segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Descoberta da sexualidade?

Na verdade, eu sempre soube que era homossexual. Não acho que seja uma questão de descoberta, você simplesmente sente. Há quem diga que isso não tem nada a ver, mas quando eu era criança, odiava usar vestido, só queria saber de jogar bola, andar de bicicleta e empinar pipa. Sempre tive muitos amigos homens e achava muito mais legal o que era de menino. Gostava de usar boné e colocar meião para jogar futebol.

Hoje eu sou bem menininha, adoro usar vestido e todas essas coisas, mas, na infância, eu odiava. Acho que já era um sinal! Eu nunca olhei para o lado e falei: “Hoje eu gosto de meninas”. São coisas que acontecem! No fundo, eu sentia que tinha uma relação com algumas amigas que não era apenas de amizade; mas, demorou um pouco para eu perceber.

Meninas

A partir do momento em que comecei a compreender meus sentimentos, comecei a aceitar. Nunca neguei, nem tive muitas crises, acho tudo isso uma perda de tempo; porém, eu notava que tinha um sentimento a mais, só não sabia que era além do fraternal.

Agora eu consigo entender que fui apaixonada por mulheres que conheci tempos atrás, mas nunca aconteceu nada, porque encarava apenas como uma amizade muito forte. Não eram amigas, porque eu separo muito bem o que é amiga do que é “mulher”. Acredito que fui correspondida muitas vezes, mas como não dava abertura, elas também não tomavam uma atitude.

Namorei dois caras. Meu primeiro namoro durou quase um ano e o segundo, dois. Depois de um tempo, eu percebi que os tratava como amigos. Não tinha uma paixão, um coração batendo mais forte, nada disso!

Existem muitas semelhanças e diferenças entre namorar pessoas do sexo masculino e do feminino. Mulher é legal porque o carinho, a atenção, os cuidados são maiores e existe todo aquele instinto maternal de dar bronca, de não deixar tomar chuva, nem andar descalça. O bom é que ainda dá para dividir o armário; mas, por outro lado, há cobranças e ciúmes da mesma forma.

Mas, calma! Eu não tenho uma visão terrível dos homens, não! Tenho certeza de que há muitos por aí superfofos e cuidadosos. Sorte das meninas que acharem o seu! São raros, mas existem, como meu ex-namorado.

Descoberta do amor

Abri os olhos para minha homossexualidade na época do meu primeiro namorado. Tínhamos um grupinho bem grande de amigos e, entre eles, estava uma menina chamada Marina*. Ela era mais velha, reservada, misteriosa e muito inteligente! Quando já estava com o meu segundo e último namorado, descobri que ela era muito próxima de uma amiga minha. Perfeito! Começamos a sair todos os fins de semana.

Quando chegou o carnaval, a galera estava organizando uma viagem e ela ligou para convidar o meu ex e eu. Resultado: ficamos três horas ao telefone! Ela passou a me telefonar todos os dias, até que eu percebi que eu não esperava meu namorado ligar. Quando ele ligava, era como se fosse um amigo perguntando se estava tudo bem e, quando ela ligava, o coração disparava, a cabeça rodava e ficávamos horas batendo papo.

Eu estava apaixonada! Não comia, não dormia, não estudava só pensando nela. Depois de muitos obstáculos, ficamos juntas por três meses, mas não deu certo. Envolvia muita gente e muitas coisas, ela estava numa fase muito complicada e tinha acabado de terminar um namoro de três anos com uma menina que ainda gostava dela.

Família

Meus pais já desconfiavam de Marina*, mas quando comecei a namorar Juliana*, minha mãe me perguntou: “Essa menina não é só sua amiga, certo?” Eu respondi que não. Mãe sente e, além disso, era nítido. Eu vivia suspirando, mas como não era um cara que me ligava todos os dias e sim uma menina, ficou óbvio!

Na hora, minha mãe engoliu em seco; depois, ela começou a se posicionar contra e começou o inferno. Acho que ela não se conforma com o fato de eu ter namorado dois meninos e agora estar com uma menina. Para ela é uma questão de escolha, mas não é!

Se fosse uma escolha, é claro que eu escolheria o lado mais fácil, ninguém opta pelo mais difícil. Não é fácil sofrer preconceito, não poder casar, nem adotar um filho que leve o nome do casal.

Minha mãe começou a me ameaçar dizendo que iria contar para o meu pai. Antes tivesse contado! Nós estávamos discutindo quando meu pai chegou à nossa casa e ouviu tudo. A reação dele foi muito melhor do que eu imaginava, mas minha mãe conseguiu fazer a cabeça dele.

Nesse meio tempo, comecei a namorar Bruna*. Sempre saía com ela e fazia questão de dizer a verdade, até que um dia meu pai me expulsou de casa e eu tive que sair com RG e passagem de ônibus no bolso. Voltei três dias depois para buscar minhas roupas e tudo o que ouvi foi “Demorou para vir buscar suas coisas!”

Se minha mãe não tivesse feito tanta pressão, acho que meu pai não teria feito o que fez; mas, como eles entraram em comum acordo, aconteceu tudo isso. Hoje, moro com uma das minhas melhores amigas, consegui um emprego muito bom e estou sobrevivendo.

Agora a situação está mais tranquila. Conseguimos conversar sem agressão. Falamos sobre tudo, menos sobre minha vida. Apesar de tudo, eles são minha família! Entendo que eles fizeram isso porque querem o meu bem. Claro que é o meu bem na visão deles, mas quem ama faz loucuras, então procuro não julgar nem guardar mágoas.

Eles não mudaram de opinião, mas agora me respeitam. Foi um acordo velado. É complicado alguém querer que eu mude, principalmente quando sei que não faço nada de errado. Eu não roubo, não mato, não uso drogas, eu só gosto de alguém do mesmo sexo que o meu.

Não tenho dó, nem ódio dos meus pais. Acho que, no fundo, eles se arrependeram do que fizeram e já me pediram para voltar para casa. É claro que a minha resposta foi não.

*Os nomes dos personagens foram trocados por questões de privacidade

Fonte: IG Jovem

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