DE BOA, EU APOIO OS PROTESTOS EM SP E NO BRASIL CONTRA O AUMENTO DAS PASSAGENS DE ÔNIBUS.
por João Marinho
... E digo mais: eu fico besta com a miopia de parte da população paulistana.
Não, eu não sou a favor de depredar o patrimônio público, como estações de metrô em São Paulo – mas sei também que não foram as 5 mil ou 10 mil pessoas que estavam lá e fizeram isso, mas uma minoria, que utiliza o protesto como catapulta.
No entanto, a demanda é mais do que justa. Pode parecer pouco: o aumento da passagem foi de R$ 0,20 em São Paulo (de R$ 3 para R$ 3,20) e foi dentro da inflação.
Ocorre que existem outros dados que maquiam a realidade. Um deles é o fato de que desde que a passagem de ônibus de São Paulo, a segunda mais cara do Brasil, passou de R$ 0,50 para R$ 3,20 nos últimos anos, já superou em muito a inflação do período.
Mais do que isso: o serviço de transporte público na capital e na região metropolitana é deficitário, sobretudo na periferia, e não condizente com o valor que é cobrado.
Some-se a isso o fato de que metrô e CPTM também aumentaram os preços – e que a população que mora na periferia e trabalha na região central usa até 3 conduções de ida e 3 conduções de volta para trabalhar, nem todas elas cobertas pelas empresas.
O Bilhete Único, válido na capital, alivia, mas não resolve (inclusive porque tem prazo de 2 horas para funcionar), e, no limite, as pessoas pagam caro para ficarem em pé, sem conforto, em veículos com falta de manutenção e demorando horas para ir e voltar para casa. Já se preocuparam em contar quantas vezes houve panes no metrô e na CPTM nos últimos tempos?! Além disso, o metrô e a CPTM fazem greves por causa do descaso do governo e prejudicam milhares, em estações lotadas e ônibus piores ainda. A questão gera problemas para as empresas, porque fatalmente as pessoas não podem trabalhar nesses casos.
Resultado: uma hora, tudo isso explode.
De resto, façam uma conta, matemática mesmo. Uma pessoa que é arrimo de uma família de 3 pessoas em que cada uma utiliza 2 conduções para ir e duas para voltar terá gasto cerca de R$ 28,50 por dia com essa despesa (já descontado o Bilhete Único). Multiplicados por 24 dias úteis e 12 meses, dá R$ 8.208 reais por ano.
Com o aumento da tarifa, a mesma pessoa ganharia uma despesa de R$ 30,36 por dia. Ao ano, R$ 8.743,68. É uma diferença de mais de R$ 500. Algo bem superior aos R$ 0,20 que tanto alardeiam. É quase um salário mínimo a mais por ano, considerando que essas pessoas que pagam esse valor não ganham tanto assim também.
Também considero que é preciso lembrar que a PM paulista não é lá muito inocente. O Movimento Passe Livre comenta que os casos de vandalismo começaram após a polícia responder com força excessiva. Bom, ninguém apanha de graça.
E a Polícia não andou agredindo ATÉ JORNALISTAS?! Isso diz muito.
Entendo também que existe muita revolta nessa população que protesta, jovem. Não apenas por causa do serviço deficitário de transporte, mas porque vemos a polícia usando até de helicópteros nessas manifestações, mas totalmente apática tanto no centro quanto na periferia, dos quais os arrastões, os dentistas queimados e as chacinas nos bairros afastados são apenas a ponta do iceberg. Onde fica toda essa força policial, quando os jovens morrem à luz do dia?
Tudo isso também explode.
Então, ainda que eu não concorde com os excessos, parte deles eu entendo – e, ainda que entenda e não apoie esses excessos, a verdade é que as manifestações são legítimas, sim – e é preciso que se proteste e saia da apatia.
E um aviso aos navegantes, que, sempre que ocorrem mobilizações populares, dizem que "há coisas mais importantes para protestar". Considero uma idiotia sem tamanho, porque, para um caso como o que relatei na conta, um salário mínimo a mais por ano (o que, para muitos, equivale a quase 1 mês a mais de trabalho!) já é importante o suficiente para protestar.
Mais do que isso: e onde estão essas pessoas que sempre acham que "tem coisa mais importante" quando essas coisas mais importantes estão em voga? Nada fazem, nunca vão, e só sabem torcer o nariz diante do computador, no conforto de suas casas, enquanto alguns tentam, ainda que apenas pela passagem de ônibus, conter os desmandos que cotidianamente têm lugar no Brasil.
A Prefeitura e o Governo do Estado dizem que não têm dinheiro para pagar as diferenças inflacionárias. Não têm? São os governos que podem reduzir os impostos. São os governos que podem auferir se as empresas de ônibus estão lucrando mais do que determina a lei (em Porto Alegre, o Tribunal de Contas já desconfia que sim) – e, se apenas 1 deputado estadual ou 1 vereador deixar de receber suas benesses, desconfio que, em 1 ano, boa parte do gasto adicional com os subsídios para manter o preço já estaria sanada.
Muita coragem sua fazer essa publicação...
ResponderExcluirApesar do enfoque tendenciosamente negativo com que o assunto foi exibido pela televisão o movimento que ganhou as ruas de varias capitais, justamente num momento em que todos estão apreensivos com a volta da inflação e insatisfeitos com a vida economica do país, mostra que nossa histórica "passividade" dá sinais de fraqueza... Tomara que nosso povo passe a se expressar mais e lute por seus direitos. Parabéns pelo post e pelo blog!