Penso que esse diálogo daria uma tese de mestrado, mas não é a pretensão, pelo contrário, aqui gostaria de expor da idéia sem o mérito do 'científico' pelo cientificismo... Apenas uma reflexão ética em uma incidência moral, costumeira, social...
A promiscuidade se liga, na história, diretamente a um conceito comumente difundido nas sociedades clássicas antigas: a xenofobia. Este termo não será entendido, aqui, em nosso diálogo, como preconceito amplo, mas, in stricto sensu, na sua forma semântica composta xenophobos; onde xenos= estrangeiro, phobos= aversão.
A postura ideológica assumida na Grécia era contra o hibridismo considerado a um cidadão como vergonhoso, insulto, desastre, ultraje, prejudicial. Essa postura grega contida na filosofia, também, rezava que toda forma misturada era prejudicial. Assim quando a alma se misturava ao corpo se tornava prisioneira neste. Quando se misturava aos prazeres da carne prejudicava sua libertação, sua razão sofria demérito. Portanto, às formas hibridas não era vislumbrada a ordem, pelo contrário, a mistura solapava à ordem, destruía à razão, era prejudicial às tradições.
Com os romanos veio a pax romana, e com esta um novo conceito para a mistura. Acontece que os romanos não podiam, à semelhança dos gregos, auferir significado destrutivo às associações. Eles dependiam das mesmas para controlar o império, submetendo o governo, administrativamente, aos povos dominados. Entretanto, permitindo à cultura local seu acesso próprio às divindades, e significados ímpares, que cada uma trazia de sua formação singularmente.
Assim, hibrida, o termo em latim, equivalente ao hybridos grego foi perdendo seu significado de desastre, insulto, vergonha. No latim, em princípio, hibrida era usado, também, para designar os bastardos, perdendo a força negativa foi usual à interpretação pela associação ou mistura. Mas a cultura era helênica, e os próprios romanos não eram tão tolerantes a despeito do altruísmo para terem um conceito, tão aberto, livre do próprio etnocentrismo comum às culturas antigas. Assim, surge um conceito de mistura desordenada, confusa, truncada.
Promiscuo foi se estabelecendo, com os conceitos de híbrido, para enfraquecer a própria ideologia grega que via em toda e qualquer mistura algo ruim, e só tolerava por conta do comércio. Roma, entretanto, não podia conceber a mistura, de per si, como os gregos faziam, como execrável. Afinal, os romanos imperavam pela mistura, consentindo-a dentro do império. Como não podiam viver sem suas formas etnocêntricas, contudo, a mistura que fora condenada, era aquela desordenada, que não se submetia aos valores helênicos. Promiscuo era o confuso, o sem ordem, o sem lei, o perdido na mistura.
Não demorou muito para o cristianismo se apoderar desse termo potente e necessário. Enfim, o cristianismo, logo no primeiro século, misturado com a razão estóica condenou a mistura com o modus vivendi dos romanos e propôs à salvação! Tudo que vinha de Roma era promiscuo para um cristão, inclusive, a sexualidade do povo do império. Assim, na conotação, promiscuo se apropriou do libertino , pois na era cristã, a vida de Roma era uma mistura de libertinagem e crueldades contra a santidade. E assim o termo chegou à contemporaneidade.
Bem, aqui se tem a construção histórica do conceito, na próxima postagem vou continuar abordando a promiscuidade. Entretanto, partindo da reflexão ética, propondo uma moral prática na conseqüência da inserção ao meio gay.
aprendo muito com você. obrigada por compartilhar todo o seu saber.
ResponderExcluirbeijo e abraço você com carinho. uma ótima semana.