sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Trio de adolescentes é suspeito de matar homossexual no Vale do Aço

Os menores foram apreendidos após abandonarem o carro da vítima em Ipatinga





IPATINGA – Três adolescentes protagonizaram um bárbaro crime na noite desta quarta-feira (23). Eles mataram a tesouradas e pauladas o aposentado Edilson Rodrigues da Silva, de 51 anos. Homossexual e portadora do vírus HIV, a vítima saiu de casa durante a tarde para ir a uma consulta médica, encontrou com os menores no Bairro Vila Celeste, em Ipatinga, e foi para um matagal com eles para um programa amoroso. No entanto o encontro acabou muito mal e os rapazes resolveram assassinar Edilson para se apossar do carro dele.  

A barbárie começou a ser descoberta no início da manhã desta quarta-feira, quando o automóvel do aposentado, o Corsa Sedan placas GXG-0415, foi encontrado com o tanque vazio no loteamento Santa Clara, na região do Bairro Vila Celeste. Havia várias manchas de sangue no veículo e Edilson foi considerado desaparecido. “Enquanto dávamos buscas nesse carro recebemos informações dando conta que algumas pessoas faziam uso de drogas no Bairro Vila Celeste. Ao abordar essas pessoas, nós as entrevistamos e duas delas confessaram que haviam furtado um Corsa Sedan e o abandonado no loteamento”, explicou o sargento Santos Roberto, um dos policiais militares que trabalharam no caso. Ele continuou: “Conversando mais ainda com os dois que admitiram o furto do automóvel, eles ainda confessaram que haviam matado o proprietário do veículo e abandonado o corpo em Santana do Paraíso. Revelaram também que havia um terceiro envolvido nos fatos”. 

Os três adolescentes que mataram Edilson, dois de 16 anos e um de 15, foram localizados e apreendidos pela PM. “Eles falaram que haviam feito sexo lá no meio do mato (no loteamento) e utilizaram um canivete e pedaços de madeira para matar a vítima. Não disseram o motivo pelo qual resolveram matar o homossexual. O furto do Corsa foi configurado. Então, como houve furto, caracteriza-se latrocínio. Dispensaram o corpo da vítima no meio do matagal em Paraíso e foram embora no carro”, observou Santos Roberto. Apesar de as primeiras informações darem conta que a vítima foi assassinada a canivetadas, foi encontrada uma tesoura debaixo do cadáver e a suspeita é que ela tenha sido usada no crime. O objeto foi apreendido pelo perito Hebert De Mingo, da Polícia Civil. 

A irmã de Edilson, Emilza Rodrigues da Silva, 43, foi ao local onde o cadáver foi encontrado – na mata em Paraíso, na saída de Ipatinga para Governador Valadares – e reconheceu o corpo. Completamente chocada, ela disse que o irmão havia comprado o Corsa Sedan há 15 dias. 

Assassino 
Um dos adolescentes de 16 anos apreendidos conversou com o jornal VALE DO AÇO. Confuso e ainda muito assustado com o ocorrido, ele mal conseguia falar. “Eu participei (do homicídio), mas não me sujei de sangue. Só de barro. Eu dei duas pauladas nele (em Edilson)”, resumiu o rapaz, que completou: “Era a segunda vez que eu me encontrava com Edilson. Ninguém transou com ele. O que aconteceu é que ele fez sexo oral em um dos meus amigos e depois no outro. Na hora que ia fazer em mim os meninos foram e ‘pegaram ele’”.

Conforme o menor, os favores sexuais para Edilson eram realizados em troca de comida. “Ele lanchava com a gente. Pegava a gente lá na Vila Celeste para lanchar com a gente”, disse. 
Ainda segundo o adolescente, ele e os dois amigos encontraram com Edilson por volta das 20h desta quarta e foram para o matagal no loteamento por volta das 21h30. O aposentado saiu para a consulta médica às 16h30. “Na hora do homicídio um dos meus amigos cortou o dedo e pediu a minha blusa para enfaixá-lo”, concluiu o garoto. Ele e os dois colegas foram encaminhados à 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil (1ª DRPC) de Ipatinga. Os três seriam apresentados ao Ministério Público (MP) e poderiam ser mandados para algum Centro de Internação para Adolescente (Cia) fora da região. 

Morador do Veneza 
Edilson residia com a irmã e a mãe na Rua Cristalina, no Bairro Veneza. Conforme familiares, ele sempre saía com a carteira e os documentos pessoais, que não foram encontrados onde o corpo foi localizado. A frente do aparelho de som do Corsa Sedan também não foi localizada. A suspeita é de que os três adolescentes tenham cometido o assassinato para roubar não só o carro, mas também a carteira e o som. 


Fonte: JVA online

Dupla e Calor


Era a terceira vez que eu estava ali. Sempre me perguntei por que razão – afora o sexo – as pessoas se dirigiam a um lugar tão quente. Afinal, mesmo o prazer físico podia e devia ser obtido em um ambiente com temperaturas mais amenas e, quiçá, mais confortável.

Foi, no entanto, com surpresa que me vi me tornando um frequentador: três vezes, afinal. Em parte, porque descobri que o vapor quente e úmido parecia favorecer as vias respiratórias, sempre tão agredidas pela poluição paulistana. Em parte, porque me sentia mais magro e desintoxicado depois da sauna seca... E, em parte, porque, sim, havia o atendimento exemplar e a lembrança de agora gloriosas experiências sexuais prévias, que guardo comigo, como um segredo que não revelo senão a poucos.

O estabelecimento – esse a que vou, e sempre limpo – não parecia estar muito movimentado naquele domingo: ao adentrar o espaço comunal, composto por dois sofás confortáveis, o balcão de atendimento e duas mesas de bar, vi apenas um rapaz do tipo falso-magro, pernas bem-torneadas e um sorriso que chamava a atenção, além do óbvio bartender, que também faz as vezes de garçom.

Ainda vestido, limitei-me apenas a olhá-los e fui direto para o vestiário, onde me despi, sem pudores, e assim permaneci durante todo o tempo em que guardava minhas roupas no armário. Ao contrário de muitos naquela sauna, que usam sungas embaixo da toalha que ganhamos à recepção, não tenho problemas com a nudez. Por mim, na verdade, mesmo andava nu; a toalha, mera convenção.

Foi, então, que o falso-magro apareceu à porta e, educado, decidiu me recepcionar. “Nossa!”, suspirou, ao ver meu corpo despido. “Boa noite”. Eu sorri e retribuí o cumprimento: “Boa noite!” – e me dirigi, com certo rubor e de pronto, à sauna seca, onde permaneci sozinho e suando por alguns minutos, uma perna estirada e outra levemente levantada, em triângulo, sugerindo meu sexo por baixo da toalha.

Diferentemente das outras vezes, no entanto, eis que entra um homem de cerca de 30 anos. Está acima do peso e ostenta uma pequena barriga, os pelos descendo fartos do peito até à parte de baixo da toalha. Diferente porque este me parece tão pudico quanto outros, e, com apenas alguns segundos, levanta a toalha e me exibe um membro já duro e levemente úmido, rodeado de uma floresta púbica – e me faz sinal para que me aproxime. Resisto por um tempo. Não sei exatamente o porquê, mas penso que é para “valorizar meu passe”. Entretanto, no fim, acabo me sentando ao lado dele, no outro extremo da sauna, já semiexcitado com a repentina situação.

Não há muito que ser conversado. Eu apenas miro o sexo intumescido, e ele, rápido, empurra minha cabeça para baixo até meus lábios tocarem a cabeça, como se houvéssemos ensaiado todo o movimento. Eu abro a boca e engulo tudo, o que não é difícil, posto que não é particularmente grande. O peludinho geme alto, e, então, ouço sua voz pela primeira vez. “Deixa eu te comer...”. “Não”, respondo, seco. Não podia e não queria. Não ali, não agora. Ele volta a insistir duas vezes, mas acaba aceitando de bom grado o que minha boca tem a oferecer, e nos divertimos assim por algum tempo, com a sauna seca toda para nós... Ou não...

Porque, em um movimento brusco, um rapaz negro entra.

Eu o observo, de esguelha. É bonito, cabelos totalmente raspados e corpo muito bem trabalhado. Ele nota e, após um pequeno momento de surpresa (entendo que ele não esperava encontrar aquele movimento ali, pelo menos não tão já), senta-se  em um dos bancos e assiste à “dança” entre minha boca e o sexo do peludinho. Em homenagem a nós, ergue sua toalha e inicia uma frenética masturbação.

Verdade seja dita, porém, o negro não se contenta muito tempo com o papel de simples espectador. Mesmo sem ser convidado, ele se aproxima, e, quando menos espero, traz uma vara grande e grossa em direção à minha face. Vendo que o peludinho não se opõe, mete-a na minha boca, sem pedir licença, e me faz engasgar. Minha ereção retribui a surpresa – e não posso mentir: uma parte de mim se sente realizada de dar prazer a dois homens ao mesmo tempo. “Quero te comer!”, diz ele, em meu ouvido. “Não”, respondo, com um leve sorriso, entre um e outro engasgamento. Por que raios todos querem me desflorar, e tão já? Prefiro revezar minha língua entre os dois membros tão diferentes no tamanho, na grossura e nos pelos em volta e, assim, me perco por alguns minutos – apenas o tempo suficiente para notar que a porta da sauna se abriu e que não estamos mais sozinhos os três.

O negro agora também exercita sua boca, em um gordinho liso, de feições jovens e safadas, que espreme o olho enquanto introduz seu membro absurdamente grosso entre os lábios igualmente grossos. Enquanto isso, somos os quatro observados por um outro rapaz, de barriga definida e que ecoa os barulhos de nossas salivas com suas mãos e seu pênis, que rivaliza em em tamanho e largura com o do negro, que ora agrado e que me oferece o do gordinho, como uma criança que divide um novo doce, que lambemos juntos.

Enquanto minha boca começa a dar sinais de cansaço por estar no meio de três homens, o rapaz de barriga malhada se aproxima e se oferece para ser o quarto.

Ele, porém, é diferente. Sem palavras, como praticamente tudo que transcorreu até aqui, exige mais exclusividade e quase procura me arrancar dos outros três, o membro extremamente rígido, imenso, forte e pulsante a abrir caminho por entre minha boca. “Deixa eu te comer”, escuto mais uma vez. Eu respondo não, mas já sem a mesma força de vontade, que parece afetada por ele. “Deixa, vai... Gostei de você desde a hora que chegou”. “Não quero dar hoje...”, respondo – e reconheço nele o falso-magro que me dera boa noite à minha chegada... “Deixa!”, e me puxa pra cima, me beijando acaloradamente.

Leva apenas alguns segundos. É o suficiente para pôr a camisinha, me virar de costas e devolver minha boca ao negro. Percebo, então, que fui sequestrado: eles são amigos. Em um esforço vão de recuperar minha vontade e fazer valer minhas decisões, peço ao falso-magro que vá devagar. Ele, certamente, não escuta, pois o negro abafa meus protestos, me engasgando, enquanto a carne dura do amigo entra fundo e dá espaço apenas para meus gemidos altos. O peludinho agora só assiste, e o gordinho liso se retira, excitado.

Envolvido pela dupla e sem ter como escapar, sinto um estremecimento em minhas entranhas. O falso-magro ejacula e joga a camisinha a um canto – e me puxa em direção a si em mais um beijo sôfrego, como que agradecendo. Eu o abraço, cansado e pronto para me retirar... Mas... Sou novamente enganado. Segurando-me nos braços delgados e torneados, o falso-magro agora abre as minhas nádegas. Olho para trás, e o negro está pronto para me invadir, já de camisinha (de onde surgem?). Novamente, não tenho como protestar. Dessa vez, é um beijo que me silencia, enquanto outro membro enorme vasculha e se delicia entre minhas carnes. Esbaforido ou ultrajado, agora o peludinho se retira, e sou deixado à dupla, e à minha própria sorte.

Finalmente, o negro chega ao êxtase... E, quando se retira de dentro de mim, sinto um leve ardor, como se meu corpo protestasse o esforço duplo e imerecido – mas eu estou feliz. Os dois me levam para os sofás na área comunal, e ali permanecemos os três, entre beijos, abraços e insinuações... Mal sabia eu que, ainda naquela noite, seria penetrado mais três vezes pelos amigos – que, então, se tornariam meus amantes.

Pergunta: é possível haver gays que se dirigem à sauna apenas para irem à sauna? E nada mais? E qual a vantagem desses espaços frente a outros lugares de pegação?

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Heterofobia e moscas albinas



Heterofobia e moscas albinas
Sites brasileiros distorcem estudo produzido nos Estados Unidos

por João Marinho

O que vem a ser homofobia? Atualmente muito popular, a palavra parece ser autoexplicativa para a maioria dos mortais, mas há grupos e "especialistas" que procuram problematizar a questão – quase sempre, em nossa opinião, no intuito de jogar uma cortina de fumaça sobre o preconceito e a discriminação sofridos cotidianamente por gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs).

Em 2007, assisti a uma audiência pública no Senado a respeito do PLC 122/2006 – o projeto de lei que busca criminalizar, no Brasil, precisamente essa prática discriminatória. Lembro-me de que um dos convidados foi o Reverendo Guilhermino Cunha, da Academia Evangélica de Letras do Brasil (AELB), que, durante sua argumentação, tentou desqualificar a palavra homofobia.

Recorrendo aos elementos formadores da palavra – o prefixo homo-, de "igual" ou "semelhante"; e o sufixo -fobia, de "medo" –, Cunha procurou sustentar a impossibilidade de utilizar o termo para descrever o preconceito e a discriminação sofridos por LGBTs. Segundo ele, uma pessoa homofóbica seria alguém que tivesse medo do igual, ou seja, do mesmo sexo. Uma definição em que a maioria dos heterossexuais, e dos evangélicos que se opõem ao PLC, jamais poderia ser encaixada.

Parecia uma explicação plausível, mas aprendi, ao estudar autores como Michel Foucault e Pierre Bourdieu, que o questionamento sobre o que diz um saber especializado normalmente é um dos primeiros e mais necessários passos ao propormos uma sociedade mais libertária e aberta às diferenças. A ciência e os discursos do saber não são, afinal, integralmente neutros – e, aqui e ali, é preciso depurá-los de valores culturais e julgamentos morais que advêm de ideologias a priori e preconceitos históricos prévios.

Não sou linguista, mas, para qualquer pessoa que estude minimamente a língua portuguesa, resulta claro que o processo de formação de palavras pode ser mais livre e espontâneo do que certos etimólogos gostariam, e, nesse processo, nem sempre um prefixo de origem grega ou latina corresponde ao seu significado original na formação de uma palavra. Por vezes, o prefixo assume o sentido global de uma palavra da qual antes era componente, resultando no que se denomina falso prefixo.

Auto- é um dos melhores exemplos. O significado original grego é o de "por si mesmo" ou "próprio", como na palavra automóvel: algo que se move por si mesmo. No entanto, auto- é, por vezes, um falso prefixo, ao assumir, em outras palavras, precisamente o significado de automóvel, carro, e não o de "por si mesmo".

Com efeito, em palavras como autoescola e autovia, qualquer um entende que falamos de uma escola para aprender a dirigir um carro e de uma via em que os carros passam – e não de uma escola ou de um caminho que, magicamente, se movem sozinhos. Aeroporto é outro exemplo, com o falso prefixo aero-: obviamente, falamos de um lugar onde aeronaves pousam, e não de um porto que flutua no ar, que seria o caso se aero- mantivesse seu significado original.

Ora, homo-, de homofobia, deriva de homossexual. É um caso de falso prefixo, em que homo- não é "igual" ou "semelhante": homo- é gay! E fobia? Bom, embora, na psicologia e na psiquiatria, fobia seja quase sempre um medo patológico de alguma coisa, ela também se revestiu de um sentido conotativo ou derivado no uso cotidiano do português, significando aversão ou falta de tolerância. Portanto, como já registram dicionários como o Houaiss, homofobia simplesmente é a "rejeição ou aversão a homossexual e a homossexualidade".

Prova desse uso corrente de -fobia, eu tive em 2010, quando encomendei óculos novos com lentes hidrofóbicas. É óbvio que a vendedora falava de uma tecnologia que permitia às lentes serem à prova d'água e não se mancharem com gotículas – e não de lentes que, ao observarem a chuva chegando, fugissem dela, assustadas e traumatizadas.

Obviamente, conforme a palavra homofobia se populariza, o apelo de argumentos como o do Reverendo Cunha torna-se mais fraco. Gostem ou não, todos hoje têm uma consciência, mesmo parcial, do que é homofobia e do que é ser homófobo, homofóbico.

Foi, então, que os que se opõem aos direitos dos LGBTs lançaram outra ideia: a de heterofobia. Assumindo o uso do falso prefixo e o sentido conotativo ou derivado de fobia, passaram a dizer que gays e afins são heterofóbicos, ou seja, têm aversão a heterossexuais.

Posso admitir que existam pessoas que sejam, por exemplo, machistas – e considerem os homens superiores às mulheres de alguma forma. Pessoas que sejam misóginas – tenham aversão a mulheres; que sejam misândricas – tenham aversão a homens; ou mesmo misantropas, que tenham aversão ao gênero humano.

No entanto, a existência de pessoas que tenham aversão a heterossexuais ou à heterossexualidade especificamente, embora seja teoricamente possível, é bem mais difícil de sustentar. Quando alguém tem aversão a mulheres, por exemplo, normalmente é uma aversão que se dirige a todas, e as lésbicas costumam até mesmo sofrer essa aversão em dose dupla.

Fica até difícil pensar de que maneira a heterofobia se manifestaria. Se gays podem ser xingados de "veados", "bichas", "baitolas"... Como se xingaria alguém por ser hétero? E quantos héteros, no Brasil, são agredidos e mortos por esta razão: o fato único e exclusivo de gostarem do sexo oposto?

No entanto, a oposição aos LGBTs diz ter seus dados. Na internet em língua portuguesa, é repetida à exaustão a existência de um determinado estudo conduzido por Stephen M. White e Louis R. Franzini que indicaria "que há mais sentimentos negativos e heterofobia por parte das pessoas homossexuais, quando comparados com os sentimentos negativos e homofobia por parte das pessoas heterossexuais". Dúvida? Consultem este link: http://tinyurl.com/82mu4q4. A descrição encontra espaço até na Wikipédia, que muitos estudantes utilizam como fonte de pesquisa.

Sabendo que há muitos boatos e informações incorretas na internet, incluindo a Wikipédia – por sinal, chama a atenção que nenhum site indique qual seria esse estudo, onde e quando foi publicado –, procurei saber mais sobre a pesquisa dos Drs. White e Franzini.

Os autores existem, e, após navegar por mares nunca dantes navegados, deparei-me com a existência do estudo Heteronegativism? The attitudes of gay men and lesbians toward heterosexuals, publicado no Journal of Homosexuality, em 1999.

Infelizmente, quase todos os sites que disponibilizavam o estudo cobravam pelo download, e não foi possível obtê-lo na íntegra... Mas, como geralmente ocorre numa pesquisa bem-feita mesmo na internet, acabei por encontrar o contato do Dr. Stephen M. White no The Rainbow Connection, um site dedicado a ajudar pais de crianças homossexuais mantido pelo próprio psicólogo – e que possui o mesmo nome de um livro escrito por ele, sobre o mesmo assunto.

Tomei a liberdade de escrever-lhe pedindo que esclarecesse suas descobertas, informando que o material seria utilizado neste artigo, que vocês ora leem. A reação do Dr. White foi de surpresa. Com todas as palavras, ele me informou que os sites brasileiros – e portugueses – que indicam maior preconceito de gays e lésbicas em relação aos heterossexuais do que o inverso simplesmente dizem o contrário do que o estudo havia descoberto!

White e Franzini, na verdade, descobriram que, apesar de sofrerem muito mais discriminação devido a sua orientação sexual, gays e lésbicas mantinham, em geral, uma atitude extremamente positiva para com os heterossexuais, muito mais do que os heterossexuais dedicam a eles. Meu contato com o Dr. White resultou em uma nota de esclarecimento, assinada por ele, em inglês, e agora disponível no The Rainbow Connection: http://the-rainbow-connection.org/ResearchClarification.html.

Resumo da ópera e lição de jornalismo: não acreditem em tudo que leem; busquem sempre fontes e informações confiáveis e comparem dados; não reproduzam aquilo sobre o que paira dúvida ou não se sabe a origem; e se deem o benefício de questionar e perguntar sempre – e aproveitem agora para, orgulhosos, mandar a cada site que fez um uso incorreto das descobertas dos Drs. White e Franzini a informação fidedigna e desmascarar mais essa mentira que paira sobre os LGBTs.

Para mim, particularmente, o que me resta é dizer que até acredito que exista heterofobia. Também acredito em moscas albinas de olhos azuis – mas, até o momento, não vi nenhuma das duas coisas...



A imagem ilustrativa foi manipulada no software Adobe Photoshop.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Não é fácil ser gay... Mas eu ainda escolheria ser...

Meu amigo Marco Antonyo colocou num grupo esta pergunta, questionando: se você pudesse escolher, porém, escolheria ser gay? Procurei responder e deu quase uma biografia. Ficou enorme, mas espero que vocês leiam e curtam, pois são pedaços bastante pessoais de minha experiência... 


Eu não escolhi ser gay, e ser gay definitivamente não é fácil. Não quero me fazer de vítima, mas uma verdade que certa vez ouvi sempre me soou evidente: outros grupos que sofrem preconceito, como negros, judeus, ciganos, encontram apoio entre os seus. Se você é judeu, mesmo que se depare com antissemitas fora de casa, encontrará apoio e força entre outros judeus. Se você é negro, mesmo que se depare com um racista, encontrará conforto e consolo na sua família negra. No entanto, isso é válido, a rigor, se você é hétero... Porque se você for judeu e gay, negro e gay, cigano e gay... Ou ainda branco e gay, pardo e gay... Muitas vezes, será dentro da sua própria família e da sua própria casa que você primeiro enfrentará o preconceito.

Por causa disso, quando somos mais jovens, e nisso eu me incluo, existe um medo visceral de que nossas famílias “descubram”. Conforme amadurecemos e vamos conhecendo outros gays, as histórias que ouvimos ou presenciamos também não ajudam. São pais que tratam seus filhos como doentes e chegam a separar talheres, irmãos que socam o outro por causa da homossexualidade, família que expulsa de casa ou que obriga a fazer “tratamento” com pseudopsicólogos, gente que leva à igreja para fazer exorcismo, coloca a cruz embaixo do travesseiro para libertar a alma – e eu não estou falando disso como simples elementos discursivos, porque conheço pessoalmente exemplos de gays e lésbicas que sofreram esse tipo de abuso por parte de suas famílias. Muitos são amigos meus, e creio que vocês deverão entender eu não citá-los nominalmente, pois são histórias pessoais e muito dolorosas.

Eu tive uma certa sorte. Minha família nunca chegou a esses extremos – mas não quer dizer que tenha sido fácil. Comecei a perceber a minha atração por outros meninos, de forma declaradamente sexual, já nos meus 12, 13 anos de idade, no comecinho da puberdade. Se, porém, fizer um restrospecto de desde quando me interesso pelo sexo masculino, a resposta recairá em fases tão precoces quanto aos 9, quando já me encontrava “apaixonadinho” pelo ator Lauro Corona, que faleceu em 1989, ou... Aos 5, quando eu me recordo de que já sentia um imenso prazer numa brincadeira que um vizinho mais velho, de cerca de 30, fazia comigo: ele me deitava no chão e pisava de leve em mim, fazendo cócegas. Era uma brincadeira masculina, inocente para ele, mas, para mim, as coisas eram diferentes... Tanto que, aos 7, quando fazia judô, já gostava de ser derrubado pelos outros meninos e pelo professor. Não preciso dizer que minha carreira no esporte foi assaz curta. Afinal, o objetivo é derrubar o oponente, e não ser derrubado por ele e senti-lo por cima rs.

O que muitos não sabem é que eu “nasci” no meio evangélico, apenas com exceção de meu pai, e fui criado na igreja. Frequentava-a desde que consigo me lembrar: aos 5 anos, já estava eu na classe dos “Cordeirinhos”, na escola dominical. Aos 12, eu tinha me convertido durante a pregação de um convidado estrangeiro na Igreja Batista Central de Guarulhos. Aos 14, na Igreja Batista Bíblica de Vila São Jorge, eu me batizei.

Como vocês devem supor, descobrir-me gay com todos aqueles hormônios da puberdade e frequentando a igreja foi uma verdadeira provação. Existia muita culpa, e eu simplesmente não tinha com quem conversar a respeito. Minha família era evangélica e adotaria uma visão certamente proibitiva e de condenação, pensava eu – e como podia ser diferente, se eu mesmo me recriminava? Os amigos, cada vez mais interessados nas mulheres e formas femininas, dificilmente entenderiam eu preferir pernas peludas e vozes grossas a seios e bumbuns salientes. Como explicar que eu gostava mais de olhar as pernas do Fábio em vez dos peitos da Simone, superdesenvolvidos para a idade? E, vamos combinar, não tinham suficiente maturidade para me ajudar. Tínhamos a mesma faixa etária, afinal. Por isso, para todos os efeitos, eu era “hétero” para todo mundo, embora ninguém soubesse da existência dessa palavra na época, assim como “gay” ou “homossexual”. Só tínhamos uma ideia do que era ser “bicha” e do que era não ser – e era algo bem ruim. Ninguém queria ser a bichinha da turma. Pensando hoje, uma triste tradição que os pais ensinam a seus filhos.

Aos 12 anos, eu tive acesso, por acaso, ao primeiro material pornográfico de que me lembro: revistas de sexo. Depois, filmes pornôs. Todos héteros. Eles também me causavam culpa, afinal eu era evangélico, mas eu continuei consultando-os. Sim, me masturbava com eles, mas algo sempre foi claro para mim: numa cena hétero, eu sempre achei que o papel feminino era mais legal. Nas minhas fantasias masturbativas, era na posição feminina, de ser penetrado, que eu gostava de me imaginar, embora não com o corpo feminino. Acho que sempre fui passivo, né? Rs.

Por uma época, nessa fase, até cheguei a ter coleção de fotos de mulheres peladas, que eu recortava de revistas. Não tinha internet na época, e minha coleção era uma das maiores. Outros amigos meus tinham semelhantes. Eu me masturbava com essas fotos também, mas sinceramente não sei dizer se era por atração pelas mulheres ou se simplesmente “seguia o rebanho” (no caso, meus amigos), porque não me recordo de já ter me imaginado efetivamente transando com uma delas: minha imaginação evocava as cenas dos filmes pornôs, nas quais a posição feminina e os gemidos delas eram bem mais legais de vivenciar.

Minha coleção de mulheres peladas chegou ao fim por causa de um homem de shorts – e aí eu já deveria ter meus 13 ou 14 anos. Era um anúncio numa revista de turismo, de uma bicicleta ergométrica. O rapaz da foto, de regata e shorts, pernas peludas e braços bem torneados, simplesmente se sentava na bicicleta e fazia propaganda do produto, mas aquela foto foi um marco para mim. Ela trabalhou de tal forma a minha libido que depois simplesmente não consegui usar nenhuma das fotos de mulheres para meus momentos de prazer solitário. Era impossível, até mesmo para fazer a operação triangular de evocar as cenas dos filmes pornôs. Só conseguia usar o modelo de shorts e regata. Joguei a coleção fora.

À medida que, com essas experiências, cada vez mais eu descobria que curtia meninos, a situação ia ficando mais complexa. Até a 6ª série, eu estudava em escola particular. A partir da 7ª, mudei para uma escola pública, onde a média de idade era maior. Ver meninos mais altos e mais desenvolvidos apenas acentuou a questão – e, embora eu tivesse uma boa relação com a maioria, alguns, talvez por perceberem algo que eu ainda nem tinha concluído, já faziam “brincadeiras”, piadinhas, etc. no que hoje as pessoas chamariam de bullying. Isso não tornava nada mais fácil.

Lembro que, na época, eu, que sempre fui estudioso, comecei a procurar informações onde podia. Minha irmã cinco anos mais velha tinha uma coleção que, se não me engano, ganhara dos meus pais, um dicionário de Sexo, contendo vários verbetes espalhados em fascículos com capa dura azul. A linguagem era similar às dos livros escolares, e enfocava o aspecto biológico da coisa, mas serviu para tirar muitas dúvidas que surgiam na época, e eu compartilhava as informações com meus amigos.

Também encontrei na estante da sala livros de orientação psicológica e, em alguns deles, encontrei, afinal, informações sobre homossexualidade – ou “homossexualismo”, que era a palavra que usavam. Infelizmente, por serem livros antigos, da década de 60, o assunto era tratado como desvio, algo que hoje a psicologia não defende mais. Claro que eu não sabia disso na época: então, se estava escrito que era desvio, era desvio. Eu, que já me sentia mal por ter aqueles desejos incompatíveis com a religião e destoante dos meus amigos, ainda era um desviado. Que péssimo!

Um dos livros, porém, dizia que interesse pelo mesmo sexo podia acontecer durante a puberdade como uma confusão causada pela admiração que a pessoa tinha por um amigo mais velho. Não era que a pessoa era homossexual e não se casaria com o sexo oposto na vida adulta – e eu achava que ia casar. Já tinha até escolhido os nomes dos meus cinco filhos. Era algo transitório e passava. Assumi aquela explicação como minha. Eu não tinha nenhum amigo mais velho, mas dane-se. ERA aquilo e IA passar.

Claro que não passou. Aí, eu acabei me tornando mais fechado, pelo menos, até o término do ensino fundamental. Além disso, eu era feio, hehehe. Não ia “pegar ninguém” mesmo. No entanto, aos 16 anos, as coisas começaram a mudar. Fui ganhando mais corpo, em parte devido à natação que eu então praticava, as espinhas foram rareando e aí fui ficando mais apresentável. Nessa idade, recebi a minha primeira cantada – de outro homem, um gordinho chamado Wagner que me seguiu de carro. Foi um tanto traumatizante porque eu pensei que fosse bandido, algo assim. No entanto, depois de passado o susto, até que gostei. Peguei até o telefone! Só não liguei...

O Wagner foi o primeiro, e a partir daí outros também vieram. Com o tempo, comecei a gostar daquela atenção, mas eu só provocava. Ir até o fim, jamais. Já me sentia culpado pelos desejos homos – e, nessa época, eu já tinha tido contato com as passagens condenatórias bíblicas, o que me deixava ainda pior. Pelo menos, pensava eu, enquanto não transasse, não ia para o inferno. Essa fase coincidiu com muita oração de libertação, quase diária. Lembravam as orações antimasturbação que eu fazia (era pecado também, né?), que sempre vinham acompanhadas de datas que eu marcava para não me masturbar mais – e sempre falhava.

As mudanças físicas dos meus 16 anos, quando eu já estava no ensino médio, também coincidiram com mudanças comportamentais. Eu fui me tornando progressivamente mais extrovertido – exceto por um assunto: mulheres, como me lembrou meu amigo Wellington anos mais tarde. Era tal o bloqueio que, ao contrário de boa parte dos meus conhecidos, eu não tinha beijado NINGUÉM até aquela idade. Essa característica fez com que meus amigos então começassem a desconfiar da minha sexualidade, embora fizessem o favor de nada comentar: favor que prezei especialmente após terem me dito, anos depois, que uma menina da sala de aula, quando eu já estava no segundo ano do ensino médio, estava
“na minha”, mas eu jamais dera o aguardado e esperado passo que outros rapazes teriam dado. Os bullyings também se tornaram mais raros, mas, por dentro, minha crise estava cada vez mais aguda, porque os desejos estavam cada vez mais fortes.

Então, aliada à extroversão, vinha uma depressão, que, normalmente, eu vivia em casa. Virei um Frankenstein adolescente. Fora, com os amigos “do mundo” (como se diz no jargão evangélico, para identificar quem não é), eu era extrovertido e bem-humorado, mas totalmente bloqueado sempre que o assunto namoro, relacionamento e mulheres aparecia, embora pudesse discursar sobre o sexo horas a fio, desde que na abordagem científica da questão, um resquício dos estudos que eu fiz e fazia, como contei mais atrás, e que faziam meus amigos tirarem dúvidas comigo. Em casa, às vezes, me entregava a um choro sem explicações para minha família. Eu dizia que eram as estrias de crescimento, algumas que surgiram na minha pele. Ainda as tenho, e havia um quê de verdade para um adolescente vaidoso, mas, claro que não era só isso. Nem era a maior parte da verdade... Na igreja, quando a fé vinha mais forte, eu me tornava mais tímido e fechado, de maneira que quem me conhecesse na igreja dificilmente me reconheceria no colégio. Na rua, se os homens me cantavam, me sentia bem em provocá-los.


No fim das contas, eu estava me tornando um gay, evangélico, carregado de culpas por todos os lados, com dificuldades de me relacionar afetivamente, deprimido e com múltiplas personalidades. Era muito para quem ainda era adolescente e tinha de lidar com os hormônios e todas as dúvidas típicas da idade. Mais do que tudo, eu não queria ser gay: minha visão era de que gays eram pessoas que viviam à noite, em becos, não tinham família ou amigos e tinham de se esgueirar pelos cantos, em lugares sujos. Aquela imagem dos becos nova-iorquinos, com fumacinha e tudo, era recorrente na minha mente. Não por acaso, fiz tentativas de flertar com a heterossexualidade.

Na 7ª série, anos antes, aos 13, a primeira. Havia uma menina na igreja de quem eu me sentia próximo e resolvi escrever-lhe uma carta e entregar na casa dela, para flertar com ela. Pedi ajuda para meu melhor amigo, o Wellington (de novo!), que me acompanhou, mas, por vergonha, acabou me deixando sozinho lá na hora H. Pensando hoje, foi engraçado... Mas, na hora, bem embaraçoso – e a carta não funcionou. Sei, hoje refletindo, que estava apenas indo na onda de meus amigos de então. Os meninos estavam começando a se interessar pelas meninas tanto na igreja quanto na escola, e eu queria experimentar aquilo, ter experiências, digamos, normais. Afinal, eu queria ser normal, e nada mais natural que tentar fazer o que todos faziam. No entanto, eu realmente estava interessado nela, de beijá-la, abraçá-la, ficar com ela? Não. Gostava dela como amiga, e apenas procurava me convencer de que era como qualquer outro menino e deixar de ser virgem de boca: é a dura verdade. Mesma lógica ocorreria um ano depois, quando tentei, também sem sucesso, abraçar outra na escola.


Mais uma tentativa se deu aos 18 anos. Havia um pequeno bordel perto de minha casa, numa rua do centro de Guarulhos onde também havia um cinema pornô. Mais maduro, eu já praticamente não tinha dúvidas do que eu era e do que realmente gostava, mas resolvi, assim mesmo, tirar a prova dos nove. Entrei, pedi um suco de abacaxi (totalmente inexperiente, não?) e chamei atenção de uma gordinha, que se esfregou em mim, rebolando e se insinuando. Praticamente, saí correndo: definitivamente não era de mulher que eu gostava. Minha irmã, anos depois, chegou a dizer que a questão é que se tratava de uma gordinha... Mas, como, em minha vida sexual, depois de tudo isso que estou contando, eu fiquei com gordinhOs sem problema algum, demonstrei a ela que, definitivamente, não era o peso o problema.

Seja como for, fiquei “virgem de boca” e totalmente travado nessa questão até os 18 anos. Embora estivesse me tornando progressivamente mais bonito (ou menos feio rs), não conseguia passar a barreira sexual que tinha erguido, e o medo do inferno me consumia. Até que, aos 18 anos, eu tive minha primeira relação homo. Minha iniciação se deu em duas vezes. Em uma, fiz sexo oral (antes de ter dado o primeiro beijo!) e foi um tanto quanto traumatizante, pois o homem estava bêbado. A culpa foi avassaladora, e, com medo de doenças, fiz trocentos exames que pedi a um farmacêutico amigo com contatos. Passei meses assexuado, mas pelo menos descobri que meu tipo sanguíneo é O+ rs.

A segunda vez foi com um homem casado de 25 anos chamado Walison. Ele estava de passagem por Guarulhos, e eu apenas o vi aquela única vez. Com ele, sim, tive o pacote completo. Afinal, dei meu primeiro beijo e entreguei a virgindade num terreno baldio. A culpa evangélica ali também apareceu e quase estragou tudo. Walison quase desistiu porque eu estava “mais frio que uma geladeira”. Foi essa a expressão, dado meu travamento. Lembro que olhei para a lua, pedi perdão a Deus, mas não deixei a oportunidade passar. Para espanto dele, depois contei que era virgem – e foi uma delícia.

Daí em diante, foi mais fácil me relacionar com outros homens. Sempre na surdina, sempre escondido, sempre à noite e sempre com medo – e com culpa depois. Maior do que antes, porque eu tinha dado o passo fatal. Agora, eu tinha transado: ia mesmo pro inferno, e, por algum tempo, eu tentei separar minhas vidas: a gay, proibida, e a não-gay, na igreja e em outros espaços.

Evidentemente, não deu muito certo e, na igreja, sobretudo, num processo que começou quando os desejos homossexuais foram ficando mais fortes, eu vestia cada vez mais a carapuça de conservador. De certa forma, era uma maneira de eu procurar me purgar de meus próprios pecados. Hoje, acredito firmemente que, quando alguém é conservador demais, reacionário e moralista, é porque ali tem. Existe algo na pessoa que, para se livrar, somente ela indo aos extremos para conter. Como a pessoa que tem mania de limpeza por ter um prazer incomum com a ideia de sujeira, prazer que ela rejeita. É tão forte o impulso, que só tendo mania de limpeza para contê-lo. O problema era ter consciência disso e ainda se sentir hipócrita e piorar a culpa...

Minhas primeiras experiências gays foram seguidas de aconselhamento. Já não conseguia mais guardar aquilo só para mim. Chamei um homem que entregava marmitas na empresa em que eu trabalhava e com quem havia tido uma identificação e me confessei com ele. Contei que tinha transado com homem, entre lágrimas. Ele era adventista, e, embora tivesse tentado me confortar, me orientou a continuar orando.

A segunda pessoa a quem pedi ajuda foi o pastor da minha igreja, o Heralto. Eu não lhe disse com todas as letras o que acontecia, mas, para um bom entendedor, meia palavra basta. Ele captou qual era o problema, foi bastante compreensivo até, de uma forma que eu não imaginava, mas também me aconselhou a orar e buscar a orientação de Deus. Era algo complicado porque, afinal, o que eu vinha fazendo todos aqueles anos, senão exatamente aquilo? E nada mudava...

No entanto, houve algo de muito bom nessa história toda. A partir de certo momento, eu simplesmente não podia acreditar que as coisas podiam ser tão injustas. Eu era um bom filho, afinal. Vivia tudo aquilo escondido, para “poupar minha família”, e era um bom amigo. Tinha me convertido, procurava seguir a Palavra de Deus e sofria quando não conseguia – transando com homens, por exemplo. Meu arrependimento era sincero. Por que Deus me mandaria para o inferno mesmo assim?

Passei a acreditar que as coisas não podiam ser tão horríveis. Haveria de existir algo, uma tradução incorreta, que dissesse que meu destino não eram as chamas e a danação. Adicionalmente, tive a sorte de ir conhecendo outros gays e vi que, como eu, eram pessoas que trabalhavam, estudavam, tinham famílias... Muitos namoravam, e eram devotados àqueles que amavam. Viviam durante o dia. Nada de becos noturnos esfumaçados...

Essa nova convicção me fez me aprofundar na história da Bíblia, do cristianismo e na psicologia. Antes que eu pudesse perceber, acabei por descobrir detalhes nada convenientes de como tudo acontecera na religião – e que os livros de psicologia da década de 60 estavam desatualizados. Em pouco tempo, aquela pesquisa toda me fez começar a questionar os fundamentos de minha fé.

O resultado foi dramático. Embora, por muito tempo, ainda escondesse tudo de minha família, a culpa foi desanuviando. Eu me tornei uma pessoa mais compreensiva, menos conservadora, julgava menos os outros e até mais feminista. Certa vez, quando participávamos de um campeonato musical entre as igrejas batistas de Guarulhos, nosso compositor foi flagrado bebendo cerveja. Tivemos de fazer uma reunião do grupo musical, porque uma das regras era que todos estivessem em comunhão e frequentando suas igrejas. Na reunião, eu disse, a respeito do Davi, que todos tínhamos nossos pecados – e a única diferença era que o dele havia sido descoberto.

O resto é história. Eu fui me afastando da igreja e, aos 21 anos, quando me apaixonei, houve o golpe de misericórdia. Afinal, Deus era amor – e não fazia sentido que algo tão puro, belo e, afinal, divino, nascesse daquilo que a igreja considerava tão sujo e pecaminoso. Meu afastamento me levou a ser questionado frente a uma Comissão de Ética e à União de Jovens. Falei dos meus questionamentos teológicos, ainda que sem detalhá-los, e, no fim, resultei desligado da igreja.

A verdade, porém, é que me orgulho muito desse novo João, pós-evangélico, que tem sido apurado ao longo dos anos. Ninguém é perfeito, e eu tenho ainda muito a ser aprendido e a ser consertado, mas, mesmo que tenha sido tão difícil me descobrir gay e ainda tenha de enfrentar preconceitos e dificuldades aqui e ali por causa disso e que tenha sido trabalhosa a revelação da minha homossexualidade para minha família anos depois, eu sou hoje uma versão de mim mesmo muito melhor do que era antes.

Existem gays que têm mau caráter, são falsos, mentirosos e hipócritas. Até bandidos, assim como muitos héteros e bis. Não é a orientação sexual, afinal, que define isso. No entanto, no meu caso particular (e só meu), eu credito a ela a razão de ser quem eu sou hoje e das qualidades minhas de que mais me orgulho.

Foi minha homossexualidade que me impulsionou ao questionamento, aos livros, à busca de informação, a compreender o próximo, a deixar o conservadorismo para trás, a ser mais flexível e a pensar duas vezes antes de julgar o outro só porque é diferente. Foi ela que me deu o impulso para procurar me corrigir quando percebo se agi assim. Foi ela que me fez experimentar o amor por duas vezes e saber que pessoas rancorosas como um Silas Malafaia da vida estão erradas – e foi ela que estava por trás de uma nova concepção de divindade que invadiu minha vida. Menos castigadora, menos punitiva e mais amiga, com quem, por sinal, me relaciono muito bem hoje em dia.

Cada um faz o uso que quer de sua característica que a natureza lhe dá. Eu fiz esse, e é por isso que me orgulho de ser gay. Não pelo fato de transar com homem em si, ou de devotar a eles meu desejo – mas pelo fato de que essa característica, no fim das contas, me fez ser uma pessoa melhor. Então, apesar de tudo que passei, eu escolheria ser gay, sim. Além do mais, preciso confessar: é gostoso à beça!

João Marinho

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Grupo que publica a bíblia de Silas Malafaia (Bíblia de Vitória Financeira e Batalha Espiritual) é parceiro do mesmo grupo que publica a bíblia satânica!


E agora José?


As editoras Zondervan e Thomas Nelson foram criadas no início do século 20 por cristãos desejosos de divulgar o evangelho através de livros. Durante muitos anos ambas serviram a este propósito.

A Zondervan foi vendida em 1988 ao grupo Harper Collins, que hoje é a maior editora do mundo. A Harper pertence a um dos maiores conglomerados de mídia do planeta, a News Corp, de Rupert Murdoch, que inclui os canais de TV CNN e FOX, além de mais de 100 jornais.

Porém, a News Corp também é um dos maiores produtores mundiais de pornografia. Sendo uma empresa capitalista, a empresa de Murdoch produz todo o tipo de produto que pode gerar lucro. Em sua busca por dinheiro e liderança de mercado, esta semana eles anunciaram a compra da sua rival mais antiga, a Thomas Nelson.

O negócio não teve valores divulgados, mas deve afetar grandemente o mercado editorial cristão. A aquisição precisa passar pelo crivo dos órgãos reguladores norte-americanos e deve ser finalizada até o final do ano.

Em comunicado, a Harper Collins destacou que está adquirindo uma empresa que tem em seu catálogo "alguns dos livros mais vendidos da indústria" e oferece conteúdo em variadas plataformas, incluindo e-books, áudio, vídeo e aplicações digitais.

Para Brian Murray, presidente da HC, o "amplo apelo espiritual dos produtos da Thomas Nelson complementa bem a Zondervan". Juntas, os dois selos produzem material evangélico em mais de 100 países, inclusive no Brasil.

Uma crítica antiga de segmentos evangélicos é o fato de a Harper Collins não ser regida por princípios cristãos. Ela publica e vende, através de diferentes selos, livros sobre satanismo, tarô, misticismo e nova era.

Entre os mais conhecidos estão a Bíblia Satânica, escrita por Anton Lavey e os livros de bruxaria pela satanista que assina como Starhawk.

Outra dificuldade é que a empresa também publica livros pró-homossexualismo, como The Book of Lesbian Sex and Sexuality [O Livro do Lesbianismo e da Sexualidade].

A Thomas Nelson funciona no Brasil través de um parceria com o grupo Ediouro desde 2006, e já se firmou como uma das maiores produtoras de livros de literatura motivacional do país. Entre os autores publicados por ela estão best-sellers de Augusto Cury e Max Lucado, além de obras de teólogos polêmicos como Brian McLaren e Donald Miller. Entre as Bíblias publicadas por ela está a Bíblia de Vitória Financeira e Batalha Espiritual, popularizada pelo pastor Silas Malafaia.

A Zondervan durante muitos anos foi dona da Editora Vida, mas acabou vendendo o selo por entender que a empresa não dava o lucro desejado. A editora produz desde 1988 a Nova Versão Internacional da Bíblia. Entres seus campeões de venda estão os pastores Rick Warren e Rob Bell.

Fonte: ADIDERJ

Transas em locais públicos viram livro : Petite Mort





Algumas aventuras sexuais, como sexo em banheiros públicos, topos de prédio eparques, se transformaram em exposição e livro dos artistas Carlos Motta Joshua Lubin-Levy. 
Eles convidaram vários gays para contarexperiências de sexo em lugares públicos.
 
O resultado está na criação “Petite Mort – Recollections of a Queer Public”. Petite Mort é “pequena morte”  em francês, e é um nome do gozo, quando se perde todas as forças, a respiração, enfim, é um quase morrer!


Fonte Cena G

Governo do Rio de Janeiro anuncia criação de mais dez centros LGBT até 2013


O governador do estado do Rio de Janeiro é show de bola, um dos mais envolvidos com cidadania e a diminuição do preconceito contra LGBTs no Brasil. Parabéns governador Sérgio Cabral! Ele, de fato, merecia o reconhecimento das ONGs LGBTs


O governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou que vai inaugurar mais dez Centros de Referência e Promoção da Cidadania LGBT até 2013. Já existem três postos funcionando (Central, Nova Friburgo e Duque de Caxias) e uma central de denúncias, que acolhe vítimas de homofobia e preconceito por orientação sexual. Nesta central foram registrados 10 mil atendimentos desde 2010.


Os primeiros novos postos serão inaugurados em Nova Iguaçu e Niterói, até o fim de 2011. Em 2012 será a vez deCabo Frio e Macaé (primeiro semestre) São Gonçalo e Resende (segundo semestre). Natividade e Angra dos Reis receberão seus postos nos primeiros meses de 2013. No fim de 2013 as cidades de Campos dos Goytacazes e Belford Roxo receberão seus Centros LGBT.

Os Centros vão oferecer serviços de apoio jurídico, social e psicológico para LGBTs vítimas de violência, seus familiares e amigos.

Fonte: Cena G

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Igrejas da Grã-Bretanha podem realizar casamentos gays



As instituições religiosas na Grã-Bretanhaque quiserem realizar uniões civis entre pessoas do mesmo sexo poderão fazê-lo a partir de 5 de dezembro.
 
Isso porque, o governo britânico vaisuspender lei que proíbe esse tipo decerimônia em templos e igrejas.
 
A previsão é que 1.500 casais se unam em lugares administrados por religiosos no primeiro ano da nova regra.


Fonte Cena G

Parada de São Leopoldo (RS) acontece no próximo domingo




Nenhuma cidade brasileira abraça tanto a sua Parada Gay quanto São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. No ano passado, a cidade chegou a receber flâmulas do arco-íris nos postes do Centro da cidade. Modesto, o evento reúne 15 mil participantes, mas é uma lição de organização e cooperação na cidade gaúcha de 250 mil habitantes da Grande Porto Alegre.


Para este ano estão confirmados três trios elétricos e a parada tem concentração a partir das 13h e sai da Praça 20 de Setembro, também conhecida como Praça da Biblioteca, e segue pela rua Osvaldo Aranha até a Av. Independência, e regressa para o ponto de partida.

Com barraquinhas e ambulantes cadastrados pela prefeitura, o evento conta ainda com estrutura e segurança organizada. Ao final, shows acontecem em um palco montado na praça.
O tema deste ano é o mesmo da parada do orgulho LGBT de São Paulo: "Amai-vos uns aos outros: Basta de homofobia".

Fonte Cena G

Mais uma na Augusta: Artista francês é agredido por desconhecido



Um artista plástico francês de 24 anos foi agredido na madrugada de quarta-feiraquando caminhava com dois amigos pela Rua Augusta, no bairro dos Jardins, na zona sul de São Paulo.
 
A vítima teve ossos da face e nariz fraturados e preferiu não registrar boletim de ocorrência. 
artista e os dois amigos argentinosparticipam de uma exposição que será aberta no próximo final de semana, na Galeria Logo. Eles teriam acabado de sair do local, quando aconteceu a agressão.
 
"Eles cruzaram com três caras meio musculosos e um deles deu um soco no olho do francês", disse o curador da exposição, que preferiu não ser identificado.


Fonte Cena G

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sexo e culpa


Regina Navarro Lins: o sentimento de vergonha sexual faz com que quase todos se recriminem por suas atividades


Um dia recebi no consultório o telefonema aflito de uma mulher querendo marcar hora urgente. Ethel, de 74 anos, magrinha, de cabeça toda branca, chegou agitada. E foi logo contando sua história: “Moro com minha irmã, dois anos mais velha. Nunca nos casamos, somos virgens. Até pouco tempo atrás eu nunca tinha me preocupado com sexo. Mas de dois anos pra cá a minha vida virou um tormento. De manhã quando acordo, se não me masturbar, não consigo fazer nada, nem dizer para a empregada o que é preciso comprar pro almoço. E o meu desejo sexual vem aumentando cada vez mais. Agora descobri que com o chuveirinho do bidê posso ter mais prazer do que com a minha mão. Mas estou preocupada, tenho pavor de que a minha irmã descubra que faço isso.”
Os sentimentos de vergonha e culpa sexuais, tão presentes na nossa cultura, fazem com que quase todos se recriminem por suas atividades ou mesmo por seus desejos, como se não fossem algo humano. No mundo ocidental, o corpo é impuro de nascença, visto como inimigo do espírito. Aprendemos a nos sentir envergonhados e culpados por ele, principalmente pelos órgãos sexuais e suas funções. Há muito tempo nos ensinam que imagens do corpo humano nu, particularmente experimentando o prazer sexual, são obscenas. E mesmo quando se consegue rejeitar conscientemente todo esse moralismo, a mensagem negativa é absorvida sem que se perceba. E o sexo sendo visto como algo tão perigoso leva a maioria a renunciar à própria sexualidade, ficando quieta no seu canto. A questão é que nem sempre a repressão é bem sucedida, como no caso de Ethel.
As antigas civilizações tinham atitudes bem diferentes diante da nudez e do sexo. Desconheciam o conceito de obscenidade, e as imagens dos órgãos sexuais masculinos e femininos eram encaradas com naturalidade. Muitos santuários espalhados pelo mundo mostram representações de vulvas e falos. Até o momento em que o culto ao falo se impôs, há cinco mil anos, havia liberdade sexual e as deusas reinavam absolutas.
Entretanto, a partir daí, os princípios masculino e feminino se separaram. Na arte, na religião e na vida. O princípio fálico, ideologia da supremacia do homem, condicionou o modo de viver da humanidade e a sexualidade começou a tomar outro rumo. Obcecados pela certeza da paternidade, os homens reprimiram de todas as formas a sexualidade feminina. Mais tarde, na Idade Média, o corpo humano foi condenado por conta do pecado original, e a anti-sexualidade se tornou um refrão obsessivo. Até o Iluminismo (século XVIII), a condenação da sexualidade só iria crescer.
Por mais incrível que pareça, o hábito do banho também foi atacado, considerando-se que qualquer coisa que tornasse o corpo mais atraente era incentivo ao pecado. Havia quem acreditasse que a pureza do corpo e das vestes significava a impureza da alma. Os piolhos eram chamados de pérolas de Deus, e estar sempre coberto por eles era marca indispensável de santidade. Os exemplos da falta de higiene como pré-requisito para a salvação da alma são muitos: um eremita religioso viveu cinquenta anos depois de ter se convertido e durante todo esse tempo recusou-se terminantemente a lavar o rosto e os pés. Uma freira ficou doente em consequência dos seus hábitos. Estava com sessenta anos e, por princípio religioso, recusou-se durante grande parte da sua vida a lavar qualquer parte do seu corpo, com exceção dos dedos.
Na tradição judaico-cristã a relação sexual se justifica apenas para a procriação e só é apropriada dentro do casamento. Mas mesmo nele as proibições são muitas. Masturbação, sexo oral, sexo anal, sexo vaginal usando qualquer tipo de anticoncepcional, são pecaminosos por serem considerados antinaturais. Isso sem falar no tormento provocado por outras situações também comuns, como o desejo sexual por outras pessoas que não os próprios cônjuges e por pessoas do mesmo sexo. A impressão é a de que temos um gatilho de culpa pronto para disparar e nos atingir à menor provocação. É claro que a consequência dessa visão tão distorcida do corpo humano é dramática: o grande número de pessoas frustradas e insatisfeitas
O historiador e crítico social Morris Berman, num estudo intitulado Coming to our senses (Voltando à razão), argumenta que os ocidentais perderam o próprio corpo. Em grande parte estamos fora de contato com a verdadeira realidade somática. Pelo fato de estarmos “fora do corpo”, procuramos nos firmar recorrendo a substitutos — satisfações secundárias — como sucesso, fama, auto-imagem e dinheiro. Esses substitutos não proporcionam uma satisfação completa e, mesmo não levando em conta nossa realidade somática, temos uma preocupação paradoxal com o corpo e sua aparência. Procuramos melhorá-lo com maquiagem, roupas bonitas, cirurgia plástica, tratamentos estéticos, vitaminas.
Diante de tudo isso é impossível não formular uma pergunta: será que a nossa obsessão por sexo não se origina justamente da ausência da verdadeira sexualidade?

Fonte IG