domingo, 10 de abril de 2011

Homofobia: uma questão envolta na heteronormatividade social

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Por João Marinho

O sexo entre homens tem uma longa história de condenações. Já foi considerado pecado, crime, doença, desvio, antinatural. Gays, sodomitas, homossexuais = pessoas que espalham doenças (nisso, ocorre até o impacto negativo do HIV/Aids). Isso penetrou no imaginário popular, como algo que não é desejado e que é contra a natureza ou os propósitos de Deus. Ainda hoje, as igrejas reavivam esse tipo de coisa – que está por trás de uma das principais origens da homofobia. O homofóbico não precisa ter dificuldades com sua sexualidade. Basta acreditar nas pregações dos pastores, padres, rabinos, xeques e de pseudocientistas.

A homofobia, infelizmente, é um valor histórico de nossa sociedade ocidental e de outras sociedades, não raro influenciadas pela primeira. Isso tem um peso. Existem até gays que são homofóbicos – e não são poucos! Somente recentemente é que se considerou a orientação sexual homossexual como não-problemática, e, ainda assim, não ocorreu o mesmo em todos os lugares ao mesmo tempo. Até o início do século 21, por exemplo, a China considerava a homossexualidade distúrbio. A própria OMS só deixou de vê-la assim nos anos 90.

Assim o "medo" de que a homossexualidade atenta contra a família é real. Nossa sociedade foi fundada na ideia de reprodução, judaico-cristã. Gays não se reproduzem, não geram filhos e nem netos e, portanto, não transmitem valores e tradição, pensam os homofóbicos. Isso já é mais que razão, para eles, de macular essa orientação sexual como algo indesejável. Muitas pessoas que supostamente têm uma relação boa com gays mudam de ideia quando o gay em questão é seu filho, por exemplo - e destilam homofobia.

Se nos atermos à questão da OMS, é demais pensar que, num espaço de apenas 20 anos, tudo mudaria como mágica. Até porque não são apenas os valores progressistas que se reproduzem: os valores conservadores e homofóbicos também! Desde crianças, já somos ensinados pelos adultos que "ser viado" é coisa ruim. Aos cinco anos, a maioria dos meninos já sabe xingar seus desafetos de "bichinha". Na escola, praticam bullying homofóbico. Não dá para esperar que, ao crescer, essa pessoa mude da água para o vinho. Ser não-preconceituoso é que é o difícil em nossa sociedade, e demanda esforço, busca de conhecimento, desejo de se abrir para o outro e capacidade de absorver e lidar com as diferenças. Para ser homofóbico, é só seguir a maré – e não precisa ter problema psicológico nenhum por detrás.

Existem diferentes graus de homofobia, mas há uma tendência atual em considerar homofóbico só quem agride de forma declarada, em geral, fisicamente. É um erro, pois mesmo que a pessoa não seja, “oficialmente”, a favor da agressão, caso tenha uma visão condenatória da homossexualidade, fica especialmente vulnerável a participar de uma agressão pelo "efeito manada" – e isso não tem nada a ver com problemas em sua sexualidade. Conversem com os rapazes que agridem gays fisicamente ou verbalmente, em grupo, e fatalmente alguns nem conseguirão dizer por que fizeram o que fizeram – e estavam “apenas seguindo o grupo” ou fazendo “o que todos fazem”. Embora existam homofóbicos que o sejam porque têm problemas de “enrustimento”, não se deve generalizar isso e adotar como regra e argumento-mor para explicar a violência contra gays e o preconceito. Para ser homofóbico, basta seguir os valores de nossa sociedade homofóbica. Nada mais. Em boa parte das vezes – arrisco-me a dizer, na maioria delas! – não é preciso questão psicológica adicional alguma...

Um comentário:

  1. Infelizmente, a homofobia não precisa de absolutamente nada para se manifestar.Exceto um único homofóbico. Não sei se você viu uma discussão na Lista GLS, ontem, o Mott falando que para "caracterizar um crime homofóbico tem que ter pelo menos um xingo, tipo "viado"." Não sei, acho que não, a homofobia está estampada até na cara de nojo que fazem ao nos ver e um tiro, como o que matou o cabelereiro, ontem, é homofóbico, sim, já que somos considerados, nós LGBT's, presas fáceis e nossa vida nada vale. Aqui onde moro já tive várias e várias agressões homofóbicas vindas de judeus ortodoxos que não nos aceitam, só o fato de cuspirem à minha passagem ou virarem a cara em repúdio não é homofobia? é, sim... e ela permeia tudo, muitas vezes na recusa de uma ajuda ou informação, por exemplo. E, claro, quem vive isso no dia a dia e não está numa bolha de conforto, comprando direitos com a grana, minoria econômica LGBT, acaba tendo minada sua autoestima. A gente está bem pela manhã, por que nos reinvetamos, e à cada agressão ou "agressãozinha" vamos piorando e acabamos indo dormir como um saco de lixo, para no dia seguinte começar tudo de novo.
    Um Beijo e obrigado pelas reflexões!
    Ricardo Aguieiras

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