domingo, 12 de setembro de 2004

Na busca de um axioma

Minha conversa, hoje, com vocês é da necessidade de uma sentença inegável, lógica, irrefutável, translúcida, para a teologia, dita, "gay". Vez ou outra, nos esbarramos aprisionados em velhos dogmas, que trazemos como apelo cultural para nosso círculo, mas, que entanto, nega ou contradiz o nosso apelo, a nossa luta. Tenho observado isso no grupo do qual faço parte. Muitas vezes, as considerações dos participantes, ainda, que declarados homossexuais vêm carregadas de tabus, misticismos e crendices comum dos grupos ortodoxos.

Isso ocorre pelo fato curioso, mas real em nosso meio; a falta de um paradigma, de uma sentença, que nos seja central e verdadeira. A busca de conformidade bíblica à nossa teologia tem ocupado a mente dos nossos pensadores. Entretanto, a conformidade bíblica a qual procuram, se estabelece sobre a ideologia da família, do projeto de Deus e da santidade, que já traz em si mesma, o preconceito às minorias e, nos é excludente.

Não necessitamos de um código Paulino como Palavra de Deus; necessitamos, sim, de um Evangelho; Não de um conceito de santidade, que é dada às listas de moralidade e moralismo cristão-estóico; mas de uma ética que diz da profundidade humana como profundidade divina. Não necessitamos que a familia seja abençoada por Deus, e portanto seu projeto de vida feliz; necessitamos de respeito, e direitos iguais na sociedade, mas não do projeto familia feliz de Deus, até mesmo, pelo fato do casamento ser uma invenção mística, banal, de juras de amor eterno, e uma união indissolúvel, que já é desgastada no que a sociedade chama de "convencional", mas, muitas vezes, desejada nas interpretações de nossa teologia.

A teologia que nos é própria necessita desvincular-se de determinados tabus; como por exemplo, a Bíblia Palavra de Deus. Mas, tem que se achar diante de sua realidade, de sua busca e de sua fé, sem a ideologia literalista, que não permite a reflexão humana, em prol de uma ala conservadora, que fala por toda cristandade e tenta se impor. O nosso espaço é diferente, a nossa santidade é outra. Não queremos ser castos do sexo, e nem queremos um único parceiro para a eternidade. Então, a nossa santidade se dá no respeito ao outro, na compreensão do outro e no acordo comum, que venha a existir entre os casais daí formados.

Nossa santidade não busca a um mundo de anjos, e um paraíso extraterrestre. Mas, se mostra no grito contra os excluídos, na promoção da dignidade, igualdade e justiça. Não queremos sair do mundo para um paraíso, mas queremos transformar o mundo em um lugar melhor para se viver, em um lugar de humanidade, de profunda humanidade e, refletir, assim, o projeto de Deus, o projeto de Deus para nossa teologia! Que se mostra no Cristo, o verbo encarnado, que se fez para todo o que crer ter a vida eterna. E como esse Cristo, que se faz profundamente humano em suas aspirações, também nós, assim devemos nos fazer. Entretanto livres para o sexo e suas relações, desde que se compreenda o mútuo consentimento e respeito. Livre para ser humano, desprovido de qualquer listinha farisaica e apelos moralizantes em nome do bom, hipócrita, costume. Esse axioma, tal paradigma, ainda não existe para nós, mas devemos escrevê-lo, fazer as novas tabuas, que respeitam a vontade do criador, pois respeita o que é humano, e assim, nos iguala ao próprio criador, em sua imagem e semelhança.

Por: Renato Hoffmann




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