Não entendo como muitos trabalham a espiritualidade, e acham que na economia do eu estou me sentindo bem, de fato, possa condizer com a realidade de um a espiritualidade sadia.
As pessoas se contentam com pouco, e nisso se alienam de tudo. Principalmente na contemporaneidade; no consumismo, na “objetificação” das pessoas, no individualismo exacerbado. O bem-estar e a sua mística se traduzem na expressão, horrenda, do ter para aparecer. E nisso, já há muito, a própria filosofia esboçou a sua teoria do ser sendo aquilo que se produz. Noutros termos, você é, tão somente, aquilo que é capaz de ter.
Percebo, como um exemplo não distante de nós, essa premissa, retro
mencionada, vivenciada nos templos das igrejas neopentecostais, em especial, da Igreja Universal do Reino de Deus. Afinal, a sociedade de consumo não poderia estar abandonada sem algo que a justificasse. Assim, os templos da pós-modernidade não se encerram nos shoppings das grandes cidades, vendendo e comercializando produtos, enquanto insuflam o consumismo exacerbado. Tal consumismo deveria transcender como expressão legitima, também, da fé. Desta forma, validando, ou fechando todo ciclo de significado em torno dessa mesma prática, ou sitz im leben: ser- produção- produto-fé= objetificação.
A fé se tornou expressão do consumismo, objeto de sonhos capitalizados das massas; a vontade do poder, das grandes mansões, dos grandes hiates, dos cruzeiros e de toda a pompa da vida luxuosa e extravagante por um passo, por um nome, por um desafio ou uma ação em direção dessa mesma fé-desejo, também capitalizada, paga, remunerada.
Em o nome de Jesus se junta ao capital como forma de ratificar a expressão máxima da sociedade contemporânea. E como tudo que o dinheiro pode comprar, a dor, o infortúnio, e os problemas do indivíduo não fazem parte do núcleo principal dessa fé, mas, apenas acessório de marketing como garantia de se capitalizar algo, na vantagem do consumo- fonte primaz da nova espiritualidade.
Como conclusão última de toda a decorrência desse modelo, o vazio de sentidos, a falta de profundidade, e a carência de validade concreta em busca do resgate do ser se fazem perceber ao modelo parvo que se estabelece à fé. A venda das indulgências se renova em um modelo que não pretende derrubá-la, ou desdizê-la. Se na Reforma era ela prostituta maldita, na pós-Reforma ela encontra seu lugar, santificada, bendita, aplaudida e quista.
Não há interesse na educação do povo, não existe, de fato, uma compreensão eficaz quanto a dignidade humana- em todo tempo as Escrituras se relativizam aos interesses individuais. O homem da fé é sinônimo do homem alienado, ausente de sua própria esperança, caminhando e conduzido ao seu próprio inferno.
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