqueza aos interesses centrais da vida. Ambição, ganância, luxo e poder, mas será que isso importa para Deus?

Voltando à mensagem, ele diz ao povo que esteve com fome, com sede, com frio, sem roupa, preso... e não importa qual fora a necessidade, nela ele havia sido suprido. E aos que supriram, os que a ele deram de comer, beber, aqueceram-no, vestiram-no, visitaram-no quando, no memento de mais angústia, preso, ele precisou de consolo, esses fizeram sua vontade.

A mensagem é simples, mas é fatal! Quantas vezes ignoramos um pedinte na porta de um supermercado, quantas vezes nos irritamos, porque estão ali pedindo, quantas vezes ignoramos a miséria alheia e agradecemos a Deus por não sermos nós. Tive fome, tive sede, estava com frio, nu, preso... O que importa?

Como é sedutora a imagem de um Deus triunfante, que conduz seu povo à vitória, vindo vencendo para vencer. Mas esta não é a imagem da cruz, não é sua mensagem. Se eu não me compadeço com o mais pobre que eu, mesmo tendo pouco, se eu não faço por ele aquilo que eu queria que fizessem por mim, como pedir a Deus que me dê o pão? Que supra as minhas necessidades se minhas ações são contrárias às suas palavras? “O pão nosso de cada dia nos dai hoje” ... “Porque eu tive fome e me deste de comer...”

Igrejas criam “áreas vips” para pessoas abastadas que não querem contato com outros que não sejam de sua casta. Pastores inflamam discursos políticos como se isso fosse o Reino de Deus, exploram à mídia  suas ações nefastas, enquanto a ostentação cresce o amor se esvai. A mensagem do evangelho se resume em fazer aos necessitados aquilo que eu queria que fosse feito por mim se estivesse necessitado e isso é radical, essa é a sentença que separará, no fim, os que serviram a Deus e ele os conheceu daqueles que estavam no meio, mas que nunca foram conhecidos.

“- Senhor, quando te vimos com fome ou com sede, ou estrangeiro, ou necessitado de roupas, ou enfermo, ou preso e não te ajudamos?

- Quando a um desses meus pequeninos deixaram de fazer, também a mim deixaram de fazê-lo”.

 

 


terça-feira, 24 de junho de 2008

I Coríntios 6, 9-11




Vocês não sabem que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não se iludam! Nem os imorais, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os depravados,nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões,nem os avarentos, nem os bêbados, nem os caluniadores irão herdar o reino de Deus. Alguns de vocês eram assim. Mas vocês se lavaram, foram santificados e reabilitados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Senhor.

Eis o texto sugerido por nossos leitores. Resolvi falar um pouco sobre ele. Isto, porque, fico profundamente confuso em relação a essas pessoas, ou estão pedindo ajuda na compreensão da passagem bíblica, ou acham que não lemos as Escrituras, ou se lemos, não encaramos de frente os textos que lá estão. E, por conseqüência, não teríamos como responder, numa atitude positiva, a mensagem que lá está colocada.

Confesso que se fosse um diálogo com o catolicismo, o debate seria mais profundo uma vez que, dentro da tradição católica, a proibição está focada na reflexão ética e tem suas raízes históricas profundamente arraigadas na construção da identidade do cristianismo, enquanto cultura judaico- cristã. Entretanto, a postura evangélica passa longe de compreender sua própria formação e o debate se torna, imediatamente, postulado em cima da literalidade das Escrituras. Ou seja , basta uma compreensão exegética para elucidar o problema hermenêutico imediato. Porque é, exatamente, esta a postura assumida pelo cristianismo pós- reformado.


Assim, vamos ao texto: Corinto, cidade rica e comercial, com população estimada acima de 500.000 habitantes, em sua grande maioria- escravos.

Cidade portuária, cosmopolita, abrangendo, assim, demasiada diversidade cultural, étnica e religiosa. As pessoas que lá se estabeleciam procuravam vida fácil e de muito luxo. A atmosfera de Corinto era cercada pela ambição e imoralidade. Isso se somava a desigualdade social acintosa entre a riqueza exorbitante de uma minoria e a miséria escandalosa de grande maioria. Nessa época surgiu uma expressão que dizia: "Viver à moda de Corinto", significando viver na orgia e no luxo.

Entre os anos de 50-52 da era cristã, Paulo viveu nessa cidade por 18 meses (cf. At 18,1-18) e fundou uma comunidade formada de pessoas vindas das camadas mais modestas dessa sociedade, a comunidade cristã de Corinto. A primeira carta veio no ano de 56, aproximadamente, da era cristã,  foi escrita em Éfeso. O motivo: a comunidade estava reproduzindo, no seu ambiente cristão, a vida social da cidade.

Destarte, surgiram as divisões: grupos sectários promovendo politicagens e contendas. Assim, a carta veio com alguns objetivos mui específicos: O primeiro) Restabelecer a unidade da igreja- elegendo um único líder-, a saber, Cristo, que não é divido. O segundo) Advertir contra os escândalos de incesto, julgamento em tribunais pagãos, luxuria, elaborando, desta feita, uma teologia do corpo que é TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO (Cf. I Co 5-6). Terceiro) Responder as várias perguntas de irmãos da própria comunidade, orientando-os sobre: matrimonio, celibato, divórcio ou não, virgindade, comportamento dos nubentes, novo casamento às viúvas, culto aos ídolos (Cf. I Co 7). Depois fala da liberdade cristã e o RESPEITO AOS OUTROS, colocando, tal respeito, como fundamento dessa liberdade (Cf. I Co 8-10). Quarto) Estabelecer a compreensão da ordem no culto, assim, postula o fundamento do véu às mulheres, protesta contra as diferenças de classe social, escrevendo o poema, falando do verdadeiro fundamento que sustenta todos os outros como a fé e a esperança, a saber: o amor! Ou seja- todos os dons só têm verdadeiro significado, quando em amor são colocados a serviço uns dos outros (Cf. I Co 11-14). O quinto) Falar da ressurreição, do ápice da fé: que é a vida superando a morte (Cf. I Co 15).



Bem, o primeiro aspecto era compreender a carta, suas motivações, seu panorama e sua importância cultural na formação de uma identidade cristã na igreja nascente. Agora, é interessante contextualizarmos a passagem sugerida dentro da própria carta, para uma compreensão exata da mensagem do autor.

A perícope que nos foi sugerida encontra-se no segundo grande bloco temático. Tal bloco contém o desenvolvimento da chamada teologia do corpo- que é oposta à imoralidade. Portanto, há uma apologia direta, clara e objetiva à questão da liberdade :"...tudo me é lícito, mas nem tudo me convém". O cristão deve saber discernir o que leva o crescimento humano- da condição da pessoa e seu desenvolvimento salutar. O Cristo nos libertou e essa liberdade é para ser vivenciada, não devendo se perder, ou se fazendo novamente escrava nem mesmo da própria pessoa, dos seus desejos, do seu corpo. Este é templo do Espírito e onde há o Espírito há liberdade.

Portanto, a perícope do capítulo 6, 9-11 faz a transição do tema anterior (julgamento em tribunais pagãos) ao tema do corpo. Tudo refletindo uma única estrutura para condenação dos injustos, que , na verdade, seus pecados (os da injustiça) são tais como o da prostituição ou imoralidade.

Nesse momento, Paulo faz uso de dois termos gregos para transição e comparação da injustiça imoral dada à prostituição: Malakois e arsenokoitai. Teologicamente, não há consenso sobre o que significa exatamente esses verbetes. Entretanto, um teólogo biblicista, Robin Scroggs, compara estes com a prostituição masculina. Então, malakoi seria o jovem efeminado que se oferece para ter relação com homem adulto (prática comum na Grécia antiga). Valendo-se dessa oferta, os arsenokoitai seriam os homens que pagariam para ter tais jovens. Sustentando, o teólogo, sua tese no versículo que diz do pornô ou imoralidade difunda no bloco completo da perícope.

Contudo, Malakoi não está relacionado a uma interpretação única, imediatista, ou fundamentado numa postura restrita, simplória, como se esses jovens, que o biblicista considera, fossem garotos de programas, exclusivamente, homossexuais. A compreensão deve ser in totum, sem preconceitos oriundos da época vitoriana. Malakoi também é citado nos Evangelhos de Mateus e de Lucas. Vamos aos textos:

  • O que vocês foram ver? Um homem vestido com roupas finas (malokoi)? Mas aqueles que vestem roupas finas (malakoi) moram em palácios de reis (Mt 11,8);
  • Mas o que saístes a ver? Um homem trajado de vestidos delicados (malakoi)? Eis os que andam com preciosos vestidos, e em delícias, estão nos palácios reais.(Lc 7,25).
Malakos (sing.), Malakoi (plur.) quer dizer delicado, mole, suave. Está relacionado com a nobreza, com os palácios dos reis e, na época romana, com a vida farta dos palácios cheia de LUXÚRIA. É usado para os jovens dos cultos de Afrodite nos templos, pela beleza e suavidade.

Como Paulo estava combatendo uma ideia dentro da comunidade de Corinto, que havia se infiltrado no modus vivendi daquelas pessoas, o uso do termo malakoi diz da prostituição, ou sexo em favor da ganância pela vida regrada. Em outras palavras, daqueles que se prostituem nos palácios para ter muito dinheiro e regalias reais. Também diz daqueles que se casam por dinheiro, ou daqueles que namoram por causa de uma casa de luxo ou um carro do ano, ou do bom nome da família do pretendente. O termo que Paulo usa para especificar aqueles que vivem à moda de Corinto, ou seja, na orgia e no luxo é malakoi.

Também, o termo arsenokoitai foi empregado no texto e ele diz do macho ligado ao sexo para ritos pagãos (culto ao sexo), nos templos greco-romanos. Eram ritos de iniciação sexual e coloca o nosso texto, portanto, comparando o pecado da idolatria, ao pecado da porneia. Ou seja, a idolatria gerada pela injustiça é prostituição aos olhos de Deus e destrói o corpo, gera a imoralidade, escraviza a alma.

Assim, dados os devidos esclarecimentos, o texto não trata da homossexualidade como, hoje, é entendida. Também há um erro de tradução crasso nas escrituras ao traduzir malakoi por efeminado (como um menino cheio de jeitos femininos), porque a tradução correta falaria da luxúria e do obreiro do sexo para arsenokoitai, ligando toda lógica de Paulo à sua estrutura verdadeira, pois os efeminados e os sodomitas ficaram na lógica estrutural fora do próprio contexto. Ele diz da injustiça que é imoral, idólatra, depravada, adúltera, luxuriosa e se encontra dentro dos templos entre beberrões, ladrões e avarentos, que se caluniam mutuamente vivendo à moda de Corinto.

Se os homossexuais viverem uma vida luxuriosa tal texto é também para eles, mas os efeminados não serão jogados para fora do reino de Deus, porque nesse texto o termo grego é malakoi e quer dizer delicadeza da vida desregrada! Portanto, pegue o texto, leia todo o capítulo 5 até o 7 e veja se a transição, no capítulo 6, 9-11, não fica melhor, ou seja, na lógica do contexto, sendo traduzido da forma correta e não pelo caráter preconceituoso, oriundo da época do vitorianismo, que deixou o texto sem uma lógica real.