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Assim, militar é atuar, é praticar algo, em nome de alguma coisa, em concordância de alguma idéia ou significado. Destarte, ser militante é ser inserido em alguma organização, sendo as mais comuns- políticas. Mas, não só às políticas, como também, às que se movem em atmosferas de camaradagem, cumplicidade num mesmo ideal. O que significa, intrinsecamente, que toda militância é militância de uma ideologia; sua prática, sua ação. Assim, mesmo sem estar inserido formalmente num grupo, aquele que porta à mensagem comum desse grupo, do seu ideal e defesa, é um militante de uma causa comum, pois se insere, em último, no discurso da ideologia, ou no próprio ideal.
A militância gay vem incomodando certos seguimentos da sociedade brasileira, por conta de um fator dominante dentro da concepção do poder. Acontece que a classe média é conservadora em seus princípios ideológicos. A construção da chamada sexualidade se dá, basicamente, ligada à moral cristã que, em qualquer das vertentes: católica ou evangelicalista, é imperativa, legalista, sexista.
Na sociedade burguesa, o heterossexual é o normal, foi eleito no discurso como a única forma sadia de sexualidade, e foi ligado ao culto viril do homem vitoriano. O poder de submeter e se impor são presentes nesse discurso, que logo foi rejeitado pelas feministas, ainda que heterossexuais, mas que não concordavam da submissão ao macho pelo seu culto.
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Do outro lado da moeda, os homossexuais passaram a ser interpretados como caricaturas; um deboche irônico, vulgar, mesquinho, jocoso. Aqueles que não podem ser levados a sério. Suas aspirações foram condenadas à marginalidade. Em tudo, o gay era vislumbrado como escória. Pífios, suas relações eram putrefatas, anômalas. O homossexual era um puto, doente e condenado em toda sua existência.
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Da imagem de putos, de prostitutos, nunca se cogitou uma forma existencial aos gays, afinal, estes, obstinando-se, assumiam a caricatura, ou a imposição do preconceito, na leitura da realidade última, dos atores, nessa representação. Portando, o relacionamento casual, da famosa trepadinha sem compromisso, que ainda reflete o maior obstáculo a ser superado. Isso, pois, o homossexual se acostumou, com o falso conceito, que ele é gay porque deseja o mesmo sexo. Nesta atitude, a homossexualidade era assumida com todo peso da leitura heterossexual. O gay não desejava ser homossexual, ele apenas se resignava a isso.
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Então, a distância se dá no pensamento, na atitude, na postura e no próprio desejo; a questão não é mais desejar um rapaz do mesmo sexo, agora, desejar relação com rapaz! Aqui não é só trepar, mas é se desnudar por completo, dividindo alegrias, tristezas, tempos, quartos, lazeres, saberes, confidências, carícias, fidelidades, etc. Esse modo de vida homossexual, construído na amizade, nas alianças é, para Foucault, temerário da sociedade.
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Em último, não seria descobrir uma maneira de ser homossexual, mas inventar tal maneira. Até mesmo, respondendo a sua ascese, e não importando, a mesma, de categorias já existentes. "Ser gay é não se identificar aos traços psicológicos e às máscaras visíveis do homossexual, mas buscar definir e desenvolver um modo de vida" (Michel Foucault).
Hoje, o ataque à militância gay tem sido feito por uma leitura heterossexualizada da realidade. Seja ela em trabalhos acadêmicos, ou seja em sites religiosos, o paradigma para a construção da crítica é o modo de vida heterossexual. Que faz a crítica se perder no seu próprio etnocentrismo, não sendo legítima. Pois, a mesma não tem autoridade para falar do modo vida homossexual, pois deveria partir deste, para criticá-lo. Destarte, é piegas, e um insulto a inteligência à proposta celibatária aos homossexuais. E, do mesmo modo, é mesquinho os rótulos atribuídos aos gays, pois são simplistas, irracionais, irrefletidos e, nada mudarão a realidade última, que é apresentada como proposta pela militância gay.
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A militância é necessária, pois, sempre existirá uma pequena parcela da população extremamente preconceituosa, que ataca todas as minorias. Por isso a nossa luta, como de qualquer outra minoria, é tão assertiva. Nós estamos em todos os lugares, em todas as profissões, ocupando altos postos, somos consumidores e pagamos impostos, a sociedade não pode mais nos desprezar. A existência humana está baseada nos direitos civis, isso basta para uma criança ainda não nascida já ser considerada um ser humano, tem direito à vida da mesma forma que os gays e as lésbicas têm direito a viver como eles bem entenderem. E é isso que a militância faz, defender os nossos direitos. Admiro os americanos por isso. Na marcha do orgulho gay de Nova Iorque, todas as comunidades são representadas, latinos, judeus, negros, asiáticos, e as profissões mais improváveis também, policiais e bombeiros fardados e empunhando a bandeira gay e com a aprovação da sua corporação. Um dia chegaremos a isso, com a militância consciente.
ResponderExcluirabraço você com carinho
O Renato, li o seu artigo. Foi depois da nossa conversa? vc vc é muto bom para escrever. Acho que deveria virar cronista de jornal. rs
ResponderExcluirVictor