Há uma passagem no Evangelho de
Mateus que muito me intriga, na verdade, impacta-me. Nela não há nada de
especial, de sacrificial ou de ações que estejam além daquilo que me é
capacitado. Entretanto, por ser extremamente
singela, é extremamente difícil, principalmente, se interpretada literalmente.
Ela é a síntese de toda a missão
de Jesus, da sua proposta de Reino, de vida e por que não pensar a causa de sua
morte? Afinal, tudo que ele fez está ali resumido em poucas palavras, mas de
forma radical, terminante, sentencial.
O texto começa falando de glória,
a glória que é dele e de mais ninguém. Fala também do que ele irá fazer, de
como ele separará as ovelhas dos bodes, uma metáfora que ilustra aqueles que o
serviram daqueles que estavam presentes, mas que ele simplesmente não conheceu.
Aqui reside a dificuldade, quando ele disse de amar o próximo como a ti mesmo,
ele não estava brincando. A mensagem de Jesus é de empatia que se traduz em
ação. Não basta palavras, não adianta confessar, não há razões para dizer se
não houver ação.
Hoje vejo os cristãos lutando por
poder, por domínio, por prosperidade. Gritos histéricos vociferam dos púlpitos uma
imagem que não pertence a Deus, uma mensagem falsa, que conduz a riqueza aos interesses
centrais da vida. Ambição, ganância, luxo e poder, mas será que isso importa
para Deus?
Voltando à mensagem, ele diz ao
povo que esteve com fome, com sede, com frio, sem roupa, preso... e não importa
qual fora a necessidade, nela ele havia sido suprido. E aos que supriram, os
que a ele deram de comer, beber, aqueceram-no, vestiram-no, visitaram-no quando,
no memento de mais angústia, preso, ele precisou de consolo, esses fizeram sua
vontade.
A mensagem é simples, mas é
fatal! Quantas vezes ignoramos um pedinte na porta de um supermercado, quantas
vezes nos irritamos, porque estão ali pedindo, quantas vezes ignoramos a miséria
alheia e agradecemos a Deus por não sermos nós. Tive fome, tive sede, estava
com frio, nu, preso... O que importa?
Como é sedutora a imagem de um Deus
triunfante, que conduz seu povo à vitória, vindo vencendo para vencer. Mas esta
não é a imagem da cruz, não é sua mensagem. Se eu não me compadeço com o mais
pobre que eu, mesmo tendo pouco, se eu não faço por ele aquilo que eu queria
que fizessem por mim, como pedir a Deus que me dê o pão? Que supra as minhas
necessidades se minhas ações são contrárias às suas palavras? “O pão nosso de
cada dia nos dai hoje” ... “Porque eu tive fome e me deste de comer...”
Igrejas criam “áreas vips”
para pessoas abastadas que não querem contato com outros que não sejam de sua
casta. Pastores inflamam discursos políticos como se isso fosse o Reino de Deus,
exploram à mídia suas ações nefastas, enquanto a ostentação cresce o amor
se esvai. A mensagem do evangelho se resume em fazer aos necessitados aquilo
que eu queria que fosse feito por mim se estivesse necessitado e isso é
radical, essa é a sentença que separará, no fim, os que serviram a Deus e ele
os conheceu daqueles que estavam no meio, mas que nunca foram conhecidos.
“- Senhor, quando te vimos com
fome ou com sede, ou estrangeiro, ou necessitado de roupas, ou enfermo, ou
preso e não te ajudamos?
- Quando a um desses meus pequeninos
deixaram de fazer, também a mim deixaram de fazê-lo”.
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