TENHA O CORPO-HABEAS CORPUS
J.
K. Rowling seria transfóbica?
Em épocas não tão distantes, mas
que incompreensíveis ao homem contemporâneo, o corpo, esse pedaço
de carne que individualiza os seres, não pertencia ao súdito, mas
ao soberano, ao rei, que nesse mesmo corpo, alheio, individual e
individualizado, poderia infringir como pena suplícios inúmeros sem
quaisquer parâmetros, tão somente, a satisfação da vontade
soberana que se igualava à satisfação da vontade divina, a
demonstração do poder.
Ora, o suplício servia ao
espetáculo, se não houvesse a espetacularização da dor, em vão
era o castigo, em vão seria dizer ao súdito que o seu corpo
pertencia ao soberano rei e o seu crime atentava contra o próprio
monarca. Era preciso tornar visível tal conceito, aos olhos de todos
na corte, no reino.
A expressão, comumente usada, hoje,
habeas corpus vem dessa
época, em que extraída de uma antiga fórmula processual inglesa,
utilizada pelo magistrado, ordenava
ao carcereiro que se lhe apresentasse o preso. É
uma expressão que serve para devolver ao indivíduo o seu corpo, no
caso sua liberdade. Não nos damos conta do corpo, porque é uma
coisa tão nossa!
O
corpo é a nossa expressão máxima de individualização e de
limitação, bem ou mal, não sobrevivemos sem ele, bem ou mal,
pertencemos a um corpo. No
corpo temos nossa história, no corpo temos nossas mazelas, no corpo
temos nossas cicatrizes e tudo isso se limita a um corpo!
J.
K. Rowling seria transfóbica? Ou
apenas se referia a sua experiência de corpo? Há muito, a
comunidade LGBT, em prol das letrinhas do alfabeto sem fim, aboliu,
ou pelo menos tenta, o termo homofobia para um neologismo de maior
visibilidade: gayfobia, bifobia, transfobia, etc. J. K. Rowling
milita para que o termo mulher não seja abolido e nisso não há
problema algum. Isso não faz ser a escritora homofóbica ou contra a
comunidade transsexual.
Todos
nós temos a experiência de corpo, porque temos um corpo que nos
individualiza, o homem transsexual nasceu mulher, teve parte de sua
história como mulher e mesmo que não tenha
se ajustado
em sua história com seu
corpo, vindo a transicionar, o passado não pode ser eliminado de sua
história, enquanto indivíduo que chega até essa fase. Isso
pertence a ele, é a história dele, faz parte dele, enquanto
indivíduo transsexual. Rowling
chega a ensaiar tal
pensamento quando diz: "Se
sexo não é real, não existe atração entre pessoas do mesmo sexo.
Se sexo não é real, a
realidade vivida por mulheres ao redor do mundo é apagada.
Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a
habilidade de muitos discutirem suas vidas de forma significativa.
Não é ódio dizer a verdade".
O
autor do artigo: PESSOAS QUE
MENSTRUAM foi preconceituoso ao contrário de inclusivo, ao excluir
os termos de visibilidade “mulheres e homens trans” do ensaio. A
comunidade LGBT não pode se assentar em torpeza alheia para
justificar a sua própria, é da comunidade LGBT a militância para
que essas letrinhas não tenham limites na história do alfabeto em
prol da “inclusão e visibilidade”, assim o termo LGBT perde-se
em letras várias: LGBTQ+Y- XZWK… agora
essa mesma comunidade vem atacar uma pessoa que pede que o termo
mulher não seja suprimido de um artigo, em que parte está a
coerência dos LGBTs na crítica a essa mulher?
Ouçam
o que a pessoa diz: "Respeito
o direito de todas as pessoas trans de viverem da maneira que lhes
pareça autêntica e mais confortável. Protestaria com vocês se
vocês fossem discriminados por serem trans.
Ao mesmo tempo, minha vida
foi moldada pelo fato de eu ser mulher. Não acredito que seja odioso
dizer isso".
Antes
de chegar a conclusão de que Rowling está advogando que a
identidade de gênero de uma pessoa é exclusivamente definida pelo
sexo biológico, tem que se ler, obrigatoriamente, o que ela está
dizendo, e o que ela diz é: NÃO EXCLUAM O TERMO MULHER DA HISTÓRIA.
Não é ódio dizer isso, mas apenas assumir que ao se ter um copro
se tem uma história com esse corpo! Essa história não pode ser
suprimida, apagada, esquecida, ou como se nunca tenha existido só
por que A ou B transicionaram e ganharam uma nova carteira de
identidade, um novo registro, a história pregressa não é sucumbida
pela nova fase, mas faz parte dela, faz parte do indivíduo que a
vivenciou e não há nada de mal nisso, não faz com que a pessoa
seja mais verdadeira do que a outra em sua existência.
Tenha
o corpo- habeas corpus-
mas antes de tudo: TENHA A SUA HISTÓRIA!
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