Mostrando postagens com marcador STF união estável  anglicanismo  homossexuais. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador STF união estável  anglicanismo  homossexuais. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Manual Básico de Etykettah no Cinemão

Tenho cer-te-za de que a senhora já viu acontecer: na boate da moda que oferece o darkroom (ou blackroom, para as falantes de English), fica aquele monte de bees carudas. Sabe como elas são, né? Aqueeelas que ficam com a sobrancelha arqueada, fazendo biquinho nos beiços e cara de que comeram azedo, avaliando as roupas e as curvas de tooodas que cruzam seu caminho.

Dá 3h da manhã e, cansadas de fazerem as egípcias e não descolarem nenhuma neca de carne (literalmente), elas se jogam no dark como se não houvesse amanhã – e lá, na negritude e no suor, tanto faz pegar o gordinho que rejeitaram, desde que tenha o bumbum guloso e/ou a neca odara.

Pois bem. O que a senhora não sabe, e a mama vai contar, é que essas meninas também costumam frequentar lugares, digamos, mais selvá-gens. Os cinemões, por exemplo.

Vamos parar de fazer as teresas: cinemões são deliciosas terras de ninguém. É um dos espaços em que homens héteros, homens que se dizem héteros, homens bis e gays assumidas convivem em excelente harmonia. Democráticos, eles são escuros, são sujos, são malconservados e são malcheirosos – e o que passa na tela é definitivamente desimportante –, mas oferecem aquilo de que mais gostamos: necas e rabinhos mal-iluminados.

O problema é que a mama fica beeege em ver como não tem bee que sabe se comportar ali? Então, gata, surgiu a ideia de ensinar etykettah básica de pootaria para as meninas esnobes evitarem os sete pecados da tela gozada. Afinal, poota a gente até pode ser – mas sempre phyna!

1. Goza na frente, mete atrás: tá boa que a senhora se esqueceu das aulas do culégio e nem se lembra mais do que é topografia? Estude para o vestibular no cinemón, bee... É assim: cinemão tem geografia própria. Quando o ocó senta lá na frente e no meio das fileiras, é batata: ele só quer bater uma com os “oh, yes” e ir pra casa. Quanto mais pro canto e mais pro fundo, melhor a chance de a senhora caçar ou ser caçada. Na última fileira e na entrada, então, nada de se perder, ou a senhora vira piranha e vai ser pescada por varas rsrs. Sim, eu sei que a senhora agora tá coçando por isso, mas preste atenção para não pagar mico. Claro que tem gente que senta na frente e nem sabe disso – mas seja phyna, saiba que pertinho das rachas do filme, suas chances são menores e não fique insistindo demais, se não leva doce – e não é pirulito...

2. Atleta, cantora, modelo e atriz: tem uma coisa que muita bee faz errada, e a mama mesma viu: elas vão com muita sede ao pote, gata, com a boca aberta e tudo. Vamos pensar assim. Tradicionalmente, as ativas sacam a arma pra fora. Não vou mentir: quanto maior a arma, mais longe o tiro vai e mais passivas aparecem caidinhas. Bom, essas fazem as vezes de atleta e modelo e ficam desfilando ao redor da fileiras ao mesmo tempo fazendo cooper pra perder peso. Aí algumas ficam sedentas e, mesmo quando o bofe faz cara de paisagem, chegam junto e já pegam no dito-cujo. É péssimo. Exercite seu lado atriz, porque no cinemón o que vale é comunicação não-verbal. Tá caçando o bofe? Espere alguma reação positiva do moço e se aproxime se autorizada – e tente ter certeza de que ele tá na sua. Às vezes, ele tá de olho na sua amiga, e a senhora tá roubando a cena. Tá na sua? Use seu lado cantora e engula o microfone rsrsrs

3. Amigas, amigas, necas à parte: gentem, quando é que as bees vão perceber que nós somos todas panteras, e não hienas? A gente não caça em grupo, não, meu bem. O lance é pegar a carne no escuro e so-zi-nha. Foi com a amiga? Cada uma trate de agarrar o seu. É claro que isso não impede um sorrisinho num encontro entre felinas ou um chá da tarde no living room – a entrada do cinemón –, mas, não pense que, na hora H, desfilar em duas ou três ajuda. Temos de ser justas. No cinemón, boa parte dos homens deixou a mulher em casa. Não será a senhora que vai trazer uma outra a tiracolo, né?

4. Miss Simpatia: beeeem, como a mama já disse, cinemão é democracia. A senhora vai ver de tudo: rapazes de terno de gravata, pedreiros, idosos, cachaceiros, alguns drogaditos, moradores de rua, senhores de respeito da classe média, office-boys atrás de um joystick diferente daquele do fliperama. É claaaaro que a senhora não precisa e nem deve gostar de todos, mas tome tento, gata: olhe onde você está. Caso seja abordada por algum de seu desgosto – algumas ativas em pé pegam nas mãos das passivas e levam para onde a senhora está pensando –, não precisa dar uma de lavadeira e dar escândalo. Faça fluir seu lado miss. Sorria, dê uma desculpa e um tchauzinho, e isso vale também para as ativas, a quem basta guardar o brinquedo ou retirar com delicadeza a mão boba. Outro dia, fui num cinemão e tinha uma bee nervosa que galopava pra lá e pra cá e, ao se deparar com um mais velho e cheirando a cerveja, já gritou “Sai pra lá, inferno!” e saiu balançando os bracinhos. Não preciso dizer que eu fui embora depois de um... Certo número... De caças bem-sucedidas... E a vi seca e com fome no trottoir até a hora de ir embora. Sejamos sinceras? Quer dar close e carão, paga uma sauna VIP, né? Se a senhora tá no cinemão, a mensagem é bem clara: a senhora não é muito melhor do que qualquer um ali.

5. Equipada e guerreira: não preciso dizer que a senhora deve levar seus insumos, né? Lembra do Kit Passivo (http://gospelgay.blogspot.com/2011/08/o-que-levar-no-seu-kit-passivo.html)? Faça a chuca previamente e adote uma versão mignon dele – pequenininho, mas tem tudo que você precisa: gelzinho (prefira os de sachê), camisinha, um enxaguante bucal miudinho e um pedaço de papel higiênico são suficientes e garantem o sexo seguro, mesmo que seja só o oral – e muito cinemón até já vende camisinhas a preços módicos. Quer ser ainda mais phyna: porte uma sacolinha. Cabe na sua nécessaire e fica mais phyno descartar as coisas lá e depois se livrar delas no banheiro que simplesmente jogar no chão como a maioria faz. É ativa? Não pense que o pau basta, meu bem. Leve seus insumos também, pelo menos gel, camisinha e papel, pra não ficar na mão, literalmente, hehehe – e nada de esfregar a mão gozada na cadeira que é uó...

6. Com os profissionais, seja profissional: tem cinemón que tem garoto e travesti de programa. Aja com eles profissionalmente também. As travestis costumam ser mais diretas e reconhecíveis. “Quer gozar?”. “Não, obrigada”. Ou, sim, se a senhora gostar. Trate as meninas sempre no feminino. Não é porque a senhora não pôs silicone que é pra dar uma de despeitada. Os garotos costumam usar o esquema armadilha: sacam a neca enooooorme e ficam lá horas se masturbando (aliás, fica a dica da mama: bofescândalo + necona + maratona de punheta + nenhuma bee grudada = garoto de programa). Normalmente, dão o preço na abordagem. Seja rápida e direta com elas e com eles. Quer? Acerte o preço, pague o combinado e faça o que tem de fazer. Não quer? Deixe-os trabalhar, e não preciso dizer que, se a senhora for uma habitué do cinemón, pegar informação também é sempre boa pedida. Acredite: sempre tem uma amiga que já provou do pão e pode dizer que gosto tem.

7. O show não deve parar: cê jura que em pleno cinemão, a senhora quer fazer a tímida e não quer exibir a carne dura que caçou? Larga a mão de ser chata, gata. A senhora é poderosa! Exiba o troféu. De novo, apelamos pra sinceridade. Se a senhora quer privacidade, paga um motel... Assim, nada de ficar estalando a língua para os gaviões e as gavioas que se acumulam em volta da sua pegação para assistir ao espetáculo. Acredite ou não, o povo voyeur geralmente sabe respeitar o limite e não passa dele se não for convidado. Aproveite a plateia e mande ver na sua melhor performance. No máximo, se desejar, leve o bofe ao banheiro (mas mama avisa: muitas vezes, malcheiroso...) – e, mesmo assim, não é garantido que o povo não banque as Três Espiãs Demais. Olha que já vi bee perdendo um tempo precioso com isso. Outro dia, uma sirigaita catou um bofe e mama e outras voyeurs foram assistir. Ela ficou olhando a gente com cara feia. Mama não saiu do lugar e, em vez de ela se aproveitar de todo aquele corpo enquanto tentava me espantar, o bofe acabou ficando molinho e ninguém gozou, olha que tristeza... Tsc... Tsc...
É isso. Na próxima vez, aja phynamente no cinemão, e a senhora será benquista e bem-comida!
Imagem: Reprodução/© A Capa

terça-feira, 19 de julho de 2011

Anatomia do ciúme

Relacionado ao valor que damos a nós mesmos, o ciúme pode ser um sentimento natural, de proteção do indivíduo e da personalidade, mas está longe de ser o tempero do amor.

por João Marinho>


ciúmeTudo começou quando ele ligou para o namorado pela manhã. “Bom dia, meu amor, tudo bem?”. A resposta veio cortante, afiada: “quem é aquele Walter que escreveu no seu orkut, hein?!”. “Ei, calma! De que Walter você fala?”. “Aquele lá, do ‘adorei te conhecer’”, disse o bravo namorado, resmungando e possivelmente fazendo caretas do outro lado da linha. Bastaram alguns minutos para um bom dia apaixonado se converter em discussão.

Embora com outras cores, a maior parte de vocês, leitores, certamente já esteve em situação semelhante, no telefone, na internet ou ao vivo. Afinal, é muito raro que o amor venha desacompanhado daquilo que alguns dizem ser seu tempero, mas que, em excesso, também pode naufragar um relacionamento: o ciúme.

Pensar sobre o ciúme sempre foi um desafio para mim, pois não sou uma pessoa particularmente ciumenta. Meus amigos diziam, sobre um de meus ex-namorados, que eu “não gostava dele de verdade” por não ser ciumento – coisa que, evidentemente era falsa, como mesmo ele pode atestar.

No entanto, mesmo ele, certa vez, desabafou: “acho um absurdo você não ter ciúmes de mim”. Eu mal pude responder, pois, para mim, tudo se resumia na equação: se ele quiser, vai fazer; se não quiser, não vai – e se fizer, também não é isso que necessariamente vá acabar nossa relação. Fazer o quê? Transar com outra pessoa, claro, ou “trair”, diríamos no senso comum.

Isso nos leva para a primeira conclusão que extraio sobre o ciúme, de uma série de conclusões que este artigo, escrito a partir das reflexões pessoais de um simples jornalista, pretende jogar para a reflexão do leitor: a “traição” é a irmã do ciúme.

Escrevo “traição” assim, entre aspas, porque a definição é aberta. Cada pessoa tem ou pode ter uma noção particular do que é trair. É um assunto a ser conversado em outra oportunidade, mas resta um fato sobre ele: qualquer que seja o conceito que cada um tenha de traição, existe um medo visceral de enfrentá-la – e esse medo é combustível do ciúme.

O ciúme, portanto, não é o “tempero do amor”. Quando falamos de namoro, ou casamento, o verdadeiro combustível do ciúme não é o medo de “perder a pessoa porque se ama”, mas de ser traído por essa pessoa e enfrentar o turbilhão de acontecimentos a partir daí.

Mesmo que eventualmente se perca a pessoa e esse medo apareça, o sentimento que vem em primeiro lugar é o desconforto de poder ser traído em sua confiança, humilhado, de ser ferido/a em seu orgulho, de ser “feito de idiota” ou “passado para trás”. O ciúme tem mais a ver conosco do que com o outro.

Além disso, existe um tipo particular de ciúme que é o ciúme de quem não se ama. É mais raro, mas existe e se realiza no que eu e uma minha amiga certa vez definimos maldosamente como “capacho”.
Certamente, você já viu uma situação de “capachatez”, e, sem querer ser sexista, mas é o que me diz minha experiência cotidiana, me parece mais comum que a mulher submeta um homem a ela.

O “capacho” é aquele rapaz que endeusa uma mulher. Adora mesmo: só falta beijar o chão que ela pisa. Vive cercando a dita-cuja, mendigando migalhas de atenção, tentando conquistá-la e, às vezes, sendo vítima de pequenas humilhações que, para ele, passam (quase) despercebidas.

A mulher em questão usualmente não quer nada com o “capacho”. Ele até a incomoda com seu assédio – mas ela o mantém ali, subserviente, seja porque faz bem para o ego ter alguém que endeuse, seja porque ele faz pequeninas coisas que a ajudam, seja por simples divertimento.

No entanto, chega o dia em que o “capacho” conhece um outro alguém, como diz a música. Ele se apaixona, essa nova mulher lhe dá valor e atenção, e ele deixa sua deusa de lado – e, de repente, vemos essa deusa, que nada queria com ele, muitas vezes não gostava dele e até se incomodava com ele... Enciumada! Troque o sexo, porque existem muitos “capachos” héteros femininos, gays e lésbicos também, mas o fim da história costuma ser idêntico.

O ciúme também se manifesta em relação a coisas. Será que você gosta de ver sua camisa preferida enfeitando o irmão mais novo? Quem não fica incomodado quando pegam “emprestado” aquele livro preferido? Ou deixam empoeirar aquele sapato maravilhoso? Quem não tem uma situação semelhante para contar?

Tudo isso nos leva a um dado sobre o ciúme. Ele não é o tempero do amor, ele também existe em relação a quem não se ama e em relação a objetos – mas ele sempre aparece em relação a algo que se preze.

Mesmo no caso do “capacho”, a deusa, ou o deus, não quer saber do “capacho”, mas existe algo de que ela/ele gosta: toda aquela atenção e dedicação fazem bem. É agradável, é divertido. É algo que se preza.

De fato, não parece ser possível ter ciúmes de algo que nos faz mal, se temos plena consciência desse mal e/ou ele não é compensado por coisas agradáveis. Emprestando uma linguagem da análise do comportamento, o ciúme surge sempre em relação a algo que nos reforça positivamente.

No entanto, aqui é necessário fazer um ajuste. Afinal, não se tem ciúme do “capacho” porque ele vai se relacionar sexualmente com outra pessoa. Como o ciúme também acontece entre amigos, vale a mesma observação, e também não é possível ser “traído” por objetos, ou ainda bichos de estimação. Ainda não. Por isso, eu disse, lá no início, quanto à traição: “quando falamos de namoro ou casamento...”.

Então, qual o verdadeiro combustível do ciúme? A resposta está na intersecção entre o medo da traição do namorado, o desconforto de ter um amigo dando mais atenção a outra pessoa, ou o receio de ver suas coisas manchadas, rasgadas, malcuidadas.

Ciúme tem a ver com receio de sermos atingidos naquilo que prezamos e que se constitui parte de nossa autoimagem e, portanto, de nossa autoestima. Nós construímos nossa autoimagem e nossa autoestima a partir de nossos relacionamentos, da maneira que nos vestimos, das coisas que usamos, dos livros que lemos, das filosofias que adotamos.

Se você pensar bem, é no receio de ser atingido em alguma dessas coisas que você preza que o ciúme se manifesta como estratégia de defesa. E não é para menos: ser traído, ter um amigo que prefere outra companhia, usar um sapato rasgado ou camisa manchada, ver o autor que lhe ensinou a pensar em um livro com páginas a menos são coisas que depõem contra o valor que você dá a si mesmo.

No caso específico dos relacionamentos humanos, é como se o outro fizesse pouco caso de uma parte sua que você considera importante e depositou nele. Como já dito, o ciúme tem mais a ver conosco que com o outro: sua autoimagem, sua autoestima. Você sente ciúme porque se sente, ou tem medo de se sentir, desvalorizado. Não por medo de perder o outro.

Mas será que todo ciúme é igual? Certamente que não. O ciúme tem sempre um combustível, uma motivação fundamental, que acabamos de esclarecer – mas se manifesta de maneiras diversas em relação ao que denomino objeto primário e objeto secundário.

O objeto primário não tem mistério. É aquela pessoa ou objeto que nos traz o que prezamos: o foco do nosso ciúme. E o secundário? Ele se revela quando um terceiro, visto como ameaça, se aproxima.

É aquele ex-namorado do seu namorado, o primo que disputa a atenção da tia predileta, o irmão que usa suas roupas ou o garanhão, ou a gostosa, da balada – e ganha relevância quando uma situação desencadeadora se apresenta.

Com efeito, não é comum sentir ciúme todo o tempo: precisa haver uma situação concreta para ele aparecer a primeira vez pelo menos, uma situação em que se perceba a ameaça, mesmo que seja apenas uma olhadinha por parte da ou para a pessoa amada.

Posteriormente, as contingências de reforço (negativo) – apelando novamente para o linguajar comportamentalista – se encarregam de ver o objeto secundário sempre como ameaça, até o ponto em que a simples presença dele já é suficiente para causar mal-estar. É principalmente nessa fase em que o motivador fundamental do ciúme se mascara. Aí, parece que é o medo de perder a pessoa amada, mas não é bem assim.

Finalmente, o ciúme vai requerer uma punição. É preciso justiça. Alguém tem de pagar. É onde ocorre a explosão que abre este artigo no telefone, a cara fechada de quem engoliu seco a noite toda, o soco no rosto do garanhão abusado.

Motivação fundamental ligada à autoimagem e autoestima, objeto primário, objeto secundário, situação desencadeadora e exigência de punição. Eis a anatomia do ciúme. Você concorda com isso?

Fica aqui mais um item para reflexão. A quem punir? Animais também têm ciúme, o que, para mim, põe o ciúme no âmbito das coisas naturais – e, eu diria, até como estratégia de proteção do indivíduo e da personalidade. Mas, diferentemente deles, que tendem mais a punir o objeto secundário – o outro bichinho que disputa a atenção do dono, por exemplo –, os seres humanos frequentemente punem o objeto primário. Por que será?