Uma pergunta que se tornou complexa e debatida na atualidade. Uma pergunta que para muitos não deveria nem sequer existir, pois o preconceito, em si mesmo, já era assunto para ser superado, entendem alguns. Outros acham que falar de determinadas atitudes discordantes não seriam, necessariamente, preconceitos.
Enfim, ontem conversava com um travesti que mora no meu condomínio. Conhecemos-nos há um bom tempo, se não me falhe à memória- 15 anos- mas, só ontem, tive a curiosidade de saber como ele se tornou um travesti. Não esperava que tivesse sido da forma como ele relatou, afinal, a história de vida de Claudinha revela traços desse preconceito que a seguirão e não serão apagadas pelo tempo.
Mário, aos dezoito anos, chega a sua residência, depois de uma semana fora de casa, totalmente diferente. Transformado por fora, não mudado por dentro... Tudo começou aos treze anos, Mário tem um pai coronel das forças armadas, que logo percebera nele uma tendência "afrescalhada", o pai de Mário não se incomodava em jogar tal circunstância na cara do jovem menino, que sofria com as insinuações e desprezo do pai, que preferia seus, agressivos, três irmãos do que a ele, posto à margem, sem ao menos um porquê real. Logo, Mário se viu obrigado a fazer Karatê, contrariando suas tendências românticas, poéticas e reflexivas.
Bem, as surras também se faziam presentes, e eram corretivas. Não por causa de alguma traquinagem, ou desaforo, mas eram dadas, pelo simples fato, de o fazerem mais macho. Mário viveu sufocado durante toda sua adolescência, magoado, ferido, violado. O seu pai o tolerava, por sua condição de filho, mas não o amava por uma suposta condição imaginária, temerária... Um garoto sensível, que, até então, só queria ser como os outros, mas seu lado pacífico, gentil, o afastava dessa possibilidade.
Assim Mário cresceu, e com ele cresceram as acusações de bichinha, gayzinho, mulherzinha. O que sempre era constrangedor, pois, de fato, nunca havia experimentado uma relação homoafetiva. Mas, se sentia atraído por tê-la, afinal, o que era tão proibido, tão amaldiçoado? Foi quando ele se permitiu em uma! Aos dezessete anos, pouco tempo faltava para inteirar dezoito, seu primeiro namoradinho, inesquecível, seu primeiro e último namoradinho... Afinal, na noite em que completou dezoito anos, o seu pai presenciou Mário e seu amor se abraçando afetuosamente, e quando o jovem garoto entrou em casa tomou uma surra que o fez perder três dentes. Então, ele fugiu de casa, não pela surra, mas pelo ódio do seu pai a bater e falar coisas que doeram bem mais do que qualquer bofetada... Ele não era mulherzinha, era tão somente o Mário! Arrasado, discriminado, surrado.
Uma semana se passou, e ele agora com 18 anos espera seu pai estar em casa para ir pegar suas roupas, Mário estava transformado, já não era mais o Mário, mas a Claudinha! O garoto colocou silicone industrial nas nádegas, pernas, peitos e foi ver o que seu pai achava. Nesse momento, Claudinha chorou, quando contou que ao ver o pai disse: “então coronel, o senhor sempre quis que eu fosse mulher, mulherzinha... Eu não era gayzinho, nem sou mulherzinha! Agora sou Claudinha, mulher, para realizar seu desejo”.
Mário teve seu nariz quebrado nessa noite e chamou a policia...
Será necessária a criminalização da homofobia? De certo, sim! A história da Claudinha aponta exatamente para isso. Gays muitas vezes são tolerados dentro de suas casas, pelos seus pais, irmãos, enfim, família. Mas quem disse que tolerância é um bem? O verbete foi usado na época da libertação dos escravos pelas classes mais ricas, e significava suportar um mal necessário (os negros livres). Os gays não são um mal, que os admitir se faz necessário. Alguns pensam assim, como no velho discurso evangélico: “Deus ama o pecador, mas abomina o pecado”. Ou seja, nós toleramos os homossexuais, mas não admitimos seu modo de ser. Os toleramos, pois é um mal necessário.
Claudinha foi massacrada durante toda sua adolescência por uma idéia, ela foi tolerada numa família, mas não vivenciou uma família de fato. A homofobia tácita vem ceifando vidas, sentimentos em nome de posturas idealizadas, rígidas e justificadas seja no exército, seja na Bíblia, seja em qualquer lugar... A criminalização acabará com a tolerância e fará a inclusão, tolerar não é incluir, não é aceitar, não é amar.
Infelizmente, vivemos numa sociedade onde quem quer ofender um homossexual, pelo fato, simples, da homossexualidade o faz com plenos poderes, com totais requintes psíquicos de exclusão. Sem se ver obrigado a reparar o dano da ilicitude. Há lei? Sim há! Mas ela não é respeitada, valorizada, internalizada, pois a homofobia, sim, é interna da sociedade. A criminalização obrigará a reparação de danos, regularizará, de vez, o comportamento social e trará dignidade a tanta gente boa e sofrida por uma idéia fixa.
Há alguns anos Claudinha fora espancada pelo pai por ser gay, no dia 26/07/2008 um grupo foi espancado na porta de um shopping, em Santo André, pelo mesmo motivo. Todos os dias, pessoas são excluídas de rodas sociais por serem gays.
Seria a criminalização algo tão banal ou desnecessário?
Enfim, ontem conversava com um travesti que mora no meu condomínio. Conhecemos-nos há um bom tempo, se não me falhe à memória- 15 anos- mas, só ontem, tive a curiosidade de saber como ele se tornou um travesti. Não esperava que tivesse sido da forma como ele relatou, afinal, a história de vida de Claudinha revela traços desse preconceito que a seguirão e não serão apagadas pelo tempo.
Mário, aos dezoito anos, chega a sua residência, depois de uma semana fora de casa, totalmente diferente. Transformado por fora, não mudado por dentro... Tudo começou aos treze anos, Mário tem um pai coronel das forças armadas, que logo percebera nele uma tendência "afrescalhada", o pai de Mário não se incomodava em jogar tal circunstância na cara do jovem menino, que sofria com as insinuações e desprezo do pai, que preferia seus, agressivos, três irmãos do que a ele, posto à margem, sem ao menos um porquê real. Logo, Mário se viu obrigado a fazer Karatê, contrariando suas tendências românticas, poéticas e reflexivas.
Bem, as surras também se faziam presentes, e eram corretivas. Não por causa de alguma traquinagem, ou desaforo, mas eram dadas, pelo simples fato, de o fazerem mais macho. Mário viveu sufocado durante toda sua adolescência, magoado, ferido, violado. O seu pai o tolerava, por sua condição de filho, mas não o amava por uma suposta condição imaginária, temerária... Um garoto sensível, que, até então, só queria ser como os outros, mas seu lado pacífico, gentil, o afastava dessa possibilidade.
Assim Mário cresceu, e com ele cresceram as acusações de bichinha, gayzinho, mulherzinha. O que sempre era constrangedor, pois, de fato, nunca havia experimentado uma relação homoafetiva. Mas, se sentia atraído por tê-la, afinal, o que era tão proibido, tão amaldiçoado? Foi quando ele se permitiu em uma! Aos dezessete anos, pouco tempo faltava para inteirar dezoito, seu primeiro namoradinho, inesquecível, seu primeiro e último namoradinho... Afinal, na noite em que completou dezoito anos, o seu pai presenciou Mário e seu amor se abraçando afetuosamente, e quando o jovem garoto entrou em casa tomou uma surra que o fez perder três dentes. Então, ele fugiu de casa, não pela surra, mas pelo ódio do seu pai a bater e falar coisas que doeram bem mais do que qualquer bofetada... Ele não era mulherzinha, era tão somente o Mário! Arrasado, discriminado, surrado.
Uma semana se passou, e ele agora com 18 anos espera seu pai estar em casa para ir pegar suas roupas, Mário estava transformado, já não era mais o Mário, mas a Claudinha! O garoto colocou silicone industrial nas nádegas, pernas, peitos e foi ver o que seu pai achava. Nesse momento, Claudinha chorou, quando contou que ao ver o pai disse: “então coronel, o senhor sempre quis que eu fosse mulher, mulherzinha... Eu não era gayzinho, nem sou mulherzinha! Agora sou Claudinha, mulher, para realizar seu desejo”.
Mário teve seu nariz quebrado nessa noite e chamou a policia...
Será necessária a criminalização da homofobia? De certo, sim! A história da Claudinha aponta exatamente para isso. Gays muitas vezes são tolerados dentro de suas casas, pelos seus pais, irmãos, enfim, família. Mas quem disse que tolerância é um bem? O verbete foi usado na época da libertação dos escravos pelas classes mais ricas, e significava suportar um mal necessário (os negros livres). Os gays não são um mal, que os admitir se faz necessário. Alguns pensam assim, como no velho discurso evangélico: “Deus ama o pecador, mas abomina o pecado”. Ou seja, nós toleramos os homossexuais, mas não admitimos seu modo de ser. Os toleramos, pois é um mal necessário.
Claudinha foi massacrada durante toda sua adolescência por uma idéia, ela foi tolerada numa família, mas não vivenciou uma família de fato. A homofobia tácita vem ceifando vidas, sentimentos em nome de posturas idealizadas, rígidas e justificadas seja no exército, seja na Bíblia, seja em qualquer lugar... A criminalização acabará com a tolerância e fará a inclusão, tolerar não é incluir, não é aceitar, não é amar.
Infelizmente, vivemos numa sociedade onde quem quer ofender um homossexual, pelo fato, simples, da homossexualidade o faz com plenos poderes, com totais requintes psíquicos de exclusão. Sem se ver obrigado a reparar o dano da ilicitude. Há lei? Sim há! Mas ela não é respeitada, valorizada, internalizada, pois a homofobia, sim, é interna da sociedade. A criminalização obrigará a reparação de danos, regularizará, de vez, o comportamento social e trará dignidade a tanta gente boa e sofrida por uma idéia fixa.
Há alguns anos Claudinha fora espancada pelo pai por ser gay, no dia 26/07/2008 um grupo foi espancado na porta de um shopping, em Santo André, pelo mesmo motivo. Todos os dias, pessoas são excluídas de rodas sociais por serem gays.
Seria a criminalização algo tão banal ou desnecessário?
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