quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Rua Guaicurus em BH: Dos livros, da TV, às páginas policiais


A Rua Guaicurus, em Belo Horizonte, ficou famosa em 27 de maio de 1998, em todo Brasil; época em que a Rede Globo de televisão resolveu estrear a série Hilda Furacão, uma adaptação da obra do escritor mineiro e jornalista, Roberto Drummond, de mesmo nome.

A história da Rua Guaicurus sempre foi tumultuada, ora pelas constantes inundações do Ribeirão Arrudas, que a desvalorizou como polo industrial da capital mineira, ora com o abandono e a ocupação das prostitutas, que encontraram no espaço esquecido, pelo crescimento da cidade em torno da Av. Afonso Pena rumo Zona Sul, um lugar para retirarem seu sustento, tumultuando os “bons costumes” da hipócrita TRADICIONAL FAMÍLIA MINEIRA (TFM) .

Assim, a Rua Guaicurus foi palco do primeiro ciclo comercial e industrial de BH, antes de se tornar a tradicional zona boêmia de Belo Horizonte, imortalizada pela lendária Hilda Furacão no início da fundação da cidade. A existência de muitos galpões e a proximidade com a estação central foram determinantes para que a região se tornasse um importante polo industrial, segundo o assessor da presidência do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-MG), José Abílio Belo Pereira:

"A atividade econômica ligaria a Guaicurus ao uso predominantemente comercial, mas havia também habitações. À medida que o centro da cidade foi crescendo para o lado da Avenida Afonso Pena e da Praça Raul Soares, a região (da Guaicurus) foi ficando abandonada. Todo aquele pedaço era inundado pelo (ribeirão) Arrudas, o que desvalorizava a área e a tornava incompatível com a atividade industrial. Com o abandono, ela foi apropriada para a atual função, a partir dos anos 50", explica Pereira. (EB)

A ZONA BOEMIA DA DÉCADA DE 1950- 2011

Em 1950 se formou na Rua Guaicurus a zona boemia de BH. É dessa época, inclusive, o relato de Roberto Drummond sobre a garota do maiô dourado das missas dançantes do MINAS TÊNIS CLUBE, muito embora Hilda, tal como o livro apresenta: uma garota da classe rica, que no dia de seu casamento desce à Afonso Pena para Guaicurus e se estabelece, por 5 anos, no quarto 304 do Maravilhoso Hotel e Montanhês Dancing, não tenha existido exatamente, entretanto, não se pode negar a presença marcante do travesti mais famoso que a cidade já teve: o Cintura Fina, que percorria a região, que frequentava o Montanhês e é lembrado por todos na cidade que viveram à época e contam.

Atualmente, os bordéis se disseminaram pela região, onde há grande concentração comercial, com destaque para os atacadistas de variados produtos, bares e lanchonetes.

A proximidade com os shoppings populares e a grande quantidade de pontos de ônibus também atraem muitas pessoas ao local. O comércio formal funciona das 7h às 18h. Após esse horário, sobram os botequins e os vendedores informais, que oferecem de comida a tatuagens na Guaicurus e imediações.

PROSTITUTAS AMEAÇADAS

Prefeitura quer requalificar tradicional rua desde 2008; área deve ser transformada em eixo cultural.

Tradicionalmente a zona boêmia de Belo Horizonte, em atividade desde a década de 50, à rua Guaicurus, no centro da cidade, poderá perder o estigma de ponto de prostituição. A prefeitura busca parceiros na iniciativa privada, desde 2008, para promover a requalificação urbanística e ambiental da região. A alternativa mais evidente é transformar a área em um complemento do eixo cultural instalado ao longo do Bulevar Arrudas. Com a nova ocupação urbana, a tendência é que os hotéis onde trabalham as profissionais do sexo migrem espontaneamente para outro local.

A operação urbana na rua Guaicurus, rodoviária e entorno faz parte do Plano de Reabilitação do Hipercentro, lançado pelo, ainda, prefeito Fernando Pimentel (PT), em 2008. À época segundo Maria Caldas, consultora municipal de políticas urbanas, na gestão Pimentel, ainda não tinha sido definido exatamente o que seria feito na região e quando as obras seriam iniciadas. Ela informava que o objetivo do prefeito era licitar os 14 projetos do plano até o término do mandato, no final de 2008. "O plano era uma proposta macro de identificação de áreas que poderiam sofrer intervenções. A da Guaicurus era a de maior potencial para receber projetos arrojados de substituição do tecido urbano, que demandavam grandes áreas."

Embora afirmasse que não existia nenhum projeto definido, Pimentel ressaltava que o plano queria mudar o perfil da área:

"A previsão é que quatro quarteirões, entre a Guaicurus e a Santos Dumont, sejam objeto de uma operação urbana que facilitaria algum empreendedor privado a investir e mudar o perfil que hoje tem ali. Mas não tem nada concreto e por enquanto não recebemos proposta de interesse de nenhum grupo sobre isso", dizia o então prefeito.

As mudanças na Guaicurus dependiam da aprovação de uma lei. Maria Caldas explicava que há muitos galpões na Guaicurus, a maioria vazios e danificados, que poderiam ser substituídos por centros de convenções e culturais:

"Há uma vocação para atividades complementares às do bulevar. A existência de grandes prédios, subutilizados, também permite que a área seja explorada pela hotelaria e turismo de negócios."

Em 2088, dizia o presidente da Associação dos Amigos da Rua Guaicurus, Ailton Alves de Matos, que alguns imóveis poderiam ser transformados em moradias estudantis. Maria Caldas afirmava que entre as diretrizes do plano estava o estímulo ao uso residencial no centro. Mas ela dizia que não estava definida a construção de conjuntos habitacionais. Para Maria Caldas, a existência da zona boêmia não inviabilizaria a execução de projetos:

"O abandono leva à degradação. Pode até existir uma harmonia após a valorização. O que não pode é a dominação por esse uso (a zona boêmia). A ideia, segundo a prefeitura não é expulsar ninguém, mas a tendência é que os hotéis queiram ir para outra região."

JORNAL O TEMPO NOTICIA OPERAÇÃO DA POLÍCIA CIVIL NA GUAICURUS

Na sua edição de hoje, dia 31 de agosto de 2011:

Com o objetivo de combater o favorecimento à prostituição e a exploração sexual, a Polícia Civil realizou uma operação em um dos prostíbulos mais conhecidos do centro de Belo Horizonte, que funciona no hotel Brilhante. Vários clientes e garotas de programa foram flagrados no local.

Os policiais chegaram ao prédio por volta de 10h30 e saíram cerca de 2h30 depois. As portas foram abaixadas e as pessoas impedidas de entrar ou sair. O dono e o gerente não foram encontrados e por isso o porteiro acabou responsabilizado pelo negócio. Ele foi preso por crime de casa de prostituição e encaminhado ao Ceresp São Cristovão. Se condenado, pode pegar de 2 a 5 anos de prisão.

No escritório foram apreendidos livros e cadernos com a contabilidade do negócio, além de um computador com as imagens das câmeras de segurança, que registram o movimento dentro do prédio. As provas que denunciam o prostíbulo foram encaminhadas para a perícia da Polícia Civil. Quatro garotas de programa, dois clientes e duas testemunhas foram conduzidos à delegacia para prestar esclarecimentos sobre o funcionamento da casa de prostituição.

Além do hotel Brilhante, os policiais estiveram em outro prédio, encontrado fechado. Nos próximos dias, vão acontecer outras operações em prostíbulos espalhados por vários pontos da cidade. Em cada operação será instaurado um inquérito policial, que será encaminhado para o Ministério Público.

QUESTÃO LEGAL, POLÍTICA E MORAL

Pelo jeito essa história de “saída pacífica” é para inglês ver. Obviamente a polícia civil de Belo Horizonte está vinculada não só ao governo do estado de Minas, bem como a prefeitura da capital, na dobradinha, PT-PSB-PSDB, que já tirou o sono da militância clássica do PT no último pleito municipal.

Contudo a questão é legal, muito embora possa ser discutido a MORAL; quem perde e quem ganha, aliás, quem REALMENTE GANHA com a especulação imobiliária da área da Guaicurus. Uma coisa está bem clara, não é o cidadão belorizontino, sentido lato sensu- coletividade! Ainda sim, em julgado recente no STJ ficou definido que: Manter casa de prostituição é crime que deve ser punido. O fato de haver tolerância ou indiferença na repressão criminal não significa que a conduta não está tipificada no Código Penal. Com esse entendimento, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça acolheu o recurso do Ministério Público gaúcho contra a absolvição de três acusados de infringir o artigo 229 do Código Penal.

O código prevê pena de dois a cinco anos mais multa para quem “manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente”.

Dessa forma, o senhor prefeito Márcio Lacerda vem encontrando um jeito muito peculiar de expulsar as prostitutas da Guaicurus sem envolver seu nome diretamente na questão, que se acontecesse de forma direta e propositiva geraria credito negativo para a releição nos próximos pleitos. Tudo se faz na hipocrisia, enquanto a história de Belo Horizonte vai sendo sucumbida pelo ávido interesse do lucro.

A história de uma cidade faz parte do patrimônio histórico e cultural, diz da saudável qualidade de vida, amparada pelo Direito Ambiental. E a tradição boemia de uma cidade não deveria ser sucumbida às esferas do “sub”: subcultura, ou cultura marginal, que nada acrescenta, pois a tradição boemia da Guaicurus está nos livros, e não só nos de Roberto Drummond, mas de tantos outros autores mineiros. Está na memória dos mais velhos, que lá frequentavam: na memória do meu avô, da minha avó, do meu pai, da minha mãe. Faz parte da cidade, da identificação histórica da cidade, da identificação de cada belorizontino que cruza a Praça da Estação, de cada um que consagrou aquela região, e nela lança seus olhares de aprovação ou desaprovação.

A hipocrisia da falsa moral em nome do lucro especulativo, hoje, visa descaracterizar a memória de BH, de sua zona boemia, da Guaicurus dos livros, das histórias de meus tios e avôs, do Cintura Fina, da Maria tomba-homem. Em nome de revitalização do espaço cultural. E, então fica a pergunta: e quem disse que prostituição NÃO É CULTURA?

O vídeo acima é de caráter meramente ilustrativo, pois retrata a região na atualidade, a opinião das pessoas que o produziram não condiz com a realidade, sendo descrita como uma região violenta, contrária às imagens da própria filmagem, que revelam uma região comercial, pacífica e de grande fluxo e não abandonada, como quer a prefeitura de BH.


Fontes:

Guaicurus- blogspot http://guaicurus.blogspot.com/2007/11/mais-de-2000-mulheres-sero-afetadas.html

Jornal do Comércio http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=70644

Jornal o Tempo http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=128198

Overmundo http://www.overmundo.com.br/guia/rua-guaicurus

Repórteres avulsos http://www.youtube.com/watch?v=hzMbLRedR74&feature=related

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