quinta-feira, 15 de abril de 2010

Mistério de Rimbaud

Tema de ensaio biográfico de Edmund White

O nome do poeta francês Arthur Rimbaud (1854-1891) é conhecido até por quem nunca leu uma estrofe sequer sua. Mais que um escritor, ele é um mito, e razões não faltam para isso. As principais delas, o fato de ter parado de escrever aos 21 anos e ter terminado seus dias como negociante de armas na África, e o escandaloso romance com o também poeta Paul Verlaine, casado e dez anos mais velho. Este adolescente tão brilhante quanto rebelde, que abandonou a literatura para viver nos confins de um continente selvagem, é tema de "Rimbaud: A Vida Dupla de um Rebelde", do americano Edmund White.

Divulgação

É um livro curto, com menos de 200 páginas, que o próprio autor classifica como "ensaio biográfico". Não há pretensões de criar um retrato abrangente ou detalhado de Rimbaud, até porque tudo que White escreve já foi contado em outras biografias mais completas que essa (algumas, inclusive, lançadas no Brasil, como "Rimbaud na África", de Charles Nicholl). Por que ler este livro, então? Porque White escreve pouco, mas escreve bem. O essencial da vida de Rimbaud está elegantemente narrado nessas duas centenas de páginas.

Boa parte do livro é dedicada à relação entre Rimbaud e Paul Verlaine. Quando os dois se conheceram, Verlaine era um poeta consagrado e Rimbaud, um desconhecido de 17 anos. Os dois logo iniciaram um romance, que levou Verlaine a abandonar a mulher e o filho. Foi uma

relação tumultuada, marcada por altas doses de álcool (ambos eram consumidores habituais de absinto) e brigas constantes. O romance terminou depois que Verlaine, ameaçando se matar, atirou em Rimbaud e atingiu-o na mão. Enquanto um foi condenado a dois anos de prisão por tentativa de homicídio, o outro abandonou a literatura.

Na época, o escândalo abafou a literatura de Rimbaud. Logo após a condenação de Verlaine, ele publicou seu primeiro livro, "Uma Temporada no Inferno". A obra, hoje considerada um dos alicerces da poesia moderna, na época foi ignorada. Rimbaud, então com apenas 21 anos, desistiu da literatura. Alternou épocas na Alemanha e na Itália, onde tentou sobreviver como tradutor, com longas temporadas na propriedade de sua família no norte da França. Aos 26 anos, mudou-se para a África e lá morou até morrer aos 37 anos, vítima de um tumor na perna. Nunca mais voltou a escrever.

( Foto: Arthur Rimbaud aos 17 anos, 
por:  Étienne Carjat)

White narra essa vida tumultuada de forma ao mesmo tempo próxima e distanciada. Ele é distante quando conta os fatos como quem comenta uma história que o leitor já conhece, comparando versões e desfazendo mitos (Rimbaud, explica, nunca foi traficante de escravos na África). Mas, quando o assunto é a obra do poeta, White muda de tom e fica mais pessoal. Especialmente no ótimo primeiro capítulo, em que ele conta como os poemas de Rimbaud o afetaram quando ele era um adolescente em conflito com sua homossexualidade, no meio-oeste americano dos anos 50.

O livro só não crava uma resposta para a pergunta: por que Rimbaud parou de escrever? A imagem do gênio que abandona sua arte por livre e espontânea vontade é forte e ajudou a alimentar o mito, mas talvez não seja verdadeira. White arrisca algumas explicações: em vida, Rimbaud nunca foi visto como um grande poeta, e essa falta de reconhecimento pode tê-lo levado a desistir; sua "vida de poeta" também estava ligada a um escândalo (o romance com Verlaine), incompatível com a "imagem respeitável" que ele desejava. Mas ele sempre deixa claro que são apenas hipóteses – a verdade continua um mistério.

"Rimbaud: A Vida Dupla de um Rebelde"
De Edmund White
Companhia das Letras
192 páginas
Preço sugerido: R$ 35

Fonte: IG

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