domingo, 26 de maio de 2013

As bundas dos Jonas Brothers



por João Marinho

Acho que as bundas finalmente aterrissaram nos Estados Unidos. Não porque americanos não tenham bunda, claro. Eu me refiro àquela dupla de dança e música que não diz nada a não ser... Como dançar a música. Geralmente, balançando muito as "ancas".

Temos muitos exemplos assim aqui, no Brasil, especialmente na axé music, mas também no funk carioca (que é muito diferente do americano).

A letra diz "põe a mão no joelho, dá uma abaixadinha, mexe, mexe gostoso, balançando..." – do grupo É o Tchan –, e o que você faz? Põe a mão no joelho, etc. Só.

É singular que esse tipo de música tenha vindo pelas mãos dos Jonas Brothers. Não eram esses os caras que usavam anéis de pureza anos atrás? Eu também tenho um... Anel... De pureza, mas o tenho usado bastante, heheheh.

No entanto, de volta à discussão, compare se essa nova música, "Pom Poms", é ou não é como a do É o Tchan, quando a letra diz o tempo todo "baby, put your pom poms down for me" ("abaixe seus pompons pra mim") e "shake it up 123" ("remexe, 123").

E, por favor, não se faça de inocente (você sabe bem o que faz...). Você sabe que os "pompons" não são os reais, né? Assista ao clipe e conte quantos "pompons" você vê nas mãos das garotas – garotas usando shorts minúsculos, claro.

Entretanto, a canção tem uma batida alegre. E eu ainda prefiro isso ao "quadradinho de oito". Então, "put your pom poms down" – os outros pompons – e se joga.

http://www.youtube.com/watch?v=AHitulGaS9k

sábado, 25 de maio de 2013

Por que, cada dia mais, amo o novo papa

por João Marinho

Depois de dizer que a Igreja Católica tem primazia na interpretação da Bíblia, o papa Francisco se sai com esta: http://noticias.gospelprime.com.br/bem-redimidos-ateus-papa-francisco/

Acho bárbaro! Não acredito que ele não tenha segundas intenções, mas são diferenças fundamentais entre a doutrina católica e protestante que minam, mais uma vez, a tese de que haveria uma aproximação visando a uma união.

No site Gospel Prime, muitos evangélicos se irritaram, porque a salvação, dizem apresentando textos bíblicos, "vem pela fé".

No entanto, mesmo um estudo superficial das passagens apresentadas mostra que há contradições interbíblicas. Mateus 19:16-23, nas palavras do próprio Jesus, mostra como caminho para a vida eterna a guarda dos mandamentos. Termina com o "segue-me", mas para o jovem rico "ser perfeito", e a conclusão é sobre o desapego aos bens materiais e a ajuda aos pobres, que é justamente a base do sermão de Francisco, oras.

Os outros textos dizem respeito a crer em Jesus como salvador, mas já demonstram uma outra elaboração da ideia de salvação. Marcos diz que é preciso crer e ser batizado. I João fala de seguir os mandamentos. João apóstolo fala de seguir a Cristo como caminho, mas isso pode ser tomado como seguir a seus mandamentos, que recomendam o bem.

Paulo, em Romanos, diz que é preciso confessar que Jesus ressuscitou dos mortos - e não faz nenhuma exigência a mais. Ou seja, como fica a questão de seguir a doutrina e as intermináveis listas que, na Bíblia, mostram dezenas de categorias de pessoas que não entrariam no Céu (http://www.joaomarinho.jor.br/blog/2009/12/cardel_diz_que_homossexuais_na.html)?

Os versículos, assim, contêm mais questionamentos que soluções – e a solução católica é baseada em sua tradição teológica e patrística, mas, guiando-se apenas pela Bíblia, a salvação, na verdade, é menos clara do que supõem os evangélicos – daí que ela é complementada também por sua doutrina, embora digam que não. Considerem meu caso, por exemplo, que sou gay.

Como irei para o céu?

Em Mateus, basta não adulterar, honrar meu pai e minha mãe, não matar, roubar e nem dar falso testemunho que estou OK. Isso já faço, e ajudo os pobres também - nenhuma menção à minha homossexualidade.

Em Marcos, é crer e ser batizado. Já fui.

Em Romanos, é confessar que Jesus ressuscitou e basta. Já o fiz.

I João fala de seguir os mandamentos. Nenhum dos 10 é eminentemente sexual, Jesus ele mesmo também não mencionou nada de sexo senão o adultério (que pode ser visto de outra forma). Chequei!

Mas, se me guiar pelas outras passagens, mesmo tendo feito tudo isso, não vou porque sou "sodomita", e "sodomitas" não entram. Então, %&#$@, qual dos escritores é que está certo?

Sim, porque até as listas de exclusão mudam. Umas, como a de Paulo – o mesmo que diz que basta confessar a ressurreição e nada mais – em I Coríntios, me colocam no lago de fogo.

As listas atribuídas a Jesus nos evangelhos, porém, nem me mencionam. E Jesus, segundo os evangelistas, ainda diz que as meretrizes vão entrar na frente dos discípulos porque creram, enquanto outros escritores já colocam a própria condição de ser meretriz como impeditivo.

Impressiona-me que tantos fiéis não vejam isso.

Nesse sentido, parabéns ao papa por ter reafirmado a doutrina católica. Ainda que eu não concorde com ela – e com nenhuma outra, incluindo e especialmente a protestante.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Bicha má


por João Marinho

Não vejo novela por falta de tempo e também porque "desisti" das novelas faz muitos anos. 

Belíssima, de Silvio de Abreu, em 2005, foi a última que acompanhei. Lá se vão oito anos, ainda mais desérticos porque, pelo menos nos últimos três, também desisti da tevê aberta.

Os canais a cabo me agradam bem mais, inclusive os nacionais, além de ter me rendido à internet para acompanhar séries e outras produções – mas confesso que Félix está me colocando para pensar. Ando considerando mudar meus horários para acompanhar Amor à Vida.

Efeminado na medida certa, mesmo quando desempenha o papel de "macho" junto a Edith (Bárbara Paz), o personagem está bárbaro na interpretação de Mateus Solano. Autores de novela, mesmo quando gays, muitas vezes, não retratam homossexuais com acurácia, na minha opinião – ainda que existam vários tipos de nós, inclusive os não efeminados.

Não é raro que, com receio da audiência e da "censura interna", os façam excessivamente assépticos, ou, como Aguinaldo Silva, exagerem na mão e criem tipos folclóricos que mais caberiam num episódio de Zorra Total, aquele humorístico de qualidade duvidosa e sem graça. 

O problema, nesse último caso, não é a efeminação, o elemento comédia e nem a "fechação", mas a falta de complexidade e o apelo a um humor do tipo "palhaço", em vez de inteligente. Afinal, mesmo as bees mais fervidas fazem mais do que "causar com plumas" para provocar risos em quem as conhece.

Com Félix, Walcyr Carrasco se iguala a alguns autores, como o próprio Silvio de Abreu, não obstante a oposição deste último a um reles beijo gay, mais sensíveis e mais certeiros na hora de retratar personagens homossexuais.

Até os mais enrustidos dentre nós são incapazes de não reconhecer em Félix algum amigo – e, no belíssimo trabalho de Solano, as qualidades não estão apenas nos chavões, no momento em ele dá pinta. Estão nos detalhes: o gestual, os olhares, o porte, a balançada na cabeça. Impagável a cena em que ele vai brigar com o personagem de Juliano Cazarré e, antes de desaguar toda a sua raiva, dá uma boa olhada de cima a baixo no corpo do rapaz.

Perfeito nas nuances, retratando o gay enrustido que, aqui e ali, deixa "extravasar" parte do que retém escondido – e tudo isso num vilão que, se continuar nessa pegada, tem tudo para entrar no "panteão do mal" com alguns dos personagens mais carismáticos da teledramaturgia brasileira.

Panteão do qual fazem parte Odete Roitman (Beatriz Segall), de Vale Tudo; Nazaré (Renata Sorrah), de Senhora do Destino; Flora (Patrícia Pillar), de A Favorita; a "cachorra" Laura (Cláudia Abreu), de Celebridade; e a recente Carminha (Adriana Esteves), de Avenida Brasil, dentre outros. Personagens tão carismáticos que mal lembramos quem eram as mocinhas ou mocinhos.

Faltam nomes masculinos nesse panteão, e é bem interessante que, entre eles, possa estar um gay, não é? Algo que venho dizendo há muito tempo: a iminência de um vilão gay à medida que aumenta a porcentagem de personagens homossexuais na teledramaturgia. Walcyr Carrasco, com Félix, se arrisca, mas parece ir bem. Até os telespectadores gays já o amam. É só não entornar o caldo.

Aliás, vale dar o crédito ao autor, que, quando escreveu Xica da Silva para a extinta Manchete sob o pseudônimo de Adamo Angel, produziu um Zé Maria – brilhantemente interpretado por Guilherme Piva – em pleno século 18 que, efeminado e cômico, era e ainda é muito superior à maioria dos tipos excessivos que saem da caneta de Aguinaldo Silva. Xica, inclusive, que foi a primeira telenovela a apresentar uma protagonista negra, a então adolescente Taís Araújo.

(PS: e eu não sou noveleiro rsrs)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

... E você? Tem preconceito contra passivos?



por João Marinho
*

A questão do preconceito contra a passividade passa, a meu ver, por um machismo e misoginia que é ancestral.

Ele remete a épocas imemoriais – ou não tão imemoriais assim –, quando o ser humano mulher era considerado inferior, incapaz de gerir a si próprio e parcialmente ou totalmente dependente do homem. O sexo frágil, em oposição ao sexo forte.

Povos antigos, como os egípcios, costumavam estuprar os soldados perdedores nas diferentes guerras como forma de humilhá-los, "tratando-os como mulheres".

Essa forma de ver penetrou (sem trocadilhos rsrsrs) duas das culturas que mais influenciaram o pensamento ocidental.

Uma foi a Grécia Clássica. Excetuando-se casos como Esparta, a rigor, as mulheres gregas – sobretudo em Atenas – eram subjugadas e, assim, o papel típico atribuído a elas era igualmente típico de pessoas com menos poder ou mais vulneráveis.

Assim, era bastante sintomático que, na Grécia, ser penetrado era um papel justamente de "inferiores" ou "mais frágeis" – a mulher ou o efebo, jovem em processo de amadurecimento, que, uma vez tornado homem completo, precisava optar pela atividade e pelo papel de reprodutor.

Diferentes autores, incluindo Colin Spencer, se não me falhe a memória, concordam que a manutenção da passividade na vida adulta era malvista.

É possível perceber isso até em escritos filosóficos ou relatos que nos chegaram da época grega: o homem passivo adulto era alguém que "não cresceu", não amadureceu, não cumpriu seu papel de homem.

Embora eu já tenha lido relatos de que havia prostitutos passivos que faziam a vida atendendo homens ativos, eles, porém, sofriam os preconceitos sociais tal como as prostitutas hoje em dia no Ocidente – e a eles eram dirigidas expressões nada elogiosas.

Em Roma, a situação era ainda pior. Se, na Grécia, ainda havia o elemento do aprendizado – fenômeno que surgiu até no Japão dos samurais –, em Roma, tudo se resumia ao poder, ainda que, em média, as mulheres romanas fossem mais livres.

O homem romano, o pater, dono da casa, podia tomar e usar os corpos de todos em seu domínio, mas ser penetrado era motivo de desonra. Esse papel era reservado aos dominados, os mais jovens, as mulheres, os escravos da casa.

Já li teóricos que consideram que essa forma romana de pensar influenciou a cultura de todos os lugares dominados pelos latinos, daí ser a razão que, da América Latina, fruto da colonização lusoespanhola, ao Mundo Árabe, ser passivo, ser penetrado é ser inferior, menos homem, dominado... Recusar a masculinidade, com todo o simbolismo de poderio e força que ela carrega.

Daí, surge o preconceito contra os passivos e o próprio autopreconceito. Tenho uma anedota que sempre se mostra verdadeira. Se o cara é ativo, ele declara isso com certo orgulho. Se ele diz "não sei", "depende...", "entre quatro paredes, vale tudo"... Ele dá rs.

É difícil encontrar passivos como eu, que o são com orgulho e não têm medo de dizê-lo, embora eu deva admitir que isso também foi um aprendizado.

No começo da minha vida gay, aculturado ao machismo brasileiro, também tive dificuldades de aceitar e publicizar minha própria passividade.

Lembro-me de ter me estressado com meu ex-marido quando ele me contou que, logo que nos conhecemos, percebeu que eu era passivo.

Foi um insulto, algo que imediatamente relacionei com a efeminação, até ele dizer "por que você está bravo? Se eu não tivesse percebido, não tinha cantado você". Os questionamentos e a experiência de vida me fizeram deixar de considerar assumir a passividade um problema e a efeminação também.

Existe, porém, uma outra questão que acaba sendo tão deletéria quanto este preconceito a que me referi e que, infelizmente, tem sido muito comum entre militantes gays. Eu costumo chamar de "ditadura da versatilidade". O problema é que ela parte de um diagnóstico correto para propor um remédio incorreto.

O diagnóstico correto diz respeito a avaliar de forma certeira a dicotomia de valoração ativo x passivo, ou do bofe x bicha, um sendo "superior" ao outro, como fruto da heteronormatividade e do machismo/misoginia.

O problema está na solução apresentada.

Em vez de propor um questionamento dessa valoração diferenciada, em que penetrar "é melhor" do que ser penetrado, os militantes propõem como saída a versatilidade total e irrestrita – e passam a considerar, em artigos e discursos, os "exclusivos" (ativos e passivos restritos) como gays "capengas", necessariamente "heteronormativos", "preconceituosos", "reprodutores do discurso machista".

O discurso entra nas camadas mais populares dos gays e eu, como passivo, sou obrigado a escutar que "sou muito restrito" e faço "sexo pela metade".

Pobres passivos – do lado dos machistas, são inferiores. E do lado dos militantes, são "involuídos". Me pergunto: em que isso ajuda?

Esses militantes não têm se dado conta de que a opção pela atividade ou passividade comporta um elemento de prazer – que pode, até mesmo, ter origem nos papéis tradicionais em certos casos, por que não?

Limites na cama, todos temos. Eu, como passivo, faço uma série de práticas que muitos versáteis jamais pensariam em fazer por considerarem extremas. Então, a questão é de gosto – e se a pessoa se sente realizada na dicotomia "bofe x bicha" (não é meu caso: sem problemas em fica com um feminino, desde que ele seja ativo rsrs), por que isso não deveria ser igualmente respeitado?

O que se deve questionar é a questão da valoração, que eu tangenciei mais atrás. É empoderar os passivos, para que não admitam ser tratados como inferiores nem se verem como inferiores por extraírem dessa prática o seu prazer pessoal – e que nem por ser passivo isso significa abrir mãos de seus direitos e respeito como cidadão, como homem, como gay, como adulto, como ser humano. Mesmo naqueles que adotam a dicotomia "bofe x bicha", a bicha precisa estar ciente de que é uma bee belíssima e poderosa – e tudo se resolve.

Se a passividade masculina sempre esteve ligada ao inferior, ao "menos homem", ao ser "como mulher", é importante que, à medida que combatemos a heteronormatividade e advoguemos a libertação feminina, também libertemos a passividade como uma forma legítima de prazer que, por sinal, em nada identifica características psicológicas de seus praticantes.

Infelizmente, porém, nem todas as mulheres estão a par disso – e "zoam" os homens passivos por serem passivos sem se darem conta de que a origem desse preconceito é a própria cultura patriarcal de inferiorizar o feminino e a tudo que a ele se atribui como fútil, fraco, menos importante.

* Passivo assumido, que não vai mudar, já experimentou ser ativo, não gosta e não vê sentido em "virar versátil" só para agradar pessoas que não estão na minha cama e nem me proporcionam prazer, hehehe.

Um artigo de Gésner Braga sobre a questão: http://www.institutoadediversidade.com.br/comportamento/por-que-a-passividade-e-tomada-como-uma-condicao-humilhante