quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Por que decidi votar em Haddad


Haddad, Serra e ONG Ecos



Depois do apoio de Silas "Malacraia", agora Serra se sai com essa? JÁ DEU! Declaro meu voto em Haddad.

por João Marinho

Algumas coisas que precisam ficar claras:

1- Eu já trabalhei na ONG ECOS, na companhia de gente capaz como Sandra Unbehaum e Sylvia Cavasin.
 Conheço o trabalho deles. A Ecos jamais faria um material tão importante como o Kit Escola sem Homofobia para induzir crianças não apenas à homossexualidade, mas a qualquer orientação sexual. Inclusive porque tal "indução" é mesmo impossível.

2- Reconheço que boa parte dessa campanha de desinformação sobre o kit, apelidado de "kit gay" é culpa do próprio Haddad. Já falei aqui, mais de uma vez, da gestão deficitária do assunto quando ele era ministro da Educação. O kit era tratado como segredo, não foi disponibilizado ao movimento LGBT como deveria e aí qualquer coisa que se dizia dele, mesmo as imbecibilidades arrotadas pela bancada evangélica fundamentalista, passava por verdade. A traidora Dilma, mais preocupada em preservar Antonio Palocci do que em combater a homofobia, vetou o kit sob pressão dos fundamentalistas - e até hoje ainda não há informação oficial suficiente sobre o que realmente havia nele e do porquê foi vetado (a versão oficial de Dilma, porque a real, sabemos: a tentativa de manter Palocci - o kit foi dado em moeda de troca para os evangélicos não irem ao pescoço do então ministro): ora o kit estava ok, ora estava em produção, ora estava sendo reavaliado, ora não era definitivo, ora seria refeito, ora Dilma viu o material errado, ora o kit foi vetado por trazer filmes "inadequados". Em suma, no máximo, má-fé. No mínimo, incompetência, por parte, inclusive, da senhora "presidenta" - que, ao menos, deveria ter solicitado assistir ao material correto, se fosse o caso.

3- O fato narrado em "2", no entanto, não autoriza Serra a fazer da homofobia sua plataforma de campanha. Ao se juntar a Malafaia e fazer acusações injustas ao material - que, graças aos céus, foi vazado na internet -, está alçando a homofobia a estrela de campanha, buscando atrair eleitores conservadores pela mobilização do ódio e da desinformação. Por mais que Haddad tenha sido incompetente na gestão do kit, isso é comparativamente muito pior. Uma decepção sem tamanho, já que o histórico de Serra inclui o combate à homofobia (vide a CADS, o kit anti-homofobia distribuído pelo PSDB e mesmo pautas caras aos gays, como a questão dos antirretrovirais para o tratamento de soropositivos).

4- Com Malafaia fazendo eco à campanha homofóbica de Serra, cresce o desejo de ver seu candidato derrotado nas urnas. É triste dizer isso, mas entre o candidato de Edir Macedo (Russomanno, já derrotado), Malafaia (Serra) e Maluf (Haddad), o de Maluf é o menos pior. Esses evangeloucos, ministros do ódio, conseguem justificar até o Maluf!

5- Espero que Haddad, se eleito, faça uma prefeitura tão boa quanto foi a de Marta Suplicy e, mais livre da influência da traidora Dilma (já que não trabalhará para ela diretamente), honre seu comprometimento com a comunidade LGBT e com a democracia, deixando essa incompetência em relação ao kit no passado.


Sobre a ONG e o plágio
De resto, a ONG Ecos não tem nada a explicar, gente.

Eu já trabalhei na ONG. Eles são supercompetentes, trabalham com questão de sexualidade e gênero faz muito tempo, e simplesmente, a biblioteca deles fui eu e meu ex-namorado que organizamos. Enquanto isso, o banco de dados que eles usavam para o gerenciamento interno fui eu que desenvolvi.

Tive, portanto, a chanc
e de acompanhar o trabalho deles bem de perto. A ONG, reafirmo, jamais produziria um material que pudesse ser acusado de "induzir" ninguém a qualquer orientação sexual.

O que acontece é simplesmente uma adequação de conteúdo à necessidade do cliente: no caso, o MEC. E não vamos ser Pollyanas, essa necessidade passou pela adequação à agenda fundamentalista e a tornar "mais soft" a produção para não excitar os brios da bancada religiosa.

Não funcionou, e Dilma, numa tentativa de manter intacto o pescoço de Palocci, deu o kit em moeda de troca aos evangélicos, que, pela boca de Garotinho, haviam ameaçado o ex-ministro. Não funcionou: ficamos sem kit, e ela sem Palocci. A gestão de Haddad em todo o processo foi deficitária, como esclareci acima. Por fim, ele agora admite que vetou "junto com" a "presidenta".

Enquanto isso, o kit era tratado como segredo de Estado, não teve a divulgação que o movimento LGBT havia pedido e qualquer coisa que se dizia sobre ele, inclusive a pataquada evangélica-Bolsonaro, passava por verdade. O MEC só começou a se pronunciar de fato sobre a questão quando o assunto se tornou irresistível e começaram a vazar as produções na internet. Foi, inclusive, aí que soubemos que o kit era destinado aos professores, e não aos alunos, lembram disso? Eu, sim.

Agora, a gestão vergonhosa dessa história por Haddad, reafirmo, não justifica o posicionamento de José Serra, que, cada vez mais unido aos religiosos da estirpe malafaica - malvistos até por outros evangélicos mais esclarecidos - fez do kit, aprovado pela UNESCO e produzido por uma ONG competente, uma estratégia de campanha a promover o ódio homofóbico e atrair o voto conservador pela prática da desinformação. Até mesmo dizer que o kit era destinado aos estudantes e que induzia o (sic) homossexualismo às crianças é errado e mentira, já que a ONG Ecos não plagiou nada. Foi ela mesma que esteve à frente do kit tucano, não sendo possível plagiar alguém a si próprio: confiram nas notícias que têm surgido sobre a questão.

Além disso, não há nada que indique que um mesmo filme não possa ser usado em dois materiais distintos para clientes distintos e com objetivo semelhante, o combate à homofobia. Se "Boneca na Mochila" ajuda nessa questão no kit tucano, por que não ajudaria no kit do Haddad, se o objetivo é o mesmo? Porque mudou o cliente, a mensagem do filme se altera também? Claro que não. Os kits são diferentes, mas houve o reaproveitamento de algum material que atendia a ambas as expectativas.

Por causa disso, apesar de todas as críticas que tenho à gestão Haddad sobre o assunto e mesmo considerando Dil-má traidora (ela não leva mais meu voto nem para síndica de prédio), considero Haddad menos pior que Serra nesse momento para gerir São Paulo. Sem falar do gosto pessoal que eu teria em ver o candidato do "kit gay" e do ódio a ele dedicado por Silas Malafaia ganhar a eleição.

O histórico de Serra, vale dizer, depõe a seu favor. Serra criou a CADS em São Paulo, teve atuação positiva junto à Parada Gay e, no que diz respeito ao tratamento para soropositivos, é irretocável. No entanto, não estamos falando apenas de passado, mas de futuro. Apesar de suas ações no passado, será possível encontrar algum bom sinal em quem abraça o apoio malafaico de tão bom grado e faz uso da homofobia de forma tão descarada para se eleger, em um futuro próximo?

Lembremos que Marta Suplicy, malgrado seu enorme apoio, e histórico, à comunidade LGBT, foi punida nas urnas por tentar uma manobra semelhante. Lembram-se da história do "Kassab é casado?", e como isso pegou mal eu entre nós? Eu, sim - e critiquei abertamente a Marta à época, mesmo sendo seu eleitor confesso. Se Marta foi punida, por que não punir Serra, considerando que seu uso de argumentos homofóbicos é agora muito mais extenso, expresso e declarado que o da ministra da Cultura?

Vale dizer, por sinal, que não é a primeira vez que Serra faz esse imbróglio na eleição. Na eleição presidencial, trouxe à tona o tema do aborto que, no fim, acabou acuando a ele próprio e a Dilma no paredão fundamentalista, para depois descobrirmos que Monica Serra praticou, ela mesma, um aborto? Lembram disso? Eu, sim: não me esqueço das coisas facilmente, embora alguns petistas mais radicais me acusem de ser "inocente".

Agora, vem Serra trazer o kit como estratégia homofóbica de campanha e descobrimos que, no período antes de ele se render às trevas evangélicas, produziu um kit semelhante com auxílio da mesmíssima ONG... A história se repete.

Uma pena que tenhamos chegado a isso. Por algum tempo, namorei Bruno Covas como opção à Prefeitura de São Paulo e até estive presente a uma reunião do Diversidade Tucana com o então pré-candidato. Infelizmente, o PSDB errou ao ressuscitar José Serra, que, desesperado e fazendo coro aos homofóbicos, deve agora pagar o preço por ter, também, nos traído - e renegado seu passado.

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