terça-feira, 16 de novembro de 2010

JESUS, O MACHO E A FÊMEA

 

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Vieram a ele alguns fariseus e o experimentavam, perguntando: “é licito ao marido repudiar sua mulher por qualquer motivo?” Então respondeu ele: “Não tendes lido que o criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e que disse: ‘por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?’ De modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem. (Mateus 19, 3-6).

"Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo que não me fizeste mulher" .

Ou ainda No Talmud de Babilônia - Tratado "Menachot" 43 B está escrito:

“O Rabi Meir disse: O homem deve recitar três bênçãos cada dia, e elas são: Que me fizeste (do povo de) Israel; que não me fizeste mulher; que não me fizeste ignorante.”

Essas bênçãos fazem parte da liturgia tradicional judaica dentro do conjunto de "agradecimentos a Deus" conhecido como "Bênçãos matinais" e que são recitadas toda manhã ao despertar.

Os Sábios do Talmud interpretaram o versículo "Toda a glória da filha do rei na sua casa" (Salmo 45:14), ensinando que a honra de uma mulher exige que ela fique na sua casa, cumprindo sua função essencial de ter filhos e de facilitar ao seu marido o cumprimento dos preceitos.

 Seguindo essa lógica, as mulheres eram definidas pelo aspecto biológico, como mães procriadoras; do ponto de vista sociológico, eram dependentes, primeiro do pai e depois do marido; e, sob o prisma psicológico, eram incapazes de dedicar-se a temas tidos sérios ou importantes, exclusivos dos homens. Portanto, a presença de uma mulher num lugar público - na rua, no mercado, nos Tribunais, nas casas de estudo, nos eventos públicos ou nos cultos religiosos - era considerada uma ofensa à sua dignidade de mulher.

A priorização das tarefas femininas voltadas para o lar - tomar conta da casa, das crianças e do marido - terá como conseqüência direta a limitação da função religiosa; portanto, a mulher fica liberada da obrigação do cumprimento de determinados preceitos judaicos que têm um momento especifico para serem cumpridos. Em uma tradição onde a obrigação de cumprir os preceitos divinos é considerada uma grande honra, prova da escolha e do amor divinos, a isenção da mulher de certas obrigações se cobre de outros significados.

Determinar o que fazer com o tempo é símbolo de liberdade que o homem pode usar conforme seu entendimento. O homem é livre para escolher dedicar seu tempo a Deus, a mulher não é livre de fazê-lo (na prática, mulheres e escravos têm as mesmas obrigações e cumprem os mesmos preceitos).

Dentro desse conceito, a decisão de liberar as mulheres do cumprimento dos preceitos de hora marcada é uma demonstração da grandiosidade do mesmo Deus que cede aos homens o seu privilégio de ser o dono do tempo das mulheres. Elas ficam liberadas de cumprir os preceitos divinos, mas permanecem subordinadas – em tempo e ações - ao marido, o lar, as crianças.

Elas são donas da casa, eles são donos delas. De fato, até em hebraico a palavra "marido" é baal, que significa "dono, patrão, proprietário e donos do mundo."

Assim nem a leitura da torá por uma mulher era bem-vinda. Antigamente, a pessoa que ia ser convidada para ler a Torá em público durante o serviço religioso do Shabat, era avisada com antecedência para ter a possibilidade de preparar a leitura. Como em geral quem tinha acesso ao estudo, facilidade e tempo para se preparar eram os homens, o convite a uma mulher seria interpretado como se naquela congregação não houvesse sete homens aptos a ler a Tora, o que seria uma vergonha para a mesma (isto é, para os homens).

Destarte, se a mulher já estava "liberada" de alguns preceitos, essa segunda razão - evitar a desonra da congregação - a impedia de cumprir aqueles preceitos que, mesmo sem ser obrigada, ela poderia - se assim o desejasse - escolher cumprir.

Foi dentro deste contexto desfavorável que a questão do divórcio e do repúdio da mulher foi levantada pelos fariseus a Jesus. Eles não queriam uma explicação, mas eles queriam saber como o mesmo se manifestaria dentro da questão polêmica. E Jesus surpreende a todos, inclusive ao seus discípulos, quando ele dignifica a condição da mulher diante do homem, e a eleva em status de igualdade.

Jesus lembra aos fariseus um texto que remonta ao princípio de tudo, quando Deus criou ao homem, ele criou a humanidade, homem e mulher os criou, em condição de imagem e semelhança, sem diferenciar a mulher ou submetê-la ao homem. Contudo, Jesus sabia que uma tradição assim procedia, mas Jesus então dá a chave interpretativa... Se na tradição do “crescei e multiplicai” a mulher é posse, e é a mesma tradição que diz que o homem deve deixar pai e mãe e unir a sua mulher tornando-se uma só carne, Jesus volta à condição de igualdade, de dignidade à mulher, a mesma dignidade outrora conferida pelo documento “P” ao concluir que se são uma só carne não há distinções entre o papel do homem e o papel da mulher, que a mulher não pode ser repudiada por qualquer defeito, e nem o homem é dono dela, pois são os dois a mesma imagem e a mesma semelhança de Deus em igualdade: UMA SÓ CARNE.

Assim Jesus estabelece que aquela regra onde na lei de Moisés era permitido ao marido dar carta de divórcio e despedir a sua mulher por qualquer motivo – (Ex.: Andar com o cabelo solto, girar na rua, conversar com outros homens com demasiada familiaridade, maltratar os pais do marido, gritar – falar com o marido em voz tão alta que fosse ouvida pelos vizinhos, não ser uma boa dona de casa, etc.). Josefo, o historiador Judeu, escreveu – “O repúdio à mercê dos caprichos dos maridos e a seu bel-prazer dominava a regulamentação do divórcio entre os judeus”- não era a regra desde o início, pois a dureza dos corações havia transformado a mulher em posse, mas desde o princípio ela era tão imagem e semelhança de Deus quanto o homem, e não deveria ser tratada como submissa, mas em igualdade de condições.

Assim, quando Jesus usa o termo macho e fêmea, ele o faz para dignificar a mulher diante do homem, e não para dizer ou estabelecer que essa seja a única relação sexual possível e aceita e querida por Deus. Pelo contrário, ele aqui não está falando de sexo ou sexualidade, mas quebrando um estigma de gênero, perverso e opressor contra as mulheres e suas posições dentro do judaísmo. Não tem nada a ver com sexo, com gays ou com eleição de relacionamento sexual possível. Mas fala de dignidade, grandeza, e elevação de condições de todos em igualdade diante do criador:

Façamos o homem a nossa imagem e conforme a nossa semelhança... E Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, macho e fêmea os criou (Gênesis 1, 26-27).

Tal atitude surpreende inclusive aos discípulos que chegam a concluir que se for para tratar com igualdade e não como posse, a mulher, é preferível não se casar:

“Se essa é a condição do homem relativamente a sua mulher, não convém casar (Mt 19,10).”

Você pode acreditar no que quiser, mas não seja baixo ao ponto de aproveitar da ignorância para disseminar a intolerância. Macho e fêmea não deveria ser colocado na boca de qualquer pastor ou cristão, pois macho e fêmea não é condição de trepada nas escrituras, mas condição de ser diante daquele que cria todas as coisa para sua glória.

Silas Malafaia continuará sendo a raposa que é, pois sempre haverá algum cristão babaca para repetir sem escrúpulos aquilo que ele vocifera sem caráter e dignidade alguma. Às vezes penso que os evangélicos merecem a sua própria sorte...

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