A militância sempre
exagera com as questões LGBTs e a exposição nas teledramaturgias. Eu fico a
pensar
que muitos gays acham que a vida deles, em família, tomará uma guinada
de 180 graus uma vez que seus pais virem um beijo gay em uma novela da Globo,
ou como aquele moço (bom moço) sofreu com a morte de seu namorado, tentando
levar uma vida totalmente digna, dentro da “normalidade”, da moral cristã e
seus costumes “nobres”, ainda que seja gay. Seria isso um lobby gay ou um lobby
heteronormativo? Deixo essa para outra
oportunidade.
É, sem embargo, a coisa
mais estúpida e contraproducente que eu já vivenciei por aqui e, pelo jeito, não
está longe de ter um fim... Essa ingenuidade intelectual só se explica pela sofreguidão da
vontade em fazer as coisas acontecer, mas que na verdade enterra uma gama de
assuntos mais imperiosos e pontuais que deveríamos lutar e defender. Por exemplo, é muito mais fácil, e muito mais
eficaz, que sua família veja você protagonizando um beijo gay do que o casal
homossexual da novela; é muito mais profícuo
que você saia do armário em sua casa, que o Felix, na novela, seja exposto em
sua homossexualidade a Suzana Vieira e ao Antonio Fagundes...
O que eu quero dizer com
isso? Será que eu desejo destruir as estruturas familiares? Será que eu desejo
que os gays sejam deserdados e postos para fora de suas casas, tocados como
cachorros sarnentos, jogados ao vento? Absolutamente, não! Mas, se há a vontade
sequiosa de que se tenha mudanças, não espere que elas venham por conta dessa
ou daquela novela da Globo. Para sua família ser gay é algo extremamente
aceitável, desde que gay seja o filho do vizinho, nunca o meu filho... “o meu
melhor amigo tem um filho gay, o rapaz é até gente boa, desejo o melhor para
ele, ainda bem que você tem uma noiva linda Godofredo!”. Assim, o deputado
federal Jean Wyllys comenta em seu
artigo para o sitio IG: “...A família sempre é a primeira saber e a última a
acreditar...”. Diria eu, a última a aceitar e, talvez, não aceite nunca!
Os gays apostam todas as
suas fichas nas mudanças que a teledramaturgia pode promover, o ledo engano que
a exposição muda o Ethos... Não muda, traz o fato como algo próximo, expõe, mas
não transforma, pois essa transformação só acontecerá quando dentro do nicho
familiar o ethos cultural for possível para minha família, for verificado nela,
dentro dela, arraigado, amalgamado, intrínseco em sua condição final.
Não estou dizendo com
isso que a teledramaturgia seja descartável, ou que ela não deveria abordar
tais assuntos, não é isso, mas apenas digo que as fichas da mudança do preconceito
não acontecem por conta de uma novela, ou da exposição que essa possa promover,
mas as fichas da mudança devem ser alçadas no comportamento do homossexual e a
sua submissão cega à vontade de seus familiares, no desejo desses de ter uma
família normal, e nisso o homossexual é descartado sumariamente.
Quer mudanças? Mude você!
Não espere que a novela faça isso por sua felicidade, por sua condição
existencial, pois ela não fará e nem poder para isso ela tem. Quer respeito?
Tenha orgulho de si mesmo e se enxergue como algo digno, como uma pessoa que
tem identidade própria, direitos e deveres, afinal, o Felix continuará sendo um
personagem da ficção das 21h00 e você continuará sentindo as consequências disso.
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