quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

É o filho de Robinson Cavalcanti um monstro?



Todos os dias e, invariavelmente, a Rede Bandeirantes leva em suas ondas de transmissão, para todo o Brasil, o programa Brasil Urgente. Todos os dias e, invariavelmente, seu âncora, José Luís Datena, tem a função de fazer aumentar a audiência dessa emissora com o sensacionalismo colhido do fruto da desgraça alheia.

Acontece que Datena é oportunista em explorar o senso comum, na verdade, em explorar uma irracionalidade comum: o criminoso é o outro! E o outro, em questão, sempre vem a ser: os grupos taxados como criminosos; as pessoas de baixa renda, os FILHOS ADOTIVOS, o homossexual, enfim, todos que carregam, na esfera do sub, suas identidades de cidadãos de segunda categoria.

Aqui, em particular, há um corte paradoxal, afinal, muito da audiência dada ao Brasil Urgente vem da população de baixa renda, fato esse que se explica pelo apelo religioso que o apresentador usa: “somos pessoas do bem, e pessoas do bem têm Jesus no coração! Quem mata e comete crimes não tem Deus, não acredita em Deus, pois quem acredita em Deus não mata não comete crimes”.  Isso, inclusive, rendeu um processo contra a Bandeirantes, por grupos de ateus, que tiveram o direito de resposta garantido.

Esses dizeres trazem o que a sociedade pensa como um todo, mas, que Datena transforma em um mantra, que é acompanhado pelo telespectador como algo honroso, que o diferencia dos demais, que o coloca dentre aqueles de honra e caráter ilibados. Assim, há uma hipnose,  em que esse cidadão de baixa renda é levado a acreditar que ele está jogando do lado do bem, no apoio de seu justiceiro: o Datena, contra o marginal, delinquente, que tem leis frouxas de um legislativo frouxo.  Ou seja, o próprio cidadão de baixa renda compra um discurso de elite, que na teia social, o classifica como um potencial criminoso sem lei.

Na verdade, crime bárbaro é aquele que acontece nas classes mais abastadas; o caso Nardoni, emocionou o país, veio da classe média alta, enquanto, na mesma época, crianças morriam pelas mãos de seus próprios pais, em lugares mais afastados do Brasil, e ninguém se emocionou, ou sequer deu conta do feito.

O que acontece, e isso é muito próprio, é que programas como o Brasil Urgente, não têm a missão de informar, ou prestar serviço público algum. Tais programas apenas exploram a desgraça alheia e transformam seus produtores e âncoras em milionários, enquanto o povo padece.  Enquanto mais desgraça melhor! Assim sendo, nunca se ouvirá, nesses programas, que a marginalidade, em contrassenso, não é um desvio praticado por uma minoria restrita, não são as pessoas do mal que delinquem, mas  tal comportamento é largo em toda a sociedade, atinge a maioria de seus membros.

A sociedade elegeu um grupo criminoso, e ele, CIDADÃO DO BEM, acha que não está enquadrado no grupo criminalizável de seu país, sequer abre a legislação penal para verificar sua conduta, pois, independente dela ser crime ou não, ele não faz parte do labbing approach, criminoso é o outro! Como também as políticas de segurança públicas sempre são destinadas a um grupo, o de classe mais baixa, e sempre nela a culpa é do armamento desse sujeito, nunca é da corrupção social e de seu aparelho repressor, nunca a culpa é do cidadão do bem e de seus honoráveis representantes.

Considerado o que foi introduzido em primeira análise, uma pergunta tem que ser feita: Será que o filho de Robinson Cavalcanti é um monstro, cruel, assassino?

Óbvio, que para a maioria das pessoas ele o é! E contra fatos não há argumentos, ele praticou dois homicídios, qualificados, contra seus próprios pais ADOTIVOS, o rapaz está dentro de um grupo  que, de per si, assume a desgraça alheia e o opróbrio da existência. Era ele drogado, outro grupo criminalizável, e se voltou contra um homem de bem, um bispo, um cidadão honrável, que tinha Deus no coração. E, a ademais, nada justifica um homicídio, certo?

Errado! Alguns fatores justificam, sim, um homicídio, a legítima defesa, o estado de necessidade, o estrito cumprimento do dever legal; outros fatores  minoram a culpabilidade, retiram dela aquela reprovação inicial, reduzindo, inclusive, a pena, ou seja, não exclui a ilicitude no todo, mas há que se levar em conta, pois o homicida, em questão, não é tão monstro, tão cruel, tão execrável, nesse caso há que considerar os casos em que o agente comete o fato típico impelido por motivo de relevante valor social ou moral, OU SOB DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO, ainda sob INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA.

Robinson Cavalcanti era moralista, para sociedade, em geral, é simples culpar o filho adotivo, afinal, o adotado já é símbolo de todos os males dentro de um lar... E, esquece-se, essa mesma sociedade, que filhos biológicos cometem os mesmos crimes, e por motivos sórdidos, como disputa por herança, parcialidades no lar, dentre outros, quem não se lembra de Suzane Louise Von Richthofen,  que matou os pais com a ajuda do namorado, e não demonstrou nenhum remorso, até hoje, e nem quis se matar no instante seguinte.  Assim, é melhor, então, acusá-lo de drogado ingrato, nunca na mente social a culpa será do cidadão de bem honrado, mesmo o código penal tratando da INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA, mesmo o código penal tratando da VIOLENTA EMOÇÃO.

Robinson Cavalcanti se tornou obsecado pela moral exacerbada, sua ruptura com a Igreja Evangélica Anglicana do Brasil, condenando-a como igreja de permissividade, igreja de imoralidade, porta-nos para um olhar mais cauteloso sobre como Robinson conduziu seu próprio filho ao mundo das drogas. O mesmo desamor que ele apregoou contra os homossexuais, intentando em verdadeira caça as bruxas dentro da IEAB, ele, certamente, reproduziu sob seu filho, sob os erros de seu filho... Nunca vi um moralista tolerar o erro alheio... Quanto mais quando esse erro é fruto de uma genética que não condiz com a genética do adotante...  Fico imaginando o bullying sofrido por esse rapaz; bullying que machuca a alma, que tortura o espírito, que reduz  a moral ao destroço mais vil e cruel, jogando a autoestima no chão, ao pó, conduzindo pessoas à loucura, à insanidade, no sentimento sôfrego do olhar para si mesmo e se encontrar como alguém digno de algo, de alguma coisa.  

A frieza, distância, a reprovação, o nojo, a cobrança humilhante, o favor que é jogado na face conduzem o lar a desarmonia, ao desequilíbrio... O comportamento desviante do filho de Robinson não é exclusivo do desviado, há uma propulsão, um incentivo, um caminho que o conduziu a isso: a OMISSÃO DO AMOR, em favor de uma cobrança severa, de uma moral cristã austera.

O rapaz que matou o seu pai, naquela trágica noite, talvez só fizesse um pedido: por favor, não me julgue com tanto ódio e condenação. Um pedido negado, quem sabe? Fazendo nascer toda retribuição que, no momento da emoção a flor da pele, cumpre o papel que o desamor de anos buscou: a morte! A falta de amor mata! E, ao final, aquele que desejou ardentemente um pouco mais de atenção, de carinho e compreensão, e sempre foi negado, busca, então, sua própria punição: EU MATEI MEUS PAIS, O QUE EU FIZ? EU MEREÇO MORRER! E, nessa doença que a moral severa plantou naquelas vidas, o filho adotivo, que amou, que odiou, que buscou a atenção, agora se pune, querendo ceifar também sua vida indigna, marcada para o resto dos seus dias, pois seu último intento falhou,o destino com ele foi trágico, ele não conseguiu se punir! Eis os frutos da MORAL CRISTÃ!

E a despeito de ensinamento bíblico: “não julgueis para não serdes julgados”, tenho que perguntar: por que a "monstruosidade" do filho pode ser julgada e a do pai moralista, homofóbico, intolerante, não? Por que de uma hora para outra ele pode virar santo e aquele que foi atormentado, conduzido ao opróbrio tem que pagar por todos os erros do mundo?

O que Robinson pregou e disseminou não está em juízo? 

5 comentários:

  1. Bravo!!! Falou tudo e mais um pouco! Religiosos fundamentalistas estão conduzindo este país à ruína e vão tomar - já estão tomando, com o Crivella para Ministro da Pesca! - o Poder, transformando aqui numa ditadura teocrática pior que o Irã! Acorda , pessoal. Ou reagimos agora ou rapidinho teremos que fugir do país, deste país que é tão afeito a ditaduras.
    Pelo menos eu tenho consciência de quem são os verdadeiros monstros!
    Robinson Cavalcanti foi um monstro!
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  2. Fiquei sem palavras, o texto está sensacional, e eu compartilho da ideia! Muito bom mesmo!!!!!

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