sábado, 13 de abril de 2013

Genizah mostra as garras novamente contra os LGBTs

Walter Brunelli​​

Era comum a minha família se reunir para o almoço de domingo. Na cabeceira da mesa sentava o meu avô; à direita, por exigência dele, estava sempre eu. Nas festas de final de ano todos aguardávamos a sua bênção. Nas passagens de ano o pronunciamento em tom grave, carregado de verdade era: “Felice anno nuovo a tutti''. Era o que todos queríamos: um feliz ano novo.

Entramos em 2013; mas, em alguns setores parece que o ano ainda não começou. Estamos ouvindo diariamente o “Vem aí”, anunciando as novas programações de 2013 da Rede “Plim Plim” de televisão. Em Brasília, uma comissão não anda, porque não querem dar ao presidente da Comissão de Direitos Humanos o direito de presidi-la.

As opiniões estão polarizadas em torno do deputado Marco Feliciano: de um lado os ativistas dos direitos humanos – entre eles os ativistas gays – encabeçam um movimento de rejeição à sua eleição para o cargo de presidente da Comissão; de outro, os que insistem na sua permanência em nome da honra evangélica. O clima em Brasília é tenso!

Afinal, o repúdio ao deputado se deve à sua fé ou aos seus pronunciamentos em nome dela? Sabemos que a Igreja evangélica brasileira não goza da simpatia dos ativistas gays devido ao seu posicionamento bíblico em relação às suas reivindicações. Se, em lugar de Feliciano, tivéssemos outro parlamentar evangélico esse não sofreria também retaliação pelo fato de ser evangélico, como ocorreu com o Dr. Augustus Nicodemus, chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie, quando se posicionou a respeito dos gays?

A agravante, que marca o Marco, entretanto, são as suas pérolas, das quais pincei algumas: “Africanos descendem de Noé. Isto é fato”; “A podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, a rejeição”; “Quem deve mostrar ao mundo o certo e o errado, o pecado e a santidade é a igreja, os cristãos, os líderes de fé, e não a política”; “Nunca me passou pela cabeça presidir a Comissão de Direitos Humanos, mas agora, com tanto ataque, até deu vontade”; “O PSC discute a possibilidade de ter em 2014 candidato à Presidência da República. Eu disse que sou a favor e me coloquei à disposição do partido”; “A Aids é o câncer gay” e, referindo-se à gestão anterior da Comissão de Direitos Humanos, diz: “A comissão era dominada por Satanás”. Tais declarações se voltam contra ele com a pecha de ser racista e homofóbico!

A linguagem evangélica cabe numa reunião onde todos assentem a ela, não em ambiente parlamentar onde se decidem assuntos relevantes que tocam uma sociedade pós-moderna com ideias e posições avessas a tudo o que se defendeu como corretas a vida toda. O evangeliquez em nada contribui nessa causa, principalmente, perante aqueles que não acreditam na Bíblia. É preciso usar de sabedoria para não ridicularizar a Igreja e nem expor o Evangelho à execração!

Sabe-se, porém que as declarações de Feliciano, são feitas, na sua maioria, dentro do seu próprio ambiente, nos púlpitos, pregando a Palavra de Deus, onde xeretam os seus algozes para extrair frases isoladas tornando-as públicas, a fim de macular sua imagem, o que não é honesto – mas, honestidade não é mesmo o forte deles! Sabe-se também que os evangélicos não fazem o mesmo que eles, pescando suas falas antievangélicas nos seus movimentos, para usá-las contra eles porque não são os evangélicos que estão em guerra contra eles, mas eles estão em guerra contra os evangélicos. E por que o fazem? Porque precisam de algum álibi para ganhar notoriedade e, curiosamente sobre os evangélicos, nunca sobre a Igreja Católica, ou o Papa que também tem se pronunciado contra a causa deles!

Cabe, entretanto a pergunta: de que modo a atitude renitente de Marco contribui para a causa evangélica, positiva ou negativamente? Permanecendo ou não no cargo, qual a marca que esse tumulto deixará para a Igreja de Cristo? Enquanto a discussão se estende estamos todos marcando passo e sentindo quão infeliz é este ano.

Precisamos impedir que esta história se torne um “marco” a nos prejudicar no futuro quando novas oportunidades surgirem para que ocupemos espaços em comissões, secretarias ou até mesmo em ministérios; daí porque a necessidade de se enfrentar esta luta, não apenas como indivíduo, mas como um corpo e não nos aviltarmos perante as forças opressoras da nação!

A voz profética da Igreja deve se dar de modo sereno, consciente, embora firme, sem que tenha que descer ao nível de ativistas irresponsáveis que, destilando ódio, fazem manifesto na porta da igreja do deputado; que ousam subir em mesas do parlamento para protestar. Por que aquele que sobe na mesa não é penalizado, quando o faz em nome da democracia? Quem de fato defende os direitos humanos deve ser imparcial e respeitador do direito do outro. Não é em cima da mesa que se resolve isso; mas, sentado à mesa onde pessoas falam civilizadamente, cada uma por sua vez, sem que haja tumulto.

A situação nesta hora requer da igreja evangélica brasileira o cuidado de não se juntar aos que estão do outro lado, mas o de ser comedida, orar e fazer disso, não uma causa pessoal em relação a Marco Feliciano – que está no agrado de uns e no desagrado de outros, agora isso não importa –, mas uma causa coletiva.

Quanto ao mais, neste momento a Igreja evangélica brasileira deve desejar aos brasileiros que tenham todos um Felice anno!


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