sexta-feira, 16 de julho de 2004

Acabei de acessar meus e-mails da lista Gospel, e lendo-os  percebi como a galera que participa anda INTERNACIONAL. São pessoas da Inglaterra, EUA, Suíça, etc. Também percebi a fragilidade, a carência e os desencontros, que muitos de nós vivenciamos na busca por nós mesmos! Algo extremamente comum, mas que não dá para acontecer sozinho; precisamos do outro para nos encontrar conosco. A realidade é um conjunto de fatos que cerca a todos nós, individualmente ou nos alienamos dela, ou partimos na aventura de sua descoberta: individuo, enquanto pessoa, coletiva, enquanto pessoa sociável.
 
Sociabilizar é algo tão perigoso ao mesmo tempo fascinante! E tenho medo, confesso, na sociabilização com um pedido de valor denominado PERDÃO. Explico: perdão é algo que pedimos, quando, supostamente, cometemos uma injustiça com o outro, ou quando agimos mal e, percebemos que não deveríamos ter trilhado tal caminho, pedimos perdão quando alguém muito importante para nós é desdenhado por nós, ou quando alguém qualquer se acha violado por um outro alguém. Isso está diretamente relacionado com nosso arcabouço cultural, com nossos valores adquiridos socialmente. Faz parte da boa ética, da moral; um conjunto estético ideológico, que passa a reger os comportamentos aceitáveis para um grupo, que estipula regras de convivência. E por que tenho medo? Por um motivo simples, muitas vezes o perdão é demagogo! Vez ou outra o PAPA JOÃO PAULO II vai à impressa internacional pedir perdão pela inquisição católica na Idade Média, pelos erros cometidos por essa inquisição em nome da Igreja e de Deus, pelo extermínio da existência de muitos! Entretanto, será no futuro que haverá um outro Papa pedindo perdão pelas encíclicas que geram na sociedade uma antipatia pelo que não é convencional? Pois é assim que o atual Papa faz, pede perdão da inquisição passada, enquanto promove a inquisição presente; os pagãos são os GAYS da vez!
 
Entretanto, essa não é uma exclusividade Católica, os Evangélicos também são "caça gays", em nome da Bíblia não pedem perdão, se JUSTIFICAM EM TUDO! Sempre os achei mais perigosos, e de fato, os são. Basta olharmos na lista Gospel os testemunhos de vida, e o massacre religioso Evangélico, promovendo traumas e neuroses na vida dos participantes. A hipocrisia evangélica ganha terreno no Brasil e breve ditará as leis desse país; afinal, muitos gays que buscam a cura de seu "mal"  andam fazendo do seu voto à arma de sua própria morte. Votam em candidatos evangélicos, que querem fazer uso da política para promoção das ideologias de suas igrejas particulares, no Congresso Nacional e, na vida dos cidadãos comuns.
 
Uma vez li uma frase de Nietzsche, que me impressionou: "O Criador procura companheiros, não procura cadáveres, rebanhos, nem CRENTES; procura colaboradores, que inscrevam valores novos ou tábuas novas" (NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra). Embora Evangélicos, embora participantes de uma lista gay, de evangélicos gays é momento de começarmos a escrever essa tábua nova, deixarmos de ser cadáveres, rebanho ou simplesmente "CRENTES zumbis" e sermos responsáveis diante de nós mesmos por nossa realidade. Sermos esse Criador, que vivencia a vida exaltando o que ela tem de bom, e não se resignando em suportar o destino, enquanto uns fazem uso da ideologia do perdão e outros nem isso fazem!
 
Fico feliz por cada desencontro lido na lista, e isso não porque sou sádico, mas nesses desencontros haverá o encontro. É por isso que fico feliz! Em saber que a cada dia mais e mais pessoas tomam a batuta de suas orquestras, vivenciam a potencialidade do ser, do existir, até que Tornar-se-ão totalmente, até que existam plenamente.

 
Renato Hoffmann


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