sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Promiscuidade, ser-no-mundo e a "coisificação"

Fui ajudar meu sobrinho, de 07 aninhos, fazer uma produção de texto para sua escola. No caso, o livrinho A cigarra e a formiga. Quando tomei conhecimento da historinha, de pronto, elogiei: "Que historinha linda!". Lembrava da minha doce infância.

Bem, fui fazer a revisão ortográfica, na produção de texto do guri, quando me deparei com a moral da história. E confesso ter ficado assutado! A cigarra havia ido procurar a formigada, pedindo ajuda, esta, então, perguntara o que fizera a cigarra durante todo o verão, o que escutou como resposta: o canto! A formiga, então, respondendo, sugeriu que a cigarra dançasse.

Daí, a moral da história:

"Quem não sabe manter em equilibrio o trabalho e o lazer fica sem ter o que comer!"

Quando escrevi a matéria, para esse blog, sobre a promiscuidade e o conceito xenofóbico, havia prometido falar mais sobre o tema, ou não fechá-lo, naquele momento, sem algumas considerações importantes. Considerações que nos dizem da ética, de alguns princípios que se invertem na moral social, e quando refletidos, filosoficamente, nos apontam um esvaziamento principiológico das condições do sujeito refletir sobre si mesmo, e sobre suas atitudes.

Vamos falar sobre a cigarra e a formiga. Obviamente, uma moral quanto ao hedonismo exacerbado, e o principio do trabalho como ascese eram vislumbrados nesta historinha, mas a ajuda e o auxilio também faziam presentes . A caridade era exercida independente de "A" ou "B" serem agentes de seus próprios infortúnios. Ela estava ali, contida na história e era a moral ensinada. A cigarra enquanto agente, ser-no-mundo, tinha seu valor e seu canto alegrou o formigueiro durante todo o inverno.

Assim, alguns poderiam alegar que ela pagou pelo auxilio com a sua canção. Outros, contudo, dizem que na aceitação daquele que é diferente um novo ideal é traçado, um novo comportamento é vislumbrado. Ao acolherem a cigarra, descobriram, nela, seus encantos. Não era como todos o que ali estavam, mas na diferença um olhar de descoberta é possível, na aceitação das virtudes do outro que se somam as nossas e constroem um novo mundo, um novo olhar.

Hoje em dia o conceito de promiscuidade como algo mal, moralmente incorreto e danoso é muito forte. Lembro-me de um jornalista do site A Capa, que postando uma matéria sobre uma festinha sexual foi execrado, e taxado de banal, dentre vários, inúmeros comentários de oposição que seu artigo ocasionou. Entretanto, os conceitos estão invertidos. Afinal, transar todos transam, e como fazem! A moral exacerbada, puritana e santificada recai como uma bomba não entre os grupos sociais consagrados, ou entre os hipócritas (aqueles que condenam, mas fazem escondido), mas recai nos que, historicamente, figuravam nas esferas "SUB".

O problema consagrado não está na mistura, nem no sexo. Mas na coisificação do ser (por que os amigos não transam entre si? Deveriam! Sexo é bom, amizade é boa, amigos deveriam transar entre si). Ontem saí para beber com um amigo, e todo tempo pensava comigo mesmo: "Por que não transar?". Seria promiscuo, seria uma orgia, talvez, seria imoral, seria louco, seria misturado, confuso, prazeroso. Mas, não poderia ser coisificado. Tenho certeza, que muitos se deparando com isso estão em estado calamitoso, perplexos, lendo e preparando para me xingarem. Mas, transar em grupo, transar com amigos, transar com quem quer que seja não é pecado, não é mal e nem danoso.

Contudo, o problema recai na falsa moral. Essa falsa moral rege que transar é mal, é incorreto. Que para se transar as pessoas devem estar em anonimato. Fechadas em algum lugar, escondidas. Nunca em público! Daí o esposo padrão, rico, bem sucedido, letrado sai à noite com sua BMW vai num lugarzinho de putaria e pega uma, duas garotas de programa, ou dois garotos de programa, transam ele paga e vai para casa condenar com sua esposa quem faz isso, e, depois, manter sexo com a mesma, no mesmo aninimato .

Daí as pessoas acham: fazer sexo é mal, mas, que fora isso tudo é permitido, inclusive, comprar a
dignidade de alguém. Coisificar a relação com alguém. Tornar em objeto tudo aquilo que o dinheiro possa comprar, porque, no fim, é isso o que realmente importa: o ter. Assim aquilo que me faz ter, independente se o outro está sendo mero objeto não é mal, não ruim, nem danoso. É normal! Promiscua é a prostituta, não quem sai com ela... Danoso é o sexo, não aquele que acha que pode ter tudo o que seu dinheiro comprar, porque tendo ele é...


A sociedade cristã inverteu o conceito do sexo, fazendo a proibição deste, em busca de uma castidade e celibato ufanos. Assim, ela consagrou o demérito do humano, proibindo o ser de se conhecer no outro sem barreiras. Ela priorizou às máscaras e as mentiras. E, a sociedade protestante, capitalista, intensificou na proibição do sexo a liberalidade do objeto. Ser coisa é bom, ou é normal, ou ninguém questiona. Transar não pode, se misturar ser promiscuo é inescrupuloso.

Entretanto, não vi escrúpulos, quando na historinha, recontada, da cigarra e da formiga, esta resolve a negar ajuda, mandando a cigarra dançar porque ela havia ficado cantando no verão. O ter consagrado no lugar do ser, e não questionado por ninguém, pois no fim, o que vale é viver assim, trepar escondido, e difundir o preconceito sobre os outros que não têm os mesmos potenciais financeiros e ir à igreja, se se for cristão! Desta feita o ser-no-mundo permanece sem subsídios para se ver, se contemplar e se entender.

Um comentário:

  1. Olá Renato! Sou um grande fã do seu site, tanto que leio todos os dias. bom, acho que você generalizou no pensamento sobre a promiscuidade. Na minha opinião, está errado e é anti-bíblico, e não estou coisificando ou concordando com os que pagam, ou com a orientação sexual. É ótimo transar concordo plenamente, e por isso escolhi a quem amo e respeito para estar ao meu lado também para isso. Más cada um e cada um e faz com o seu corpo o que lhe parece melhor e está a seu gosto fazê-lo, agora dizer que não é errado, sim, é para homossexuais e para heterossexuais.

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