sábado, 31 de dezembro de 2005

Pedofilia e Homossexualidade





Editorial da Sex Boys 20



Pedofilia e homossexualidade



Fundador do GGB - Grupo Gay da Bahia e importante personalidade do movimento homossexual brasileiro, Luiz Mott é também um respeitado antropólogo. Entre suas contribuições, há um estudo de como a Inquisição agiu no Brasil com relação à sodomia (sexo anal), especialmente a praticada entre homens - então considerada o "pecado nefando".



Centenas de anos se passaram, mas manchetes da imprensa têm me levado a pensar que mantivemos o conceito de pecado nefando, posto hoje ocupado pela pedofilia. Claro que não vou defendê-la. Ao contrário da mera prática do sexo anal, a pedofilia tem aspectos e conseqüências cruéis. Chama a atenção, porém, a histeria que ela proporciona.



Sim, devemos nos indignar - mas basta acusar uma pessoa de ser pedófila para haver uma caça às bruxas. Se a inocência é verificada, ainda assim a vida dela fica destruída. Exemplos não faltam. No Brasil, o da Escola Base é o mais notório.



Pior ainda é a tentativa, empreendida por conservadores, de associar pedofilia e homossexualidade. Isso veio à tona nos escândalos com padres norte-americanos e acabou reforçado pelo recente documento do Vaticano sobre o ingresso de homossexuais no clero.



Esse tipo de coisa não ajuda em nada. Pedófilos, além de cometer um crime, são pessoas que precisam de acompanhamento psicológico - e sua condição não é fruto da orientação sexual, qualquer que seja ela (e há pedófilos héteros, gays e bis), mas de uma conjunção de fatores patológicos.



Qualquer tentativa de atrelar a pedofilia à simples existência de uma orientação sexual é apenas uma forma de se aproveitar do sofrimento infantil para reforçar o preconceito contra pessoas já injustamente marginalizadas. No caso, os homossexuais. Isso é desumano, é imoral, e não difere muito do crime de que aquelas crianças foram vítimas.



O Editor










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terça-feira, 13 de dezembro de 2005

EU PRECISO DE COLO


Ainda, na noite de ontem, caminhado pela avenida, na pista de Cooper, com meus sentimentos que nada sentiam... Totalmente anulados pela indiferença e desprezo, meus olhos lacrimejaram. Uma vontade súbita de pedir socorro, um desejo, enorme, de me aconchegar em um colo... Sim, desejava o colo de minha mãe! Não tinha uma mãe por perto para que pudesse me acolher, nem receber minha dor, que na indiferença não era percebida.

Avistei uma mulher de 50 anos, aproximadamente, pedi para que ela me ouvisse, mas com medo, ela se recusou parar e me dar atenção. Foi quando, ao longe, vi uma senhora de cabelos grisalhos, com 67 anos, aproximadamente, alongando-se na ponte que atravessa a pista. Devagar, eu me aproximei e pedi, para que se não sendo incomodo, talvez, um pouco de atenção e conselho, pois precisava falar com alguém, pois precisava de uma mãe. 

Aquela senhora, se prontificou a me ouvir... Disse a ela que eu era gay, e pedi que ela não se assustasse, e contei tudo o que havia acontecido comigo. Com o olhar materno, pensativo, afetuoso, ela me escutou, pacientemente, toda a história, até que eu acabei... Foi quando desejei que ela fosse minha mãe. Suas primeiras palavras saiam em aceitação e empatia: "não há nada de errado com você ser gay, você amou uma pessoa que só desejava brincar com seus sentimentos; gente assim, que brinca com o coração dos outros não é feliz meu filho". Admirado escutava os conselhos de Dona Fleurips, que na sua experiência de vida, animava-me, e me ensinava a viver a vida.

Se todos nós pudéssemos ter a aceitação da família que essa doce senhora me proporcionou... Se todos nós pudéssemos deitar no colo de nossas mães, quando solapados na existência, e chorar as magoas, e ouvir que somos maiores do que isso, e que toda lagrima é bobagem, sendo amados e recebidos como somos, e não por aquilo que fazemos ou com quem transamos.

Fui embora, agradecendo muito aquela pessoa maravilhosa, que sumiu sem eu ver ou dar conta para onde ela pudesse ter ido. Um pensamento místico tomou conta de mim: "hoje Maria, a mãe de Deus, apareceu para mim e me aconselhou, e me confortou e me deu forças". Não sei ao certo quem era aquela doce senhora, só sei que para mim era, foi e será a NOSSA SENHORA, que em seu seio de mãe calou meu desejo e me confortou em minha miséria. 

Nós gays precisamos de mães que nos aceitem, e não que nos estapeiem, essa foi uma doce lição que aprendi. Nem sempre nossa família faz da nossa vida algo melhor a ser vivida e explorada. Isso é um fato, um pesado fato. Ontem, desejei um colo de mãe, e graças a Deus encontrei uma mãe, que quero acreditar ser Maria.


domingo, 11 de dezembro de 2005


Por que sofremos?

Foi ontem, ao fim de um processo doloroso, que no consultório quis responder à pergunta que me foi trazida com certa angustia.

De agosto a dezembro, precisamente, ontem, chorei, emagreci, angustiei-me, sofri. A dor solitária que penetra no fundo da alma e eclipsa a razão, que nos confunde, nos abate.

Abatido, sem alma, sem chão, nem o choro me servia de lamento. Troquei as boas coisas, por coisas quaisquer; troquei a alegria do semblante que contemplava a vida, por um olhar turvo, que não se encontra, que não se ama, que nada vê. Errei na caminhada; julguei pessoas que não mereciam meu juízo. Desfiz do trigo e comprei o joio.

Quase perdi os amigos, por me apegar à dor... Sofri pela tolice de se desejar o que não se pode ter. Por não vislumbrar no processo as perdas e ganhos, e o interesse último que nos faz caminhar na vida social. Sendo assim, disse coisas boas a quem não merecia ouvir, dei meu amor a quem não soube me amar, joguei pérolas na lama, e minha recompensa foi receber um dizer frio, raivoso, destruidor, que na expressividade do "tenho nojo de você", trouxe-me, novamente, o que sou!

Eu não tenho nojo de mim, e no campo minado, a última bomba que restava ser explodida, sim, fez-me ressurgir. A dor se foi... O lamento não existe, a angustia cessou.

Tudo isso seria trágico, se não fosse lúdico! A ironia se encontra que, no sofrimento, e na prisão da alma, ganhei um amigo que de longe não nunca esperei ter. Faz-se sentir que nesse processo vivi, fiz poesias, fiz declarações, dissimulei situações, errei muito, e não perdi nada! Ao passo que tudo perdi.

Queria ter errado mais... Bem mais do que errei, enfim toda a dor do erro me modelou, fez-me uma nova pessoa, converteu-me à humanidade, sem julgá-la boa ou má, sem vingá-la no meu "azar".

Por que sofremos? Sim, sofremos para que possa existir a poesia, sofremos para que possa existir a vida, sofremos para que possa existir a música, sofremos para encontrarmos nos amigos o verdadeiro tesouro da partilha do eu para o "além do eu". Sofremos para aprender que juízos, raivas, nojos, antipatias fazem parte do processo humano, mas que não devem ser levados a serio com o peso cabal das afirmações últimas... E de igual forma, que nenhum amor, esperança ou paixão devam ser levados tão a serio, que não se possa movimentar a vida em nós mesmos, em prol dos ideais simbólicos que, essas bandeiras, nos fazem levantar.

Dessa forma, sofremos para nos transformarmos em pessoas melhores, se do sofrimento aprendermos à lição: NÃO LEVE A VIDA TÃO A SÉRIO... APENAS VIVA E SE DEIXE VIVER!
Por: Renato Hoffmann.