domingo, 25 de março de 2012

Se eu cortar o cabelo, mudar o estilo, você vai me notar?

O título aí é provocativo, sugestivo, né?

Antes que pensem, não é uma mensagem para ninguém em particular - certamente terão os que pensarão isso (mesmo depois dessa justificativa). Todavia, o que me importa é trazer um dos sentimentos que mais me importunaram esses anos todos: a percepção. Há algum tempo atrás, zapeando pela televisão de madrugada, parei em um filme chamado "Pixel Perfect - ou Pixel, a Garota Perfeita", que estava em exibição naquela madrugada no Disney Channel (sim, eu assisto também canais para o público infanto-juvenil).

Trata-se de um filme onde coloca-se o tema da perfeição como tema central de uma história onde temos um holograma (Loretta) criado por Roscue para ser a vocalista de uma banda (The Zetta Bytes) e ser o exemplo de perfeição - seja cantando, dançando ou vestindo-se. Ao usar um holograma, Roscue consegue criar ciúmes em Samantha, a garota que tem uma paixão secreta por ele. Conforme o filme se desenvolve, vemos que o holograma tenta ser igual ao humano e o humano tenta ser igual ao holograma até perceberem que não é possível.

Por que, você aí do outro lado, me pergunta o que esse filme juvenil tem a ver com um blog com temática homossexual? Bom, uma das músicas que toca ao longo do filme chama-se "Notice me" (ou Note-me, em uma tradução mais livre). A reproduzo aí abaixo:

 

 Essa música traz um sentimento que todos temos quando pensamos em conquistar alguém: a percepção. Como será que nos percebemos? E como os outros vão nos notar? O refrão da música diz assim: "If I cut my hair, if I change my clothes, will you notice me?" (ou Se eu cortar meu cabeço, se eu mudar as minhas roupas, você me notará?) me lembra muito de mim mesmo há algum tempo atrás.

Todos nós que crescemos em um ambiente repressivo, as vezes, perdemos a nossa própria percepção de nós mesmos. As vezes, nem nos damos conta de quem nós somos. Já fiz muito do que esse refrão da música aí repete: já cortei o cabelo, já mudei o estilo das roupas para ser notado por alguém.

Sabem o que eu conclui disso tudo?

Só mude se for pra você se notar, se perceber, entender quem você é, o quão belo você é. E não para agradar ou chamar a atenção de outras pessoas.

No nosso mundo, temos sempre essa mania de nos subvalorizarmos com medo de ficarmos sozinhos. E nessas tentativas, cometemos muitos erros, sofremos demais. Ser notado é, antes de tudo, uma percepção de si mesmo.

Todos nós devemos nos libertar das amarras onde estamos trancafiados e descobrirmos nossas próprias belezas, nossos próprios desejos e nossos próprios sonhos. É só assim que conseguiremos ser notados por aqueles que irão nos amar. Se nos notarmos tal qual realmente somos, assim também eles nos notarão.

Você já fez algo para ser notado? Deixe aí nos comentários um pouco de seu relato.


segunda-feira, 19 de março de 2012

Você já se sentiu seu próprio melhor amigo?

To aqui, pensando um pouco sobre o que fazer acerca de umas questões da vida. Sim, minha gente, uma hora isso aparece para todos. Todavia, uma coisa que eu posso relatar para vocês é que, em meio a tudo isso, eu me sinto um pouco só.


O título desta postagem tem a ver com uma música que eu ouvi há algum tempo atrás, "Outside Looking In". Em um dos trechos do refrão, Jordan Pruitt diz assim: 'You don't how it feels to be your own best friend'.


Em uma tradução mais livre, a letra da música diz assim 'Você não sabe como é ser seu próprio melhor amigo'. E hoje, talvez por me sentir sozinho (e por estar sozinho boa parte do tempo), essa música tenha vindo na minha cabeça.


Você aí do outro lado pode perguntar... "Mas por que ele está falando disso em um blog com conteúdos relacionados a homossexualidade?", minha resposta é que, às vezes, nós precisamos nos sentir como nossos próprios melhores amigos. Às vezes, estamos sozinhos.


Assim tenho me sentido, sozinho e, as vezes, invisível. Aposto que muitos gays aí do outro lado também se sentem assim - pelo menos, esse é um padrão um tanto recorrente que eu tenho observado no Facebook quando vou olhar o feed de notícias.


Não sei como acontece com outras pessoas, mas sinto que muitos de nós tem uma dificuldade de se encaixar em alguma coisa. É esse o meu atual problema. Mas, quem disse que reconstruir uma vida em outro lugar seria fácil? Se bem que nem como estava antes era fácil ou simples.


Ao longo de toda a vida sempre fui sozinho. Todavia, ao longo de toda a vida sempre senti a falta de alguém. Ao longo de toda a vida sempre precisei ser meu melhor amigo. Todavia, não quero um futuro assim. Chega um momento que é hora de mudar.


Sei que não é fácil. Também sei que sozinho nem sempre posso resolver tudo. Me pergunto por que as coisas tem de ser assim pra mim: um pouco mais difícil do que o normal. Você também se sente como eu?


A solidão pode ser uma boa companheira, pode nos ensinar muita coisa. Mas ela, por certo, não é a melhor companhia.


Eu, aqui, neste espaço, clamo por ser ouvido, por não me sentir sozinho, invisível.


Essa é uma das piores sensações que alguém pode ter. E, no nosso caso, torna-se mais difícil por não termos sempre com quem compartilhar esse sentimento.


Eu poderia escrever mais aqui. Mas já não tenho idéias.


Só me lembro da música. Essa, talvez, consegue exprimir meus sentimentos.


Dê o play.




Comente se você também se sente como eu. Vamos nos ajudar e nos libertar disso?


domingo, 18 de março de 2012

Sobrinho (pastor) de deputado federal evangélico se envolve com travesti


Sobrinho (pastor) de Deputado Federal (pastor) do Amazonas acusa travesti de roubo em Manaus

Integrante da família Câmara, Thiago Câmara teria se envolvido em uma confusão com travesti durante a madrugada no Aleixo, Zona Centro-Sul de Manaus

Silas Câmara é irmão de Samuel Câmara, candidato derrotado às últimas eleições da CGADB. Os Câmara são os ditadores em exercício das Assembléis de Deus no Amazonas e muito poderosos na região. Silas Câmara responde a diversos processos e já se envolveu em alguns escândalos e a sua esposa, a deputada Ana Lucia, foi cassada por práticas ilícitas.


Jonatas Felipe Soares da Silva, 18, conhecido como Naomi e tem por nome de guerra Jéssica, foi autuado em flagrante por roubo no 11º Distrito Integrado de Polícia (DIP). O travesti é suspeito de roubar o pastor evangélico Thiago Jonatas Ferreira Câmara, 24. O caso aconteceu próximo ao condômino Portal da Cidade, Aleixo, Zona Centro-Sul de Manaus.

Thiago Felipe é filho do Jonas Câmara e sobrinho do Deputado Federal Silas Câmara (PSD).

Em depoimento a polícia Thiago contou que estava dentro do carro, uma S-10 preta e placa ainda não identificada, parado na Avenida André Araújo quando dois assaltantes vestidos de mulher o abordaram, e o assaltaram levando seu cordão.

Outra versão que chegou a polícia é de que um amigo de Thiago, de nome ainda não divulgado, e que é professor de educação física e trabalha na academia Cagin Clube, teria feito a detenção de ‘Naomi’ e o levou até a delegacia.

Em depoimento, o professor de educação física contou que recebeu a informação de que Thiago teria sido assaltado na Rua Aristide Pierre, no Aleixo, próximo ao Portal da Cidade. Ele disse que Thiago estava com carro parado próximo ao condomínio e com o vidro entre aberto, quando a travesti junto com uma amiga também travesti, abordou o pastor com um gargalo de vidro e tentaram assaltá-lo. O professor contou que a travesti levou o cordão de ouro de Thiago, que estava avaliado em R$ 4 mil e R$ 150,00 em dinheiro.

No momento em que ele teria chegado ao local para socorrer o amigo, houve uma discussão e o professor conseguiu render a travesti, o amarrou e o levou para a delegacia.

Já o Jonatas, em depoimento a polícia, contou que estava parado “no ponto”, localizado na Avenida André Araújo quando Thiago se aproximou com o carro, reduziu a velocidade e fez sinal de luz alta para ela. Thiago chegou mais próximo e perguntou se ‘Naomi’ era mulher ou homem, em seguida ela disse que era travesti e Thiago então disse que não queria e seguiu.

Mais a frente Thiago parou o carro e conversou com uma das amigas da travesti, que entrou no carro. Um tempo depois ‘Naomi’ contou que ouviu uma discussão entre Thiago e a amiga que estava no carro com ele. A amiga teria gritado que Thiago não tinha dinheiro para pagar o programa. Foi quando ela pegou um gargalo de vidro e junto com outras amigas foram até o carro para ajudá-la.

‘Naomi’ disse que foi agredida por Thiago e o amigo professor. Ela disse ainda que pegou sim o cordão de Thiago, mas esse cordão era “fuleiro”, ao contrário do que contou o amigo de Thiago.


Fonte: acritica.com

quinta-feira, 15 de março de 2012

O trágico fim de um bispo homofóbico

O que representa a morte de Robinson Cavalcanti, bispo anglicano que se tornou um dos maiores adversários dos LGBTs.

Postado originalmente em Sex Boys Edição Online

por Márcio Retamero*

No último dia 26 de fevereiro, o bispo anglicano dissidente Dom Edward Robinson de Barros Cavalcanti e sua esposa, dona Miriam Cavalcanti, foram encontrados mortos em sua casa, na cidade de Olinda/PE. O casal foi assassinado a facadas pelo filho adotivo, Eduardo Olímpio Cavalcanti, 29 anos, dependente químico, que morava nos Estados Unidos desde os 16 anos de idade.

O caso e os antecedentes

Depois de matar os pais, Eduardo tentou suicídio ingerindo veneno e dando facadas no próprio peito – mas, no Hospital da Restauração, no Recife, recebeu cuidados médicos e foi, em seguida, levado pela polícia. Ao delegado do DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa), confessou que o longo abandono dos seus pais e seu desprezo o levou a premeditar e cometer o crime.

Eduardo tinha sérios problemas nos EUA. Casado e pai de três filhos, envolvera-se com gangues e tráfico de drogas e estava em processo de deportação para o Brasil, quando resolveu voltar e pedir aos pais que se mudasse com sua família para a residência paterna em Olinda. Diante da recusa, cometeu o brutal derramamento de sangue que levou à morte um dos mais proeminentes clérigos do movimento evangélico no Brasil.

Robinson Cavalcanti era, além de teólogo, cientista político e professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Foi coordenador do Departamento de Ciências Sociais da UFPE e professor conferencista-visitante na Universidade do Alabama, em Birmingham. Durante as duas campanhas presidenciais de 1989 e 1994, foi coordenador político no Nordeste a favor do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

As informações acima aparentemente mostram um “homem do nosso tempo”, um intelectual comprometido com as causas sociais e a justiça social e – podemos dizer –, durante certo tempo, realmente foi.

Sagrado bispo pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), comandou a Diocese Anglicana do Recife entre 1997 e 2005, quando dela foi desligado por não aceitar as determinações que a IEAB aceitou da Igreja Episcopal Anglicana dos EUA em relação à aceitação e ordenação de homossexuais ao clero da igreja e à aceitação de membros leigos, dentre outras coisas.

A partir deste ponto, D. Robinson, antes um pastor considerado, por muitos, um homem avançado em suas ideias e um homem de esquerda tomou o rumo contrário: criou a dissidente Igreja Anglicana - Diocese do Recife; pleiteou, na Justiça comum, várias causas contra sua ex-igreja; e lutou o quanto pôde contra o que ele chamava de “liberalismo teológico na igreja” – logo ele, que, em anos não muito distantes, chegou a afirmar, em um de seus livros, que a monogamia heterossexual não era “bíblica” – o bispo cometeu adultério e teve um descendente fora do casamento.

Dissidência e homofobia

A brigas judiciais de Cavalcanti com a IEAB e contra um outro bispo que lhe tomou a antiga catedral anglicana do Recife são documentos públicos que todos e todas podem consultar. Amigos que tenho na IEAB falam de um Robinson Cavalcanti extremamente vaidoso, amante do dinheiro e da fama, além de um vilão. “Cabra-macho nordestino arretado”, jamais engolia uma derrota ou uma contrariedade...

Na sua dissidência com a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, uniu-se aos insatisfeitos anglicanos norte-americanos e africanos por conta da aceitação de homossexuais no clero alto e baixo da Comunhão Anglicana. Com sua ajuda, foi formada uma rede que chamo de “ramo dissidente anglicano e fundamentalista”, a GAFCON (Global Anglican Future Conference).

Desde 2005, D. Robinson dizia aos quatro ventos, por onde passava, que o cristianismo deveria voltar aos “fundamentos da fé evangélica cristã”, ou seja, ao fundamentalismo religioso. Usava como desculpa de sua expulsão e desligamento da IEAB a questão homossexual e tornou-se um dos líderes evangélicos mais homofóbicos dos nossos tempos.

Escreveu inúmeros artigos na revista Ultimato, evangélica e tradicional, rechaçando a presença e a ordenação de homossexuais ao clero anglicano ou a qualquer denominação evangélica. Dos púlpitos que ocupava de norte a sul do País, pregava com eloquência a respeito do “homossexualismo” (sic) e do que chamava de “projeto de poder do movimento homossexual organizado”, supostamente orquestrado no Brasil.

A Bíblia contém, no Novo Testamento, para não citar o Antigo Testamento, duas advertências para aqueles cristãos que disseminam no mundo sementes que frutificam em atos concretos de violência: na prisão de Jesus, Pedro toma da espada que consigo trazia e corta a orelha de um dos soldados. Jesus disse a Pedro, na ocasião, conforme o relato do Evangelho: "Pedro, guarda a tua espada, porque aqueles que lutam com a espada pela espada morrerão" – e curou a orelha do soldado. Noutra passagem, o apóstolo Paulo adverte na Carta aos Gálatas: "tudo que o ser humano semear, isso ceifará".

D. Edward Robinson de Barros Cavalcanti disseminou muitas sementes de violência no solo do Brasil com seu discurso homofóbico travestido de "piedade cristã". Aquele tipo de discurso velho, batido, já muito conhecido pelos LGBTs: "temos de amar o pecador, mas abominar o pecado".

Ao pregar e escrever artigos homofóbicos, D. Robinson, que era um intelectual considerado e aplaudido, sabia que estava semeando sementes de ódio e violência, pois o discurso religioso é performativo, ou seja, exige do fiel uma tomada de posição que gere ação.

Quantos pais não expulsaram de casas seus filhos por serem homossexuais após ouvirem ou lerem um artigo do bispo anglicano? Quantas famílias não foram atingidas por conta desse discurso religioso que exige ação concreta? Quantos LGBTs não levaram uma surra de seus pais, convictos de que estavam fazendo o "bem" para seus filhos? Quantos LGBTs não se sentiram ofendidos e até mesmo mortos em sua existência (porque a palavra que faz viver também faz morrer)? Quanto de sangue homossexual não havia nas mãos do bispo Robinson?

Todo homofóbico religioso, fundamentalista cristão, deveria saber – creio que, na verdade, sabem – que seus discursos e textos contra homens e mulheres homossexuais e bissexuais, contra travestis e transexuais, desembocam em ações concretas, violentas, na sociedade. Portanto, ainda que de forma indireta, matam e fazem matar, sujando suas mãos com o sangue homossexual.

E nós com a morte?

Sou um pastor e um teólogo comprometido com a inclusão de LGBTs na comunidade da fé cristã e comprometido na luta por toda e qualquer injustiça social, preconceito e discriminação. Atualmente, pastoreio duas igrejas – a Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo e a Igreja da Comunidade Metropolitana Betel do Rio de Janeiro. Escrevo artigos e ministro palestras de norte a sul deste País, promovendo a inclusão contra a qual D. Robinson tanto lutava.

Estávamos em lados opostos e, nos últimos anos, tive a oportunidade de estar ao lado dele por três vezes e, em nenhuma delas, tivemos a oportunidade de falar sobre homofobia e fundamentalismo religioso, porque não havia clima nem privacidade. Tenho de ser honesto que ele era um homem agradável em público, sorridente, mas sempre me parecendo fazer um esforço tremendo para ser simpático.

Sou contra todo tipo de violência, luto pela dignidade e pelo valor da pessoa humana. Abomino assassinatos, sejam de heterossexuais, sejam de homossexuais. Escrevo e luto defendendo a justiça social e denuncio – do púlpito e nos textos – a homofobia religiosa e social, o machismo, o patriarcalismo, a misoginia, o preconceito de gênero, a fome dos miseráveis e todos os outros que se enquadram na rubrica "marginais/excluídos".

Todavia, sendo bem sincero, não lamento a morte e o desaparecimento de D. Robinson. É mais uma voz homofóbica que se calou e isso, do lado de cá da minha luta, não é algo que eu deva lamentar.

Lamento, sim, a fatalidade, o contexto, a tragédia que se abateu sobre sua casa. Vejo, no triste acontecimento, a realização das advertências evangélicas acima citadas: o que luta pela espada, por esta morrerá; o que semeia, seja lá qual tipo de semente, há de colher o que semeou.

D. Robinson, com sua verborragia e escritos, semeou muita coisa ruim que desembocou em atitudes de violência e terror homofóbico, principalmente em sua área de atuação, o Nordeste do Brasil – e espero e desejo que outros líderes homofóbicos evangélicos de vertentes fundamentalistas vejam nessa tragédia um exemplo pedagógico e aprendam e desistam dessa luta insana contra as pessoas LGBTs. Espero que aprendam e que usem de seu poder para promoverem o Estado laico, a democracia e os direitos iguais para todos os cidadãos brasileiros, sendo esses LGBTs ou não.

* Márcio Retamero, 38 anos, é teólogo, historiador, mestre em História Moderna pela UFF/Niterói. É pastor da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo e da Comunidade Betel/ICM RJ. É autor dos livos O Banquete dos Excluídos, Pode a Bíblia Incluir? e Crônicas de um Pastor Gay e lançará, na Semana Santa em SP, Você tem fome de quê? – todos publicados pela Metanoia Editora.

Em nome de um Estado secular






A palestra “Globalização, Religiões e o Secular”, ocorrida no dia 07 de março na UERJ, abordou os caminhos que aproximam cada vez mais a religião e o Estado, em uma dinâmica de tensão que envolve também a participação de movimentos sociais cujas demandas são afetadas por esta aproximação. Em jogo, a capacidade de influenciar e definir decisões de governo através de barganhas.


Organizada pela Linha de Pesquisas Religião e Movimentos Sociais (PPCIS/UERJ), pelo Núcleo Religião, Gênero, Ação Social e Política (ESS/UFRJ), pelo Centro Latino-Americano de Estudos do Pentecostalismo (Projeto PCIR/UERJ) e pelo Grupo de Estudos do Cristianismo (PPCIS/UERJ), a palestra contou com a participação do sociólogo especializado em religiões José Casanova (Georgetown University), da socióloga Maria das Dores Campos Machado (UFRJ), do sociólogo Paul Freston (Wilfrid Laurier University, Canadá), da teóloga e socióloga Brenda Carranza (PUC Campinas) e da socióloga Cecília Mariz (UERJ).


O crescimento de novos movimentos religiosos nos últimos anos – como os neopentecostais (evangélicos) e os carismáticos (católicos) – foi um tema que gerou ampla discussão, sobretudo por causa da atuação política desses grupos. Paul Freston destacou que a campanha eleitoral de 2010 foi um momento de destaque desse fenômeno. “Notamos que a questão dos valores religiosos foi uma bandeira levantada e defendida com vigor. Ao menos no embate do processo eleitoral, a temática do aborto obrigou os candidatos a serem cautelosos ou recuarem de suas convicções. Na hora do voto, no entanto, conforme entrevista que fiz com algumas lideranças religiosas, tais temas não necessariamente foram decisivos para definir o candidato. O que chamo a atenção é para o poder de mobilização que alguns valores imprimiram na campanha”, observou Paul Freston.


O Brasil tem observado uma crescente atuação de movimentos religiosos que convergem para as instituições públicas, dinâmica muito criticada pelos movimentos feminista e LGBT. Durante a campanha de 2010, a então candidata Dilma Rousseff mudou sua posição em relação à descriminalização do aborto, adotando uma postura contrária à que defendia até então. Eleita, já no primeiro ano do governo, a presidente foi obrigada a recuar em iniciativas de ampliação da cidadania LGBT e a modificar o foco das políticas de saúde da mulher. O kit anti-homofobia foi suspenso diante da pressão da bancada religiosa no Congresso Nacional. Nesse contexto de pressão conservadora, a concepção maternalista prevaleceu nas ações do Ministério da Saúde – que priorizou a ideia da mulher gestante e mãe em detrimento de outros momentos da trajetória reprodutiva.


Para Maria das Dores Campos Machado, especialista no estudo dos evangélicos, a atuação política de grupos religiosos tem se intensificado. “A ação constante e vigorosa de grupos religiosos evidencia que eles reconhecem a política como uma instância central da vida nacional. Os neopentecostais acham que a política é um campo positivo, que a política partidária e eleitoral é relevante. É uma situação distinta da dos anos 1980, quando o discurso pentecostal era apolítico. Além disso, temos percebido que há um forte diálogo com o discurso dos direitos humanos. Eles se apropriam deste campo para argumentar e defender seus valores e ideias. No entanto, é uma apropriação seletiva, focada na questão da liberdade religiosa e na desigualdade social. Questões como aborto e direitos LGBT não são pronunciadas”, afirmou Maria das Dores Machado.


De acordo com a socióloga, cada vez mais estes grupos religiosos participam das discussões e das definições da agenda política. “É importante observar que há um componente geracional no momento atual. Os pentecostais estão em sua 3ª geração, cujos integrantes têm escolaridade maior que a de seus pais e avós. São, por exemplo, médicos, juízes e jornalistas que circulam pelas mais variadas instituições, como a universidade, a mídia, o poder judiciário”, analisou Maria das Dores Campos Machado.


O movimento pentecostal surgiu e se desenvolveu concomitantemente aos movimentos feminista e LGBT algumas décadas atrás. Nesse sentido, afirmou a socióloga Brenda Carranza, a atuação destes grupos religiosos esteve associada ao combate ao feminismo e às demandas LGBT. “Os meios de comunicação têm sido largamente utilizados com esse propósito. Dessa forma, questões como os direitos da mulher estão sob constante vigilância e ataque na televisão aberta,” afirmou, chamando a atenção para os inúmeros programas religiosos que algumas igrejas exibem em emissoras comerciais, algumas vezes de domínio de grupos religiosos.


Maria das Dores Campos Machado classificou como relação de ódio a que se estabelece entre tais movimentos religiosos e as feministas. “É um contexto que não pode ser analisado internamente. Há uma forte atuação articulada a movimentos nos EUA, especialmente aqueles ligados ao combate ao aborto (“pró-vida”). A atuação tem servido para estimular as ações políticas dos grupos brasileiros, facilitando, inclusive, a parceria entre evangélicos e católicos em temas que dizem respeito a direitos sexuais e reprodutivos. No entanto, temos que admitir que grupos conservadores e tradicionais podem e têm o direito de se manifestar e atuar. Não podemos desqualificar o direito deles se manifestarem por mecanismos democráticos”, explicou Maria das Dores Campos.


Para Brenda Carranza, no entanto, a atuação política dos movimentos religiosos não se difere do padrão da política brasileira. “Vemos o uso constante da política como favor e barganha para ocupação de cargos – como no recente caso de Marcelo Crivella, cuja indicação para o Ministério da Pesca contemplou uma negociação de aliança eleitoral. Portanto, a religião, nesse aspecto, também serve como moeda de troca”, observou Brenda Carranza.


Paul Freston avaliou que a participação crescente destes movimentos é legítima, embora apresente aspectos reprováveis. “As discussões que envolvem valores são muito caras aos grupos católicos e evangélicos. Dentro dos marcos democráticos, são embates saudáveis. O preocupante é quando as discussões se dão no grito, com o intuito de silenciar os opositores, como é o caso do aborto”, arrematou Paul Freston, que concluiu afirmando que as discussões e as mudanças possíveis em temas de sexualidade, gênero e reprodução são lentas. “São mudanças que demandam anos de avanços graduais, o que é natural, pois não estamos tratando de temas simples. São temas que incidem sobre a sensibilidade moral e religiosa de uma população”, finalizou.


Publicada em: 14/03/2012 às 11:25 notícias CLAM

O medo é nosso, e não dos evangélicos, Marco Feliciano


por William De Lucca - 09/03/2012



O exagero dos deputados da Bancada Evangélica chega a ser engraçado, para não dizer ridículo, ante as demandas dos homoafetivos. Nesta semana, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) disse, em artigo publicado em seu site:
“Tal grupo (os homossexuais) representa uma minoria, não destas que sofrem de verdade, mas que sob uma camuflagem de perseguição, tenta e consegue impor seu modo de vida promíscuo, seus pensamentos anti-família e anti-bons-costumes (…) O que virá a seguir? Que Deus nos ajude! E nos ajude logo, antes que, esses fascistas, expulsem de uma vez Deus da nação brasileira, como buscam exterminar programações religiosas na TV”
Vou ignorar as falhas na argumentação do deputado, que normalmente carecem de ligação com a lógica e com os fatos. Vou ignorar que o Brasil é o líder do ranking mundial de mortes de homossexuais em crimes violentos e de natureza homofobia, e que esta discriminação é apenas a ponta de um iceberg de crimes de preconceito e de intolerância que não chegam à luz da justiça. Vou ignorar também o conceito de família do deputado (que também foi ignorado pelo STF ao aprovar a união homoafetiva) e de muitos fundamentalistas que se esquecem de atualizar seus conceitos morais para a atualidade, e que querem privar outros de fazê-lo. Vou ainda fazer vista grossa a utilização indevida do termo ‘fascista’ referindo-se a homossexuais, visto que os fascistas (com a conivência da grande maioria de instituições religiosas) mataram milhares de homossexuais durante a segunda guerra mundial (e ainda hoje), e seu espólio filosófico ainda inspira matadores de gays pelo Brasil.

Vou me ater apenas ao ponto central da argumentação de Feliciano: o medo de que os ‘homossexuais expulsem deus (e seus seguidores) do Brasil. A liberdade religiosa é uma clausula pétrea da Constituição Federal, que no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.
Mesmo que um presidente homossexual (outro além da egodistônica Dilma Rousseff) assuma o poder, as liberdades religiosas estão garantidas. Mesmo porque, em nenhum momento, em nenhuma declaração pública, nenhum homossexual (que eu tenha registro) falou contra as liberdades religiosas, não importando a crença ou denominação. O problema é que muitas destas denominações não querem apenas viver suas ideologias, mas as impor sobre toda a sociedade, de forma autoritária e (aí sim) fascista. Não compete ao Estado ou a Constituição versar sobre o que é pecado e sobre os conceitos infundados de família que A ou B tenham criado, mas garantir os direitos humanos a todos, independente de crença, baseados na liberdade individual e no que há de mais moderno no mundo em relação a estes direitos.

Agora, os direitos dos homossexuais (inclusive de existir ou de morar no Brasil) podem ser ameaçados se um grupo fundamentalista assumir o poder. O medo tem de ser nosso e não dos evangélicos. O que garante que um presidente evangélico não possa ‘proibir relações entre pessoas do mesmo sexo’? O que garante que uma maioria absoluta no congresso não torne homossexualidade uma doença e o tratamento compulsório? Mesmo sem maioria, eles já querem fazer tal absurdo, através do projeto de lei do Deputado Federal João Campos (PSDB-GO), usando truques de lingüística simplistas chamando a cura de ‘tratamento’, sem buscar no dicionário o significado de ‘tratamento’.

O que nos garante que teremos direitos assegurados com uma maioria de fundamentalistas no poder, se hoje já não temos direitos respeitados? Como esperar que a discriminação contra LGBTs cesse, se não ensinarmos as gerações futuras a beleza da diversidade entre as pessoas? Sem a aprovação de um projeto que torne obrigatório o ensino de orientação sexual e identidade de gênero nas escolas públicas e particulares, obviamente adequadas a realidade pedagógica de cada jovem, nunca sairemos deste ciclo vicioso de homofobia e preconceito.

Como seus pensamentos em looping, os fundamentalistas querem que a existência dos homossexuais seja miserável, para poder então ‘curá-los’, aumentar seus rebanhos, e consequentemente seus lucros. Os LGTB seriam sempre discriminados por terem seus direitos (inclusive a vida) negados por pessoas que não aceitam a diversidade. E estas pessoas não aceitam ou compreendem a diversidade porque não forem EDUCADAS para tal, pois nem em casa ou escola ensinam isso.

A falta de coerência nos argumentos do Deputado Marcos Feliciano é aterradora, e a forma como ele tenta manipular as massas que o seguem também. O medo de perder direitos civis, de perder a dignidade, de perder o emprego, de perder o abrigo em casa, de perder os amigos, a família, de perder dentes, de ter ossos quebrados, de perder a vida em um beco de uma cidade qualquer, é NOSSO, deputado. Porque este medo real, e não hipotético, já faz parte do cotidiano de todos os gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais brasileiros.


-- 
Junior Vieira
Bibliotecário 

terça-feira, 13 de março de 2012

A homofobia dos Gays


Ontem fiquei estarrecido, quando no facebook vi uma campanha, encabeçada pelos próprios homossexuais, em que defendia a tese que não há problema algum de você ser gay, desde que você seja à moda dos heterossexuais. Dentre outros argumentos que tendiam para aberração, estava a questão que ninguém é obrigado a ser exposto ou conviver com sua homossexualidade, que disfarçadamente era um conceito de promiscuidade, segue aqui a campanha:


Lamentável que os homossexuais estão dando seus direitos aos outros... Lamentável que ainda teve gay para aplaudir o ridículo! 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Professor gay é demitido de escola católica

Professor gay é demitido de escola católica depois de anunciar intenção de casar


Um professor de música foi demitido depois que a escola em que ele trabalhava descobriu que ele tinha plano de se casar com seu parceiro homossexual. O caso aconteceu em uma escola católica em Saint Louis County, no estado do Missouri, depois que um dos responsáveis pela arquidiocese ouviu que Al Fischer pretendia se casar com seu namorado em Nova York.


De acordo com informações do jornal The Huffington Post, Al Fischer não quis se pronunciar sobre o assunto, mas enviou uma carta aos país dos alunos em que incentiva que o assunto seja discutido com os filhos. "A conversa em família sobre a existência ou não de justiça no que aconteceu poderia ser uma grande coisa. Não quero que a lição disso para as crianças a seja 'Mantenha a boca fechada, esconda quem você é ou o que pensa caso isso te traga problemas'".


A opção sexual de Al Fischer era conhecida na escola e pela comunidade católica e ele dirigia um coro de homens gays da região. O motivo para a demissão foi a intenção de concretizar o casamento gay, o que é severamente criticado pelos católicos. A arquidiocese de Saint Louis emitiu um comunicado em que concordava com a demissão que estaria "em acordo com a Declaração de Testemunho Cistão assinado por cada educador das escolas católicas".


Fonte ESTADO DE MINAS 

DILMA E A INCÓGNITA LGBT



Ontem, dia 29 de fevereiro de 2012, o movimento LGBT sentiu na pele, novamente, a proposição política da PRESIDENTE Dilma Rousseff, em que convidou, graciosamente, o líder da IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS, senador da república e bispo, Marcelo Crivella, para assumir uma pasta ministerial: a da pesca! Aliás, pescar é com o bispo mesmo: pesca dízimos, ofertas, contas bancárias de sua organização religiosa em paraísos fiscais...  Grande nome indicou a Casa Grande, quis dizer, o Palácio do Planalto, afinal, em um governo em que a corrupção não é bem-vinda, nada melhor do que o nome do líder da Igreja Universal do Reino de Deus, ao que pese, isenta, de caráter ilibado, e que NÃO RESPONDE A NENHUM PROCESSO SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO E ESTELIONATO, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, na atualidade.

O problema é que, enquanto a senhora PRESIDENTE acena para Crivella e a bancada evangélica , a despeito de tudo que o PT informa em seu blog, sobre as políticas do Governo Federal destinadas aos LGBTs , o movimento gay não vê uma só iniciativa do governo, que seja EFETIVA e concreta em favor dessa mesma população.  Por exemplo, no blog da presidentE consta a informação, que o Brasil lutou na ONU para a aprovação da mais significativa resolução de Direitos Humanos em prol da população LGBT, em que essa passa a exigir políticas de recuo da violência contra homossexuais no mundo. Enquanto isso, no Brasil, nós temos o PLC 122/06 que trata do mesmo tema, e o GOVERNO FEDERAL simplesmente DESCONHECE O PROJETO e não faz o mínimo esforço para que o mesmo seja aprovado. Até mesmo, sabemos da força do governo no Congresso Nacional, quando o assunto é APROVAÇÃO DE MATÉRIAS DE INTERESSE DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.  O que é isso? Para o mundo se posa de engajado em políticas humanitárias, internamente, faz que não vê o massacre promovido contra a população LGBT em troca do amor dos evangélicos?

No blog da presidentE consta a informação, que houve empenho do governo na defesa junto ao STF da ADI que reconheceu a UNIÃO ESTÁVEL DE PESSOAS DO MESMO SEXO, e então o governo apenas seguiu a corrente, a moda da judiciário, pois de longe, a intervenção do governo, nessa matéria, era desnecessária ... A ADI foi proposta pelo GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, E PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, o governo da PRESIDENTE DILMA, poderia ter ajuizado a ação, mas não fez, não moveu uma palha, ficou inerte, nem defesa brilhante, sequer, fez no pleno, afinal, essas defesas orais nos foram garantidas pelas entidades LGBTs quanto Amicus Curiae.  Que defesa é essa, que a presidência da República está reivindicando no caso do STF e a União Estável, que defesa é essa, que ninguém viu?  Ao que conste o Advogado Geral da União é chamado para se manifestar em uma ADI por força do ART. 103 § 3º da CR/88, ou seja, ele foi, porque faz parte dos atributos da função...  E qual foi o passo seguinte do Governo Federal à aprovação do reconhecimento das uniões estáveis homossexuais? VETAR o Kit anti-homofobia, com a alegação da boca da própria presidentE, que em seu governo não haveria propaganda de opção sexual.

E por falar em Kit anti-homofobia, no blog da presidentE, diz que esse não foi vetado, apenas suspenso para ser melhorado... Se for para melhorar do jeito da campanha contra o HIV do ministério da saúde, é melhor não ter mesmo! O kit estava perfeito, mas a Dilma que acena para a bancada evangélica não pode concordar com seu conteúdo, pelo seu preconceito homofóbico político eleitoreiro. Daí fala-se da criação de secretárias da diversidade, ou o Conselho Nacional LGBT, e sobre isso deixo um link para que você, leitor, possa ver, ler e avaliar o que os membros desse conselho dizem sobre ele:  Associação Brasileira de Estudos da Homocultura 

Dilma e seu governo são uma incógnita para os LGBTs!

"A presidente, porque só escreve presidenta quem foi estudanta!"