domingo, 21 de novembro de 2010

O Talibã no Brasil são os cristãos

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O discurso da hipocrisia, disfarçando o ódio como direito de liberdade de se expressar...

Imaginem vocês, caros leitores, se eu fosse um evangelinazista contumaz, talvez eu pudesse, em nome da liberdade de me expressar, congregar, na órbita desse conceito nobre, uma série de acusações contra um grupo qualquer, afinal, em nome do DIREITO DA EXPRESSÃO TODOS OS OUTROS SUCUMBEM, INCLUSIVE, O DA VIDA E O DA DIGNIDADE!

Assim, para exemplificar, deixe-me pegar como exemplo algumas coisas próprias de minha formação. Sou descendente de alemão nato, com italiana nata. Minha pele é branca, meu cabelo é liso, venho da classe média e tenho boa formação. Como direito posso expressar minha fé, e esta vem dos evangélicos, que acreditam, por exemplo, que a marca que Deus colocou em Caím, por ter matado Abel, foi a cor negra. Necessariamente, tal idéia de expressão religiosa foi justificada na escravidão norte-americana, nas colônias do sul. Dessa forma, todo um grupo de pessoas, de pele negra, estão marcados pelo poder da religião e sua interpretação bíblica.

As origens do racismo e do preconceito contra o negro, a religião dos negros e a comida dos negros são bíblicas! E eu posso não concordar com a cultura dos negros e me manifestar contra ela, porque minha fé me dá o direito de assim proceder, e se alguém tentar me contradizer, eu ainda tenho, na Constituição da República, o direito inconfundível, princípio que está acima de todos os princípios, da liberdade de expressão e crença.

Isso pode parecer nojento, hipócrita, abominável, mas é exatamente isso que a Igreja Evangélica fez aos negros nos EUA, e é exatamente isso que a Igreja Cristã faz contra os homossexuais na atualidade.

Semana passada, o pastor presbiteriano e chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Augustus Nicodemus Lopes, trouxe novamente a polêmica sobre a homossexualidade e a homofobia e o direito de se expressar... Para o pastor o PL 122/06 maximiza o direito de um determinado grupo, ao mesmo tempo em que, minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados pela Carta Magna e pela Declaração Universal dos Diretos Humanos.

Engraçado, o Nicodemus deve desconhecer o Código de Defesa do Consumidor, que trata os consumidores de forma a maximizar seus direitos frente os distribuidores e fornecedores numa relação de consumo, com o fim de tratar com igualdade a parte fraca na relação consumerista. Da mesma forma, não deve conhecer o Direito dos Trabalhadores, que maximiza o empregado e seus direitos frente ao poderio do empregador, restabelecendo a igualdade diante da lei dos interesses pretendidos. Deveria perguntar ao Nicodemus de quais direitos os homossexuais gozam para que, em havendo uma lei que proíba o preconceito, ferirá a relação de igualdade entre homossexuais e heterossexuais? E quando o dito pastor se refere a Carta Magna, a que Carta ele está se referindo, a Constituição ou a Bíblia? (isso é válido, pois quando na boca de um fundamentalista está dito a máxima carta ela nunca será a Constituição de qualquer país, antes de ser seu próprio livro sagrado).

Assim, a criminalização do racismo foi exatamente proibir a expressão livre do ódio contra um grupo, por este ter a cor da pele diferente da branca! A criminalização do homicídio é proibir a livre expressão do ódio contra alguém em que pese na eliminação deste da face da terra! A criminalização do roubo e do furto consistem em proibir a livre expressão e manifestação de alguém em saquear qualquer objeto de outrem por meios ardilosos ou pela força! A grave ameaça é a proibição da livre expressão da palavra, gestos e qualquer outro meio que intimide alguém de forma violenta. A criminalização da homofobia será a proibição da livre expressão de alguém difundir seu ódio contra o outro pelo simples fato desse se comportar diferente do que a heteronormatividade impõe.

Desta forma, a liberdade de expressão não é um direito absoluto no ordenamento jurídico, e em vários momentos a liberdade de expressão é e deve ser restringida, caso contrário uma pessoa que no momento da iria expressasse todo seu ódio contra o outro, no mais alto grau, matando-o, não poderia responder por homicídio (art. 121 do CP), pois ela simplesmente estaria usando seu direito absoluto de se expressar e manifestar. A própria constituição entende assim quando diz:

“Art. 5º, VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”.

Ou seja, a própria Constituição limitou a liberdade de expressão frente à lei, não sendo tal princípio do Direito encarado de forma plena ou indiscutível. Ainda, dois princípios estão dispostos sobre todos os outros: a VIDA e a DIGNIDADE, e eles sempre se sobressairão em qualquer hermenêutica aplicada na lei para seus efeitos.

Não demorou, e logo um velho conhecido veio se manifestar: JÚLIO SEVERO. Júlio não sustenta nem 1/3 da inteligência que ele adoraria ter, aliás, basta ver seu argumento para que se tenha pena da falta de senso do mesmo. É um asno falante (e que me desculpem os asnos pela ofensa, afinal comparar Júlio Severo a qualquer criatura é demeritório às criaturas a que a ele forem comparadas)! Escarra Júlio:

“os homofascistas nunca trocariam o Mackenzie por uma mesquita como alvo de suas reais manifestações de ódio. Eles tremeriam de medo só de pensar em fazer um protesto na frente da Embaixada do Irã, país que tradicionalmente mata homossexuais!”

Assim, Julio afirma que os homossexuais se aproveitam da, suposta, passividade dos cristãos.

Bem, que passividade cristã é essa? A passividade da inquisição católica, a passividade de João Calvino com Serveto em Genebra, a passividade dos luteranos e de Lutero com camponeses e judeus na Alemanha, ou a passividade de Hitler, cristão católico, e leitor de Lutero, contra os judeus, gays, ciganos etc?

Agora, interessantíssimo, é saber que da passividade evangélica até um exército foi criado: A LIGA DE ESMALCADA, que pretendia lutar contra outro exercito cristão pacífico: a coalizão católica, e que os dois exércitos se uniram para derrotar os turcos seljúcidas: 1531-1538. Ou seja, católicos e protestantes guerreando contra os muçulmanos. E o que dizer da passividade dos irmãos irlandeses católicos e protestantes, armados até os dentes, com milícias terroristas de ambos os lados?

A passividade cristã é assombrosa, e é implícita a apologia à guerra e ao massacre que Júlio Severo faz em seu texto, uma vez em que os cristãos começarem a agredir fisicamente os gays, em semelhança do que acontece com os muçulmanos, os gays não terão coragem de reagir! Essa é a verdadeira imagem de Júlio Severo, um hipócrita talibã de bíblia em punho! ESSA É A FACE DA IGREJA EVANGÉLICA NO BRASIL, UMA IGREJA TALIBÃ, que ameaça tudo e todos que não se submetem aos seus desígnios.

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