Perdas e ganhos dos casamentos abertos
União mais honesta ou imaturidade? As opiniões de Regina Navarro Lins e Flávio Gikovate sobre o poliamor
Ricardo Donisete, especial para o iG São Paulo
Com uma admirada relação de 18 anos com a atriz Julia Lemmertz, o global Alexandre Borges, de 45 anos, causou polêmica em entrevista recente ao declarar que o casamento aberto pode ser sim uma opção de relacionamento. Para a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, relações que abrem mão da exclusividade sexual são tendência para o futuro. Mas qual futuro é esse? “Não é possível fazer uma previsão precisa, em 10, 20 ou 30 anos”.
A ideia do casamento aberto floresceu de maneira mais evidente nos anos 60 e 70, como uma das inúmeras consequências do surgimento da pílula anticoncepcional. “A ideia era dar liberdade sexual especialmente para as mulheres e para quem já estava casado e não havia tido experiências sexuais com outros parceiros antes do casamento, que acontecia muito mais cedo e com as moças inexperientes”, explica Gikovate.
Apesar de aberto, o casamento que permite relações extraconjugais também tem regras. “Toda relação é regida por códigos, que podem ser verbalizados ou não. As pessoas combinam o que elas querem pra vida delas. Algumas pessoas exigem que o outro conte. Eu acho uma bobagem, você tem que ter um espaço só seu, que o outro não entra. Eu já vi casais que dizem: ‘você só pode transar uma vez com cada pessoa’”, conta Regina. “Às vezes não precisa dizer ‘não gosto disso ou daquilo’, basta um comentário sobre um filme que você viu, o jeito que você conta, o sorriso que você dá. O outro vai percebendo o que você espera da relação e o que não espera”, prossegue a psicanalista.
“A regra é que não pode haver envolvimento emocional. Isso é curioso, pois não é coisa que se decide”, comenta Gikovate, jogando “água fria” na ideia do poliamor. “A monogamia não é natural e isso parece impressionar muito algumas pessoas. Acontece que quase tudo o que fazemos é antinatural: aprender a não urinar na cama durante a noite, respeitar as regras básicas de etiqueta”, continua o psicoterapeuta. “Outro aspecto é a dificuldade atual de homens e mulheres de aceitarem limitações ao pleno exercício de seus desejos, coisa própria de uma cultura que não valoriza esforços e sacrifícios e está sempre muito voltada para o prazer – como se todos tivéssemos nos transformado em crianças mimadas que não podem ser frustradas ou contrariadas”, finaliza.
Na defesa das relações múltiplas, Regina diz que as pessoas só precisam responder a duas questões quando estão numa relação. “As pessoas não têm que se preocupar se o seu parceiro transa ou não transa com alguém. Homens e mulheres só deviam responder: Me sinto amado? Me sinto desejado? Se a resposta for sim para as duas, o que outro faz quando não está comigo não me diz respeito, não é da minha conta. Se as pessoas entendessem isso, iam viver muito melhor”, sentencia.
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