Papa perde audiência e Vaticano fecha no vermelho
Wálter Fanganiello MaierovitchEspecial para Terra Magazine
Logo depois da morte de Wojtyla e com Ratzinger a ocupar a cadeira de Pedro com o nome de Bento XVI, uma "batina anônima" profetizou, - numa conversa que mantivemos entre o Castel Sant'Angelo e um bar-café da praça Cavour--, que o novo papa não conseguiria empolgar como o carismático antecessor.
Num primeiro momento, tive a sensação de ter o meu interlocutor dito uma obviedade. Ratzinger havia saído da direção da "Propaganda Fide", órgão antes denominado de "Santo Ofício" e já conhecido como tribunal da Inquisição. Lá, tinha se notabilizado, - e basta lembrar do sucedido com Frei Leonardo Boff -, pela volta ao fundamentalismo interpretativo e ao obscurantismo dos tempos do Medio-Evo, como se nota, agora mais claramente, pelo seu pontificiado.
No entanto, o inesperado aconteceu. Ratzinger não perdeu audiência. Nos primeiros doze meses do seu pontificiado (24/4/2005 a 23/4/2006), conseguiu mobilizar 4,0 milhões de ouvintes e logrou suplantar o arregimentado no último ano de governo do debilitado Wojtyla.
O certo é que o carisma Wojtyla ainda contagiava os fiéis. Tinham curiosidade no sucessor, embora todos, até as colunas de Bernini que abraçam a piazza San Pietro, soubessem que a mesma linha de governo da Igreja, conservadora e reacionária, permaneceria com Ratzinger. Pelas mudanças normativas introduzidas, Wojtyla já havia ungido Ratzinger: para os crentes, é o Espírito Santo que escolhe o papa e os presentes na Capela Sistina são meros instrumentos da vontade divina.
Apesar do sucesso da viagem apostólica aos EUA, o papa Bento XVI perdeu platéia em 2008. Segundo cálculos oficiais provenientes do palazzo Apostólico, o papa perdeu 0,5 milhões de participantes nas audiências, encontros, incluídas as bênçãos para o mundo (urbi et orbe), da janela do dormitório papal.
Neste ano de 2008 e até 29 de dezembro, 2,5 milhões de fiéis e peregrinos estiveram a ouvir o papa Ratzinger. De se recordar, conforme consignado acima, que nos primeiros doze meses de pontificado, o papa teve uma platéia de 4,0 milhões de pessoas.
Por outro lado, o Vaticano está a fechar as contas no vermelho, como já sucedera em 2007. Nem no período de crise sob o pontificado de Wojtyla, quando o cardeal Marcinkos envolveu-se na quebra do banco Ambrosiano e manteve ligações negociais com Michele Sindona, apelidado de banqueiro de Deus e da Máfia, e Roberto Calvi, o Vaticano passou por momentos de desequilíbrios financeiros como os sentidos em 2007 e 2008.
Da administração vaticana, já foi dado o recado para 2009: corte de gastos e reduções nas remessas de ajuda pecuniária a cardealatos e bispados. O recado foi dado pela voz do cardeal Paul Cordes: - "Sentimos a crise. Não temos recursos como antes. Agora, devemos refletir mais como buscar fundos".
PANO RÁPIDO. Talvez com orações, o papa Ratzinger recupere audiência e um milagre poderá ajudar no aumento do pib-vaticano.
Wálter Fanganiello Maierovitch é colunista da revista CartaCapital e presidente do Instituto Giovanni Falcone (www.ibgf.org.br).
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