por William De Lucca - 09/03/2012
O
exagero dos deputados da Bancada Evangélica chega a ser engraçado, para não
dizer ridículo, ante as demandas dos homoafetivos. Nesta semana, o deputado
federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) disse,
em artigo publicado em seu site:
“Tal
grupo (os homossexuais) representa uma minoria, não destas que sofrem de
verdade, mas que sob uma camuflagem de perseguição, tenta e consegue impor seu
modo de vida promíscuo, seus pensamentos anti-família e anti-bons-costumes (…) O
que virá a seguir? Que Deus nos ajude! E nos ajude logo, antes que, esses
fascistas, expulsem de uma vez Deus da nação brasileira, como buscam exterminar
programações religiosas na TV”
Vou
ignorar as falhas na argumentação do deputado, que normalmente carecem de
ligação com a lógica e com os fatos. Vou ignorar que o Brasil é o
líder do ranking mundial de mortes de homossexuais em crimes
violentos e de natureza homofobia, e que esta discriminação é apenas a ponta de
um iceberg de crimes de preconceito e de intolerância que não chegam à luz da
justiça. Vou ignorar também o conceito de família do deputado (que também foi
ignorado pelo
STF ao aprovar a união homoafetiva) e de muitos
fundamentalistas que se esquecem de atualizar seus conceitos morais para a
atualidade, e que querem privar outros de fazê-lo. Vou ainda fazer vista grossa
a utilização indevida do termo ‘fascista’ referindo-se a homossexuais, visto que
os fascistas (com a conivência da grande maioria de instituições religiosas)
mataram milhares de homossexuais durante a segunda guerra mundial (
e ainda hoje), e seu espólio filosófico
ainda inspira matadores de gays pelo Brasil.
Vou
me ater apenas ao ponto central da argumentação de Feliciano: o medo de que os
‘homossexuais expulsem deus (e seus seguidores) do Brasil. A liberdade religiosa
é uma clausula pétrea da Constituição Federal, que no artigo 5º, VI, estipula
ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre
exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos
locais de culto e as suas liturgias.
Mesmo
que um presidente homossexual (outro além da egodistônica Dilma Rousseff) assuma
o poder, as liberdades religiosas estão garantidas. Mesmo porque, em nenhum
momento, em nenhuma declaração pública, nenhum homossexual (que eu tenha
registro) falou contra as liberdades religiosas, não importando a crença ou
denominação. O problema é que muitas destas denominações não querem apenas viver
suas ideologias, mas as impor sobre toda a sociedade, de forma autoritária e (aí
sim) fascista. Não compete ao Estado ou a Constituição versar sobre o que é
pecado e sobre os conceitos infundados de família que A ou B tenham criado, mas
garantir os direitos humanos a todos, independente de crença, baseados na
liberdade individual e no que há de mais moderno no mundo em relação a estes
direitos.
Agora,
os direitos dos homossexuais (inclusive de existir ou de morar no Brasil) podem
ser ameaçados se um grupo fundamentalista assumir o poder. O medo tem de ser
nosso e não dos evangélicos. O que garante que um presidente evangélico não
possa ‘proibir relações entre pessoas do mesmo sexo’? O que garante que uma
maioria absoluta no congresso não torne homossexualidade uma doença e o
tratamento compulsório? Mesmo sem maioria, eles já querem fazer tal absurdo,
através do projeto de lei do Deputado Federal João Campos
(PSDB-GO), usando truques de lingüística simplistas chamando a cura de
‘tratamento’, sem buscar no dicionário o significado de ‘tratamento’.
O
que nos garante que teremos direitos assegurados com uma maioria de
fundamentalistas no poder, se hoje já não temos direitos respeitados? Como
esperar que a discriminação contra LGBTs cesse, se não ensinarmos as gerações
futuras a beleza da diversidade entre as pessoas? Sem a aprovação de um projeto
que torne obrigatório o ensino de orientação sexual e identidade de gênero nas
escolas públicas e particulares, obviamente adequadas a realidade pedagógica de
cada jovem, nunca sairemos deste ciclo vicioso de homofobia e preconceito.
Como
seus pensamentos em looping, os fundamentalistas querem que a existência dos
homossexuais seja miserável, para poder então ‘curá-los’, aumentar seus
rebanhos, e consequentemente seus lucros. Os LGTB seriam sempre discriminados
por terem seus direitos (inclusive a vida) negados por pessoas que não aceitam a
diversidade. E estas pessoas não aceitam ou compreendem a diversidade porque não
forem EDUCADAS para tal,
pois nem em casa ou escola ensinam isso.
A
falta de coerência nos argumentos do Deputado Marcos Feliciano é aterradora, e a
forma como ele tenta manipular as massas que o seguem também. O medo de perder
direitos civis, de perder a dignidade, de perder o emprego, de perder o abrigo
em casa, de perder os amigos, a família, de perder dentes, de ter ossos
quebrados, de perder a vida em um beco de uma cidade qualquer, é NOSSO,
deputado. Porque este medo real, e não hipotético,
já faz parte do cotidiano de todos os gays, lésbicas,
bissexuais, travestis e transexuais brasileiros.
--
Junior Vieira
Bibliotecário
Penso que a fé mal focada pode ser fonte de grandes males .,assim .,como já causou muita dor em épocas mais recuadas ,tais como a "santa" inquisição e as cruzadas , ora , se a mensagem de Deus é de amor pessoas como esse Marco feliciano traem a essência de Jesus , quando espalham sua maldade e e intolerância.
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