segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Chuca che te fa bene!

Um pouco de higiene antes do sexo anal nunca é demais. Só não abuse!

  • por Deco Ribeiro

O delicioso texto abaixo, atualizado recentemente e republicado na revista HARD BOYS 45, foi escrito por Deco Ribeiro para a Sex Boys com o propósito de responder a uma dúvida de muitos: a chuca... Faz mal? Desfrutem.

 

Índice

"Clysterium donare, postoe seignare, ensuita purgare". "Chuca", sangria e laxante. Antes do século 20, esses eram os principais tratamentos para qualquer tipo de doença. Essa frase, em latim, foi dita por um personagem de uma das sátiras de Molière e ironizava o ensino de medicina da época – e o que é a "chuca", afinal?

Para quem não sabe, ela também é conhecida como enema ou clister. Trata-se de uma lavagem da porção final do intestino, a fim de facilitar a eliminação de fezes.

É feita com a aplicação de água morna dentro do ânus, através de um tubo ou um aplicador de borracha (o clister, encontrado em qualquer farmácia). Depois, evacua-se o conteúdo no vaso.

Entre os homossexuais, a chuca também é usada como uma medida higiência, a fim de evitar o "cheque", vestígios desagradáveis de fezes que podem aparecer, sem convite, durante o sexo anal. Muitos usam a mangueirinha do chuveiro, e há até quem tenha fetiche na prática, o que recebe o nome de clismafilia.

Das areias do Egito

Essa história de enemas e laxantes vem de longe. Para os antigos egípcios, as fezes estavam associadas a doenças e à morte, e receitas de enemas aparecem em papiros de mais de 3.500 anos atrás.

O hábito da chuca cruzou o Mediterrâneo rumo à Grécia e, no encalço de Alexandre, o Grande, espalhou-se pelo mundo. É conhecido o uso de enemas desde a Índia e a China antigas até os índios nativos das Américas. A chuca praticamente alcançou toda a civilização sem se abalar, até o início do século passado.

A partir de então, a medicina se modernizou, e, por meio de comprimidos e outros tratamentos que privilegiavam a via oral, relegou o ânus ao ostracismo e ao preconceito. Atualmente, a "chuca médica" se restringe a algumas aplicações no diagnóstico de problemas do cólon e algumas práticas naturalistas. Sua larga utilização (sem trocadilhos) ficou a cargo dos gays, que mantêm a tradição milenar.

Faz mal?

Hoje, porém, muitos pensam que a chuca faz mal. A resposta é: depende. Depende da chuca, da quantidade de líquido, do tempo de retenção da água, da frequência... E até do médico procurado!

Hoje falecido, o condecorado gastrocirurgião Dr. Ricardo Góes, da Unicamp, defendia que a utilização de enemas devia se restringir a aplicações médicas específicas – como no uso de soluções químicas de contraste para ressaltar o colón durante um raio X, por exemplo. Outros usos sem acompanhamento médico e, principalmente, com outros ingredientes que não água seriam inadmissíveis.

Para o infectologista Dr. Ricardo Tapajós, é justamente a água o problema. Segundo ele, que já concedeu entrevista à revista Sex Boys, também da Sexsites Editorial, a água, além de retirar o muco protetor, pode causar microlesões internas. O legal é não fazer nada, mas, se a pessoa achar imprescindível, a lavagem, quando indicada, pode ser feita com produtos próprios encontrados em farmácias.

Já o Dr. Ivan Jorge Ribeiro, responsável pelo surgimento do Centro Médico Hiperbárico de São Paulo, vê a chuca de maneira mais inofensiva. "O principal problema é na utilização da água clorada, que destrói a flora intestinal, mas a utilização de água doméstica para uma limpeza usual [...] não acarreta problemas".

Para Ribeiro, o ideal mesmo seria fazer a chuca com água e uma pitada de sal ou com uma solução de soro caseiro, pois o sal ajuda a puxar mais água das paredes do intestino, hidratando o reto e facilitando a limpeza dos poros (!).

Sem excessos

Quanto à frequência e quantidade, vale o ditado: tudo que é demais faz mal. "Não é recomendado usar muita água de uma só vez", alerta o Dr. Ribeiro. "Algumas pessoas [...] deixam a água entrar até sentir dor, para, então, evacuar, mas muita água pode romper o intestino. A dor já é indicativo desse rompimento [...]. O ideal é utilizar entre meio e um litro de água apenas".

A água em excesso também pode causar dificuldade em reter as fezes ou o contrário: o intestino pode se acostumar com a chuca, ficar "preguiçoso", e a pessoa passa a não conseguir mais evacuar normalmente. Pelos mesmos motivos, a chuca diária também não é recomendada.

Uma alta frequência também pode perturbar a flora intestinal, resultando em diarreia e infecções, ou causar alteração na concentração de substâncias que conduzem corrente elétrica no corpo. É o desbalanço eletrolítico, que pode até causar a morte. Alguns sintomas dessa "overdose de chuca" são tonturas, suor e vômitos. Se isso começar a lhe acontecer sem motivo aparente, procure um médico.

Chucas gourmet

Curiosamente, muitos médicos que trabalham com medicina natural utilizam enemas com propósitos terapêuticos ainda hoje. São as "chucas chiques", de água com ervas, leite, mel e outros ingredientes. Até café!

O Dr. Góes, da Unicamp, defendia que esses tratamentos naturais carecem de comprovação científica e deviam ser considerados por conta e risco do profissional e do paciente.

Mortes relacionadas a enemas já foram registradas. No Texas (EUA), em 2005, uma mulher de 42 anos foi presa após fazer uma chuca de conhaque (!) no marido – e matá-lo. Em resumo: chuca che te fa bene! Mas não se empolgue demais...

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